domingo, maio 28, 2006

VESTIDO VERMELHO E CURTO.

A noite traria de novo aquilo, aquela sensação de total insegurança, um misto de angústia e solidão.

A vida fora muito difícil, mas nada justificava aquele medo e aqueles pesadelos, terrores noturnos que faziam cada segundo se tornar uma incômoda eternidade.

Na idade do lobo, se transformara novamente em criança, cada noite era uma ânsia gigantesca, uma tenebrosa experiência com transpirações estranhas e tudo exalando um cheiro de fim, de ocaso, de vazio,

Nada mais poderia impedi-lo de viver, já tinha tido tantas e tanta decepções e vazios que nada parecia vencê-lo, mas aquilo parecia demais.

Os olhos ficavam fixos no teto, e cada vez que um carro passava na rua, os faróis iluminando o teto, pareciam lampejos de um tempo jamais esquecido.

As sensações de perda, do oco, do nada se aglomeravam e geravam um desesperador sentimento atroz.

Suas andanças pelo mundo, suas noites solitárias nos hotéis e pensões da vida de um “representante comercial” novo nome para caixeiro viajante.

Nome bonito como os paletós inexoráveis, devidamente lavados e passados nos mesmos hotéis onde dormia.

A solidão por companheira.

Claro que havia as prostitutas, mas isso não o tentava, sexo é bom, mas tem que ter o amor por base, pelo menos a atração física.

E os orgasmos fingidos e pagos regiamente o diminuiriam, o tornariam não o agente, mas sim a vítima, o prostituído.

Mas acostumara-se com essa solidão. Fiel e eterna companheira.

Podia ter-se casado, mas não, a solidão fora sua esposa e a mãe de cada uma das suas rugas e de cada fio branco de cabelo.

O amor, na verdade, não servia para ele e, talvez mais que o próprio amor, a palavra família era muito confusa.

Não se adaptaria a vozes e correria de crianças pela casa, nem podia imaginar-se em tal situação.

Era por demais egoísta para poder dividir seu espaço com mais alguém e, depois de certo tempo, sua independência seria totalmente aniquilada.

Sabia disso e isso lhe era de tal forma insuportável que, melhor nem pensar.

Fora sua a opção pela solidão, mas, de algum tempo para cá, essa o apavorava.

Como é que, beirando os 50 anos, idade em que deveria ser mais forte que sempre, esses pavores poderiam estar tão firmemente arraigados?

A timidez piorara, agora dera para gaguejar, essa tartamudez o surpreendia.

Velho, gago e medroso.

Que final de vida se desenhava!

Faltava voltar a ter as enureses, ai sim, a sua decadência seria completa.

Procura um psicólogo, talvez, quem sabe.

Um psiquiatra talvez fosse melhor.

Ouvira falar na andropausa, parecia esse o caso.

Mas, que nada!

A solução era parar de palhaçada e retornar à vida.

O dia nascia, e a vida renascida melhorava tudo, menos a gagueira, recomeçava a trabalhar.

Mas quando se aproximava a noite, ressurgiam os medos e se repetia tudo.

Começara a beber, isso talvez ajudasse.

No começo sim, o álcool fora um bom companheiro.

A embriaguez dava alento e, ainda por cima, desinibia-o.

Começara a freqüentar boates e prostíbulos.

Tornara-se um pândego, e foi perdendo os medos e as angústias.

Mas cada vez mais necessitava do álcool como suporte, cada vez mais e cada vez maior quantidade.

Um homem de 50 anos não tem tantos atrativos, mas o paletó, a gravata e uma pasta dessas de executivo associadas a esse homem, produz um encanto impar.

E foi assim, naquela noite.

Belas pernas, morena, deliciosamente escondida parcamente num vestido vermelho, curto, pernas torneadas, coxas deliciosas, rebolado divino, vestido vermelho, curto, curtíssimo.

O tempo também era curto e curto o punhal, o vestido vermelho, agora mais do que nunca, vermelho.

A vida restara mais curta que o vestido e que o punhal.

O paletó e a gravata manchados de sangue.

Na pasta algumas amostras de pano, pano vermelho, do mesmo tecido do vestido, não dava nem para fazer um vestido, mesmo curto como o da moça que, chateada, saiu do hotel praguejando.

TRAVESSEIRO DE PEDRA

Mendigo atrapalha campanha de Serra em Araçatuba
Assessores deram R$ 1,00 para afastar o mendigo, que insistia em cumprimentar o político
Chico Siqueira

ARAÇATUBA, SP - O candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra, está em campanha neste Sábado na cidade de Araçatuba. O ex-prefeito de São Paulo chegou por volta das 12h30 no Calçadão comercial da cidade do interior paulista. Após a caminhada, o candidato se reúne com prefeitos e lideranças políticas da região. Na caminhada de Serra pelo Calçadão, a assessoria do candidato retirou do caminho um mendigo que insistia em cumprimentá-lo. Para evitar o assédio assessores de Serra deram R$ 1,00 para o mendigo, que se afastou satisfeito com o dinheiro.


Mario nascera na cidade de Aimorés, Minas Gerais; tivera uma infância e adolescência difícil como todo mundo que vivia na zona rural.
Na época da colheita do café ainda tinha trabalho mas, passada a safra, a situação voltara ao desespero de sempre.
A fome era muita, a esperança; ah! Essa era pouca, ou melhor, quase nenhuma.
Um tio seu fora para São Paulo, e o chamara para ir também.
No começo relutou muito mas, depois de uma safra muito difícil onde o preço do café tinha despencado, senão me engano, na época do plano cruzado, não teve outra alternativa.
Ir para São Paulo era o destino de muitos iguais a ele, Mario. E a capital paulista tinha emprego, tinha comida, tinha futuro.
Qual nada; até que nos primeiros anos, a situação ainda estava mais ou menos. Mas depois que o xará dele assumiu o poder, a coisa foi de mal a pior.
Como o Estado entrou em declínio econômico, foi da pobreza à miséria, da periferia às ruas.
Com a Martha ainda obteve uma pequena melhora, um pouco de esperança, com a possibilidade de se alimentar e poder ir para um dos abrigos na cidade.
Mas, depois que ela perdeu a eleição e um outro assumiu a prefeitura, a coisa acabou de vez.
O viaduto que servia de abrigo para as noites de frio, fora modificado, tendo sido colocado uma rampa que impedia o repouso do pobre.
Sem local para dormir, se mudou para Araçatuba, no interior do Estado.
Ali, a situação estava um pouco melhor; pelo menos podia continuar mendigando, o que lhe dava, não posso dizer prazer, mas um certo conforto.
Vivia disso, e sobrevivia disso.
Era complicado para os outros entenderem, mas não era de todo infeliz.
Ouviu falar numa tal de bolsa família e, como tinha dois filhos que moravam com a mãe numa favelinha lá pros lados de Osasco, pensou em procurar saber como fazia para conseguir a bolsa família.

Pois bem, naquele dia, lá pro final de maio, soube que um político influente ia vir até Araçatuba para fazer campanha.
Bem, devia ser aquele moço nordestino, o tal da bolsa família.
Resolveu chegar perto dele para pedir a bolsa família pra mulher e pros meninos.
Mas, ao se aproximar, nem deixaram falar com o homem.
Deram pra ele um real e mandaram-no sumir.
Um real é pouco, muito pouco, mas pelo menos aquele moço careca que ele viu de costas, não tinha expulsado ele do viaduto, nem tinha feito a covardia de mandar fazer rampa no lugar da cama onde ele dormia, mesmo sobre um travesseiro de pedra.

LENORA

Tem coisas que ninguém explica, e aquela era uma delas. Como é que eu tinha dormido ali?

Não me lembro de nada vezes nada. Só sei que tinha saído de casa para ir até o cinema.

Do cinema me recordo um pouco, acho que o filme, espera aí. Filme, mas qual filme?

O telefone tocara; bem, disso eu me recordo telefone maldito, sempre tocando nas horas mais estranhas e incômodas;

Ela estava dormindo do meu lado, ela e o telefone.

Mas daí em diante, o vazio, não total porque tinha o cinema e o filme.

Desses dois e mais nada.

A cabeça girava e eu estava ali.

Na casa, bem naquela casa.

O amor tinha sido antes e distante.

Naquele instante ficara o vazio.

Somente o vazio do que não fora, aborto total.

Gigantesca roda da vida dando voltas e mais voltas.

Mariana estava longe, perdida em seus casarios.

Mas retornara em Mariana, moça bonita e tresloucada.

Casamento marcado, alianças compradas e o vazio. A morte do amor, segundo ela, foi difícil entender, aceitar e nem perdoei bem ainda.

Recebi outro beijo, desejo à flor da pele e Renata, é renée, renascida, renata.

Esperanças e Renata são sinônimos.

Mas o telefonema e essa cama desarrumada me confundiram.

Nessa confusão, quem sou o que sou, e o que significa isso tudo?

Bêbado não estava, nem beber estava bebendo, somente fumava fumaça e fumaça, tosse e cansaço. Mas álcool, nada.

E como chegara até esse quarto?

De repente, o barulho do chuveiro me alertou.

Não estava sozinho e nem poderia estar, que imbecilidade!

A vaca devia estar se lavando, tomando um daqueles banhos demorados que tanto me irritavam.

Vaca, piranha, pilantra, safada. Mariana!

Mas o cheiro não era familiar, era um daqueles perfumes estranhos que não conseguia identificar.

Coisa nova, perfume novo, cama antiga, desilusões idem.

O relógio de sempre, marcava 8 horas da manhã. E o meu trabalho?

Caramba, essa vadia me fez perder a hora, tudo bem, me arrumo e vou embora.

Procuro minha roupa, cadê roupa?

No chão, por baixo da cama, sobre a poltrona da sala, nada de roupa.

Não, eu não viera nu para cá, ninguém vai ao cinema nem sai de casa nu.

Isso estava muito confuso.

O celular toca, vou atender, Renata.

Fala-me de coisas que não consegui captar direito, algo assim como espera para jantar, minha ausência, essas coisas.

Onde estivera?

Francamente respondo que não sabia, acho que tinha ido ao cinema, mas acho.

Qual filme? A resposta vaga deixou um tchau como fim de papo e, talvez, fim de romance.

Mas, fazer o quê?

O chuveiro continuava aberto, tento levantar, a cabeça roda. Ressaca sem ter bebido.

Noite comprida, dia também. As recordações giram junto com a cabeça.

Realmente Mariana tinha sido meu grande amor, mas, que vá para o inferno!

Tenho vontade de xingar a vagabunda e começo a gritar. Ou pelo menos, é o que penso fazer. A voz sai baixinha, lenta, como um gemido seco, contido.

Recordo-me das noites em vão, esperando Mariana, compensada pelas noites maravilhosas em claro.

Noites regadas a muitos e raros prazeres.

Dane-se, isso passou, acabou...

O chuveiro foi desligado.

O barulho cessa, mas o coração dispara taquicárdico.

Sabe-se lá o que se fazer nesse instante.

Sinto o gosto estranho de ferro e de estanho, trincando os dentes e arranhando a garganta.

A porta está se abrindo, Mariana, sua cadela, vou acabar contigo!

Quando a vejo nua, começo a entender o que vivera.

Quão forte fora esse sentimento. Amor regado a rancor e ódio,

Gosto violento de tristeza e desamparo misturado com o prazer inesquecível.

Mas, ao vê-la, de súbito a força perdida ressurge e, num átimo me atiro contra a porta, abro-a e saio correndo.

Na portaria do prédio, confusão e voz de prisão.

Nada entendo, não compreendo o porquê.

Homicídio. Mas de quem e como?

As mãos algemadas são arrastadas e, sem resistência, sou levado de volta ao quarto.

Agora percebo a cena terrível. O quarto todo revirado, o corpo ensangüentado na cama, a cabeça inerte pendendo para o meu lado.

Os olhos de Mariana abertos, e o vazio no olhar.

Vejo minhas mãos, agora reparo no sangue, nas marcas de sangue na minha roupa.

E aquela sensação estranha me acompanhando, rumo ao cárcere.

Onde a voz de Lenora repete num cruel solilóquio: “never more, never more”...

ESQUIZOFRENIA

O medo a acompanhava desde menina, medo cruel e tenaz, medo de tudo e de todos.
A voz não a largava nunca, voz intensa e repetitiva, uma voz que, desde seus tempos de adolescente nunca se calava.
A mãe já tinha levado-a a todas as benzedeiras, pais de santo, pastores, enfim a todos os que eram indicados pelos vizinhos e amigos.
Nada adiantava nada; o doutor tinha passado uns remédios, mas também sem efeito.
O efeito máximo que consguia com os medicamentos, era dormir, mas os sonhos repetiam todos os fantasmas do dia.
Nada mais podia fazer. O simples fato de andar já a estava deixando em pânico.
Um caso de possessão demoníaca, por certo, dizia a tia religiosa, o caso mais claro que tinha visto na vida.
As excomunhões se repetiram, a voz parara, mas, agora, não era somente uma, era uma legião de demônios que tomavam conta da pobre endemoniada.
A tia, vendo que as coisas estavam mudando, apavorada com a legião de demônios que, a partir daquele momento, tomaram conta da pobre sobrinha, resolveu consultar um conhecido, autoridade máxima em assuntos de possessão, respeitado até por outras designações religiosas.
A vinda dessa autoridade mexeu com todos na pequena cidade, a ponto de virem pessoas até das cidades vizinhas para presenciar o milagre do pastor.
Esse, ao perceber que o caso era muito complicado até para ele, principalmente pelo fato de que, a menina, ao falar grunhia e gemia incorporando outras vozes e idiomas diversos, incompreensíveis mesmo, além de resistir a qualquer intervenção dele. Então, diante da sensação de impotência, resolveu consultar outra autoridade no assunto.
Essa "autoridade" era um verdadeiro estelionatário, vivia da fama adquirida por “espetáculos” pré montados com "artistas” regiamente pagos para suportarem os tapas e tabefes soltos à revelia.
Vivia da fama adquirida por esses “milagres” e mantida pela divulgação bem feita, principalmente nas cidades menores.
O pastor, de boa fé, obviamente, contactou esse trambiqueiro que, a peso de ouro, se dispôs a ir para “curar” a pobre adolescente.
Ao vê-la, uma coisa o assustou, os trejeitos da menina eram os mesmos de Amélia, o amor de sua adolescência, e a sua primeira vítima.
Do amor impossível ao estupro e desse ao assassinato foi um pulo.
Amor frustrado, o corpo jogado no rio, encontrado poucos dias depois, ninguém suspeitou nem suspeitaria dele, menino tímido e quieto, incapaz de “fazer mal a uma mosca”.
Entretanto, o tempo passara e Melinha tinha sido esquecida e ocultada num canto qualquer de um passado longínquo.
Mas o andar manso da menina e, principalmente o nome dessa o fez ressuscitar essa lembrança;
Amélia esquecia de dizer seu nome, mas agora que tenho a imagem de tudo que aconteceu viva na memória, não posso mais ocultá-lo.
A pobre menina estava exausta, vítima tanto dos demônios quanto dos exorcistas.
Nenhuma lucidez restava mais naquela mente conturbada, doente, sem compreensão e ajuda a não ser o misto de agressões verbais e físicas.
Porém, os olhos parados e resignados, ao verem o milagreiro se transtornaram e um gemido formidável ecoou pelo vilarejo.
Com fúria, passou a xingar e ofender o exorcista, aos gritos de: Assassino! Assassino!!!
Este ficou assustado com tal manifestação associada com a lembrança do passado, recém acordada por uma associação estranha entre aquela Amelinha e a sua, o deixou em alerta.
O que queria dizer isso?
Quando a menina, não sei se por acaso ou se por uma força estranha, entre dentes disse-lhe “Amélia, Amélia”, esse se postou de joelhos e numa atitude surpreendente, beijou-lhe os pés e pediu perdão.
Todos ficaram assustados com a cena, o exorcista havia se rendido ao demônio?
Beijara-lhe os pés e pedia-lhe perdão, o que queria dizer isso tudo!?
Num átimo, para desespero de todos, a menina pulou sobre ele e agarrou-o pelo pescoço.
Não iria mais tirar suas mãos, até que, numa atitude insólita, sua mãe, a mesma mãe que amava-a tanto, pegando no machado que pendia na cozinha, desferiu golpes a esmo.
De imediato, os dois corpos quedaram-se sobre o chão ensangüentado.
Juram que viram os dois abraçados, com as bocas, coincidentemente postadas uma na outra, num enigmático beijo.

O PT e as cidades pequenas.


Nasci numa cidade de mais ou menos cem mil habitantes, na Zona da Mata mineira, Muriaé, onde passei meus primeiros quinze anos, acompanhando, sorrateiramente, o que estava acontecendo no caldeirão político brasileiro, graças ao fato de ter nascido em uma família italiana, vinda da Calábria, onde fora vítima das mesmas discriminações que o nosso nordestino sempre sofreu no Brasil.
Pelo outro lado, filho de um professor vindo de uma pequena cidade próxima de Muriaé, filho de um mecânico e de família humilde que, nos dizeres das oligarquias muriaenses era “lambari de enxurrada”; precocemente levado à direção de um indesejável colégio estadual.
Digo indesejado pelo fato de que a Educação era, em Muriaé, dominada pela Igreja, tanto no Colégio Santa Marcelina, ligado às Irmãs Marcelinas, quanto no Colégio São Paulo, ligado a Igreja Católica.
Essas origens me permitiram ter uma visão mais crítica da realidade dos discriminados e, o ensinamento de que, somente pela Educação poderia reverter esse quadro.
Ao mudar-me para o Rio, estudei durante um ano num colégio de classe média alta, na Tijuca, bairro típico da classe média carioca.
Depois, fiz minha faculdade na UFRJ, em pleno caldeirão das tentativas de redemocratização.
Após o termino da faculdade, fui para uma cidadezinha no interior de Minas próxima ao Espírito Santo, onde resido até hoje.
Isso me dá a possibilidade de avaliar o Partido dos Trabalhadores, nas três realidades diversas.
Na cidade de porte médio, na cidade grande e nos grotões desse país.
Uma coisa que pude observar nesse período é que, mais difícil do que ser petista é ser aceito pelos grupos que monopolizam o partido nesses locais.
O PT se porta como um partido exclusivista e cartorial tendo, em muitas das vezes, caráter personalista, sendo tão contraditório quanto qualquer outro partido.
Tentei, em Espera Feliz, sem sucesso, me filiar ao PT local, numa forma de poder ajudar a tentar que o partido elegesse seu primeiro vereador na história da municipalidade; em vão.
Todas as vezes que me aproximava do Partido, a promessa de “vamos mandar a ficha de filiação”, morria no vazio.
O partido, na cidade está ligado ao sindicato dos trabalhadores rurais e, em alguns momentos, serviu de base de apoio de outros partidos, mas, ao contrário de Lula que venceu e vencerá com mais de setenta por cento dos votos, o PT nunca chegou a míseros dez por cento do eleitorado; nunca elegendo, portanto nenhum vereador nos seus quase trinta anos de história.
Noutro município, Guaçui, apesar de ter dentro dos quadros, um dos maiores expoentes do sindicalismo capixaba; João Jose Sana o partido tampouco representa força política.
Rita, minha esposa, ao presenciar e cobrar de João coser, atual prefeito de Vitória, porque este apoiava um candidato das oligarquias locais, percebeu que o mesmo foi ludibriado pelas lideranças locais, COMPROMETIDAS COM ESSA MESMA OLIGARQUIA, utilizando-se do partido como se fora um partideco de aluguel qualquer.
Isso gerou a sua debandada para o PCdoB, que presidiu por alguns anos e, junto com ela, de vários companheiros.
Nas últimas eleições, o PT lançou candidatura própria numa cidade próxima, tendo como principal articulador, político ligado ao GRUPO DE JOSE CARLOS GRATZ, inclusive denunciado e condenado.
Esse é o PT das pequenas cidades. Um partido como qualquer outro, com o agravante de, quando não coopta, exclui e, excluindo ou cooptando, se torna dos grandes partidos nacionais, talvez o de menor expressão nesses grotões.
Mudar essa realidade se torna urgente e necessária, vital mesmo, para que possa ter a expressão de um PMDB nas pequenas cidades.
E isso se torna a pedra fundamental para o verdadeiro nascimento de um Partido mais representativo e mais abrangente.
Suas origens se estabeleceram nas cidades de médio e grande porte e conquistar, definitivamente, as cidades pequenas, é condição essencial para a implantação universal do SOCIALISMO, em todas as suas instâncias.
Enquanto isso não ocorrer, corremos o risco de tocarmos o coração, mas não conquistarmos a alma do brasileiro.
Coisa que, com perfeição, Lula conseguiu.

CRÔNICA - DUAS VOLTAS

Na pequena Mirai de Ataulfo Alves e de Marcos Coutinho Loures, moram ainda muitos parentes meus, inclusive primos, tios, tias; parentes enfim, pelo lado de meu pai.
Entre esses meus primos, dois protagonizaram essa história que passo a narrar agora.
Declino-me de dizer o nome dos personagens por questões meio que óbvias e, à moda antiga colocarei somente as iniciais dos nomes dos nossos amigos.
P... Era um rapaz muito bem apessoado, loquaz, namorador; um tipo bem agradável e muito solicitado por todos, da pequena Mirai. Porém, tinha um hábito terrível, bebia muito e, quando estava embriagado, cismava de aprontar alguma.
Volta e meia as placas de sinalização amanheciam jogadas na rua, algumas portas das casas, abertas, outros portões escancarados; etc...
Tal fato deixava em polvorosa, os pacatos miraienses; era um tal de carro entrando na contramão, de cachorros e gatos fugindo pelas ruas, bêbados entrando nas varandas das casas, um verdadeiro pandemônio.
Pois bem, o delegado da cidade, já sabendo quem aprontava aquilo, mas sem poder provar, admoestava nosso travesso e ameaçava-o de prisão a cada final de semana.
Sóbrio, P... era o sinônimo da candura; cordato, não criva qualquer tipo de problema, muito pelo contrário. Ajudava na hora da missa, tratava a todos com solicitude e presteza; mas, se bebesse...
Um dia, no sábado à noite, P... Resolveu beber além da conta e, como havia comprado um Fusca usado, e a rua já estava praticamente vazia, pois já se passava das 2 horas da manhã, decidiu entrar com o carro dentro da Praça principal da cidade.
Para seu azar, esquecera-se que o delegado morava defronte à Praça e, ouvindo aquela balbúrdia do carro passando por cima dos canteiros, tirando fininho dos bancos, se levantou e ao abrir a janela, se deparou com o espetáculo.
Ligou para a delegacia, onde estavam de plantão dois soldados e o carcereiro J..., PRIMO EM PRIMEIRO GRAU de P....
Ao chegarem à Praça, foi o mesmo que pegar um gambá depois de embriagado e satisfeito.
P... rendeu-se sem esboçar nenhuma reação.
O delegado, feliz por ter conseguido colocar as mãos no Pedro Malasarte Miraiense, deu-lhe voz de prisão e, com um sorriso estampado no rosto, deu a ordem ao carcereiro: - J... , prenda esse vagabundo e dê DUAS VOLTAS NA CHAVE, DUAS VOLTAS, HEIN...
J... sabendo do temperamento bonachão do primo e que, assim que a carraspana passasse, ele voltaria a ser o bom rapaz de sempre; e conhecendo bem o delegado, percebendo que esse, embora justo já estivesse com a paciência esgotada com P...; pensou, pensou e:
Cumprindo as ordens do delegado, realmente deu duas voltas na chave:
UMA PARA FRENTE E A OUTRA PARA TRÁS!