sábado, novembro 18, 2006

Um dia, passeando no Estoril;
As águas fascinantes, Tamariz...
Meu coração deixado no Brasil,
Nos olhos de Milena, a bela atriz,

Achando que pudera ser feliz.
Em plena primavera, num abril,
O céu tão gracioso em seu matiz,
Num misto de vermelho com anil.

Ao ver, tão calmamente desfilando
As pernas mais bonitas que já vi,
As cores deste céu foram mudando...

Olhar mais indiscreto não disfarça
Fixo, permanecendo por ali,
Na beleza da deusa lusa, Graça!
Cingindo meus amores, velho sol.
Perdido entre esplendores, morre chuva...
Os olhos disfarçados, sem farol,
Escondem-se em teu pranto de viúva.

Ao gerar este vinho tinto, a uva,
Da mansidão transborda em etanol;
A mão que me maltrata perde luva.
O brilho que me mostras, girassol!

Mas sabes que amanhã já me revolto,
Não quero ser somente teu espelho.
Amarras que me prendes sempre solto;

Amores se repetem, velha história!
Em todos os momentos, me assemelho
Na busca do esplendor que me deu Glória!

Gláucia: Verde claro

Na ponta dos pés, manso e calmamente,
Procuro pelos rastros desta lua...
O rio que me leva, na nascente,
Mostrava uma sereia bela e nua.

Infernos, paraísos, roda a mente;
Mas a busca não pára. Continua...
Lusco-fusco me invade, de repente,
Mas o desejo, ardente, se acentua...

Remansos e cascatas se revezam,
Os traçados lunares são meus guias.
Saudades e tristezas; como pesam!

Caminhos que persigo, são dourados,
Vislumbro, do claror, as fantasias...
Te vejo Gláucia: os olhos esverd’ados...

Gisela: Garantia, penhor, jovem loura

O trunfo que guardei p’ro nosso caso
Esqueci de jogar n’hora fatal.
Amor quando termina, finda o prazo,
Não passa de arremedo, vai sem sal...

O sol poente morre neste ocaso,
Sem brilho não clareia o matagal
Dos sonhos. Não flamejo e nem me abraso
Nos raios deste amor, tolo final...

A noite que pensei que fosse dela
Não veio nem virá, morreu apenas...
As cores desbotadas na aquarela,

Não fazem do cenário bela tela.
Não trazem, no horizonte, suas cenas,
Restando só meu trunfo, amor, Gisela...

Giovana

Ninguém jamais dirá que não te amei;
As nuvens que carrego; testemunhas...
Nos barcos que hoje trago, me atrelei
Na busca d’outros sonhos que compunhas,

(As tábuas deste amor), a dura lei...
Mas quando te cravava minhas unhas;
Por certo, tantas vezes eu pequei,
Distante das promessas que propunhas...

Amor que dilacera morte explana,
O grito da discórdia dominava.
Morreu de inanição a soberana

Lua. Morte sutil e tão temprana,
Saberia que aurora não chegava
Nos ermos desse amor por ti Giovana!

Gilda: Aquela que tem valor, valorosa.

Tantas vezes procuro pelo cheiro
Dos olhos deste amor que não conheço.
Vasculho por planetas, mundo inteiro,
Muitas vezes, eu creio, não mereço!

Amor que se demonstre verdadeiro
Mudou e não deixou seu endereço.
A seta procurando pelo arqueiro
Não sabe, nunca viu, vive do avesso...

Espero companhia que me leve
De novo a tantas praias que esqueci.
Verão que se transborda frio e neve

Não deixa primavera, sol e rosa...
Procuro angustiado, estou aqui,
Por Gilda, companheira valorosa!

Giane: Deus é cheio de bênçãos

Abençoado o dia em que te vi!
Andavas pelas ruas da cidade,
Da bela e tão amada Mirai.
O tempo inda corrói, resta saudade...

Estava passeando por ali
Em férias, a buscar tranqüilidade.
Neste mesmo momento percebi
Um fascinante lume, claridade!

Estava transtornado pela dor,
Dor que nunca pensei que minha.
Juventude se ilude com amor.

Rimas pobres, meus versos juvenis,
Andavam vagabundos, à tardinha...
Giane, aquela tarde fala anis...

Geralda: Aquela que doma com a lança

A vida traz batalhas, armistícios...
Há momentos de guerra em plena paz,
Porém, quando morremos, nem resquícios,
A morte, rigorosa, não compraz...

Há pélagos profundos, precipícios,
Onde quem mergulhar não volta mais,
Quem busca tolamente por indícios
Percebe como a guerra é má, audaz...

Nas lutas sem demora, nada sobra.
Amores e fantasmas dos amores
Por eles, mordazmente, um sino dobra.

Aos olhos sonhadores só desfralda
A lança dos que pensam vencedores,
Nas mãos dessa guerreira que é Geralda...

Não me peças perdão, nunca perdôo.

Não me peças perdão, nunca perdôo.
Meus dias em revoltas, contra-sensos,
Sou pássaro que nunca alcei teu vôo,
Os pesos nessas asas são imensos...

Somente meus martírios sobrevôo,
Nas mãos que não me afagas, brancos lenços,
Teus barcos e fragatas abalrôo
Em meio a procelares mares densos...

Não me peças perdão, isso é difícil,
Em todo o dicionário, esse verbete
Arrancado, queimado e fictício.

Mendigando por luas que perdi,
Nas mãos não mais carrego meu barrete,
O mundo do meu sonho está em ti!






Sonho terrível, sangue e podridão!
Nas ruas, vermes loucos e famintos
Devoram, não permitem solução,
A noite e seu fantasma aperta os cintos,

Forte vento em total destruição
Os olhos marejados morrem tintos,
Toda terra, efeméride vulcão,
Destroçada, resquícios indistintos...

Sobre mar flamejante vejo um vulto
Caminhando, flutua simplesmente...
A voz distante, quase não ausculto...

Neste mesmo momento, um manso brado...
O sonho se desaba num instante
Olhos abertos, vejo-te ao meu lado...

Fabiana: Fava que cresce

Lua sobre esse pampa mavioso,
Eu ando procurando por amores.
O meu tempo passando doloroso,
Horas celestiais, campos, flores...

O céu iluminado por leitoso
Cobertor divinal, tragando as dores
No seu mata borrão mais vigoroso,
Derrama sobre o campo seus pendores...

Na guaiaca repleta, sentimentos
Mais sonhadores, levo essa esperança
Na espreita de que venham os bons ventos.

No meu coração vibrando campana
A me trazer a doçura, esta lembrança,
Tempo em que nos amamos, Fabiana...
Acordo destes sonhos e te vejo,
A sílfide que sempre desejara.
No teu olhar um brilho de azulejo,
Tua boca perola jóia rara.

O manto que te cobre, dum verdejo
Raríssimo. Trazendo ares de Iara
No respiro suave do desejo.
Estrelas te servindo de tiara...

Quem sou eu para estar tão perto assim
Da divindade que chega e me ternura?
(A morte vem raiando e é meu fim)

Depressa, num segundo se desfaz
A imagem dos meus olhos some, pura...
Será que foi um sonho e nada mais?
Os céus não saberiam da semente
Incrustada na areia deste mar...
O rastro das estrelas pertinente
Me leva, sem saber, para o luar.

O mundo vai rodando, de repente,
Não pode nem pretende descansar.
Imagem que se forma em minha mente
Me leva, galopante, ao constelar...

A semente jogada sobre as águas,
Viaja sem destino e sem paragem...
Meus olhos acompanham tantas mágoas,

Encontram uma estrela apaixonada...
O mundo se revela nesta imagem,
Procuro minha amada. Não há nada...
Os seixos e sementes, rio e mar...
Nas cachoeiras, pedras, belo véu...
O brilho refletindo esse luar.
É como mergulhasse, inteiro, o céu.

Percebo o manso vento devagar,
Fazendo uma oração. No meu pincel
Desenho a natureza a namorar,
Cupido se transporta p’ro papel...

Em toda a claridade desta cena,
Amantes pirilampos e corujas...
Meus dedos derramando minha pena

Por sobre as entidades da floresta.
Descrevo, mau pintor, em garatujas
A flora, a fauna, todas nesta festa...
Quem me daria as dádivas divinas
Senão esta princesa rediviva?
As aves delicadas descortinas
Nas pétalas gentis da sempre-viva...

A noite a me trazer tuas mãos finas
E delicadas. Quero sempre viva
Nas águas destas fontes cristalinas,
Suave maciez princesa altiva...

Os rios despencando nas cascatas,
O vento suavemente, doce brisa...
Os pássaros libertos desta mata...

Nas ramas destas árvores, os ninhos,
Os olhos da princesa, Mona Lisa,
O canto sem igual dos passarinhos...
Fadas e gnomos, frágeis criaturas
Siderais te acompanham, nem percebes...
As delicadas bênçãos e ternuras
Estão a cada passo que concebes...

Nuvens, borrões celestes, nas alturas,
Observando teus passos nessas sebes,
Lacrimejam-se plenas, ficam puras,
Trazendo as doces águas que recebes...

Sedenta de carinhos, livre lebre,
Saltando por meus sonhos, nas campanhas,
Ardendo teu amor em louca febre,

Os olhos que te querem, pirilampos...
Nas altas cordilheiras, nas montanhas,
Procuro teu amor por belos campos...
Mansidão de carinho e de acalanto...
No caminho das mãos, porto seguro.
No condão das estrelas, tanto encanto.
A saudade se esconde, manto escuro...

Tropeçando em estrelas sem espanto
Vagando pelos astros salta o muro
Que divide esse amor do triste pranto
E que termina em pleno chão, mais duro...

Eternidade expressa em mansas mãos
Desejos de carícias e de cura.
Tantos dias passaram, foram vãos,

Foram tantas demoras pela estrada,
Que, por fim, este canto de ternura,
Por bem pouco termina em quase nada...
Noites sangrentas devorando tudo...
Vergastas cortam penetrando fundo,
O peito lacerado, fica mudo.
A trágica saudade corre o mundo.

As flores do jardim, manás, contudo,
Lavando o sentimento, mais imundo.
Deveras trazem sonhos.... Não me iludo
Aguardo pelo corte, vão profundo...

Recebo teus recados pelo vento,
Esfinges e romances, velhas tramas...
Prazer de ser feliz, experimento,

Mas nada disso serve pr’a quem ama...
Mergulho meus amores nestas lamas,
A noite, que é sangrenta, ardendo em chama...
No braseiro da tarde de verão,
Adormecida sonha com luares.
Delírios inconstantes, turbilhão,
Alcançam ferozmente seus sonhares...

Desgrenhados cabelos, multidão
De desejos transbordam nos altares
Escondidos no casto coração...
Cáusticos martírios loucos ares...

A mão que percebia sobre o seio,
Os dedos acalmando tal braseiro.
O mundo se desfaz em devaneio.

Nos rastros das estrelas, tanta sede.
A vida é um retrato na parede,
O sol tão penetrante, companheiro...
Nas planícies serenas, tantos montes...
Os olhos desejosos pedem brasa...
Em meio a deslumbrantes, calmas, fontes.
Esfíngica mulher, dolente abrasa...

Desnuda-se esse sol, quer horizontes,
A mansidão demora, tudo arrasa,
Os rios invadindo passam pontes,
Amazônica enchente o leito vaza...

De repente erupções tão indomáveis
Explodem nebulosas, raiam céu...
As almas destruídas, incontáveis...

Depois desta explosão, a calmaria...
Os olhos se reparam lambem mel.
Refaz-se a mansidão, clareia o dia...
As estrelas roubando sua luz,
Invejosas percebem tal beleza...
O manto que lhe cobre, já seduz,
Trazendo, pr’a quem sonha, esta certeza

A vida valerá, decerto, a cruz
Das dores e das sombras da incerteza...
Rogando em tantas preces a Jesus,
Que a vida siga sempre a correnteza...

Na plena sensação dessa existência
Os monstros escondidos na tocaia,
Jamais a profanar tal inocência...

Sentindo exuberância deste instante,
A lua enamorada já desmaia
Nos braços tão serenos, minha amante...

Arroubos da paixão deixando rastros,

Arroubos da paixão deixando rastros,
Os lobos tão selvagens caçam cios...
Desejos explodindo vão aos astros,
Os olhos que lhe miram são vadios...

Não sabe das disputas, altos mastros,
Misturam-se delírios, nervos fios...
O sol procura os seios-alabastros,
A neve se escondendo destes frios...

Passeia calmamente, nem percebe...
Da doce suculência que exubera
Por toda cercania desta sebe,

Numa avalanche louca, a natureza,
Espreita, num segundo, vira fera...
Na púbere menina, esta princesa..
Não vais beber da fonte das quimeras,
As hastes, ramos, folhas mutiladas...
Amores que sonhavas, nas taperas,
Encontras nas cadeiras nas calçadas...

Vencidos tantos dias, priscas eras,
As luas que pensavas desmaiadas,
Escondem-se nas nuvens sem esperas.
Amores destroçados matam fadas...

Não queres mais sutis as velhas chamas.
Nos ramos destas flores, sem espinho...
Percebo que deveras não reclamas.

O sonho foi deixado no caminho.
A dama que se veste de dourado,
Matou doce menina do passado...
Os olhos que pediam inocência
Deitados sobre o manto da saudade
Ao longe desta seiva, florescência;
Transitam pelas luas, claridade...

Perdida, sem pedir sequer clemência,
Esgueira-se sedenta mocidade,
Dormita sobre dores da existência
Embarca nesta nau: felicidade!

Na ramaria, flores e perfumes,
Os cantos mais sonoros revigora.
As noites empapuçam-se, ciúmes,

O manto da vaidade logo aflora,
Nos rastros dos amores, os queixumes,
Amada, se desmancha toda agora...

Trazendo o espetáculo das cores

Trazendo o espetáculo das cores
Envolto nessas carnes lapidadas;
Voltando mais sutil aos seus amores,
As horas que se foram, desmaiadas...

Os Astros e mensagens abrem flores
Decoram meus altares com rajadas
De perfumes e brilhos multicores
Luzindo e devorando madrugadas...

Sonhara muitas vezes seiva e gozo,
O monte dos desejos perde espinhos...
O mar das serenatas carinhoso

Invade cada canto desta areia...
Quem fora esta princesa pede ninhos,
As ondas vão lambendo-te sereia...
Mergulha tantos mares, toda a graça...
O vento desejado, primavera,
Serpente que sonhara não disfarça,
Trazendo sutilmente esta nova era...

Quando, por certo virá em plena praça
Dançando tão faminta quanto fera,
Envolta na tempesta que entrelaça
Gozando do prazer desta pantera...

Mergulhando este louco sentimento,
Vasculha pelas luas os seus raios...
Amante se entregando ao viril vento.

Espera pela luz mais redentora,
Os olhos espraiando nos desmaios
Lunares, da rainha sedutora...
Nos mares que prometes, tempestades...
Crateras e serpentes se entrelaçam.
Amaste sem segredos, veleidades...
Dois seres inauditos já se caçam...

Na cama que prometem claridades,
Os olhos desejosos, nem disfarçam...
Roçam-se demoníacas verdades
Os dedos sequiosos mares passam...

Se interando de tudo, sede exposta,
O rumo, então, perdido vai ao caos...
Salivas misturadas, mar e costa,

Os mares naufragando vastas praias...
Invadindo universos, vai ao Laos,
Nos segredos que escondes, tuas saias...
A boca carmesim, desejo louco...
Nas rubras madrugadas seu delírio...
O grito reprimido quase rouco
Espalha pela noite, num martírio,

Doce martírio, rasga pouco a pouco...
Lembranças juvenis trazendo círio,
Esquecidas num canto, nem tampouco...
Desejo que se explode, bom, satírio...

A mão tão carinhosa, mar explora,
Um mar em borbotões descomunal...
A fome deste amor, tudo devora...

Não deixa nada sobre a terra.
A noite se transcorre canibal,
Amor quase explodindo, forte, berra!
Os olhos procurando estrelas mortas...
A nebulosa da saudade veio...
Trazendo porcelanas, ruas, portas.
Nas ondas dos desejos, ponta e meio...

A mão tão delicada medos cortas,
Calmamente desnuda o belo seio,
As dores se passaram, morrem tortas...
O olhar voa distante, a tudo alheio...

Sonhando com fantasmas irreais,
Beijando a própria imagem, seu espelho...
Os dias a transportam, morrem ais...

A divindade exposta em seu sorriso...
Batom, penteadeira, mar vermelho...
Amar é desfrutar do paraíso!

Coração desfraldado, catedrais...

Coração desfraldado, catedrais...
Seus olhos vasculhando namorados...
Os medos se transformam em banais
Sentimentos que trazem velhos fados...

A menina crescida, são vestais
Os desejos ardentes, pedem prados,
Os amores distantes perdem cais,
Carrega nos seus braços seus amados...

O seio exposto, vida se renova...
A mulher explodindo na menina.
A lua vem surgindo, bela, nova...

As claras fantasias iluminam...
Desejos e delírios tontos, minam
A dor de ser feliz, mansa, termina...

Esperas pela noite, nunca vem...

Esperas pela noite, nunca vem...
Esperas pelo príncipe, fugiu...
Quem sempre procurou vai também,
O tempo conselheiro, já saiu...

O medo de viver nunca faz bem,
A angústia dos amores, seu buril,
Transforma essa vontade noutro alguém
Tatuada no peito como um til...

Amores e promessas, esperanças...
Menina que cresceu vive cansada...
Quem espera por luzes e por danças,

Sentada vai revendo o velho sonho,
A vida vai passando na calçada,
O tempo que promete foi medonho...
Onde couber meu braço e meu desejo
Estarei lá. Sou insensato traste...
Canto que trago, velho mar, arquejo...
O sangramento mais atroz negaste...

Nunca mais te darei sequer um beijo,
O mar do não me queres navegaste
O bem que me quiseste, nunca vejo...
O rumo desta vida: perder haste...

Mais alto canto mas jamais ouviste...
Amor que não pretende morre triste.
Quem pode querer sabe que não vens...

Os olhos que procuram por tambéns,
Não sabem onde encontram nossos bens,
Agora que não vens, já vou em riste...

Quando virás? Embalde peço ao vento

Quando virás? Embalde peço ao vento
A resposta que sempre me repete...
Vasculho meu olhar no firmamento,
Estrelas, profusão, tanto confete!

Minha jangada busca meu sustento,
Ao peixe aprisionado não compete
Qualquer uma esperança; mas eu tento,
Desesperadamente. Dor reflete

Cada momento triste, solidão...
Me esperanço, pergunto, mas inútil...
Nessa luta perdida, sou em vão...

Quando virás? Pressinto que jamais...
Pode até parecer pergunta fútil,
Mas sem essa resposta, cadê paz?

Espero-te

Espero-te
Espero-te no horizonte, de manhã.
Traga teus desejos no cantil.
Buscar felicidade, doce afã,
As horas que vivemos mais de mil.

O céu que nos encontra, todo anil,
A barca dos meus sonhos, temporã,
O mote que te trago, varonil,
A vida não se esquece do amanhã!

Repetidas mentiras, são verdades,
Meus bares e buris, meus canivetes...
Os olhos embargados de saudades...

A mulher agridoce paladar...
Aos beijos e carinhos me remetes,
Horizonte te traga céu e mar...

Não posso ser feliz! Isso não cabe...

Não posso ser feliz! Isso não cabe...
Quem pela vida sempre teve medo,
Alegrias da vida nunca sabe,
Nem sequer conhecerá o seu segredo...

Procura simplesmente não ter tabe
Vai, asfixiado, cruel degredo...
Quem não sabe que sempre então se gabe,
Não conhece da vida, seu enredo...

Não posso ser feliz... Ah quem me dera!
Dissecando meus medos, sempre estás...
És fonte e resultado da quimera.

Não podes prometer, assim, a cura...
Quem trouxe o desespero nega a paz...
Traduzir este amor? Total loucura!

Andarei por ti todos os caminhos,

Andarei por ti todos os caminhos,
Nas aldeias e nos campos, estrelares...
Meus olhos vagabundos pedem ninhos...
As pernas fatigadas querem lares.

Na lareira aquecendo dores, vinhos.
Pela janela aberta, mil luares.
Serenatas distantes, plangem pinhos...
Corcel dos meus amores nos altares...

Vasculho pelos ares, não estás,
Teu canto se repete em minha mente,
Meus sentidos vazios, peço paz.

Ando desfiladeiro, cordilheira;
O mundo se embriaga num instante
Vontade de voar a terra inteira!