segunda-feira, agosto 14, 2006

Oitavas - Todos os sentidos...

Vencendo tantos medos chego a ti,
Para dizer do quanto que procuro,
Na vida ser feliz. Do que senti
Tão logo vi teus olhos sobre o muro.
Nesse momento mágico vivi,
A claridade vívida n’escuro.
Sentidos fervilhando sem cansaço,
Meus braços mendigando teu abraço...

És maciez sonora , belo canto,
Embora nos acordes dissonantes,
Traduzem meus ouvidos, teu encanto,
Quisera concederes, cedo e antes,
Cristalina pureza, me agiganto
Quando mostras; canora voz, sublime...
Tua bela voz, lúdica, suprime...

Emanas um perfume delicado,
Qual rosas, num jardim celestial,
Bem quisera viver deliciado,
Minha dama da noite, vendaval
Fustigando a janela, vou; ceifado
De malícias, verter em bem, o mal.
Somente do suave olor que emanas,
Nos céus, vou construir nossas cabanas...

Tens o sabor dos lábios divinais,
Humana criatura não conhece,
Sentindo o paladar dos imortais,
Em ti, qual fosses deusa, numa prece,
Persigo tua boca, quero mais.
Devora-me e decifro, magistrais
Enigmas; soberana fantasia,
Poder sentir teu beijo, uma ambrosia...

Na pele delicada que te veste,
Sentindo a maciez dos teus cabelos,
Apalpo tantos rumos, leste e oeste,
Na maciez da cútis, são novelos
Feitos da pura seda, que reveste
Entre tantas, sublime em envolvê-los,
Teus seios recobertos de camurça,
Ao senti-los, meu tato tanto aguça...

Meus olhos, quando vejo tal beleza,
Insanos não conseguem enxergar,
Mais nada do que tenha a natureza,
Nem céu, nem as estrelas, nem o mar.
Escravos; são servis a ti, princesa,
Consegues a beleza embelezar.
Te vejo como náufrago sedento,
Sereia, tanto canto exposto ao vento...

Oitavas - No mundo cruel...



No mundo mais cruel que concebias,
Cabia meu tormento em tuas liras,
Percorrendo vazio, tantos dias,
Sem saber que fingias tantas miras,
Nas penumbras fatais, sem melodias,
De tua mão, sentida flecha, atiras.
Querendo sufocar minha cantiga,
De tantas quanto herdei a mais amiga...

Vivendo essa funérea desventura,
Que traduz a verdade em sofrimento,
Concebo claridade, minha jura,
Tragada pela luta, meu tormento...
Amargo o vinho, âmago, tortura,
Na amargura de todo meu lamento.
Amei-te, no passado mais distante,
Por sorte, meu amor foi inconstante...

Bem sei que naufragaste outro desejo,
De quem não poderia te negar.
Flagrada pois, em cândido cortejo,
Atada a vários braços ao luar.
Mereces bem, portanto escarro e beijo,
Escárnio de quem possa procurar
Em ti, por algo além do sensual,
És página virada dum jornal!

Não vejo em ti, portanto nada além
De restos esquecidos sobre a mesa,
Se eu já te quis, agora me és ninguém,
Não vou te negar glória na beleza,
Nem vou mentir, deveras, foi meu bem...
Mas hoje, tão distante realeza;
Se faz passado pútrido e mordaz.
E, francamente, não te quero mais!

Andaluz - Soneto

Pela areia molhada dessa praia,
Desfilo toda minha solidão.
Por mais que o pensamento me distraia,
Nada tenho, procuro solução,

Para que toda angústia se distraia,
Abandonando esse cruel pendão,
Disfarçado, vestido de cambraia,
Permitindo sentir que amor é vão.

Tentáculo medonho me conduz,
Impede minha livre caminhada,
Na busca do quer fora minha luz...

Na praia em que eu te espreito, não há nada
A não ser a lembrança da andaluz,
Que fora tão somente, minha amada...

A Segunda Guerra Mundial - João Polino, herói de Santa Martha

Nos idos dos anos quarenta, havia uma ebulição no mundo, a segunda guerra mundial era a notícia em todos os jornais e rádios do país.
A entrada do Brasil na guerra mexia com os brios do nosso amado povo e, em Santa Martha não era diferente.
No único rádio do distrito, que ficava na praça principal, João Polino, ao invés da maioria da população que se espremia para poder ouvir o programa musical de Francisco Alves na Rádio Nacional, se interessava verdadeiramente pelo que ocorria do outro lado do mundo.
Como bom comunista, sem o saber, torcia imensamente pela vitória dos Aliados contra o regime fascista de Mussolini e, principalmente, contra o nazismo alemão.
Nas discussões que se faziam em torno das mesas do principal botequim do distrito, o “Santamartense”, não media palavras e nem conseqüências ao defender o líder russo.
Do outro lado, alguns descendentes de italianos ou de alemães eram as principais vítimas das críticas e comentários do nosso herói.
Até que, um dia, a despeito de todos aqueles que achavam que o jovem era somente um “catador de marra”, ao saber da entrada do Brasil na guerra e a convocação de Voluntários para irem ao combate, não pestanejou.
Entrando em contato com alguns conhecidos, no Rio de Janeiro, se ofereceu para entrar em combate.
Foi um Deus nos acuda; sua irmã, Oracina, estava assustada com tal atitude mais radical do tempestuoso irmão.
Não houve quem o demovesse da idéia, nem mesmo o pároco de Santa Martha, o padre Josias, velho conselheiro do vilarejo.
Ao dizer que havia recebido a confirmação de que tinha sido aceito, João causou verdadeiro clímax entre os habitantes. Não foram poucas as moçoilas que suspiraram frente à possibilidade de, simplesmente, conversar com tal herói.
Num dia frio, daqueles que ninguém esquece, partiu nosso amigo para o Rio de Janeiro, em busca das aventuras que a Europa preparava...
Passados seis meses da viagem, eis que uma notícia caiu como uma bomba em Santa Martha. No domingo, no trem das sete horas, iria chegar de retorno do Velho Continente, o heróico João Polino.
Banda de música na Praça, feriado escolar, todo mundo alvoroçado para recepcioná-lo.
Às sete e meia, pois o trem sempre atrasa, chegou com toda pompa e circunstância, para deleite de toda a população, o nosso Pracinha.
Fogos de artifício e os dobrados tocados no coreto da Praça Santa Bárbara. Os alunos da Escola Municipal, uniformizados, com Dona Louza à frente, reverenciavam o maior herói da história Santamartense.
Depois do rasta-pé que durou a madrugada inteira, João Polino, vivendo como se fosse um sonho, custara a dormir.
No dia seguinte, logo cedo, foi até ao armazém do Seu José Reis, usufruir um pouco da fama.
Ao ser indagado como fora a experiência, João não pestanejou: Que a Guerra estava sendo muito difícil, que tinha matado mais de quarenta alemães, etc. Falara, inclusive, que a Alemanha era muito bonita, e que não tinha dúvidas de que, assim que o povo alemão fosse libertado do nazismo, o país iria se recuperar.
José Reis, quieto, ouvia tudo e nada falava...
Mas, ao perceber que João se referia à Alemanha e não à Itália, estranhou.
-Hei João, quer dizer que a Alemanha é muito bonita? Aonde foi a pior batalha?
-Berlim. Respondeu João Polino, sem pestanejar...
Educadamente José não falou nada, e nem comentou o fato de João ter retornado a Santa Martha com uma morenice de fazer inveja...

No cansaço da lida sem ter tréguas,


No cansaço da lida sem ter tréguas,
Sentimentos sutis, fazendo ninho,
Percorrendo o sertão, cobrindo léguas,
Vou sem me desviar do meu caminho...

Montados nos corcéis, cavalos, éguas,
Poeira das estradas faz carinho.
Minhas antigas dores são perpétuas,
Meus olhos marejados, vou sozinho...

Não temo, muito menos, quero mágoas.
Na vida, me protege minha Santa.
Cobrindo minhas dores, qual anáguas;

Cruéis temeridades, ela espanta.
Fui batizado e prossegui, nas águas,
Daquele ribeirão que, ao longe, canta!

Transeunte que passa pelo rio,

Transeunte que passa pelo rio,
Não percebes sentido no que digo,
Meu mundo foi ficando mais vazio,
De todas as angústias; do perigo,

Conheço tal transtorno, mas me rio.
Das vezes que sonhei, tantas contigo,
Não pude perceber quanto é vadio.
O triste coração, levo comigo...

Sonhava com teus passos, nessa guia.
Andando, me deixaste, sem ter meta.
A vida, transportada, em fantasia.

Nos traços vigorosos, linha reta.
Vou transformando em versos, poesia.
Vivendo minha sina: ser poeta!

Trovas a oito mãos






I
Bebi água na torneira,
No riacho me afoguei,
Se já fiz tanta besteira,
É que, menino, fui rei...

Bebi a fresca da fonte
no remanso m'afoguei
para encontrar o amor...
mas como se não conheço?

Bebi tanta água salgada
das lágrimas que chorei
toda a imensidão é nada
deste mar em que afoguei!

Lágima que virou mar
onda que invade ponte
dor que sai a te buscar
esquina sem horizonte.


II
Sei do seio da saudade,
Da saudade, tão profunda,
A lua, por caridade,
De claridade, me inunda...

Na saudade fiz meu ninho
nas suas penas deitei
afundei em seus espinhos
da lua me distanciei.


A saudade é uma noite
Com luar, clarão e dor
Mas é dona do açoite...
Açoite chamado amor.

A saudade é sempre ontem
no alvorecer de hoje
porta afora sonhos partem
lembrança de ti não foge.



III
Beija flor, beijando a boca,
Essa boca que beijei,
Beija flor deixando louca
Tanta boca que amei

Beija-flor não me beijou
na boca que ofertei
acabei ficando louca
por bocas que não beijei!

Beija-flor é traiçoreiro
Trai cantando na alvorada
E prendeu no cativeiro
A boca tão mais beijada!

Beija-flor , pro vagalume:
_"Beijo a rosa , quebro o azul!"
Este, morto de ciúmes
perde o norte, a rosa do sul!



IV
Beijando a boca da noite,
Cavalgando no cometa,
Constelações como açoite,
Montado nessa lambreta...

Beijou-me a boca da noite,
taciturna e sombria
bafejou-me mil açoites
no dorso de longos dias!


Da noite, fugi da boca
O seu beijo eu não quis
Ainda não estou louca...
O que eu quero é ser feliz!

Cai no frio do braço
do rio que canta em seixos
levou pra longe o abraço
do beijo, hoje me queixo.

V
Rosalinda, minha rosa.
Linda rosa, na roseira.
Moça linda, mas tão prosa,
No rosal, és a primeira...

Cravo cheirando a vigor
beija a rosa linda e rosa
viceja as suas cores
mas de amor a rosa morre!


Cravo macho perfumado
meu morango do agreste
Por tanto te ter amado
Vou contigo pro nordeste!

Bem mais nobre a margarida
vestida de camponesa
corola cheia de vida
por todo o lado viceja.

VI
Sou mineiro, de verdade;
Demorei a ver o mar,
Quando vi, me deu saudade,
De quem aprendi a amar...

Sou gaúcha verdadeira
nasci olhando o mar
cá destas serras fagueiras...
de beleza sem igual!


Sulmatogrossense eu sou
nasci bem longe do mar
na planície que moldou
este vasto meu amar!

Fiz de conta não amar
mares de "não me contes"
minas pus-me a chorar
na serra virei pedra e fonte.


VII
Lancei toda minha sorte,
Nas ondas do rio mar,
Mariazinha, por sorte,
Tá aprendendo a nadar...

Lancei as cartas na mesa
pra ver a vida girar.
Girou com tal rapidez
que não consegui jogar!

Sete ondas eu pulei
Para ver se dava sorte
E quase eu encontrei
No azul a minha morte!

Meu barco, casca de noz
na imensidão se perdeu
também me perdi de nós
no norte que Deus me deu


VIII
Alameda d'esperança,
Criança corre, a brincar,
Vivendo em minha lembrança,
Vai brincando, sem parar...

Cheiro do pão e cafe
emanam das emoções
das sangas molhando os pés,
daquelas saias crianças!

Tamarindo tão formoso
emoções da minha infância
guardo seu gosto cheiroso
nos armários da lembrança!

O licor de tamarindo
evaporou-se no céu
da boca tua, pedindo
o torpor de um beijo meu.


IX
Bebo a vida sem ter medo,
Posso `té me embriagar,
Quem quiser saber segredo,
Procure conchas no mar...

Dei a volta no meu rancho
campeando a esperança...
penduraram-na num gancho
que ficou cá na lembrança!

Devorando a Vida eu vou
antes me dovore ela;
Sou melhor do que eu sou
se pintada em aquarela!

A vida eu saboreio
pelas beiras, devagar
não vou direto ao recheio
onde vou te degustar.



X
Poetando poesia,
Vivo sempre a poetar,
Quem poeta todo dia,
Conhece manhas de amar...

Penso que faço poema,
mas acho que é engano
o poema é semente,
a poesia é seu chão!


Já não sei mais escrever
escrever eu nunca soube;
A poesia, pode crer
Em meu peito nunca coube!

Se consumo poesia
bem mais ela me consome
se me atropela de dia
comigo, à noite não dorme.




XI
Vindo de triste partida,
Não pude recomeçar.
Minha sina, nessa vida,
É viver sem te amar.

Por aqui fiz a morada
não me interessa partir,
tão pouco quero voltar,
quero seguir e vou indo...

O que mais amo no mundo
é do amor a sensaçao:
Em bem menos de um segundo
eu encontro outra paixão!

Ente partir e ir embora
coube-be igual partilha
meu abrigo porta afora
fez-me igual, estrada e ilha.


XII
Trevo entre a vida e a morte,
Na curva desta promessa,
Onde a vida teve a sorte,
Onde minha sorte começa.


Entre a vida e morte,
qual a sorte da primeira,
se a outra deita e rola
durante a vida inteira?

Morte e Vida Severina
o poeta não sabia,
Vida é sorte que termina
ou se a morte ali cabia!

Bem me quer o mal da sorte
na pedra onde gravou
aqui jaz minha morte
que minha vida enfeitou

XIII
Foste forte fui tão fraco,
Fracassei sem ter perdão,
Pus, na corrente, meu barco,
Embarquei meu coração!

Entre o forte e o fraco
alojei o equilíbrio
quando abri meus curtos braços
só abracei o vazio!

Forte como o vento eu sou
Em noites de vendaval
Varro tudo que encalhou...
tudo o que me fez mal!

Fui buscar no realejo
um pranto em novo canto
forte fiz-me em teu beijo
morri em teu olhar de quebranto.




Marcos Loures
OlgaMatos
Fátima Cunha
Elane Tomich

Quando vou caminhando nas estradas Soneto

Quando vou caminhando nas estradas,
A cada curva, sinto essa presença.
O vento bafejando, vão cansadas,
Minha mãos que queimavam, velha crença:

A de poder sentir; tão amparadas,
Quanto foram. Bem antes que a doença
Abatendo meus dias, invernadas
Mais antigas, cruéis, sem recompensa!

Quando caminho a esmo pelas campinas,
Onde, crianças, fomos sem ter medo,
Nas fontes luminosas, cristalinas,

Por onde tantas vezes, meu degredo,
Sangrando sem saber se nisso atinas,
Guardando, fielmente, meu segredo!