quinta-feira, fevereiro 18, 2010

25102

A lua sobre a areia, plena, imensa,
Na eterna mocidade se desnuda
Transcende à própria vida e nos ajuda
A crer na eternidade em recompensa,

Permita que minha alma se convença
Que mesmo tão pequena e até miúda
Jamais se omitirá, ficando muda
Derrame-se em força rara, pois intensa.

O tempo vai criando as armadilhas
E nelas mal percebes quando trilhas
Vagando muitas vezes sem destino.

Mas saiba que da luz somos reflexos,
Por mais que se procurem rumos, nexos,
Sob as garras venais me desatino.

25101

Permite que voemos fantasias
O cálice do amor feito em cristal
Trazendo ao mesmo tempo mel e sal
Aporte de emoção, duras sangrias,

Destrói e reconstrói em poesias
Naufraga enquanto ancora a velha nau,
Relevos entre o bem, o medo e o mal,
O amor é muito além do que sabias,

Vivê-lo em plenitude, dor e glória,
É lua que extasia, merencória
Bastante, mas deveras incompleto,

É sim que prenuncia a negação
É neve temporã, toma o verão,
Maldito sentimento, o predileto.

25100

Nós dois, entranhados de magias
Procurando esta alquímica poção
Aonde as alegrias mostrarão
Delírios mais diversos que querias,
E além destas divinas fantasias
O amor que nos ensina esta lição
De solidariedade, vinho e pão
Que em mágicos momentos tu recrias.

Erguendo ao grande amor imenso altar
E a cada anoitecer poder louvar
Em forma de prazer e de atitude
Quem tanto nos renova e nos permite
Sonhar sem ter fronteiras nem limite
Mantendo viva em nós, a juventude.

25099

Na treva, a solidão, seguira os passos
De quem me abandonara há tantos anos,
Somente no caminho, desenganos,
Sequer eu percebera leves traços

E agora depois disso, os olhos lassos
Esqueço do passado; velhos planos
E os dias que virão, tolos e insanos
Na ausência do calor de teus abraços.

Excêntricas paisagens, pesadelos,
E quando me percebo a revolvê-los
Encontro o desvario por resposta,

A sorte se ausentando dos meus dias,
Restando tão somente as poesias
Minha alma entre os espectros segue exposta

25098

“De tanta inspiração e tanta vida”
A poesia traz em suas sanhas
As luzes e os terrores onde entranhas
A sorte tantas vezes esquecida,

Traçando desde o encontro à despedida
Enquanto em suas águas tu te banhas
Ou mesmo em seus espinhos tu te arranhas
E quando te serena abre feridas

Verdugo que apazigua e mesmo cura,
Nas ânsias mais diversas diz loucura,
Da forma que te alerta já te engana,

Esculpe com palavras, canta em versos
Tecendo em suas frases, universos,
Das artes, com certeza, a soberana

CITAÇÃO DE ÁLVARES DE AZEVEDO.

25097

Na noite que se vai; em nada penso
Somente nas angústias que trouxeste,
Aonde imaginara luz celeste
Eu vejo este vazio, agora imenso,

E quando noutras sendas eu compenso
A dor de me saber alheio e agreste
Colhendo o dissabor que tu me deste,
O amor transcorre vago e sempre tenso,

Audaciosamente quis a luz,
Porém quando ao vazio me conduz
O sonho que deveras fora belo,

As ondas deste mar destroçam tudo,
E mesmo quando insano eu já me iludo
Ruínas o que resta do castelo.

25096

Deixando bem distantes, agonias
Não posso mais voltar a ter nos olhos
Somente estes temores, tais abrolhos
Que a cada nova ceva sempre crias,

Estraçalhando assim a poesia,
Vencendo com terror farta beleza,
Aonde se pudera ter leveza
Apenas tempestade ainda urdia

Quem tanto eu desejei; fonte de sonhos
E agora percebendo esta cilada.
Não acredito, pois quase em mais nada
Os dias que virão serão medonhos

Marcados pelo medo e pela dor,
Matando em nascedouro, cada flor.

25095

As marcas desenhadas numa areia
Demonstram que passaste nestas plagas
E enquanto a fantasia; assim afagas
A lua se derrama bela e cheia,

O amor incomparável nos rodeia
E dele estes prazeres quais adagas
Penetram mais profundo em noites magas
Trazendo tudo aquilo que se anseia,

Descreves com carinho cada fato
E quando neste instante eu me arrebato
Tomado por insânia e insensatez,

As ondas deste mar ficam mais fortes,
Sabendo que deveras me confortes
Após a tempestade que se fez.

25094

Por certo as ondas levam e as marés
Transportam os desejos mais atrozes
E quando ouvindo ao longe belas vozes
Olhando calmamente de viés

Mergulho neste mar e te procuro,
Qual fosse a mais perfeita das sereias,
E mesmo em oceano, ora incendeias
Imenso fogaréu tomando o escuro,

E sinto um raro encanto quando cantas
E as ânsias se transformam; maravilhas,
E sinto quanto mais querida, brilhas
As forças que me impelem sendo tantas

Num átimo percebo ser feliz,
E em ti encontro tudo o que mais quis.

25093

Depois nada encontrando, quem rastreia
Espera pelo menos um momento
Aonde se permita um pensamento
Tramando em noite clara a lua cheia

Vencendo a tempestade que rodeia
Sagacidade implícita no vento
Enquanto nos teus braços me acalento,
A vida em plenitude uma alma anseia

Vestindo as ilusões que tanto quis
Podendo finalmente ser feliz
Não tenho mais desculpas, quero além

De todo o sentimento que concebo
No amor em magnitude que recebo
A paz que imaginara ele contém.

25092

Nas marcas das pegadas sigo o rastro
Por onde caminhaste noite afora,
E quando esta saudade já se aflora
A vida vai perdendo rumo e lastro,

E quando pelas sendas eu me alastro
Buscando quem mais quero sem demora,
Imensa ansiedade me devora
Guiado pela lua ou qualquer astro

Que possa refletir tanto fulgor
Produto soberano deste amor
Aonde se percebe a claridade

Imensa que transcende à própria vida
E o que já fora outrora vaga ermida
Agora em luz intensa já me invade.

25091

Testemunhas do amor que sei demais
Enquanto tal beleza maravilha
Uma alma que deveras bebe a trilha
Aonde vós deveras já passais,
Sabeis destes soberbos, magistrais
Momentos onde o sol mais forte brilha
Por mais que amor traduza uma armadilha
Reflete em si pureza dos cristais.

E quando me entregando sem defesas
Às fortes e soberbas correntezas
Jamais me impediria de seguir
Sabendo quão difíceis as cascatas
Porém suas passadas mais exatas
Levando-nos a um manso e bom porvir.

25090

Roubando de meus lábios, tentação
Angustiadamente a vida trama
Delírios entre trevas, luz e chama
Trazendo a fantasia ou mesmo o não,

E quando se transforma em solidão
Ou claro amanhecer ela já trama
E para um belo sol ela nos chama
Mostrando os brilhos tantos que virão

Esboçando a um só tempo; guerra e paz
E enquanto nos maltrata satisfaz
Esta ânsia dolorosa de um prazer,

Esqueço os dissabores, dessedento
Angústias preconizam tal tormento
E nela muitas vezes ser/não ser.

25087

Aflora no meu corpo tal desejo
Vontade de fazer da poesia
Além de simplesmente quente ou fria
Momento de prazer real, sobejo.

E quando me percebo logo vejo
Que tudo não passou de alegoria,
Quem sabe não duvida e até recria
Da própria morte a sorte de um lampejo.

Mas sei que o verso em rimas é tão chato
E quando a realidade desacato
Pareço um Don Quixote ou arremedo,

E tento disfarçar minha ignorância
Rimando com total deselegância,
Porém sigo teimoso e nunca cedo.

25088 - com estrambote

Que invade minha vida, com vontades
E tramas com delírios novas sanhas,
Assim querida amiga, tu me assanhas
E depois que consegues; logo evades;

(Assim é minha dura realidade,)

Ao mesmo tempo sonhos ou verdade
Loucuras e mentiras são tamanhas
Planícies contrastando com montanhas
Escuridão traduz a claridade.

Dos falsos brilhos sei me que cansei
E quando procurando noutra grei
A porta com certeza está fechada

Assim no perde e ganha a vida passa,
Mas sei que um dia então será da caça
E a caçadora foge, em debandada...

25086

Querendo sempre mais enfim prevejo
Que o fim se determina a cada dia,
O quadro aonde a luz diversa urdia
Aquém da realidade do desejo,

Expressa a fantasia que ora almejo,
Mas sei o quanto a vida me esvazia
Sonego passo a passo a fantasia
E tudo no final trazendo o pejo,

Faltando ao macarrão um molho e o queijo
Que faço se esta boca não mais beijo
Tampouco algum carinho tu me dás,

Assim o barco esquece cais e porto,
E o amor que tanto quis agora morto
Descansa eternamente em chata paz.

25085

Em nossa cama fogo e sedução
Mentiras que tratamos de esconder
Nas ânsias delicadas do prazer
As noites brancas ora mostrarão

Que tudo na verdade foi em vão,
E tendo novo rumo a escolher
Seria bem melhor o refazer
Num outro caminhar noutra paixão.

Mas tudo se perdendo no marasmo,
Ausente há tanto tempo ansiado orgasmo
O que nos alimenta é o dia a dia,

E dele se repete a ladainha
Diversa da que o sonho já continha,
E o nada vezes nada ora sacia?

25084

Ouvindo a voz sombria do passado
Sombras do que já fora outrora glória
O quadro se esvanece e nova história
Navega pelo mar entregue ao Fado

Escuto esta canção tão merencória
Tentando o renascer do abandonado
Ourives da palavra, destroçado
Jogado pelos cantos, vulga escória

Águas que nunca movem mais moinho
Medonhas tempestades e sozinho
Ousando ter nos olhos o fututo

Restando tão somente este vazio
Resisto e quanto mais eu desafio
Encontro o mesmo nada e não me curo.

25083

Deitando do teu lado, amor; lateja
Vontade de sentir teu pleno gozo,
O mundo do teu lado mavioso
A sorte se demonstra mais sobeja

Desvendo os teus mistérios que alma veja
Caminho delicado e prazeroso,
Um pária no passado, um andrajoso
O paraíso encontro e em mim poreja

Delírio feito em glória e divindade,
Bacanta fantasia rompe a grade
E tudo se transforma loucamente,

O todo se transborda num segundo
E quando nos teus mares me aprofundo
Uma explosão em luzes se pressente.

25082

E vens tão delicada, bela e nua
Tomando este cenário, louca atriz
No altar não sei se santa ou meretriz
Desvarios causando enquanto atua

E a noite se deleita em rara lua
O amor feito em prazeres não desdiz
A fúria emoldurada e sou feliz,
Vontade repartida, minha e tua,

E dessedento assim minhas vontades,
E quando paraísos tu invades
Derramas sobre mim, orvalho intenso,

Umedecendo em gozo este lençol,
A lua se entregando ao louco sol,
Do etéreo enlaguescer, já me convenço.

25081

Vibrando em mil vontades, a emoção
Transcende ao próprio ser ao traduzir
O quanto do total posso despir
E o quanto necessita proteção.

Nudez que com palavras mostrarão
Diversas muitas vezes do sentir
E quando me pecebo a impedir
Do meu eu a total devastação

Fingindo ou mesmo até mais verdadeiro,
Enquanto me entregando já me esgueiro
E nunca saberás quem sou de fato,

Por vezes no vazio ou no infinito,
Etereamente explícito conflito,
No ser ou poderia, eu me retrato.

25080

Deslinda-se em loucuras, sempre mais
Quem tanto desejou e não sabia
Que a vida é feita em lágrima e alegria
E assim momentos vários nos bornais,

Enquanto ao mesmo tempo, doces, sais
Não posso sonegar a fantasia,
E a realidade após retornaria
Metades se encaixando, desiguais,

Traduzo o que serei no que já fui,
E tudo desta forma ainda flui
Levando à foz diversa em mar incerto,

Mas quando me pergunto se eu desejo,
Início sem ter fim ou meio; almejo,
Porém qualquer desvio e já deserto.

25078

E a noite sem juízo, continua
Deixando nos motéis, os automóveis,
Indóceis passageiros, novos móveis
E a casa prosseguindo quase nua.

O quadro trasnfigura-se deveras
As cores são diversas das que eu vira,
E quando reunindo cada tira
A colcha de retalhos crias; geras.

Metade do que aprendo já deleto
Outra metade; esqueço dia a dia,
E quando o coração não fantasia
Cenário do viver fica incompleto,

Brincando com palavras, lavro a vida,
Adentro esta porteira. E a saída?

25079

Aporto tuas pernas, acho o cais
E sinto este arrepio benfazejo
O fim desta viagem, pois prevejo
Em ânsias e delírios magistrais,

Mas quando perceberes nunca mais
Virás satisfazer nosso desejo
O amor não poderia ser lampejo,
Que faço se tão pouco diz demais.

Eu sei que na verdade é movediço
O sentimento ao qual já não cobiço,
E trago em minhas mãos a velha adaga

De quem se defendendo contra-ataca
Os gumes tão diversos desta faca
Arranham no momento em que se afaga.

25077

Desfruto e quero sempre, cada flor
Ainda quando espinhos ela traz,
Assim vivendo em guerra busco a paz,
E nela com certeza o bem do amor.

A vida tem mistérios a propor
Alguma vez percebo pertinaz
Caminho que trilhando mais audaz
Permita no final, prazer ou dor.

Esqueço-me deveras do passado,
E bebo do futuro, extasiado,
Galgando um novo passo a cada dia,

Mas deixo para trás o que não serve,
Somente o que faz bem a alma conserve
E a cada amanhecer já se esvazia.

25076

E estouro sem limites, sem pudor
Porteiras que se fecham ao passado,
Um canto; há tanto tempo abandonado
Não posso desta forma, te propor,

Viver a plenitude e como for,
Deixando o apodrecido assim de lado,
Com pince nez e unando o amarrotado
Terno onde vejo a traça a decompor

Velhusco eu não traduzo por velhaco,
Axila; agora eu chamo de sovaco
E tudo o que se faz valendo a pena,

Perdoe este mofado cavalheiro
Das velharias toscas, companheiro,
Enquanto este futuro ao largo acena...

25075

Em secretos caminhos tão audazes
A juventude faz ao velho a troça
E quando desconhece uma carroça
Diversas novidades; tu me trazes,

Meus olhos; me perdoe se incapazes
De verem quanto a vida se remoça
E bebem da cachaça lá da roça
Enquanto; outra mstura; agora fazes.

Quem vive do passado é um museu
E tudo o que eu sabia se perdeu
Na nova maravilha feita em brilho,

Assim velho gagá, sem ter apoio
Distante e me isolando do comboio,
Estrada em pó, poeira, ainda trilho.

25074

Além do que pensaram incapazes
A morte desta estúpida quimera
Também levou consigo a primavera
Nas mãos das vagas turbas, vãs tenazes,

E tanto quanto eu posso já desfazes
E matas o que a vida não tempera,
Esqueço e combatendo a tosca fera
Os versos são apenas mais mordazes.

Arcaica poesia tão velhusca
Enquanto a novidade sempre busca
Formatos variados para o tema,

Mas sei que a liberdade diz nos versos
De outros caminhos vários e diversos,
Somente o desfazer o feito, algema.

25073

Audácias e loucuras, quero mais;
Mas sei que o canto é frágil e diz passado,
O sonho de um poeta ultrapassado
Revelam sonhos toscos e ancestrais,

Aonde se quiseram tais cristais
O verso que ora trago está mofado,
Camoniano sonho destroçado,
Os dias se repetem sempte iguais,

Neons toamando a cena, pobre lua,
A realidade, o vate desvirtua,
Combate tão inútil já não faço,

E sei que meu cantar envelhecido
Há tanto pelos cantos esquecido
Não deixará sequer um resto, um traço.

25072

Nas horas prazerosas entornais
Delírios que vós vedes nada valem
Bem antes que estas vozes já se calem
Ainda quero crer possível cais,

E tudo se transforma em vãos jograis,
E neles as certezas que me abalem
Do tanto que não vale, e me avassalem
Os versos que em verdade são banais.

Ausente da esperança; eu sinto em vós
Aquém do que pensara em mansa voz
O fim de um tempo aonde imaginara

Possível ter na lira alguma luz,
Ao nada onde deveras reproduz
Vazio em noite intensa, mas amara.

25071

As pistas para os sítios mais vorazes
Deixaste como um rastro em noite clara,
E o amor que tanto entranho quanto ampara
Traduz o quanto queres e me trazes

E quando balançando as minhas bases
Uma hora divinal e outrora rara
A porta dos delírios escancara
Fomentando os anseios mais audazes.

Escuto a voz de um tempo em que este encanto
Que agora ao vento lanço quando canto
Tramava maravilhas, mas inúteis,

Os sonhos esquecidos nalgum canto,
E tudo se tomando em vão quebranto
Os dias se repetem; ocos, fúteis.

25070

Nas guerras e nas lutas, tréguas pazes
Momentos de completo desvario
Ao mesmo tempo a seca traz ao rio
O quanto já não queres ou desfazes,

E quando me maltratas, satisfazes
A cada novo tempo me recrio,
E neste velho e tolo desafio
Parceiros de tormentos tão mordazes,

Na luta e na batalha eu te desnudo
E sinto que tu vens, mas sei, contudo
Jamais te mostrarás assim inteira,

E desta forma a vida nos engana,
Ao mesmo tempo escrava e soberana
Quem sabe mentirosa ou verdadeira?

25069

Nas grutas e montanhas das Gerais
Eu tive os dissabores e as delícias,
Os ventos entre as flores, as carícias
Dos tempoe que não voltam nunca mais

Mineiro sem ter mar, procura um cais
E dele sequer tendo mais notícias
Exponto o coração às vãs sevícias
Enfrenta tempestades magistrais

Sabendo diamantes, turmalinas
E quando apaixonado, me fascinas
E mostrando outra face, serenata

A fonte dos desejos habitando
Aonde fora manso e quase brando,
A fúria de um delírio se desata.

25068

E assim, espaços rotos, descobertos
Delitos cometidos, erros básicos
Os dias se repetem sendo fásicos
Às vezes pelas nuvens, encobertos,

Assisto à derrocada da esperança
E quando se desnuda esta tragédia.
Não minto e nem sequer faria média
Medonha tempestade à qual se lança

Despudoradamente o ser humano,
Astuciosamente a serpe ri,
E quando mal percebo estou aqui
E a cada novo dia mais me engano,

Matando o que talvez inda salvasse
E a vida num terrível; vão impasse.

25067

Nos nichos mais profundos, vãos abertos,
Delírios sem delitos ou pecados,
Momentos mais audazes e safados,
Alagam com prazer os teus desertos,

E sinto num espasmo, descobertos
Desejos entre fúrias desvendados
Os dias em delícias decorados
Os rumos antes vagos, ora certos.

Hedônicos desfiles, gozo e mágica
Aonde a vida fora outrora trágica
Se expressando diversa maravilha

O coração agora em liberdade
Algema-se ao calor que adentra e invade
E em plena noite escura, imenso, brilha.

25066

Adentro sem juízo e sem paragem
Searas onde o amor se faz inteiro,
E sendo dos meus sonhos, mensageiro
Encontra no teu corpo esta estalagem,
Perfaço repetindo tal viagem
Caminho tão gostoso e costumeiro
Delírio se torndando corriqueiro,
Aonde outrora fora uma miragem.
Fronteiras; desconheço e quando entranho
Defesas, barricadas, onde antanho
Jamais imagiara poder ter
As fartas maravilhs que me dás
E nelas reconheço sou audaz
Na ansiedade explícita, o prazer.

25065

Vibrando em cada beijo, docemente,
A pele se arrepia e necessita
Da troca de carias que, bendita
Explode num delírio e se pressente

No olhar um Paraíso mais presente
Vivendo esta emoção que tanto agita
E o coração insano, já palpita
E o gozo incomparável não desmente

O quanto se faz claro e belo o amor,
Sem medos, sem terrores, sem pudor,
Apenas e somente até por ser

Amor se traduzindo em fúria e riso
Tomando num instante todo o siso
Eclode furioso, no prazer.

25064

Desnudo tua pele totalmente
Antevendo delírios sensuais
E quanto deste tanto quero mais
O corpo se excitando não desmente,

Mergulho neste encanto e de repente
A vida se tranforma e os rituais
Do amor que são deveras triunfais
Tomando sem pudores corpo e mente.

E assim ao passearmos no infinito,
Deixando no passado o dia aflito,
Numa ânsia sem limites, fogo intenso,

E quando no teu gozo, também tenho
A imensa recompensa deste empenho,
Do amor que nos domina, eu me convenço.

25063

Enceto, sem limites, tal viagem
Que possa permitir o amanhecer
Depois de tanto tempo em desprazer
Mudando com certeza esta paisagem

Procuro pela paz em nova aragem
E nela passo mesmo até a crer
Que um dia bem melhor irá nascer,
Do sofrimento tolo, sigo à margem.

E sei que também queres novo rumo,
Por isso este final; querida, assumo
Resumo nestes versos nosso fim.

Aonde se pudesse crer na glória
A vida transcorrendo merencória,
A seca devastndo este jardim.

25062

Cada vez que fugia proutros braços
Tentando algum prazer que nunca vinha
A história que pensara fosse minha
Termina em dias frios, sonhos lassos,

E neles percebendo os embaraços
O quanto ser feliz já não continha,
E toda a fantasia ora definha
Vazios entre nós ledos espaços.

E assim ao fim de tudo, ainda creio
E atalho outra saída, busco um meio,
Mas sei que na verdade esta fadiga

Do amor que jamais foi primaveril
E quando novos braços, permitiu
Inútil tentativa; não prossiga.

25089

Comparsas que se encontram num adeus
Joguetes desta mesma ingratidão
Que os dias no futuro mostrarão,
Venenos destilados, teus e meus,

Acende-se entre nós tal disparate
A morte deste encanto reproduz
O que deveras fora rara luz
E agora sem calor não arrebate

Dos versos entre sonhos e delícias,
Medonhas caricatas, desventuras,
E tudo o que talvez inda procuras
Servindo como forma de sevícias

Expõe o nada ter que ora nos guia,
Matando o que restara da alegria.

25061

Eu sempre me encontrava em teus abraços
Durante muito tempo foi assim,
Acendes do desejo este estopim,
Mas como irei fazer se noutros passos

Tu andas e demonstras teus cansaços
O nosso amor aos poucos chega ao fim,
E sem saber sequer se existe em mim
Do quanto fui feliz, resquícios, traços.

A tarde prenuncia a noite vã
Jamais conheceremos a manhã
É bom que se termine tudo agora.

Por mais que procurara um belo lume,
A bruma vai descendo e de costume
A tempestade enfim já não demora.

25060

Em todos os pecados, teus e meus
Apenas a desculpa não sacia
Quisera ter nas mãos tal utopia
E vejo após os sonhos, ledo adeus,

Quem sabe noutra senda eu possa ver
O dia que tentara mais brilhante,
E nele com certeza este diamante
Ladrilha este caminho a percorrer

Aquela que se fez deusa e princesa
E ao mesmo tempo herege; bem e mal,
O amor se fez estúpido e venal,
Negando o que pensara em tal beleza,

E agora o que me resta é prosseguir,
Bebendo as variáveis do porvir.

25059

Vivíamos correndo os olhos baços
Buscando uma resposta que não veio,
E quanto mais feroz o nosso anseio,
Os dias não deixaram sequer traços,

E fumo desbragado, tantos maços
E deles demoníaco incendeio
O rumo que pregaste; um tosco meio
De ter co’eternidade firmes laços.

E morto sem saber se existe vida,
Por mais que lucidez disto duvida
A fé não se calando ainda explana

A luz após o túnel noutra senda,
Que a própria natureza não desvenda,
Mas quero crer que seja soberana.

25058

Cruzando esses limites sem cansaço
Descrevo a minha história pela Terra,
E enquanto a realidade se descerra
Ausente de alegrias; ergo o braço

E quando o caminhar sem nexo eu traço,
Ao mesmo tempo vale, fossa ou serra
A boca escancarada ainda berra
Por mais que o corpo esteja velho e lasso.

Assisto à derrocada dos primatas
E neles os desejos que arrebatas
Batalhas pós batalhas, guerra insana

Cadáveres se espalham, barricadas,
E as cenas repetidas espalhadas
Enquanto este bufão se ilude e ufana.

25057

Vagando em trevas, pedras, ermos, breus,
Não pude conquistar a confiança
De quem com tanto amor assim se lança
Aos mundos que pensara, outrora, meus;

Apenas nos teus olhos este adeus
Deixando para trás toda esperança
Enquanto para a morte, a vida avança
Meus olhos já não são fiéis e ateus,

Visceralmente contra tais desmandos,
Humanidade torpe em loucos bandos
Aguarda uma clemência que destrói

E assim ao perceber tal desvario,
Resposta se tornando este vazio
Que a crença ordenatória já corrói.

25056

Não posso confessar mais a ninguém
Os meus pecados tantos que jamais
Enquanto noutros tempos perdoais
Agora a solidão, deveras vem

Descarrilando a sorte, velho trem,
Em quedas que prometem abissais
Em vós a fantasia que entornais
Transcende ao nosso antigo e caro bem.

Esboço reações, mas nada tendo,
Sequer o descaminho ora desvendo
Detendo sob os olhos o vazio,

E sendo-vos decerto assim leal,
O quanto me transporto ao velho mal
Atrás da nossa porta, em vão, espio.

25055

Os erros que deveras cometi
Repetem mesmos erros do passado,
O quadro com certeza mal pintado
Revela todo o nada que há em ti,

E sendo que encontrara lá e aqui
O mesmo desvario retratado
Bebendo deste lago tão salgado,
Amargo desta vida eu conheci,

E sendo assim perdoe se não volto,
O quanto me protejo ou já me escolto
Usando como escudo esta surdez,

Não deixa qualquer dúvida, querida,
Aonde houvesse chance de uma vida,
Realidade torpe já desfez.

25054

E tudo me remete sempre a ti
Por mais estranho até que isso pareça
A história não tem jeito nem tem pressa
Depois de tudo aquilo que perdi,

Se agora noutra face renasci,
O quanto que ficou atrás esqueça
E vejo que deveras a condessa
Agora na plebéia eu conheci,

Paredes vão guardando este segredo,
E se deveras sei e ainda cedo
Alguma solução que não virá,

Talvez seja arremedo de um passado,
Que outrora imaginara iluminado,
E agora sei que nunca brilhará.

25053

Que sabe e reconhece muito bem
Não tenho qualquer dúvida, querida
Assim no transcorrer de minha vida
A vida do delírio fica além

Do quanto imaginara e me convém.
Por vezes até Deus, eu sei, duvida
E quando vejo a luz, penso em saída,
Mas logo o teu carinho me retém.

Assim no dia a dia, pouco a pouco,
Bem antes que termine quase louco
Eu bebo e me inebrio deste incêndio,

Amor com seus rancores e prazeres
Além das variantes dos quereres
Daria muito mais do que um compêndio.

25052

O quanto deste amor que nos convém
Persiste mesmo após as variações
Do tempo que em invernos e verões
Enquanto nos traz fogo o gelo tem

Às vezes, na verdade muito aquém
Do quanto se pensara em soluções,
Mas quando em novos dias recompões
O que perdera outrora; tudo bem.

As cenas repetidas ou novéis
Assim ao invertermos os papéis
Por vezes sou vilão, noutras mocinho,

Só sei que deste amor que é manso e fero
As glórias e os infernos; tanto espero,
Só não suporto mais ficar sozinho.

25051

E há tanto sem querer quase perdi
As minhas esperanças sem remédio
E quando se espalhara o antigo tédio
O todo num instante eu esqueci,

Assíduo companheiro da esperança
Poeta muitas vezes só se engana
E quando a noite chega quase insana
O olhar sobre o vazio, ainda lança.

E tendo em suas mãos dons tão diversos
Usando da palavra, arma sutil
Que muitas vezes mesmo destruiu,
Mostrando este poder que têm os versos,

E sendo sempre assim, sonho e verdade,
Por mais que muitas vezes desagrade.

25050

Bebendo os dissabores eis aqui
O que talvez pudesse ser um homem,
Mas quando as esperanças, todas, somem
Apenas em vazios me verti

E tudo o que sonhara já perdi,
Enquanto as ilusões terríveis domem
E todo o pensamento; vêm e tomem
Da mansidão e paz eu me esqueci.

Estraçalhado verme que respira
Ainda fomentando a insânia, a pira
Única fonte expressa de calor

Adentrto a frialdade deste inverno
E aonde imaginara calmo e terno,
O dia a dia, em fúria, assustador.

25049

Esquife feito em lágrimas e pinho
Aonde descansar após a luta
Insana de quem nunca a paz desfruta
E segue a sua senda em dor, sozinho,

E quando do final eu me avizinho
A força tão atroz, terrível, bruta
O passo titubeia e a alma reluta
E o mórbido e funesto vão carinho

Roçando a minha pele, me tocando,
Incrível que pareça; às vezes brando
Suave e terno beijo terminal,

E a morte me recolhe no seu colo,
Num abandono manso, deito ao solo,
Terminando este amargo ritual.

25048

És a essência de tudo quanto sonho
E disto não me afasto um só segundo,
E quando nestes vales me aprofundo
Um tempo mais feliz, inda componho,

Viver a fantasia e ter no olhar
O brilho de quem ama e sabe bem
Que amor por si somente já contém
Descomunal potência a se mostrar

Mas quando envolto em brumas e neblinas
As horas que pensara cristalinas
Transformam-se em tempestas mais vorazes,

E quando eu me percebo em desalento
À fúria incontrolável destes ventos,
O pacificador alento trazes.

25047

Maravilhas tão raras que trouxeste
Estrelas, constelares emoções
E quando o coração; em paz expões
Minha alma flutuando assim, celeste

E quando em tempestades tu vieste
Trazendo calmarias, mansidões,
Mudando num instante as estações
O solo nunca mais se fez agreste.

Permita então que em versos eu exponha
A sorte que se fez rara e risonha
Deixando no passado a dor inglória,

E assim ao ter comigo o teu carinho,
Jamais prosseguirei vago e sozinho,
Mudando todo o rumo desta história.

25046

Tu és de minha vida toda a essência
E assim se perpetua nosso caso
Bem antes que se veja o frio ocaso
Amor ora guiando a consciência

De tudo o que acontece tem ciência
E dela se permite o quão me aprazo
E sei que jamais fora por acaso
O amor só se constrói com paciência

E tudo que desfruto neste instante
Provém de um tempo raro e fascinante
Aonde se cevara este canteiro

Com tal dedicação e estando atento,
Cuidar; amenizando o sofrimento,
E ser mesmo em discórdias, verdadeiro.

25045

O que tanto tramamos nessa história
Momentos de prazer entre tempestas
Aonde imaginara simples festas
Ao mesmo tempo luz, terror e glória,

Por mais que a vida doe; rememore-a
Verás que às incertezas tu te emprestas
Lembranças tão felizes ou funestas
A sorte que sorri é merencória.

E nesta tão sutil diversidade
Embora muitas vezes desagrade
Assim é que se faz o crescimento.

Lições, aprendizagem, gozo e dor,
Eterno desfiar e recompor,
Tempestade é prenúncio de um alento.

25044

O vento que nos queima ainda vem
Falar destas estúpidas quimeras
Dos gozos que deveras inda esperas
E o quanto se procura por um bem

A morte tão somente em si contém
As mansas soluções que enfim tu geras
E vendo a expectativa destas feras
A dor e a solidão; não tens ninguém,

Sabendo discernir anseio e medo,
Algum carinho às vezes te concedo,
E por não ter respostas, nada falo,

A vida se perdendo neste nada,
Por vezes vejo a estrada abandonada
E o amor, como consigo decifrá-lo?

25043

Erguidos dos entulhos, prosseguimos
Vagando entre estes becos, solidão
Os dias que deveras mostrarão
Histórias traduzidas nestes limos,

E quando, de nós mesmos, inda rimos,
Tentando descobrir a solução
Entranha dentre em nós a decepção
E para o mesmo nada enfim partimos.

Dois seres que não foram nem seriam,
Enquanto as nossas sanhas nos trariam
Somente esta friagem e este vazio,

Escombros e retalhos de outras vidas,
Esperanças há tanto apodrecidas
À racionalidade eu desafio.

25042

Fazíamos da noite, uma refém
Enquanto desfilávamos o sonho
Momento do passado tão risonho
O tempo isso destrói e nada vem

Somente as velhas sombras que contém
O traço mais atroz, frio e medonho,
E quando em novo tempo recomponho,
Olhando para os lados, mas ninguém.

Assim as minhas noites são iguais,
Aonde se quiseram magistrais
Banais e repetidas num marasmo

Que chega a maltratar pelo não ser,
Ausente da esperança e do prazer,
Revejo o mesmo nada, quieto e pasmo.

25041

Por isso, por favor, cegue a memória
E apague no teu cérebro as lembranças
Enquanto ao teu passado ainda lanças
O olhar, a vida resta merencória,

Não deixe que esta morta e tosca glória
Impeça o caminhar, e quando avanças
Entre o porvir e o ido, tu balanças
E assim repetirás a velha história,

Por isso é que te peço, veja a luz
E deixe a que passou no seu lugar,
São fases tão diversas do luar

Prazer e dor a vida reproduz,
Mas traz em todo belo amanhecer
Uma esperança viva a renascer.

25040

Capaz de demonstrar felicidade
Quem tenta disfarçar seus dissabores
Lembranças de terríveis desamores
Sorriso de alegria é falsidade.

E quando chega a noite e uma saudade
Falando de outros tempos sedutores,
Por mais que noutras sendas inda fores
Cadáver do passado ainda invade

E te vejo calada pelos cantos,
Nos olhos tão vazios desencantos
Olhar neste horizonte segue ausente

À espera de quem foi pra não voltar,
Depois como pudesse disfarçar,
O olhar lacrimejado te desmente.