domingo, junho 18, 2006

Redondilhas

Quando o brilho dessa lua
Clareia todo sertão
A verdade surge nua
Em forma de assombração.
Correndo pelas estradas
Acompanhando o luar
No meio das madrugadas
Num grito de apavorar,
Ao longe se ouve distante
O latido doloroso
Esse ladrar inconstante
Assustando, pavoroso
Quem cruzasse no caminho
Quem tentasse andar sozinho
Pelas trilhas dessa terra,
Travando sempre essa guerra,
Entre vivente e defunto
Nessa luta, tudo junto
Se confunde na batalha,
Mesmo que você atalha
Por outro rumo ou estrada
Não adiantará de nada
Você não pode escapar.
Se não vier lobisomem
Outro poderá chegar
Meio bicho meio homem.
Nessa mata sem ninguém
Mula sem cabeça vem
Procurando devorar
A quem puder encontrar.
Mas, me contam e acredito
No meio de tanto maldito
Outra coisa perigosa
É gente cheia de prosa,
No meio desses fordunços
Trabalha prá coronel
Sem pena, manda pro céu.
Essa turma de jagunços.
O povo do meu sertão
Vive toda ameaçada
Bastar dizer um só não
Ou então precisa nada.
Na ponta de uma peixeira
Ou na mira de um fuzil,
De sangue, mancham a bandeira
Envergonham o Brasil.

Sugestão sobre a campanha de Alckmin

Alckmin é vaiado em festa e questiona caráter do presidente da Agência Folha, em AmericanaO candidato à Presidência pelo PSDB, Geraldo Alckmin, foi vaiado na noite de sexta-feira durante discurso na 20ª Festa do Peão de Americana (128 km à noroeste da capital). Depois, em entrevista, questionou o caráter do presidente Lula e insinuou que ele seria o "chefe de uma quadrilha de 40 ladrões". "Sobre caráter, eu acho difícil que o presidente Lula possa discorrer sobre esse tema. Porque o procurador da República disse que, entre ministros, assessores diretos e nos altos escalões, havia uma quadrilha de 40 ladrões, e a população pergunta quem é o chefe dessa quadrilha. É isso que ele precisa responder", disse. Alckmin chegou à festa do peão, em Americana, por volta das 21h. Conversou com os organizadores e, por eles, foi levado à arena (que comporta cerca de 5.000 pessoas), acompanhado de políticos locais. Após as lideranças locais discursarem, foi a vez do candidato tucano falar. Nesse momento, começaram as vaias generalizadas. Alckmin discursou por cerca de um minuto, falando sobre a importância do evento, que, segundo a organização, reuniu cerca de 30 mil pessoas. Depois, passeou pela festa, cumprimentou pessoas e tirou dezenas de fotos.


Não consigo entender até que ponto a equipe responsável pela campanha de Alckmin ainda não entendeu o recado dado pela população.
Essa história de agressão verbal não cola e, pior, demonstra o desespero de quem não conseguiu decolar a candidatura.
Se durante mais de um ano não se lia ou ouvia outra coisa que não fosse o ataque pessoal ao Presidente da República, indo até a tentativa de impedimento do mesmo e isso não surtiu efeito, agora então...
Persistir nesse tema é, além de estrategicamente errado, pode dar a dimensão catastrófica do desespero.
Em linguagem futebolística, quando o time está irremediavelmente derrotado, começa a dar pontapés a torto e a direito. Essa imagem me vem a cada ataque, os mesmos ataques, sob os mesmos argumentos.
A tática de campanha se for nesse tom, vai se tornar além de chata, extremamente inócua, podendo agir com um efeito bumerangue devastador.
Se os candidatos a Governador embarcarem nessa, e duvido que façam, podem receber estilhaços desta lambança toda.
Lula conseguiu escapar ileso de toda esta crise, isso é ponto passivo. O fato dos números de aprovação de seu governo retornarem aos tempos pré-mensalão dão a exata dimensão disto.
Nas campanhas anteriores, houve aspectos inerentes a cada uma delas.
Contra Collor, a armação criminosa envolvendo Mirian Cordeiro, comprovadamente paga para mentir e criar uma imagem falsa sobre Lula, decidiu a eleição.
Na segunda campanha, contra FHC, o Plano Real modificou tudo.
Agora, com o poder na mão, muito dificilmente Lula deixará de se reeleger.
Mas, há uma chance para a oposição.
Sugiro que os articuladores da campanha de Alckmin convençam FHC de apoiar Lula. Isso poderá ter um efeito tsunami na candidatura do Presidente.
Esse apoio nefasto retiraria de Lula pelo menos vinte por cento dos votos.
Se vier acompanhado do apoio de alguns menos votados, quem sabe do próprio Alckmin, não sobrará pedra sobre pedra.

Cachucha e Zeca Pistola

Fifa faz holandeses assistirem jogo sem calças

A Fifa, a entidade que controla o futebol mundial, explicou neste sábado porque quase mil torcedores holandeses foram obrigados pela entidade a assistirem uma partida da Copa do Mundo sem calças.


Os torcedores chegaram para o jogo contra a Costa do Marfim, na sexta-feira, usando suas tradicionais calças laranja-claro, mas com o logotipo e o nome de uma cervejaria holandesa.

Como a Fifa já havia advertido que não permitiria nenhuma "campanha publicitária não autorizada", forçou os torcedores a deixar as calças na porta do estádio, para proteger os interesses da cervejaria que patrocina a Copa. Caso contrário não seria liberada a entrada desses torcedores. Eles então tiraram suas calças e acompanharam toda a partida usando apenas cuecas.

Quinze grandes companhias pagaram até US$ 50 milhões cada uma pelo direito de ser um dos patrocinadores oficiais da Copa do Mundo.

A empresa americana Anheuser Busch, fabricante da cerveja Budweiser, pagou pelo direito exclusivo de promover e vender sua bebida nos estádios e em outros locais oficiais da Copa. A concessão de uma das cotas de patrocínio a uma cervejaria americana provocou um forte ressentimento na Alemanha, um país que se orgulha pela qualidade de sua cerveja e que tem leis rígidas para controlar sua composição.



Esse fato me faz recordar um dos mais comentados episódios da história do futebol santamartense.
Jogo final do campeonato municipal entre Santa Martha e São José do Caparaó.
Jogo difícil, o time de São José contava com alguns dos maiores craques da região, importados a peso de ouro pelo mecenas do time.
Entre eles o mais temido era Cachucha. Centro avante de fama até fora do estado, tendo tido uma passagem profissional pelo Ipiranga de Manhuaçu.
Reserva, é claro, mas profissional.
Tínhamos o conhecido João Polino, ex-técnico do Santa Martha, como Conselheiro do time.
Bom conselheiro de conselhos tortos para momentos difíceis.
Ao perceber que seria muito difícil vencer a partida, João Polino resolveu montar uma armadilha para o ataque da equipe adversária.
João armou o seguinte esquema defensivo para tentar salvar a equipe:
Havia uma jovem não muito bonita, mas com pernas muito bem torneadas e coxas fantasticamente roliças, muito conhecida como namoradeira lá pras bandas de Santa Martha, estendendo sua fama até aos municípios próximos.
Por causa daquelas coxas, muitos cabras já tinham trocado tapas, pescoções e até tiros.
Conta-se que algumas cicatrizes escancaradas nos rostos de alguns cidadãos daquelas bandas, tinham a assinatura das coxas de Malú, apelido da jovem senhorita.
Pois bem, João posicionou estrategicamente a moçoila por trás do gol do time de Santa Martha; com uma minissaia exuberantemente curta.
Segundo a determinação do conselheiro Polino, a cada ataque do adversário, principalmente se Cachucha estivesse com a bola, Malú, simplesmente abria um pouco as pernas e, com a visão paradisíaca, o resultado seria óbvio.
Encerrado o primeiro tempo, o resultado de tal estratégia não surtira nenhum efeito, o jogo já estava quatro a zero para São José e com todos os gols feitos por Cachucha.
Terminado o jogo, e o placar de sete a dois para o time visitante, João resolveu tirar a história a limpo.
Ao entrar no vestiário do time adversário, com a desculpa de parabenizar a outra equipe pela vitória, obteve a resposta esperada.
Ao flagrar Cachucha semi-nu, entre beijos e abraços, agarrado no pescoço do beque central do time, Zeca Pistola, percebeu o motivo delicado do apelido do centro avante.
O pior de tudo foi, segundo João Polino, o espanto causado pela justificativa do apelido do zagueiro...

Decomposição.

Havia, na pequena Santa Martha de João Polino, uma velha senhora que, mais por vício do que por necessidade, mendigava pelas estreitas ruas de terra do distrito.
Já sexagenária, tinha a mania de dar cantadas em todos os jovens que encontrasse pelo caminho e, por incrível que pareça, muitas vezes obtinha sucesso em tais investidas.
Volta e meia era encontrada nos matos e quintais das casas, semi-nua e adormecida. Com aquele sorriso de quem obtivera muito prazer nas noites geladas do lugarejo.
Quando não obtinha êxito, era comum encontrá-la no celeiro de um sitiante qualquer, muitas vezes embriagada.
Tal mulher colecionava na embaraçada cabeleira vários tipos e espécies de parasitas. Muitas vezes os bernes se desenvolviam e completavam as etapas evolutivas do espécime, até voarem para nova reprodução, provavelmente encontrando ali, novo campo para o desenvolvimento, do ovo à mosca adulta.
Quando falo que não tinha necessidade de mendigar, me remeto ao fato da mesma ter aposentadoria e casa própria.
Essa casa era raramente usada pela velha senhora, se tornando mais um depósito de seus garimpos pelas vielas do local, onde catava tudo quanto se pode imaginar e seqüestrava , transformando restos de latas, vidros, sofás destruídos, pedaços de pano rotos, garrafas de vidro ou plásticas; tudo, enfim, em preciosidades guardadas dentro da casa.
O mau cheiro denunciava a decomposição dos guardados orgânicos, como os restos de comida que se acumulavam num cômodo especialmente separado para isso.
Um dia, mais revoltados que penalizados, alguns vizinhos, cansados de denunciarem à saúde pública o estado em que se encontrava tal pardieiro, resolveram agir.
A ação foi de uma violência ímpar. Invadiram a casa da pobre demente e começaram a arrastar tudo o que encontravam pela frente.
Na sala, vários “monumentos” feitos com pedaços de diversos materiais demonstravam a todos a que ponto a loucura chegara.
Várias esculturas de formas lembrando vagamente crianças estavam espalhadas entre restos de madeira, de lata e de vidros jogados pelos quatro cantos.
Ao simples toque as esculturas se desfizeram, revelando a fragilidade com que foram feitas; sem nenhum material que aderisse os diversos “tijolos”.
Porém, ao entrarem no quarto onde, teoricamente, dormiria a pobre senhora, tiveram uma surpresa.
Pelo quarto, espalhados, vários esqueletos de crianças de, no máximo um ano de idade, em diversas posições, sentados, deitados, em pé, estavam espalhados pelo cômodo, e os alimentos decompostos servidos em pratos, como se fossem para alimentar aos pequenos infantes.
E, deitado no chão, um cachorro morto, em estado de decomposição avançado, observava os pequenos cadáveres famintos...

As aventuras de Gilberto na cidade Grande 3 - conosco

Gilberto, muito simpático e simplório, fora visitar um primo de sua mãe na cidade de Niterói em sua primeira passagem pela cidade Maravilhosa.
Esse primo era uma pessoa muito culta, contador aposentado que tinha na leitura seu maior hobby. Fora muito respeitado como contador em Icaraí, nos bons tempos da juventude.
Escrevera um livro de poemas, poesia clássica com sonetos em alexandrinos e decassílabos heróicos e sáficos.
Fazia questão de falar um português perfeito, tomando cuidado com os acentos e vírgulas, bem pausadas em cada intervenção que fizesse.
Após os bom dias e como vai de praxe; Gilberto com a timidez inicial estava se sentindo como um peixe fora d’água perante tantos rapapés e delicadezas do primo.
A casa, com seus bustos em miniaturas espalhados pela mesa de centro, com seus quadros expostos na parede e sua biblioteca ostentada como a mostrar que naquela casa morava um erudito, inibia mais ainda nosso herói.
Mas, dentro daquela puerilidade típica dos simples, Gilberto foi se soltando pouco a pouco.
Já estava mais à vontade, dando notícias da família, que mamãe estava bem, que os meus irmãos estavam fortes, que os pés de quiabo do seu João estavam produzindo muito, que a Ritinha estava estudando, aquelas coisas de família...
Seu primo, educadamente solicitou à esposa para que preparasse uma mesa com quitutes para que fizessem um lanche rápido, conhecedor da fama de bom prato do nosso amigo.
Este, querendo demonstrar educação, prometera a si mesmo ser menos pródigo nas refeições, aconselhado que fora sobre o fato de que, na cidade grande, ao contrário do que ocorre nas pequenas cidades, o fato de se repetir à exaustão os pratos não significava exemplo de boas maneiras.
No interior, se você não repetir a refeição a dona da casa pode se sentir ofendida, acreditando que a comida não tenha sido do agrado do visitante. Se você quiser agradar, repita, pelo menos uma vez. Isso demonstrará a todos o quanto você gostou da comida.
Pois bem, quando o erudito senhor chamou-o, Betinho causou surpresa a todos que observavam a cena.
“Gilberto, você quer tomar um café e comer conosco?”
A resposta veio rápida e esclarecedora:
“Primo, o café até que eu não quero não, mas um conosquinho cairia bem agora!”

soneto em redondilha

Na fumaça do cigarro
Subindo nas espirais
Em cada trago me agarro
Neles todos tu te vais

Quando dirijo meu carro
Pelas ruas caço um cais.
Onde quer que me amarro,
Procuro, mas não estás.

Tanto tempo nesta busca
Sigo, sem ter resultado.
A noite tanto me ofusca;

Procurando todo lado
Nessa vida tão patusca,
Coração desesperado...

soneto em redondilha

Tateio na noite vaga
Procurando por você
Eu me lembro vida amarga,
Quanto doeu lhe perder.

Minha voz, então se embarga,
Fico a perguntar por quê
Cravando no peito a adaga
A vontade de morrer...

Amanhã, pouco me importa.
Se virá e o que me traz,
Destino fechando a porta

Tudo ficando pra trás
Minha vida segue torta
Anda morta a minha paz...