sexta-feira, maio 19, 2006

DE CULTIVOS E COLHEITAS

Tristeza calada vem
Na noite de mais ninguém
No rumo sem rumo ao léu
No pedacinho de céu
Que descortina esse véu
Que trava tanta bestage
Que desafia a corage
Que desfia essa bobage
Fazendo meu peito arage
Pregunta nessa sondage
Pru que num sei mais amá
Em que légua dessa estrada
Perdido, sem sabe nada
Caçando pelos luá
Que me troche tanta luta
Pra ansim sem força das bruta
Conquistá minha sentença
De pudê, nessa vivença
Ter meus canto mais doído
Pelos mundo corroído
Nesse tempo mais sufrido
Onde tive tão perdido
O meu sonho mais bandido
Pelos outro vai banido
Fermentando nesse peito
Triste peito sem direito
De nem poder ser mais forte
De nem tentá pulas sorte
Que disafia essa morte
Estradera sem destino
No mundo, meu desatino
Foi escuido nos pasto
Pulo coração mais gasto
Trazendo nosso repasto
No que já foi mais completo
Agora passa pequeno
No meu maior dos afeto
Tombem meu maior veneno
Já tive dois sacrifício
Por conta do meu ofício
De trabaiá cum a morte
Sem iscuiê nessa vida
Nem poder ter outra sorte
Senão a dessa bandida
Vida minha, mais sofrida
Que descasca o peito intero
Nos janero dos janero
Me cobe nessa prantage
Dessas terra do sertão
Um lugá dos mais bestero
Curtivá cum minhas mão
A terra mais dolorida
Das que tem nessa parage
Das terra mais dividida
As que num dá mapiage
Nem cunversa deslambida
Nem briga por ser partida
Nem históra de conflito
Pois ninguém quer esse rito
De brigar por um pedaço
Dessa terra onde me espaço
Onde sempre, verdadero
Ninguem quer ir nem a laço
Todos foge do covero.
Apois bem sinhô seu moço
Nas azeitona da vida
Me restô só o caroço
Da minha sina comprida
Devagar, sem alvoroço
Te garanto, seu doutô
Ninguém gosta da gerida
Pelas mão, trabaiador
Que sabe que ninguém quer
Nem agradece o trabaio
Nus buraco adonde pranto
Nos óio já vejo pranto
Nunca tive por encanto
De quem pur mim se encantô
Pois intão, eu lhe agaranto
Que pros cabra sofredô
Que pros mendigo de rua
Que pras muié mais facera,
Os dono dessas portera,
Pros lubisome de lua
Pra todos trabaiadô
A terra ta bem servida
Pulo Deus adirvidida
Sete parmo bem medida
Pra cada que se enterrô
Minha enxada dá guarida
Transformando, dessa vida
As diferença igualô
Pegando as moça sufrida
Nas morte já decidida
Pelo Deus nosso Senhor
Cortando a carne curtida
Navaia dos sangradô
Dessas morte encomendada
Pelos coroné dotô
Pelos home poderoso
Que no finar, orguioso
Vai tombem pressas parage
Pronde vai os melindroso
home de munta assuntage
tombem segue essa viage
nessas mesma carruage
cum finar bem parecido
cum mais ou meno sufrido
os cortejo são os mermo
num difére nem nus termo
nem no chero que restô
cum cravo ou cum margarida
nada restô dessa vida
no campo semeadô
onde o ponto de partida
trais em suas caminhada
no fundo essa mesma estrada
que de tudo ou bem de nada
ninguém sabe pronde vai
só tenho os calo da mão
cavucando co enxadão
semeando nesse chão
tanta semente diversa
pelas terra mais dispersa
mais a mesma prantação.
Apois bem moço galante
Pense só por um instante
Nessa igualdade da sorte
Se há diferença na vida
Há igualdade na morte
Por mais que seja doída
Pense bem se vale a pena
Carregar gente sufrida
Na alma, depois novena
Num resórve nem calma
As dívida contraída
Essas num paga na vida
Vaum sê paga, com mais trauma
Nessa terra dividida
Terra de rico e de pobre
Do pobrizin e dos nobre
Apois entaum eu te digo
Falo com isperiença
De curtivadô das alma
Naum há nada que convença
Morto da mesma doença
O que cura o pecadô ,
Que precurá recumpensa
É o tanto quanto ele amo!

DAS VIOLÊNCIAS VÁRIAS, DA CAUSA E DOS GOVERNOS

Uma análise se faz imperativa nesses dias de violência extrema nas ruas da principal cidade do Brasil.
Um estudo comparativo entre o Rio de Janeiro e São Paulo, demonstra para qualquer observado, as diferenças básicas entre as relações humanas e o trato das diferenças sociais dessas cidades, nos trazendo uma luz sobre a origem da violência e os aspectos que diferenciam ambas capitais.
O Rio de Janeiro, tanto pela origem histórica, como antiga Corte Imperial e depois Capital da Republica, principal porta de entrada dos imigrantes do século 19 e 20, cidade historicamente pluricultural, com um crescimento baseado na importação e exportação via Porto de São Sebastião, o maio do Brasil por longos anos, trazendo para o cais todos os tipos de trabalhadores tanto brasileiros quanto estrangeiros
Associado a isso temos a praia, o futebol no aterro do Flamengo dos finais de semana, os bailes de carnaval, as Escolas de Samba, o Maracanã, os ensaios das Escolas de Samba e, ultimamente, os bailes funks.
Nesses ambientes, convivem pacificamente tanto o proletariado suburbano e favelado quanto a elite econômica e social da Cidade Maravilhosa.
É comum vermos, no mesmo ambiente, em caráter de total camaradagem, tanto favelados quanto milionários, numa extremamente salutar cooperação e convívio.
Morei no Rio por muitos anos e sei o quanto o carioca sabe lidar com as diferenças raciais, sociais, econômicas e culturais.
Como estudante e depois como médico, podia freqüentar, com a mesma serenidade, as rodas de pagode suburbanas, os ensaios de escolas de samba, as praias, sempre democráticas, o futebol no final de Semana no Aterro, a feira nordestina de São Cristóvão, os prostíbulos da Praça Mauá, as gafieiras do centro da cidade, os restaurantes e shoppings da Zona Sul, as boates, como a do Hotel Nacional, clubes da Zona Norte e da Zona Sul, num encontro entre o asfalto e o morro, como citado por Marcelo D2, de uma fantástica sincronia entre os mais diferentes tipos de cultura e de classes sociais.
É comum se ver, nos mais requintados shoppings e restaurantes, pessoas de bermuda, camiseta e sandálias de dedo, convivendo, pacificamente, com engravatados e “bem vestidos”.
O índice de violência contra grupos raciais, sociais, sexuais, no Rio é infinitamente menor do que ocorre em São Paulo.
A violência no Rio, está na sua base quase que totalmente ligada à disputa entre grupos rivais pelos pontos de venda de drogas.
Esses, sendo combatido ou pela ação repressiva constante e bem organizada ou pela liberação do uso e comércio de drogas, controversa medida que deve ser analisada com muito rigor, levariam a uma sensível melhora nos índices de violência da Cidade Maravilhosa.
Agora, quanto a São Paulo, temos uma origem bem diversa.
São Paulo, historicamente tem suas origens na província, o que, na realidade quer dizer que, tem suas famílias quatrocentonas de base provinciana, acostumadas com a escravização e o coronelismo, com a subserviência e com a separação, em guetos e em castas.
É difícil imaginar um convívio entre a elite paulista, burguesa e excludente, com o proletariado, formado pelos migrantes mineiros e nordestinos, fugidos da escravidão em suas terras para se oferecerem como trabalhador de baixo custo na construção civil, nas feiras, como empregadas domésticas, como trocadores de ônibus, guardas noturnos, guardas civis, policiais, babás, o verdadeiro brejo da cruz social, gerador de miséria, e das discrepâncias sociais asquerosas e nojentas.
A elite paulista “não se mistura com essa gentalha”, num linguajar chulo, mas realista dessa ignóbil verdade.
A formação dos guetos, “periferia” na linguagem do rap, alimentados pela discriminação contra pobres, prostitutas, nordestinos, mendigos, homossexuais, etc...,criada e incentivada nas elites burguesas, donas das suas salas, e das ruas e bairros isolados, com seus bares, shoppings, casas noturnas e boates exclusivistas, onde a presença de quem quer que não seja ligado a essa elite é tida como indesejável
Onde a pobreza é expulsa a chutes e pontapés pelos capitães do mato, chamados “seguranças”, mas na verdade agentes oriundos do proletariado para atuar contra esse mesmo proletariado, para defender uma “casta” burguesa recendendo a Coco Chanel, vestida de Valentino e vomitando preconceito.
Os carecas ou cabeças raspadas , os neonazistas, os grupos anti nordestinos, anti-gays, anti-putas, assassinos dos mendigos com o sórdido prazer de ver carne humana incendiada ou saber do estrago que um taco de beisebol possa causar em um ser humano, são o espelho mais visível dessa forma da burguesia paulista de ver a vida.
Obviamente que, os crimes contra a integridade pessoal em Sampa são muito mais freqüentes e graves do que no Rio, crimes como seqüestros, assaltos, furtos, assassinatos a esmo, chacinas são o dia a dia paulista.
A guerra travada em São Paulo tem aspectos muito mais profundos e ligados à segregação do que no Rio de Janeiro, portanto são de muito mais difícil solução.
O nascimento do PCC, se faz ligado, muito mais à luta de classes do que o do Comando Vermelho no Rio, com aspectos mais ostensivamente ligado ao tráfico de entorpecentes.
As raízes da violência em São Paulo não tem nenhum aspecto de romantismo, não tempos nenhuma menina filhinha de papai apaixonada pelo poder do traficante.
O que se apresenta mais explícito é essa luta SOCIAL E CLASSISTA, de uma reação da PERIFERIA contra a BURGUESIA fedorenta e escravagista.
A rebelião dos escravos paulistas não pode ser comparada à com a Guerra do poder paralelo carioca, baseada na liderança pelo controle de pontos de venda de drogas; ao contrário do aspecto da afirmação social que vemos em São Paulo.
O comando da violência carioca se dá na mão de soldados do crime, sem grandes preocupações a não ser a venda da mercadoria; já em São Paulo, a estratégia dos grupos ligados à violência, se demonstra mais ostensivamente como uma guerra entre classes sociais disfarçada.
O enriquecimento do PCC e o fortalecimento dos jardins da infância da violência, nas FEBENS da vida, demonstram a arquitetura de um projeto de luta por ascensão social e quebra de barreiras entre as elites e o proletariado, muito mais bem organizados do que os do Rio de Janeiro.
O que aproxima os dois estados, em suas mazelas de insegurança pública é somente um fato.
Todos os grupos, tanto os cariocas, quanto os paulistas, nasceram, cresceram e se sustentam pela CORRUPÇÃO E INOPERÂNCIA DE AMBOS OS ESTADOS.
A corrupção dentro e fora dos Governos, como muitas vezes denunciadas, é o principal combustível para o crescimento dessas facções, poderes dentro do poder, verdadeiras sanguessugas de si mesmas.
Retroalimentam-se o tempo todo , vivendo em simbiose eterna, com prejuízo para os pacatos cidadãos.
Os massacres do Carandiru e esse agora, na tresloucada e inepta distribuição de balas feitas por uma polícia assustada e coagida, têm paralelo extremos entre si.
No Rio, o massacre da baixada e de Vigário Geral, embora tão danosos quanto os acima citados, têm no “acerto de contas” entre bandidos tanto fardados quanto à paisana um aspecto bem diferenciado da reação da polícia paulista nos dois massacres supracitados; o do Carandiru foi ordenado pelo Comando, o de agora é, indiretamente contra os desmandos e as demonstrações de incompetência do Comando para enfrentar os problemas gerados, não pela polícia, mas sim pela omissão do Governo Paulista como um todo.

FILHO FEIO NÃO TEM PAI, MESMO QUE SEJA "A CARINHA DO PAPAI"

Burguesia terá de abrir a bolsa, diz Lembo
O governador de São Paulo, Cláudio Lembo, foi entrevistado por Mônica Bergamo.
Fez declarações do barulho. Criticou os ‘aliados’ FHC e Geraldo Alckmin, afagou o ‘inimigo’ Lula e esculhambou a ‘elite branca’ paulista, culpando-a pela violência. Leia abaixo trechos da entrevista:

- Houve uma matança em São Paulo na madrugada de terça. A polícia está sob controle ou está partindo para uma vingança? A polícia está totalmente sob controle (...). Todas as noites há confrontos nas ruas da cidade e esses conflitos foram exasperados nesses dias. Mas vingança, não (...).
- O que pode dizer para um jovem de 15 a 24 anos, que vive em ambientes violentos da periferia? (...) Tem duas situações muito graves: a desintegração familiar que existe no Brasil e a perda... (de qualquer) regramento religioso (...). Nós temos uma burguesia muito má, uma minoria branca muito perversa.
- Que ficou assustada nos últimos dia. E que deu entrevistas geniais para o seu jornal. Não há nada mais dramático do que as entrevistas da Folha [com socialites, artistas, empresários e celebridades] desta quarta-feira. Na sua linda casa, dizem que vão sair às ruas fazendo protesto. Vai fazer protesto nada! Vai é para o melhor restaurante cinco estrelas junto com outras figuras da política brasileira fazer o bom jantar (...).
- Onde o senhor responsabiliza essas pessoas? Onde? Na formação histórica do Brasil. A casa grande e a senzala (...). O cinismo nacional mata o Brasil (...). O que eu vi [nas entrevistas para a Folha] foram dondocas de São Paulo dizendo coisinhas lindas. Não podiam dizer tanta tolice. Todos são bonzinhos publicamente. E depois exploram a sociedade, seus serviçais, exploram todos os serviços públicos (...). A bolsa da burguesia vai ter que ser aberta para poder sustentar a miséria social brasileira no sentido de haver mais empregos, mais educação, mais solidariedade, mais diálogo e reciprocidade de situações.
- FHC a possibilidade de acordo com os criminosos para cessar a violência. (...) Fernando Henrique poderia ter ficado silencioso (...). Pode ser que eventualmente ele tenha precedente sobre acordos. Eu não tenho.
- Alckmin telefonou para prestar solidariedade? Dois telefonemas (...). Acho normal. Os pulsos [telefônicos] são tão caros...
- E o José Serra? Não telefonou (...).
- As autoridades paulistanas garantiram, nos últimos anos, que o PCC estava desmantelado. Enganaram os paulistanos? Não saberia responder. Eu não engano. Ganhamos uma situação mas é um grande risco. Temos que ficar muito atentos.
- Pode dizer que o PCC acaba até o fim de seu governo? Só se eu fosse um louco. E ainda não estou com sinal de demência (...).
- O Fernando Henrique não telefonou? Não, não. Ele estava em Nova York. O presidente Lula telefonou, foi muito elegante comigo (...).


Essa entrevista demonstra o quanto o PSDB, pai da criança PCC, surgido, fortalecido e alçado às primeiras páginas dos jornais durante o longo mandato tucano à frente de São Paulo, alimentado pela incompetência administrativa, elitismo classista, fato que na São Paulo das desigualdades sociais e dos guetos reais das periferias da vida é extremamente evidente e essencialmente sintomático, entre outros fatores.
Podemos observar que a inoperância paulista se demonstra desde a pré-escola do crime até as universidades com mestrado e doutorado.
Um estado que, entre outras coisas, congela o salário de policiais durante 12 anos, sendo o mais rico da federação, seus profissionais de segurança detêm o vigésimo primeiro lugar a nível salarial; dá-nos a impressão de ser totalmente alheio a segurança pública tendo, criminosamente participação por omissão, nos casos de corrupção do sistema penitenciário.
A explícita revolta de Lembo contra as principais expressões do PSDB paulista se justifica, se basearmo-nos no curto espaço de tempo entre a sua posse e os fatos detonados, com o devido alarde dado pelo próprio serviço de Inteligência do Estado, e devidamente ignorado pelo ex-governador tucano, Alckmin, criando um território propício para que tudo acontecesse.
O surpreendente discurso de Lembo, sobre as origens burguesas das causas maiores da violência é de forma até alentadora, sinal de que essa percepção o poderá salvar da destruição moral que fatalmente virá com o decorrer da história.
Tivemos exemplos, no passado de pessoas que surpreenderam, principalmente exemplos como o de Teotônio Vilela, mas se Cláudio Lembo poderá , pelo menos em parte, reedita-lo será muito salutar para ele próprio, mostrando que nem sempre pau que nasce torto morre torto.
Já quanto à reação dos tucanos devemos perceber duas coisas, em primeiro lugar a tentativa insólita de atribuir os efeitos do seu desgoverno a um Governo Federal, que nunca se mostrou omisso, fato relatado pelo próprio Cláudio Lembo, ao elogiar Lula pela sua atitude solícita e cavalheiresca.
Quanto aos tucanos, se demonstra a total indiferença desses para com São Paulo.
Lembro-me de como FHC acalentava o Real, filho da administração Itamar Franco, com aspectos de criança saudável e desejável pela maioria da população, filho bonito, portanto.
Realmente, o melhor plano econômico feito nos últimos anos nesse país.
Filho bonito, mesmo que alheio, foi tratado como se a paternidade fosse de FHC, embora todos viram a execução do ato, sendo feita por Itamar, inclusive no ato da fecundação, gravidez e nascimento.
Poucas vezes se viu, com tanta clareza que, o competente grupo econômico de FHC, teve essa paternidade arrebatada e furtada pelo incompetente, mesmo enquanto sociólogo, Fernando Henrique.
Já o filho feio, mal parido, criado a partir das brechas geradas pela incompetência tucana; sobrevivendo e crescendo nas sombras da corrupção e dos desmandos, alimentado pela subversão das leis do país.
Gerado na barriga da miséria, mas fecundado pela indignidade e impobridade de uma seqüência de péssimos gestores, em todas as escalas dos desgovernos consecutivos oriundos do ninho tucano
Esse filho mal amado, embora traga aspectos de caráter coincidentes com o pai, vendilhão do bem público, assaz conhecido como elitista nos trajes e trejeitos, omisso quanto aos desmandos de seus amigos, para ser inimputável nos seus; fomentador dos guetos miseráveis, para poder aliciar, com o mínimo de despesas, na hora do voto.
Esse filho, reflexo do próprio pai, num espelho mais detalhista, obviamente tem sido negado por esse pai, tão solícito e prestativo com relação ao filho subvertido, espertamente do pai biológico e intelectual, e a cada entrevista dada, seus progenitores se afastam dele.
Lembo, ouça o ditado popular e entenderás: filho feio não tem pai, mas filho bonito, qualquer um quer ser o pai.
Mesmo que esse filho feio seja “a cara do papai”...

O SERTANEJO DA ESPERANÇA OU A ESPERANÇA DO SERTANEJO

No meu sertão nordestino
Na minha voz embolada
Correndo desde menino
Brincando nessas estrada
Que liga o sim ao destino
No verão ou invernada
Trazendo pela raiada
Manha desse desatino
Tocando qual fosse sino
Nas badalada, no ninho.
Vou morrendo mais sozinho
Do que jamais sonhei ser
Nesse trato das tratantes
Na farsa desses farsantes
Na boca desses amantes
Que me fizeram bem antes
Do que promete, meu pai,
Quando me chama de filho
Mesmo que o tempo andarilho
Me trouxesse o descarrilo
Do trem da vida penando
Procuro por outro trilho
Nada disso vou achando
Vi muita gente sofrida
Criança morta perdida
Nos colo das mãe chorosa
Vi nesses dedo de prosa
Os conto mais sofredor
De quem já sonhou amor
E nada mais encontrou
Senão o destino vazado
Desse amor desencontrado
Cheiro de sangue escoado
Pelo rumo mal traçado
Pela dor dos sem atino
Pelo gosto da miséra
Na mordida dessa fera
Que agarra prende sem tino
Não deixa andar e te emperra
Deixa mais distante a terra
Que lá longe se adivinha
No caixãozinho levado
O corpo dos desgraçado
Que a fome e a seca matou
Do resto que me restou
Dos filho que a vida deu
E a injustiça me levou
Só me resta essa lembrança
Dos moleque tão criança
Procurando mãe e colo
Dormindo de junto ao solo
Que tão cedo arrebatou
Por seus olhos eu esmolo
Arrepare em nóis doto
Nossa carne assim exposta
Num é feita nem de bosta
Nem por estar tão exposta
Pode ser cortada em posta
Muita gente bem que gosta
Da mizera assim suposta
Cumo fosse dessas costa
As marca dessa magreza
Dessa nossa dura, tesa
Carne ossada, sem beleza.
Sem tecido nem tristeza
Esse olhar que sem defesa
Mira longe sobre a mesa
Com suor de sobremesa
Amargura sem doçura
A pele se torna escura
Do peito já não se atura
Nessa mais dura armadura
Amarrada em atadura
Sem ter luz nem formosura
Nem jura nem t’esconjura
Carpindo tanta tortura
No meio desse sertão
Que a fome e essa precisão
Sempre disseram o não
Sempre nessa maldição
Sem se ter direito ao chão
Nem saber se já virão
Os dias da salvação
Nas reza pra São João.
Nas oferta da beata
No triste sol que maltrata
Dessa dor que me arrebata
Queimando toda essa mata
Do que sobra, na cascata.
Feita de choro arremata.
Estrangula, prende a pata.
Machuca a pele mulata,
Os olhos verdes sem tino
Procurando seu destino
Num único desatino
O gosto mais assassino
De quem deixou o menino
De fome ir-se já partino
Devagar vai se esvaino
Nesse mundo, pequenino
A morte dessa criança
É a morte d’esperança
E o início da lembrança
Que por onde a vista alcança
Essa dança é a mesma dança
Que não deixa contradança
De repetir não se cansa
Quem quer que quiser, avança,
Traga novidade ao peito
Que por favor, e respeito.
É preciso olhar direito
Esse povo insatisfeito
Com o rosto bem mais desfeito
Esperando pelo jeito
De ter bem mais que seu leito
De morte por triste sina
De morrer gente menina
De sangrar a nordestina
Alma, sempre tão cristalina,
Tendo por mão assassina
Quem atravessa, surdina,
As esperança capina,
Essas ave de rapina
Que vive só de explorar
O povo desse lugar
Que não tem mais luar
Tá cansada de esperar
Um novo dia chegar
Pra poder ter seu lugar
Lugar ao sol, ser seu mar
Um belo de sufocar,
Mas esse dia num vem
Pra ajudar num tem ninguém
Pra roubar tem mais de cem
Sem ninguém querer seu bem
Teimosia sem vintém
A esperança nesse trem
Que partiu com mais alguém
Num suspiro desse Amém!
Mas, no mei da terra fula
Mesmo com gente mais chula
Gente que tem tanta gula
Impedindo o que pulula
Esperança que me adula
Vou montado nessa mula
Nesse mar que tanto ondula
Nosso presidente Lula,
Que sabe nosso desejo
Que conhece esse lampejo
Dos óio do sertanejo
Que traz na mão esse beijo
Ouvido num realejo
E que tem muito traquejo
Nesse cabra também vejo
O brilho do nosso cortejo.
Pois então seu presidente
Pode contar com a gente
Que essa gente diferente
Deixou o povo doente
Criou um tanto demente
Essa gente que não sente
Sem conhecer ou somente
Querer assim de repente
Que a gente possa dar crença
Que nos tempo de doença
Eles acham que inocença
É em nois uma potença
Mais num sabe que nóis pensa
Que nóis quer que quem mais vença
É quem nos deu a valença
E perciso que convença.
Terminando minha fala
O meu coração se estala
Achando quem me regala
Quem abriu assim a sala
Quem me tirou da senzala
Quem desfez assim a mala
Amarga mala que cala
Pra quem aprendeu amá-la
Liberdade conseguida
O bem maior dessa vida
A esperança que resvala
Nessa vida mais comprida
Minha dor, para acalmá-la,
Numa bela despedida
Essa luz vou encontrá-la
Só naquele que decida
Saber mais o meu desejo
Esse homem sertanejo
Para quem meu peito adula
Essa luz esse lampejo
É com bravura esse pejo
É nesse home que eu vejo
Tudo o que eu mais almejo
Nesse cabra que é o LULA.
O sertanejo de fé
Que sabe meter a colher
E resolver as lambança,
Trazendo a toda criança
O delírio dessa dança
A quem chamam: ESPERANÇA!