sexta-feira, janeiro 22, 2010

23310

A mosca é muito chata, na verdade
Pousando no cocô e na comida
Tem gente neste mundo distraída
Que engole logo a mosca com vontade.

Porém a mosca tem outra maldade
O fato de ser muito da enxerida
Invés de dar um beijo, uma lambida
Nojenta a danadinha é realidade.

Porém eu descobri suas vantagens,
Carrego uma comigo, isto é constante
Guardada escondidinha no meu bolso,

Durante os meus passeios e viagens
Num chique e bem careiro restaurante
Na sopa é reclamar que dá reembolso.

23309

O fato é que de fato o flato vem
E quando vem amigo é um sufoco
Quem é culpado? Nunca vi ninguém
Senão sai pontapé, pisada e soco.

No elevador então, ali também,
Tem gente segurando o seu brioco
Terrível flatulência do meu bem
Se cura só se alguém coloca um toco.

Cutuca com taquara este culpado
Mas não cutuque nunca o coco errado
Cuoco faz tremenda confusão.

Chegando na feirinha ou no mercado,
Porém jamais eu vi um tão furado
Do que o do fundador do blocozão...

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23308

No papo deste pato já não caio
O papo com certeza está furado
Deu briga, do poleiro logo saio,
Não quero mais ficar nem depenado.

Quem fala sem pensar é papagaio
E ainda se metendo em trem errado,
Galinha vai fingindo algum desmaio
O troço está ficando complicado.

Tem gato se fazendo de bichano,
Bichano se fazendo de gatinha
É melhor ir baixando logo o pano

Senão vai todo mundo pro buraco
Da Angola veio logo esta galinha
Dizendo sem parar : eu já tô fraco...

23307

A foca mal sabia da fofoca
Que foca já não gosta disto não
Confundem a jibóia com minhoca
Na certa isto vai dar é confusão.

O rio pá no mar é pororoca
Lagoa de mineiro é um marzão
Se sobrou muita coisa, amigo estoca
Quem gosta deste pinto é gavião.

Assim a bicharada se diverte
Lagoa tem o sapo e a perereca
Na zebra é bem difícil que se acerte

Menino tem que ter educação
O dedo no nariz tira meleca
Fazendo de bolinha até bolão...

23306

A tantos a miséria ronda e ataca
O quadro se aproxima do final,
E vejo em teu olhar o triunfal
Delírio de quem usa a fina estaca

Qual fora algum corsário que se atraca
No cais aonde aguardo o meu fatal
Momento que julgara factual,
Mas vejo em tuas mãos o gozo e a faca.

Não pude sonegar a realidade
O amor não sendo vivo na verdade
Altivas emoções nos causa; e a dor

Que tantas vezes vi na tua face
Agora após o frio deste impasse
Mostrando o seu jogral revelador...

23305

Nos olhos o reflexo da ambição
O gozo dos prazeres inauditos
Os olhos entre risos, riscos, ritos
No fundo o que nos resta é sempre o não.

Vencer a cada dia um turbilhão,
Enfrento estes momentos que, malditos
Deixando os pensamentos mais aflitos
Diverso do que molde ao rés do chão.

Descrevo-te feroz insaciável,
O gesto de perdão inalcançável
Defesas? Não consigo acreditar.

Usando de artimanhas e armadilhas
Dourando madrugadas, ermos trilhas
Expondo-se aos desejos do luar...

23304

A loba que devora seus filhotes
Nas garras sanguinárias vejo o fim,
Depois como um banquete pros coiotes
O pouco que restou então de mim.

As cobras entre as matas, firmes botes
Matando o que pensara ter enfim,
A faca que se entranha em tantas glotes
A morte me rondando, é sempre assim.

Esparsas alegrias, raros risos,
A vida acumulando prejuízos
Não deixa que eu consiga respirar.

O beijo traiçoeiro de quem quero,
Sorriso tão sarcástico quão fero
A morte se aproxima devagar...

23303

A fronte se levanta mais feroz,
Faminta a fera espreita na tocaia,
Bem antes do que o sonho já me traia
Escuto ao longe os ecos desta voz.

Queria ter ao menos para nós
Um dia passeando em plena praia
Olhando o sol que aos poucos se desmaia
Deixando no passado a dor atroz.

Não deixa que eu consiga ter tal sonho,
Aos poucos sei que enfim me decomponho
E nada sobrará; mas morto embora

Terás ainda em ti vaga lembrança
No vento que tão manso ora te alcança
Na rosa que em canteiros bela, aflora...

23302

Por vezes circunspecto vejo a vida
Detrás destes meus óculos- miopia
Assim vou deformando a fantasia
Acaso não teria outra saída

Que um dia demonstrasse já perdida
A glória que talvez trague alegria
De uma alma que deveras se extasia
Mesmo que outra vertente se decida.

Apenas o meu canto se disfarça
Deixando para trás o que era farsa
São falsas ilusões, cruel fadário.

E o verso mais audaz; inda consigo
Fugindo do que fora desabrigo
Guardado nas gavetas deste armário...

23301

Inquieto; eu busco o tempo de viver
Ainda restariam tais acertos
Desperto para o risco do prazer
Nem mesmo se pensasse em teus concertos

Arcando com meus erros, posso ver
Depois de tanto tempo se os consertos
Trouxeram o que tinham por trazer
Após os dias trágicos e apertos
.
Não vou fazer dos versos apanágio
Do quanto já sofri, vero naufrágio
Somando os meus vazios, resta o quê?

Macabras ilusões são minhas marcas
E quando os meus sonetos tu abarcas
Procuras minhas sendas, mas cadê?

23300

Pavor se mostra inteiro no meu peito
Deveras a verdade não consola,
O quanto desejara e insatisfeito,
A porta se fechando, o amor degola.

Não pude perceber sequer direito
Aonde me perdi, só sei que a mola
Ejeta esta esperança; antigo pleito
Enquanto a fantasia já se isola,

Pudera ter nas mãos esta resposta,
A mesa com certeza estando posta
Não posso me negar à refeição

Infaustos são comuns, disto bem sei,
Mas quando isto se torna quase lei,
Aonde em que sentido há direção?

23299

Revejo a tua imagem refletida
Nos óculos de quem tanto queria
Assim se desenvolve a minha vida
Numa expressão diversa da alegria.

O quanto se desenha já perdida
Não deixo me levar pela utopia,
E quando a velha porta está rompida
O tempo com certeza sempre esfria.

Melhor pudesse ter outras imagens
Que ao menos retorcidas não seriam,
Assim os meus tormentos cessariam,

Dourando com magia estas paisagens,
No olhar de quem amei, o teu reflexo,
Opaco, indefinido e tão sem nexo...

23298

Pudesse preservar a noite mansa
Entre diversas luzes constelares
Marcantes ilusões o peito alcança
Fazendo da alegria seus altares.

O vento prenuncia esta mudança
Então soltando cantos pelos ares
Enquanto ainda resta uma esperança
Mantenho bem regado os meus pomares.

Primores encontrando nestes brilhos
De raras alvoradas multicores,
Seguindo com carinho colho flores,

Deixando os estilhaços, traço trilhos
E atalhos onde possa caminhar
Mirando o céu brilhante e constelar...

23297

Afasto-me dos sonhos do passado
Entrego-me aos desejos desta fera
Aonde desejara primavera
O inverno se demonstra assim gelado.

E o quadro não mudando, preservado
Apenas nos meus olhos esta espera
Que tanto me alimenta e desespera
O vento noutro rumo, desgraçado.

Pudesse pelo menos crer possível
Um dia em que viver fosse melhor,
Mas como se este sonho sendo incrível

Transborda em pesadelos infernais
O quanto deste mundo sei de cor
Impede que eu vislumbre ao longe, o cais...

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23296

Minha alma se infundindo de esperança
Expressa num sorriso a falsa imagem
Diversa da verdade, esta miragem
Em meio às tempestades vem e avança.

Trazendo finalmente a temperança
Que tanto necessito. Esta paisagem
Moldada do real, estando à margem
Da dor a qual meu sonho enfim me lança;

Cercado de ilusões e tantas farsas
Os dias entre medos logo esgarças
E passas como quem nada sofreu.

Amenas emoções? Não me contento,
Estando aos teus caminhos sempre atento,
Enfrento a tempestade em treva e breu...

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23295

O sonho desfilando em seus primores
Momentos de alegria e de tristeza,
Por mais que se misturem tantas cores
Navego contra a forte correnteza,

E as nuvens sonegando tais albores
Impedem ao olhar tanta beleza,
Minha alma sem ter nada se diz presa
Enfrenta espinhos fartos, mata flores.

Seria do poeta esta verdade?
No quarto de dormir o medo invade
E tomando de assalto o meu descanso,

Insone, madrugadas sempre em claro,
O quanto desejei e não declaro
Demonstra o que jamais, querida, alcanço...

23294

Falando deste amor que sei divino
Entôo com mais vontade melodias
Que falem de ternuras e alegrias
Deixando o dia calmo e cristalino.

Vivendo esta emoção eu me alucino
E verto pelos poros fantasias,
Mas quando estes momentos; esvazias
O sol que outrora estava pleno e a pino

Encoberto de nuvens prenuncia
Imensa tempestade e ventania
Deixando o entardecer bem mais dorido.

Esqueço esta ventura e volto ao medo,
Sequer algum sorriso; inda concedo
E o tempo de viver se esvai, perdido...

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23293

Quisera em minha dor amigos, sócios
Nefastas companhias, risos fartos,
Aonde no passado havia partos
Agora simplesmente loucos ócios.

Ocasos que relato em cada verso
Aonde se dispersa a fantasia,
Merecendo este fim, alma vadia
Num cálice em venenos vou imerso.

Cercando as minhas tramas com mentiras
Envolvo-me deveras com escândalos
Em meio aos companheiros, toscos vândalos
O vento em podridão que agora aspiras

Expressa o que talvez já não querias,
Marcando com angústias horas, dias...

23292

Excêntricos caminhos resplandecem
Nos antros, nos esgotos, nos porões
Aonde se pensaram soluções
Os mortos com denodo comparecem.

E quando as vozes torpes obedecem
Esquecem as prováveis ilusões
Matando os ressurretos, podridões
Durante a tempestade cores tecem.

E o vago coração de quem se deu,
Agora sem descanso segue ateu
Vasculha cada canto deste espaço.

E meço com meus olhos o vazio,
Aonde depois disso, eu me extasio
E o pouco que me resta ali eu traço...

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23291

Quisera retornar ao mesmo vão
Descalços pés cansados não teria
O verso que traduza uma alegria
Regressa desde sempre a tal senão.

Guardado em versos frágeis num porão
Nefasta maravilha florescia
Enquanto ao vento beijo a mão vazia
Eu sinto aproximar-se a solidão.

Erguendo os meus olhares no horizonte,
Espero que este sol inda desponte
E desaponte a dor, fria quimera,

Serenando minha alma tão frugal,
O fardo que coubesse no bornal,
Traria um bom final para esta espera...

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23290

Tolhendo o meu caminho os espinheiros
Adentro estas veredas desconexas
Seguindo as velhas perdas nos ribeiros
As horas são deveras mais complexas;

E os féretros decerto derradeiros
As lágrimas carpidas vão anexas
E custam ao que foi; parcos dinheiros.
E enquanto teu futuro nisto indexas

Além do que pensavam companheiros
Assim a minha morte tanto alenta
Ao mesmo tempo em paz e violenta

Expressa um gozo fútil e venal.
Após a cerimônia este banquete,
A vida preparando algum falsete
Tramando qual festança o funeral...

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23289

Se um dia quis um verso que agradasse
Agora não me importa o que desejas,
As dores nos meus dias são sobejas
E a cada novo tempo, o mesmo impasse.

Se o verso te seduz ou não; que sejas
Mais feliz neste mundo aonde trace
A sorte que pretendes noutra face
Diversa da que mostro e não prevejas.

Não tento disfarçar as dores tantas
Em frases tão sutis por onde cantas
Os ritos são diversos, dor e glória.

Aquém do teu anseio, eu me desnudo,
Prefiro na verdade ficar mudo
A ter que me embrenhar em outra história.

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23288

Só resta a poesia, a companheira
De tantas caminhadas vida afora.
E enquanto a fantasia não se aflora
A vida bebe a senda derradeira.

Pudesse ter a paz por mensageira,
Mas sei que ela em verdade se demora,
Portanto sem descanso, sem ter hora,
A noite em vendavais, se mostra inteira.

Mergulho no passado e tento crer
Que ainda possa ter algum prazer,
Mesquinharias? Falsas ilusões...

Os dias se repetem tão iguais,
Os versos que ora faço são banais
E falam destas pérfidas paixões...

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23287

A sorte, tantas vezes belicosa
Medonhas emoções afloram, vencem
E enquanto os versos tolos não convencem
Jardim perdendo flores, mata a rosa.

Perpetuando a dor que se produz
Na vaga sensação de um gozo ameno,
O quanto te desejo concateno
E o medo noutro medo reproduz.

Assim caminho às voltas com engodos,
Estranhamente passo pelas ruas
Tu nem reparas; cega, continuas
E eu volto aos meus antigos, torpes lodos.

E faço da esperança um lamaçal,
Quem dera algum sorriso, triunfal...

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23286

Pudesse; solitário crer na luz
Que embora sendo dia já se esconde;
Nublando o coração nem sei por onde
Exista uma esperança; ao fim conduz

O verso que pensara solução
Angustiadamente a vida passa,
E o tempo sem remédio, uma fumaça
Dizendo sempre o mesmo tédio e o não.

Arrimos desabando, meus castelos,
As sendas mais floridas; nem mais vejo
E quanto mais me entrego ao vão desejo
A vida sonegando os meus rastelos.

Expresso em cada verso o medo e o frio,
E o peito sendo exposto, eu esvazio.
­­­

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23285

Em meio aos crótons planto estas dracenas
E as cores se misturam no canteiro,
Ao longe percebendo o doce cheiro
Encontro entre as roseiras, as verbenas.

E vendo novamente as raras cenas
Do tempo alvissareiro já me inteiro
E mostro quanto é belo e verdadeiro
O amor que; sei, desejas, quando acenas.

Imersas entre avencas, samambaias,
Orquídeas multicores; logo espraias
E deitas teus anseios junto aos meus.

Expressas com ternura esta vontade
E bebo de teu gozo a claridade,
Deixando na saudade um ledo adeus...

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23284

Perfume tão suave em teus cabelos,
A maciez convida para o colo,
Deitando esta alegria chego ao solo
Envolto pelo amor e seus novelos.

Meus dias na alegria de revê-los
Os medos e temores; louco, assolo,
Não vendo mais rancor, terror ou dolo,
Percebo a maravilha de contê-los.

Glorificante luz que tu me emanas
No sonho que perdura por semanas
As horas do teu lado são sagradas.

E quero a cada instante mais e mais,
Desejos entre noites rituais
Dourando de prazeres, madrugadas...

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23283

No olhar angustiado de quem tanto
Se fez um sonhador e não sabia
Que a sorte desnudando a fantasia
Destrói a cada passo o seu encanto.

E mesmo quando creio e livre canto
O ocaso se aproxima e traga o dia,
Apenas o que resta, a melodia
Moldando a cada nota um vão espanto.

Mergulho neste mar que não tem fim,
Eterno precipício dos ignaros,
Vivendo nos mais negros desamparos

A sorte se afastando assim de mim,
Quem sabe noutra vida nova chance,
A paz que me redima, enfim, alcance...

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23282

Numa epopéia um mundo mais heróico
Aonde poderia ter a glória
Mudando o rumo podre desta história
Pudesse ser ao menos mais estóico.

Nos pórticos da sorte me perdi,
Deixando para trás o que talvez
Um dia em esperança inda se fez,
Morrendo sem chegar enfim aqui.

Navego entre procelas, vendavais.
E sei que quanto mais luto, padeço,
A cada novo passo outro tropeço
Os dias são deveras tão normais.

Apenas ilusões inda cultivo,
Por elas tão somente eu sobrevivo...

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23281

Ao Pai eu agradeço o raro dom
De transformar em músicas palavras,
Usando com fineza raras lavras
Colhendo maravilhas neste tom.

Alvissareiro mundo que penetro
Dos versos traço os sons da liberdade,
E bebo como um louco a claridade
Da poesia, eu sei qual o seu cetro.

E quando me permito desfilar
Estrelas entre trevas, trago a luz,
E ao templo, a poesia me conduz,
Pegando este caminho que é o luar.

O amor num raro manto em que se fez,
Tradicional soneto, ou mesmo inglês...

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23280

Banquete para poucos convidados
Apenas escolhidos entre tantos
Aqueles pelos deuses já tocados
Vislumbro a raridade nos encantos.

Os medos e os anseios revelados
Também raras venturas nestes cantos,
Em versos com certeza bem talhados,
Nas mãos destes poetas, risos, prantos.

Assim se faz do verso uma expressão
Aonde se permite a fantasia
E a viva realidade dita então,

Da forma mais exata, eu te prometo,
Enquanto a mente teima e assim se cria
Nas mãos de algum ourives, o soneto...

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23279

Obedecendo às regras, normas, leis
Escrevo este soneto em simples versos,
Vagando no teu corpo os universos
Bebendo em tua pele doces greis.

Erguendo um belo brinde em raros vinhos,
Anseio teus caminhos junto aos meus,
Jamais suportaria algum adeus,
Meus dias; não pretendo mais sozinhos.

As armas que encontrei para as batalhas
E lutas pelos sonhos que traçamos,
Dizendo que em verdade nos amamos,
Enquanto as dores tolas; já retalhas.

Falando com ternura da paixão
Que envolve-nos, apreendo o coração...

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23278

Padeço deste mal: desilusão
Que tanto me maltrata e traz sossego
Se às vezes em teus sonhos eu me apego
O medo pode ser a solução.

Vencido pelos ermos da paixão
Expresso solidão enquanto entrego
O verso mais audaz e o bem que prego
Emprego nele as honras da emoção.

Vestígios do passado inda presentes
O quanto que tu mentes e inda sentes
Recentes caminhares e querências

Demonstram quão cruel realidade
E vendo tão distante a claridade
As vidas vão sorvendo tais ausências...

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23277

Guardado na gaveta este retrato
Descreve muito bem o que vivemos,
Por onde e em que mundo; mostraremos
A sorte casual e raro fato.

Na imensa solidão eu me retrato
E teimo com veleiros, mares, remos
No fundo com certeza nós sabemos
Amenos os destinos de um regato.

Porém a corredeira não se espera
E mostra quanto a vida se faz fera
E rola o pensamento entre cascalhos.

Pudesse pelo menos ter certeza
Vencendo cada queda ou correnteza
Usando para tal; rotas e atalhos...

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23276

Perdoe pelos erros cometidos
Não posso disfarçar a dor tamanha
Que enquanto a noite chega; da montanha
Os raios do luar tão prometidos

Espalham claridade e os meus sentidos
Tocados pela luz que assim se assanha
Mudando num momento minha sanha
Deixando os meus tormentos esquecidos.

Navego então por mar em calmaria,
Na noturna ventura se anuncia
Beleza que bem sei somente farsa.

Ao ver tal claridade, a vida espanta
E a dor então calada se agiganta
E em risos de ironia se disfarça...

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23275

Apego-me aos fantasmas do que fomos,
E teimo nesta luta que bem sei
Não tendo nem sequer regras ou lei
Demonstra no momento o que hoje somos.

Deveras aprendendo a cada tombo,
Revejo os meus defeitos e mentiras,
Até que expondo o peito em finas tiras
Vergasta lava em sangue, na alma um rombo.

E o bêbado persegue estas pegadas
Deixadas nos caminhos, toscos rastros,
A vida sonegando então meus lastros,
A sorte há tanto tempo em vãs guinadas

Percorre o mesmo não por onde vim,
Matando o que restara do jardim...

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23274

Menino que corria entre mangueiras
Nas sombras do arvoredo, no quintal,
Agora a vida mostra o desigual
Caminho entre loucuras e bandeiras.

As horas que virão; as derradeiras
E o tempo de viver sendo banal,
Moldando o meu sorriso em ritual
Palavras de consolo, corriqueiras.

A morte não me assusta até me atrai,
E o tempo pelas mãos logo se esvai
Não deixo de pensar nesta criança

Correndo pela sala, pelo quarto,
O velho já cansado e mesmo farto,
Ainda traz bem viva esta lembrança...

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23274

Menino que corria entre mangueiras
Nas sombras do arvoredo, no quintal,
Agora a vida mostra o desigual
Caminho entre loucuras e bandeiras.

As horas que virão; as derradeiras
E o tempo de viver sendo banal,
Moldando o meu sorriso em ritual
Palavras de consolo, corriqueiras.

A morte não me assusta até me atrai,
E o tempo pelas mãos logo se esvai
Não deixo de pensar nesta criança

Correndo pela sala, pelo quarto,
O velho já cansado e mesmo farto,
Ainda traz bem viva esta lembrança...

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23273

Qual fora uma criança e seu brinquedo
Pensara ter a sorte em minhas mãos,
O amor me abandonando desde cedo,
Os dias transcorrendo inertes, vãos.

A morte desenhada sem segredo
Acalentando, o sonho dos cristãos
Porém ainda luto e não concedo
Espalho por veredas falsos grãos

E espero uma colheita que não veio,
Aos olhos tão somente este receio
Do nada ressurgido após o nada.

A luz que se propunha se apagando,
O incêndio se tornando bem mais brando
A infância pela vida destroçada...

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23272

Se ainda por um sonho tenho zelo
Não posso garantir que ele me encante.
Na súbita impressão de um mero instante
A vida me tratando com desvelo.

Queria tantas vezes poder crê-lo
E ter em minhas mãos a luz brilhante;
Porém não adianta um só rompante,
A morte me envolvendo em seu novelo.

Cabendo ao sonhador somente versos
Que mesmo tão sombrios e diversos
Ainda trazem claro algum alento.

Nas tramas deste enredo a me envolver,
Proximidade enorme; e posso ver
O caos aonde louco, me atormento...

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23271

Sonego o que inda resta dentro em mim
Bebendo as maravilhas que não creio.
Seria muito bom, mas o receio
Desdiz este caminho de onde vim.

Percorro a solidão e vejo enfim
O peso com que a sorte trama o veio
Nefastos os desejos; meu anseio
Matando esta alegria, sendo assim

Espúrios os momentos que inda tenho
Cerrando com angústia logo o cenho,
As senhas necessárias esquecidas.

Apreços; não conheço e nem recebo
Das glebas e das sendas que concebo
As vias espalhadas e perdidas...

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23270

Houvera um tempo ainda mais feliz
Em meio aos meus enganos que desfilo
Nos versos em que outrora tão tranqüilo
Apenas revivendo o amor que quis.

Agora a própria vida me desdiz
E o vento vai mudando todo o estilo,
Não tendo mais sequer do amor aquilo
Que um dia desejara, mas não fiz

Espero pela volta da esperança,
Ardentes ilusões e fantasias.
As noites que percorro tão vazias

O sonho ao passado já se lança
Mergulho nas entranhas do futuro
E vejo tenebroso mar escuro...

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23269

A música distante ainda ecoa
Nos pântanos em que a alma se cultua
A noite sente ausência desta lua
E vaga sem destino, segue à toa.

Pensara numa sorte ao menos, boa
E o tempo se esvazia, alma vai nua
Enquanto a realidade em vão flutua
Naufraga no teu rio, esta canoa.

Bebendo cada gota do rocio
No gozo incontestável me vicio
Amenas emoções, vestes completas.

Mas quando a realidade se desnuda
A vida se demonstra assaz miúda
E a morte de amarguras tu repletas...

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23268

Espero quem demonstre uma vontade
De ter um amanhecendo um belo sol,
Mergulho no vazio do arrebol.
E beijo sem certeza a realidade.

Quem dera se tivesse liberdade
Roubando dos teus olhos o farol,
Porém qual fora um simples caracol,
Escondo-me ao ver a claridade.

No quarto este abandono se repete
E quanto mais ausente mais confete
A festa nunca pára nem se adia.

Rondando o velho leito de um demente
O sonho sem sentido se pressente
E mata o que pudera fantasia...

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23267

Bebendo destes féis que tu me deste
Em finas taças feitas de cristal,
O medo se tornando colossal,
Negando cada porto em que estiveste.

Aonde a sorte doma o sonho agreste
O verso que desenho tão banal,
Quisera algum sorriso, mas fatal,
O mundo não suporta quem conteste.

Rastreio estas pegadas e não vejo
Sequer alguma sombra de um desejo
Que o tempo já deixou envilecer.

E assim não tendo aporte nem suporte
Aguardo quem me traga um novo norte
Apenas esperando pra morrer...

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23266

A minha poesia estando morta
Há tanto que não posso disfarçar
A velha liberdade a se alcançar
Esconde-se detrás de qualquer porta;

Minha alma a quem saudade não importa
Teimando com os raios do luar
Deixando-se entre tantas; carregar
Em meio aos vendavais já não comporta

O tempo de viver que se transmuda
Nem busca no presente alguma ajuda
Esgota-se em si mesma e morre só.

Aonde poderia haver um brilho
O peito de um estúpido andarilho
Prefere o velho trilho, exposto ao pó...

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23265

Qual fora um sonhador que em triste empenho
Vasculha cada canto dos seus dias
Além do que talvez fossem vazias
As noites em tão frágil desempenho.

Por vezes eu prossigo e me contenho
Embora reações outras; querias,
Enquanto os meus enganos; descobrias
Mostrando o descaminho de onde venho

Desnudo não concebo solução,
Retorno desde já, vil solidão
E faço do meu verso um hino à vida

E quando me encontrares, por favor,
Não tente desvendar se existe amor
Pois ilusão há tanto está perdida...

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23264

Mal pude crer que a sorte inda teria
Quem tantas vezes viu-se em maus lençóis
A vida sonegando luz e sóis
Eterna madrugada, sempre fria.

Bebendo sem descanso a ventania
Ausente em noite escura teus faróis,
Procuro algum remanso, e os arrebóis
Sonegam qualquer cor ou fantasia

Melífera esperança não anseio
O mundo se transforma e sem receio
No abismo que se forma sob os pés

Eu ato tais correntes, na masmorra
Sem ter alma sequer que me socorra
Eterna sensação, duras galés...

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23263

Encontro nos teus braços quem amei
E vejo que esta vida não valeu
Sequer esta ilusão aconteceu
O mundo noutro mundo; eu mergulhei

E agora que deveras te encontrei
Percebo que o vazio que sou eu
Aos poucos entre os nadas se escondeu
Vagando sem destino grei em grei.

Arcando com engodos é comum
Ao fim de cada história ser nenhum
Tampouco ter um resto de esperança.

Ao longe tão somente a criatura
Que em dádiva suprema, uma amargura
No olhar quase sarcástico me lança...

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23262

Esgoto da esperança, um verso ao menos
Que possa me acalmar e nada tendo
Percorro sem espaço cada adendo
E lembro estes momentos mais serenos.

Alvissareiro sonho; não pretendo
Os dias não serão fartos ou plenos
Extenuado teimo, mas ao menos
Um novo amanhecer; cedo desvendo.

Quisera poder ter um só segundo
Vivendo esta alegria e já me inundo
De uma ilusão tão tosca e fantasio

Pensando ser possível ter um dia
Repleto de emoção e de alegria,
Mas olho em minha volta e este vazio...

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23261

Procuro nestes bares quem me queira
E trague para mim um sonho bom,
A vida modifica cor e tom,
E tudo o que vivi das mãos esgueira.

E o quadro se repete a noite inteira
Ainda escuto forte o mesmo som
Quisera da esperança; ter o dom
A sorte não seria tão rasteira..

Mesquinhos os caminhos que inda tento,
Vagando sem destino e desatento,
Apenas me embriago e nada mais.

E vejo na aguardente a mesma imagem
Que um dia imaginara ser miragem
E agora molda dias sempre iguais...

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23260

Não pude mais conter os dissabores,
Algozes que perturbam meus caminhos
Pudesse ter nas mãos as belas flores
Ausentes das estradas; perco os vinhos

E tramo com denodo outros albores,
Mas sei que nesta ausência de carinhos
Herdando tão somente as velhas dores
Meus dias permanecem mais sozinhos.

Alçando as mais complexas ilusões
Deixando para trás sonhos, verões
Versões abandonadas, medo intenso.

E quando te procuro e nada vejo,
A vida decifrando este desejo
Expõe com mais vigor tudo o que penso...

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23259

Arcando com pecados que inda levo
Deixando o meu futuro sem respostas
As dores e feridas vão expostas
Escravo do futuro; o nada cevo.

Abreviando a vida não me atrevo
A crer nas mesmas coisas que tu gostas
Olhando as cicatrizes, minhas costas,
Invernal sentimento, ainda nevo.

O quadro se propõe em fartos vãos
E o peso desmedido destas mãos
Lanhando com firmeza meus anseios.

Não tenho mais o riso que pensara,
Uma alegria agora se faz rara
E a morte decifrando rumos, veios...

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23258

Quem dera se tivesse pelo menos
A chance de tentar um novo sonho;
Mergulho no vazio que componho
Buscando dias calmos e serenos.

Ao longe ainda vejo teus acenos
E penso noutro tempo mais risonho
Viver a fantasia que ora sonho,
Distante da verdade e seus venenos.

A sombra de um passado me rondando
Pergunto; sem respostas, até quando
A vida não trará um novo tempo.

Mas quando vejo a sombra do que fomos,
Olhando para trás, escombros; somos
Somente vislumbrando contratempo...

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23257

Mudando as estações? Eterno inverno
Apesar de esperança ser teimosa
A sorte se demonstra desairosa
Deixando para trás um mundo terno.

Adentro este dantesco e vão inferno
A vida destroçando última rosa
Deveras poderia caprichosa,
Porém neste vazio eu já me interno.

E beijo cada sonho que prometa
Volver uma alegria qual cometa
Que há tanto se fez nada e não retorna.

Procuro inutilmente por atalhos,
Estradas demarcadas por cascalhos,
Apenas a tristeza ainda adorna...

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23256

Ascendo ao vasto mundo do vazio
Por onde percebi uma saída
Depois de tanto tempo a alma perdida
Agora; o meu futuro, eu já desfio.

Excêntrico caminho que ora crio
Moldando a cada instante a despedida
Houvera uma alegria; mas a lida
Mudando a minha história traz o frio.

Escrevo como quem mata os temores
Os versos fugidios, mãos atadas
Aonde imaginara as alvoradas

Somente encontro enfim amargas dores
Pudesse ser feliz, ah se eu pudesse
Porém a vida nega e já me esquece...

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23255

Apenas uma tosca caricata

A vida não se mostra mais capaz

De ter em suas mãos força tenaz

E o tempo não sossega, sempre mata.

Enquanto a sorte amarga desacata

Eu teimo com um passo mais audaz,

Somente esta carcaça satisfaz

Nas drágeas que ora engulo, o nó desata.

À parte dos demônios e panfletos

Escondo-me deveras em tais guetos

Aonde penso em ter ar e respiro

O fétido marasmo que me deste

A sombra do final, delírio e peste

O mundo renascendo a cada giro...

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23254

Ignaro caminheiro em plena treva
Avança sem saber desta armadilha,
A cada novo passo imensa trilha
A morte numa espreita, sonhos leva.

E quanto mais audaz, mais forte neva
A luz que não trazias já não brilha
As dores em cruel, torpe matilha
Nem mesmo uma esperança se releva.

Aviso aos navegantes: é o fim.
Somente apocalíptica verdade
Voltando ao mesmo nada de que vim

Esgueiro-me entre espinhos, pedregulhos.
E bebo com venal felicidade
Os restos que coleto em vãos mergulhos...

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23253

A morte que deveras se equilibra
Qual fora este funâmbulo falsário
Tornando sempre curto o calendário
A vida não consegue e nunca a dribla

O peso tão diverso desta libra
Pendendo para o lado do fadário
Além do que pensara necessário
O corpo no final desequilibra

E traz neste tropeço a direção
Restando a quem amou putrefação
A ossada sob a terra é o que inda resta

De quem ao ter empáfia, medo e gozo
Pensara ser mais nobre e majestoso
E agora toda a senda flórea empesta...

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23252

Vivesse em harmonia, em simbiose
Teria talvez luzes que não creio.
Somenos importante o meu receio
Temendo que esta sorte o tempo glose.

A carne destruída, esta necrose
Tomando todo o corpo simples veio
Por onde a morte chega, e num anseio
Adentra mansamente dose a dose.

Não posso mais dormir em paz, tranqüilo,
As hordas demoníacas me acercam,
E enquanto a podridão da alma eu desfilo,

A vida vai seguindo a sua tônica;
Os sonhos tão somente a morte estercam
E a curta sobrevida desarmônica...

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23251

Meu verso procurando algum sustento
Entre substâncias várias, ar e fogo
Perpetuando a dor; etéreo jogo
Por vezes inda teimo e mesmo tento.

Aspiro ao mais diverso caminhar
Das armadilhas tantas; se eu me enfado
O corpo pelo menos resguardado
A morte dominando devagar.

Aspectos tão prosaicos de um poeta
Mosaicos que ora crio em forma arcaica
A minha poesia se faz laica
E crê neste abandono e se completa,

Mas sabe que a verdade já desgasta
Deixando como herança esta vergasta...

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23250

Cósmicos delírios, astros lúdicos
Bebendo a tempestade; solto ao ar
Imenso fogaréu, vento solar
Momentos de desejos, fogos lúbricos

Arcando com as hostes dos anseios
Vasculho tais fronteiras e não vejo
Limites que soneguem meu desejo
E toco com meus lábios, lábios, seios.

Numa expressão de mágica loucura
Os corpos incendeiam-se deveras,
Expondo-se às vontades, cios, feras
A noite determina esta procura

Que envolta em maravilhas se perfaz
E um gozo insuperável dita a paz...

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23249

Pressinto no final a escuridão
Do caos em que me entrego sem defesa,
Não quero ser das ondas simples presa
Temendo a cada dia a viração.

Ouvindo já distante este tufão
Que arrasta e nada deixa sobre a mesa;
Enquanto a realidade já se entesa
Meu sonho dita cedo a solidão.

Apago estas candeias do passado
E vendo mais de perto estes neons
Desfiando agora em velhos tons

Enfrento a calmaria de bom grado
Queria tão somente os temporais
Prefiro à mansidão de toscos cais...

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23248

De um tempo abandonado; eu sei, procedo
E vejo o quanto nada se criou
O beijo que deveras não te dou
Demonstra do passado o seu segredo.

E mesmo quando espúrio inda concedo
O resto do que trago se moldou
Ao verso que deveras desnudou
O quadro tão macabro, mas não cedo.

Reverso da medalha; vivo apenas
Enquanto com futuro tu me acenas
As cenas que por certo presencio

Aspectos corriqueiros e banais
Respondem ao meu peito que jamais
Eu vencerei em paz tal desafio...

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23247

Telúricos caminhos, primavera
Expressam alegrias que não trago,
E quando vejo enfim tamanho estrago
A vida em novo tempo não se gera.

Enquanto a realidade degenera
Queria desta fera algum afago,
E mesmo a placidez do antigo lago
Viver em plenitude: quem me dera!

Acasos não são fases, frases soltas
As ondas que encontrei sempre revoltas
Denotam as marés que enfrento agora.

A morte se aproxima paulatina
Assim como inebria e me fascina
Eu sei que este momento não demora...

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23246

Prevejo finalmente o caos imenso
E dele o ressurgir do etéreo nada.
A porta que mantenho assim fechada
O tempo transcorrendo amargo e tenso.

Não vejo e nem tampouco ainda penso
Que possa a solução tão ansiada
Dizer deste amanhã que não se aguarda
Espreito e nada vendo, eu me convenço.

Assim caminharia se pudesse
Ainda tendo os olhos no futuro;
Apenas do vazio que se tece

Eu faço meu banquete em pratos rasos,
E tolo, nos meus sonhos eu perduro
Já não comportam mais limites, prazos...

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23245

A larva que ontem fui aborto certo
Distante da provável liberdade
E quando em meio ao nada enfim desperto
Não tendo esta palavra que inda agrade

Degrado-me em vazios, sigo incerto
À parte, sinonímia da saudade
O quadro se moldando na verdade
Transfere para mim vulgo deserto.

E perco as minhas bóias; tal naufrágio
Expõe a realidade em limpos pratos.
Os olhos deveriam ser mais gratos

A vida cobra sempre e com seu ágio
Do pouco vejo o nada ressurgindo
No corpo entre quimeras se esvaindo...

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23244

Vivendo de um recôndito passado
Alçando velhos ares, roupas rotas
Bebendo deste bálsamo tais gotas
Ao léu meu verso teima em alto brado.

Alcanço apenas trevas solitárias
O tumular poema que demonstro
Remete a quase inerme e torpe monstro
Amortalhadas sendas temerárias.

Pudesse respirar míticos ares
Ainda assim teria sido inútil.
O sonho se denota sendo fútil
Enquanto as vestes simples e vulgares

Estampam a verdade que não vejo,
Apego-me ao já morto e vão desejo...

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23243

A cosmopolitana poesia
É feita em farsas simples, toscamente;
Remetendo ao vazio tolamente
Qual fora praga atroz já se procria

E enquanto o Velho Olimpo se esvazia
Ocaso destruindo cada mente
Quando a morte desta arte se pressente
Nos olhos dos beócios a alegria.

Mortalha que inda teima em algum brilho,
Não vejo em meu ocaso alguma luz
O tosco quando em tosco reproduz

Diverso do caminho que ora trilho
Não deixa que se veja no futuro
Além de um tempo amargo, tolo e escuro...

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23242

Surgindo qual fantasma de outras eras
Apenas perambulo pelas ruas
Sorvendo ainda o brilho destas luas
Aguardo numa espreita frias feras.

Adentro os meus engodos e as quimeras
Das quais, fiel herdeira; continuas
Deixando minhas dores sempre nuas
Marcando com veneno as primaveras.

Pudesse ter os olhos no amanhã,
Mas nada do que tento se faz pleno,
E quando ao meu passado; torpe, aceno

Encontro os desafios; logo paro,
Não tendo para tanto um anteparo
Percebo minha vida etérea e vã...

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23241

Somente um espectro tosco, vão, sombrio
Durante alguns momentos, quis a vida
Em meio às vagas trevas ressurgida;
Comédia que entre tantas propicio.

Não pude suportar tal desafio
Imagem do passado já perdida
A voz em teimosia não ouvida
A morte num instante; prenuncio.

E vejo se perdendo pouco a pouco
O que pudesse haver de uma esperança
Tentara pelo menos temperança,

E rondo os meus fantasmas feito um louco
As larvas adentrando esta epiderme,
Cadáver resumido em cada verme...

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