quinta-feira, novembro 02, 2006

À minha musa

Meus versos, universos procurando,
No seio da mulher que tanto sonho...
Teus mares meus saveiros navegando.
Os olhos que te perdem, mar medonho...
O tempo que não tive, vai passando.
Mortalhas estendidas no porão...
Esparsos, os meus sonhos formam bando,
Invadem teu veleiro e coração...
Mascaro minhas dores com teu riso,
Massacro meus amores sem perdão...
De tudo o que vivemos, teu sorriso,
Reflete tanta luz nesta amplidão!
Na sede que matamos, mutuamente...
Meu canto que persigo não preciso...
As luas vão rodando em minha mente.
Nos olhos, minha amada, o paraíso...
Te faço meus poemas, sem segredos...
Esqueço de minha alma, redundante...
Não deixe que esses torpes, frios medos
Impeçam teu caminho, sempre avante...
Meus versos inundados de desejo
Não trazem suas rimas: solução.
A vida que conheço no teu beijo,
Impede conceber a solidão...
A boca que profanas, sempre mente.
Bem sabes que vivemos sem martírio...
Amamos e sofremos simplesmente,
As luzes deste amor, feliz colírio...
Cantando nas gaiolas tristes cantos...
Amores se tornando prisioneiros...
Não posso permitir os desencantos,
Amor que não morremos, verdadeiros...
Espero por teu verso, minha amada.
Mas não demores nunca, tenho pressa...
A noite que na aurora, vai calada,
Esquece de cumprir sua promessa....
Os raios boreais minha aquarela.
O medo de sofre mais desengano...
Teu rosto emoldurado, bela tela,
Pinacoteca minha, disso ufano...
Afrodite, decerto, tem inveja
Da beleza sutil desta mulher...
Hermes, extasiado te deseja,
Teu brilho é invulgar, não é qualquer...
Dancemos homenagens para o deus
Que permitiu a vinda desta musa...
Teus olhos na verdade são ateus,
Espreito belos seios nesta blusa...
Meus versos desejando: sou feliz.
Não nego meu amor: eu te venero...
Vivendo minha sorte por um triz,
És muito mais que penso, nem espero...
Amada, minha ninfa, meu tormento...
A noite que passamos, sem marasmo...
Esqueço assim qualquer um sofrimento,
Envolto nas delícias deste orgasmo...

Meus versos

Meus versos vão em busca dos teus braços...
Atalhos procurei para dizer.
Espero francamente nossos laços,
Meus braços nos teus braços, meu prazer...
De tanto te esperar, meus olhos lassos,
Perderam a vontade de te ver...
Meus versos descansando meus cansaços,
Nas horas mais difíceis tento crer...
Vieste com palavras mais diretas.
Não posso resistir à negativa...
Desculpe se não sigo tuas metas.
Perdoe se não posso decifrar
Enigmas que te tornam mais altiva,
Meus versos só te falam do luar...

Perfume de mulher

Bem antes de poder te conhecer,
Andava nos invernos desta vida.
Infernos onde pude receber
As chaves desta entrada e da saída...
A sorte não se dava a perceber,
A senda que buscava era perdida...
Jogava simplesmente p’ra perder,
Pairava minha sina, distraída...
Os muros que levantas, dos desejos...
Galgando me trouxeram primavera...
Na noite dos prazeres, nossos beijos,
Queimavam as tristezas, dolorosas.
Verão que me trouxeste, mata a fera,
Perfume de mulher, recende a rosas...

Desdenhei os teus sonhos e recados...

Desdenhei os teus sonhos e recados...
Pela vida, cruel e indiferente...
Os olhos que te viram, vão cansados
A morte se aproxima, lealmente...
Os bosques do prazer, incendiados...
Sobraram carcará, lobo, serpente,
Vivendo nas penúrias destes cardos.
Sonhar deixou de ser vital, urgente...
As asas do albatroz não mais sustentam
Meus braços, sem querer perdendo o vôo.
Os medos que tivemos não agüentam,
Os erros cometidos, não perdôo...
Desculpe, por favor, tanto desdém...
Os restos que carrego, sou ninguém!

Meu pobre amor

Meu pobre amor, descansa nos meus braços,
Meus dias sem teus dias são outonos...
Vagando sem ter rumo, nos espaços,
Os cantos mais tristonhos, torpes sonos...
Não posso descansar, me prendem laços
Atados ao teu corpo, em abandonos;
Me levas tão distante, nos teus passos.
Rainha que me nega santos tronos...
Invoco meus poemas, testemunhas..
Perdidos meus sentidos, meu flagelo...
Nas noites invernadas me congelo.
Em busca dos jardins espinhos, rosas...
Nas mãos que me carinham, garras, unhas.
As noites deste amor, silenciosas...

Sensual

Nas ravinas, nos bosques e nas matas,
Nos feijoais esparsos, nos outeiros...
O rio mergulhando nas cascatas,
Os olhos da saudade, feiticeiros...
A lua transbordando suas pratas,
Os campos,milharais tão brasileiros.
No rumo de teus passos, leite, natas.
Pisando neste solo, meus braseiros...
A benção desses deuses, as cantigas...
As pernas mais trigueiras sensuais...
A noite traz promessas, traz intrigas...
As coxas se confundem, bacanais...
Os seios entremostras bel morena,
Nas danças que, promessa, a noite acena...

Meu amor é fanática emoção.

Meu amor é fanática emoção.
Meus olhos não conseguem tanto brilho.
Passando por amor, vira obsessão.
É mais do que sonhar um novo filho.
Explode, com certeza, o coração.
Não deixa nem permite rumo e trilho...
Rebenta mais feroz do que paixão!.
Detona dinamite no rastilho...
Esse amor, endeusado e tão cruel,
Por certo vasculhou estrela e céu
Um resumo absoluto desta vida.
É ponto de chegada e de partida.
Espreito a divindade em meu dossel,
É sorte que me leva a despedida...
Bem sei que entristecida, me entristeces
Aquela que já sabe quem eu sou...
Nas vastidões tapetes já não teces,
O pouco do que fomos se acabou...
No pranto que vertemos, não aqueces
A noite que passamos, esfriou...
As dores que te causo, não mereces.
O medo do goleiro frente ao gol...
Nas chaminés, fumaça, tanta cinza.
Cinzel dum escultor fazendo mágica..
O céu de tão nublado ficou cinza...
As lágrimas abortam primavera...
Nas tristezas que levas, vida trágica...
O nosso amor profano, uma quimera...

A saudade me clama, (é tão teimosa)

A saudade me clama, (é tão teimosa)
Não se esquece jamais meu sobrenome...
As bênçãos divinais, canteiros, rosa,
Meu tempo indefinido... Tudo some...
Saudade se demonstra gloriosa
Baixinho me chamando pelo nome.
Os marcos do que tive verso e prosa.
Meu fígado, meus olhos, cedo come...
Já vem despetalando o coração.
Afaga-me qual fora um pobre cão.
Alaga-me nas lágrimas que mente...
A vida se resume no perdão,
Saudade vai chegando, lentamente...
Meu mundo já desaba, de repente...

As tristezas me pesam no bornal,

As tristezas me pesam no bornal,
Carregadas, parecem triste fardo.
As estrelas legadas ao astral,
Os caminhos que passo, tanto cardo...
Meia noite, batendo no sinal,
Todo gato que encontro, fica pardo...
As mulheres se entregam, carnaval...
Solidão companheira, nunca tardo...
Meus males são malas que carrego.
Nos antros e nos centros, descarrego...
A saudade que insiste em ser vizinha,
Felicidade encontra ao ver-me triste...
No meu mar simples ilha não resiste.
Tanta dor nesse mundo, sempre minha...

Enigma

Pela estrada da vida, caminheiro.
Nas gargantas e pântanos, nas ilhas...
Decifrando um enigma sorrateiro,
Procurei por diversas maravilhas...
Do deserto, poeira, companheiro,
Tantos mares, Caribe, nas Antilhas,
Vasculhando a resposta, mundo inteiro.
Nos tratados e lendas, Tordesilhas...
Nas estradas cansadas, andarilho...
Nas vertentes dos rios e cascatas...
Na mulher que amamenta um pobre filho.
Nas estrelas, planetas que vivi.
Procurei por fantasmas e por matas,
A resposta de tudo estava em ti...

Tristonha a vastidão deste meu céu...

Tristonha a vastidão deste meu céu...
Nas fráguas que me queimas, simples brasa.
Voando procurei por teu corcel,
O rumo que encontrei, negando a casa...
O gosto da saudade, amargo fel
Em meio a tantas mágoas, água rasa.
Vestido de esperanças, pote e mel.
A lâmina cortante, tudo arrasa.
Neste meu sol nascente, novo brilho.
Se vivo magoado, peço paz...
Procuro por caminhos, sigo um trilho.
A voz que não repete, não ecoa...
Revivo na agonia e nada mais.
Nesta asa que me deste, o canto voa...

Tristonha a vastidão deste meu céu...

Tristonha a vastidão deste meu céu...
Nas fráguas que me queimas, simples brasa.
Voando procurei por teu corcel,
O rumo que encontrei, negando a casa...
O gosto da saudade, amargo fel
Em meio a tantas mágoas, água rasa.
Vestido de esperanças, pote e mel.
A lâmina cortante, tudo arrasa.
Neste meu sol nascente, novo brilho.
Se vivo magoado, peço paz...
Procuro por caminhos, sigo um trilho.
A voz que não repete, não ecoa...
Revivo na agonia e nada mais.
Nesta asa que me deste, o canto voa...

Angústia se transforma em meu remédio...

Angústia se transforma em meu remédio...
No frio que profanas, sem saber...
A noite me permite teu assédio,
O mundo que vivemos, vai morrer...
Em troca me darás terrível tédio...
A chave me levaste, sem querer...
Saltando da janela deste prédio,
Num cântico, em promessas quero crer...
Os passos doloridos da existência
Vontade de gritar, chamar teu nome...
Não posso transbordar-me na demência
O vento que trouxeste, congelou.
A noite que chegava, agora some.
Errante procurando, quem eu sou?

Mocidade perdida nestes bares,

Mocidade perdida nestes bares,
Nos lupanares, tontas borboletas...
Voando livremente, buscam ares...
Nos céus vão navegando meus cometas...
A mocidade morta, velhos mares,
Nas bocas que beijaste, prediletas...
Estrelas e galáxias, constelares
Transcendem as cantigas dos poetas...
Quem dera a juventude desse bis,
Os medos não seriam companheiros...
À noite mariposas mais gentis,
Nos templos da saudade, meus parceiros.
No corpo da fogosa meretriz,
Amores que se foram, verdadeiros...

Caminho pelas ruas do passado...

Caminho pelas ruas do passado...
Meu lago placidez, já se secou.
Meu mundo sem vergonhas, destroçado,
Mostrando que quem vinha já passou.
Recebo, da saudade esse recado:
Esqueça nessa vida quem te amou...
Não posso conviver com tal pecado,
As brasas dos seus olhos me queimou...
Viver é percorrer imenso tédio.
Não posso conceber tanta frieza.
Procuro para a dor, falso remédio.
Espero seu amor, eternamente,
No vento, procurei a natureza
Encontrei triste lago, novamente...

O vento calmaria que te trouxe,

O vento calmaria que te trouxe,
Nas brisas deste amor, cedo aninhou...
O pote prometia ser tão doce,
Mas caído, quebrado, esparramou...
Ventania na tarde aproximou-se,
Nos céus do nosso amor relampejou...
O tempo tão depressa transformou-se,
E tudo no horizonte, já nublou...
À noite, tempestade se formava.
Nossos céus retumbavam os trovões.
Todo o breu, entre raios clareava...
Madrugada rajadas mais rajadas;
A casa, neste instante, desabada,
Sob o peso feroz dos furacões...

Não me restará nada deste mundo,

Não me restará nada deste mundo,
Nem sequer o pó, nada levarei...
Cravaste teu segredo mais profundo,
Pensando que podias com a lei.
Não quero nem me importo se me inundo,
As águas poluídas naveguei.
Meu coração, sincero vagabundo,
Me levará por certo onde cheguei...
Beijos de amor? Mentiras que crivaste
O peito de quem sabe que és feroz...
Meus pés perdidos presos, amarraste
Nos porões da viagem que prossigo...
Distante não conheço tua voz,
As pétalas do amor, levo comigo...

Amor enlanguescente, qual veludo...

Amor enlanguescente, qual veludo...
Nas noites mais benditas, companheiro.
Ao ver-te vou calado, fico mudo.
Te procurei, decerto, o mundo inteiro...
Nas águas do teu mar eu já me iludo....
Prossigo em teu caminho verdadeiro.
Não quero nem por que, sequer, contudo...
És dos meus sentimentos, o primeiro.
As brumas e as bruxas me confundem,
Nas dores, nos humores, todos fundem.
Percebo teus carinhos e desejos...
Amor enlanguescente vivo, cálido...
Distante de teus olhos, morro pálido.
Mergulho no oceano de teus beijos!

Muitas glórias a Deus por ter deixado

Muitas glórias a Deus por ter deixado
Neste momento imenso de beleza;
Um ser repleto, manso, iluminado,
Que não deixasse sombras de tristeza...
Agradeço-te Pai, ajoelhado.
Pelo Teu belo gesto de grandeza,
Permitindo-me, pleno de pecado,
Conhecer tua glória e realeza...
Bendito sejas, Pai, te glorifico.
Perdão pelos meu erros que cometo...
Entre todos os homens, sou mais rico,
Mais feliz... Minha vida abençoada...
Por isso, com certeza, te prometo,
Trazer felicidade a minha amada!

Seu pranto retumbando meu quintal,

Seu pranto retumbando meu quintal,
A noite que passamos, não se cala...
Saudade deste canto, que é fatal,
Penetra no meu quarto, copa e sala.
Guardadas as estrelas no bornal,
Me escuta, não ecoa sequer fala...
Meu medo e sua dor que é ancestral
Parada na garganta, trava, entala...
Se chorava, também derramo o pranto...
A vida sem sentido, morre aos poucos,
Os sonhos vão morrendo, desencanto...
Na noite dos amores, cadê voz?
Um grito que abafado, nos faz loucos,
Meu Deus tem piedade, então, de nós!

o meu mundo..

Minhas recordações, entranha exposta,
Silêncios esquecidos nestes versos...
A carne despojada, corte, posta...
Os medos e segredos mais diversos...
Meus mares que vivi, de costa a costa
Distantes constelares, universos...
O sol deste deserto queima e tosta,
Meus sonhos presos, trôpegos, submersos...
Em cada verso mostro meus desejos,
O couro que cobria, desnudado...
Da morte anunciando seus cortejos...
As orações que faço, num segundo,
Palavras soltas: sina, medo e fado,
Demonstram, sem pudores, o meu mundo...

velho

Quando me chamas: velho, não percebes
Que tentas disfarçar o teu futuro...
Caminhos que passei, estradas, sebes,
Tanto desfiladeiro vasto, escuro...
Não sentes que o destino que concebes
Se esconde por detrás de baixo muro.
O vento que recebo e não recebes,
Estará bem mais perto sem apuro...
Desfazes da velhice, maltratando.
O fosso que separa nossas vidas...
Implacável, o tempo irá passando,
E nunca mais serás, simples fedelho.
As horas de ventura, vãs, perdidas.
As rugas tomarão teu claro espelho...

Ser teu mar, quem me dera se assim fosse...

Ser teu mar, quem me dera se assim fosse...
Nas horas mais difíceis, navegar
Teus braços, dominar e tomar posse
Da vastidão, por onde te encontrar...
Fazer da água salgada, um mar tão doce,
Ter serpentes marinhas, calabar,
Nos abismos e fossas que me trouxe
As crateras marinas, mergulhar...
Nas nuvens que me cobrem, tempestades,
Olhos que lacrimejam, mansa chuva...
Deitar no teu dossel, calma viúva
Vasculhar abissais profundidades,
Ser teu mar, tão imenso e revoltoso...
Transformar as procelas, fino gozo...

Santo Amor...

Tantas vezes te quis por companheiro...
Nas estradas distantes do sertão...
Planícies, planaltos, mundo inteiro,
Nas horas mais benditas, coração...
Nas cordilheiras altas, sou rasteiro.
Nos templos, doce musa, na amplidão
Procuro por teu braço verdadeiro,
Encontro muitas vezes, pobre chão...
Te canto meus poemas, nada escutas...
Te imploro mas não ouves meus lamentos...
Por tantas vezes grito, mas relutas,
Distante, nem percebes minha dor...
Nos versos que te faço, sofrimentos...
Te quero companheiro: Santo Amor...

Pensamento tortura e desatina...

Pensamento tortura e desatina...
Cada momento que passo, perco o senso...
Meus versos já nem sabem da menina,
Meus olhos já choraram mar imenso...
O brilho desta estrela me alucina,
Estendo meu amor, te recompenso...
No vértice do céu se descortina
Misturo nossos lábios, vivo tenso...
Apagas meus luzeiros, pobre treva...
Vaga recordação, minha memória...
O medo de chover, depressa neva...
Hostes celestiais ecoam grito.
Vestido deste herói, procuro glória.
Meu pensamento perde-se, infinito...

A saudade cruel, me trucidando...

A saudade cruel, me trucidando...
Não permite que te fale, calmamente...
Por mares que não tive, navegando,
Saudade vai cortando, cruelmente...
A noite que se inunda vem chegando,
Trazendo teu veneno de serpente
Amores que vivemos, vão passando.
Me restam míopes olhos, peço lente...
Porque chegaste assim, noite nublada?
Relâmpagos afagos e coriscos...
A voz que te clamava, tão cansada,
O medo de morrer me deixa triste...
Saber de nossa vida, de seus riscos,
Saudade devorando, não desiste...

A flor dos meus receios, temporã,

A flor dos meus receios, temporã,
Aflora em nosso caso, triste amor...
Quem sonha com vitória e talismã
Adormece tremido de pavor...
Vivemos nas esperas, nosso afã
Angústias transformadas em rancor.
A vida desespera e passa vã
O frio congelou nosso calor...
A flor dos meus desejos, despetala,
Não deixa nem perfume nem saudade...
A voz que enamorada, sempre cala.
Nos versos que te faço, nada rima...
Nos meus olhos crispados, falsidade.
Tua boca negando nossa estima...

Vivendo nossa vida sem ternura,

Vivendo nossa vida sem ternura,
Não posso descobrir os teus segredos...
Quem sofre tempestades, noite escura,
Resguarda o coração, conhece medos...
Espero simplesmente esta candura,
Não deixe nosso caso nos degredos...
A mão que acaricia traz ventura,
Os dias que se vão, desmaiam, ledos...
Não quero ser somente um triste cardo,
Nem urze que machuca, quando passas.
A vida não será mais peso, fardo.
Os versos que te faço, amiga minha,
Nos mares que navegas, milhas, braças...
Uma ave que voando, logo aninha...

No rosto delicado da menina,

No rosto delicado da menina,
Perfeito num buril encantador...
Os olhos misteriosos, pequenina,
Nas preces que dedico com louvor.
Remanso que fatídico, ilumina.
Nos raios que emanaste, teu calor...
Descubro de riquezas, rara mina,
Deslinda a madrugada deste amor...
Tua alma graciosa, suavemente,
Eleva-se aos portais do pensamento.
O gosto da ternura docemente,
Espraia-se infinito com o vento...
Espero teu caminho urgentemente,
Assim posso matar meu sofrimento!

No rosto delicado da menina,

No rosto delicado da menina,
Perfeito num buril encantador...
Os olhos misteriosos, pequenina,
Nas preces que dedico com louvor.
Remanso que fatídico, ilumina.
Nos raios que emanaste, teu calor...
Descubro de riquezas, rara mina,
Deslinda a madrugada deste amor...
Tua alma graciosa, suavemente,
Eleva-se aos portais do pensamento.
O gosto da ternura docemente,
Espraia-se infinito com o vento...
Espero teu caminho urgentemente,
Assim posso matar meu sofrimento!

A minha alma embuçada nas torturas.

A minha alma embuçada nas torturas.
Um sino repicando esta saudade...
O gosto tão amargo, desventuras.
Nas neves que me deste, frialdade.
Num tempo que vivemos, as ternuras,
Chuvosas cordilheiras, tempestade...
Amores necessitam de branduras
Decerto não conheces liberdade...
Destino desaprendo tais estradas...
As noites esquecidas, vãs, nubladas.
O vento, calmaria, desconhece...
Meu canto transtornado, vira prece...
O resto do que fui já não existe...
O mundo que me deste, morre triste...

No outono dessa vida, entardecer...

No outono dessa vida, entardecer...
Perdido, procurando meu caminho...
Preciso de teus braços pra viver.
Amores traduzidos em carinho.
O sol morrente, traz anoitecer.
Meu rosto emoldurado em pergaminho,
As rugas não desistem de nascer.
Não posso conceber viver sozinho.
As minhas ilusões, suspira o vento,
Levadas pelas mãos maliciosas...
À flor deste suave pensamento,
A noite delirante nega rosas...
Guardado neste imenso sofrimento,
Outono prometido, mãos calosas...

A juventude morta, escorraçada...

A juventude morta, escorraçada...
Meus olhos na penúria dos enganos.
A vida que passamos, desgraçada.
O tempo tão cruel, estraga os planos..
A noite não permite madrugada,
Meus dedos congelados vão tempranos,
A rota desta vida, desviada.
A morte me trazendo velhos panos...
Juventude se perde sem carinho...
A graça de viver, perdendo encanto...
Prossigo vagabundo passarinho.
Não ouves nem sequer meu triste canto...
Quem sabe viveremos nosso canto,
Quem sabe encontraremos nosso ninho!

Príncipe dos sonhos - com estrambote

Guardada num convento, ela sonhava...
Os olhos encantados, cotovia...
O príncipe dos sonhos não chegava,
A noite não trazia um novo dia...

Os sinos repicavam melodia,
O pranto que escondido não calava...
Quem dera conhecer a fantasia.
Janela entreaberta enluarava.

Deitava-se desnuda, mansa orgia...
Um dia, não se sabe com certeza,
Um príncipe chegou no seu corcel.

Deparando-se, enfim com tal beleza,
Calmamente deitou-se em seu dossel..
As pernas entreabertas da princesa...
(Ergueu-se, levitou, subir ao céu!)

Receba meus castelos, fantasias...

Receba meus castelos, fantasias...
Na torre que me ergueste, vou cismar,
Trazendo as solidões, meus tristes guias.
Buscando pelas névoas, pelo mar...
Desfeito sem saber das alegrias;
A noite que prometes, sem luar...
O canto que embalava, cotovias,
A morte sem vontade de chegar...
Os pátios do palácio, u’a princesa.
Os bardos necessitam toda musa.
Na torre do castelo, fortaleza.
Tristemente perdi minha esperança.
Amor é tempestade tão confusa,
Castelos que pintei, desde criança...

Amor que rememora priscas eras,

Amor que rememora priscas eras,
Me traz tendas, desertos, beduínos...
Nos olhos procurando seus destinos,
Os cantos, madrigais... Do céu, esferas
Brilhantes. Gigantescas, tristes feras,
Mergulham nos meus sonhos cristalinos...
Amor que ressuscita, faz meninos
De todos os que morrem tais crateras...
Nas lágrimas que choro, meu colírio...
O visgo de teus olhos, primavera.
Amor que não vivemos, meu martírio
Abandonos e flores se revezam.
Açúcar acalmando essa quimera.
Carinhos tão profusos que me lesam...

Transbordo, nesta vida, de emoção.

Transbordo, nesta vida, de emoção.
O tempo que passamos, leva o vento.
Não quero desta dor, sequer fração,
Rasgando os infinitos, pensamento...
Meu peito sem coragem, coração,
Esquece todo medo, num momento.
Arrebenta as correntes da paixão,
Mergulho nos teus braços... Me contento!
Sou pó, simples poeira sem destino.
As tempestades levam, fina areia.
Nos sonhos, vendavais, simples menino.
Espero traduzir-te nos meus versos,
Buscando teus carinhos, universos.
Te encontro no meu mar, linda sereia...

No castelo, princesa imaginava

No castelo, princesa imaginava
Com mares e florestas encantadas...
A lua, companheira, transformava
A noite nas corbelhas estreladas...
Castelos e princesa que sonhava,
A vida transcorria... Nas calçadas,
Brilhantes, diamantes, sons e clava
Do sol, iluminando essas estradas...
No castelo, princesa maviosa,
Sonhava com jardins, flores, perfumes...
A vida se mostrava fabulosa,
Sem dores, sofrimentos ou queixumes...
Batia, calmamente, o coração,
Trazendo seu castelo ao barracão!

A sombra do que fomos

A sombra do que fomos me persegue.
Esvaecidos sonhos não me deixam...
O luto de minha alma não consegue
Deixar-me. Então as flores já se queixam
Abandonadas, mortas no jardim.
Tal sombra não me deixa um só minuto.
Devora o restou de bom em mim,
Tão manso que já fui, agora bruto...
Sou simplesmente um nada que passeia,
Na busca da fatal tranqüilidade.
Mergulho, prisioneiro em triste teia.
Não passo do que foi e não voltou.
A vida se transforma iniqüidade,
A sombra do que fui, o que restou...

Sonhei com teus desejos, meus desejos...

Sonhei com teus desejos, meus desejos...
Andávamos felizes pelos campos.
Vertíamos milhares, loucos beijos,
Nosso caminho, estrelas, pirilampos...
Sonhei que te levava pelas mãos.
Castelos e princesas aguardavam.
Os medos estancados, eram vãos,
A poesia e o canto me inundavam...
Sonhei com fantasias de grinalda.
O tempo não passava, era infinito...
Palavras e perfumes, ar desfralda...
Vastos e profundos, nossos mares...
A noite salpicada dos luares,
Amar profundamente, norma e rito...

Meus versos dolorosos, são de mágoas...

Meus versos dolorosos, são de mágoas...
No mundo vou passando sem amor...
Tristezas incendeiam feito fráguas
As ondas que mergulho, de pavor...
Quem dera navegar risonhas águas,
Quem dera me saber um vencedor.
As pernas da saudade, nas anáguas,
Descobrem coração legado à dor....
Olhos empapuçados, ermos, frios...
Pelo mundo, procuro um novo cais...
Meus dias sem sentido são vazios.
Meus versos dolorosos, meu queixume...
A noite que passamos, nunca mais.
No vento, distraído, teu perfume...

Graníticas verdades, naturezas...

Graníticas verdades, naturezas...
As tramas que forjaste veras redes...
Ascendo a tentadoras, vãs, belezas
Matando nos teus lábios tantas sedes...
As íngremes montanhas, incertezas,
São minhas companheiras, penedias...
Quem sempre se investira de proezas,
Agora representa aves vadias.
Não sabe mais colher o que plantou,
Espinhos e vergões machucam tanto...
Entranhas as mentiras que contou,
Parado, não procuro mais teu colo.
Amor que travestindo-se de santo,
Mergulha das montanhas rumo ao solo...

Perceba que minha alma está ferida,

Perceba que minha alma está ferida,
Lacrada, destroçada pelo vento...
Mortalha caminhando em plena vida.
O luto não me sai do pensamento.
Levaste, sem saber, rumo e guarida;
Deixaste neste escambo, sofrimento...
Não vejo mais a lua Aparecida
Sumiste nos espaços. Peço ungüento.
Misturo meus delitos e meus erros.
Procuro teus olhares, altos cerros,
Não vejo nem sinal da criatura
Que tantas vezes trouxe-me ternura.
Procuro por teu rosto. Noite escura
Reflete meu olhar. Caricatura...

Sou embrião disforme, vago o mundo.

Sou embrião disforme, vago o mundo.
Meus restos dilaceras sem promessas.
Navalhas penetrantes, corte fundo.
Aborto minha vida nas avessas...
Bem sei que não me queres, sou imundo.
Nos trapos que carrego, nas compressas,
Um bote naufragado, vagabundo.
Sorvido pelos vermes, podres peças...
Não deixe por favor, peço clemência,
Que a vida me maltrate sem ter pena...
Meu Deus, o criador, tua incumbência
Cuidar deste restolho. És meu timão...
Repara neste nada que te acena,
Não deixe me devore, solidão!

Febre ardendo... Saudades... Solidão.

Febre ardendo... Saudades... Solidão.
Tua distância trama tantas dores.
Mas, porque se esqueceste do perdão?
Olhando para teus olhos, perco cores.
Angústia se tornando meu refrão.
Não posso compreender. Cadê as flores
Que cismamos plantar noutro verão?
Não percebes, não somos mais atores...
O palco desta vida, peça pobre,
Num melodrama trágico termina...
Amar é, na verdade ser mais nobre.
O céu já se recobre, negros nimbos...
A vida sem esperas, determina:
Cada qual viverá seus tristes limbos...

O silêncio que se escuta

De repente, vivendo a fantasia
Encontrei meu rumo nesta estrada...
O mundo vai girando, a poesia,
Risonha se transforma nesta espada.
Penetra quem pensou que já podia,
Trazer de novo a vida destroçada...
Nos campos já se escuta a melodia,
Por tempos e milênios abortada.
Na boca desta gente, não se escuta,
Um grito que traduz velha mortalha...
O medo de enfrentar a força bruta,
Por certo não vingou, nem atrapalha...
Dos sonhos de igualdade já desfruta
O povo que gritou: Xô, some gralha!

Flores desabrochadas

Flores desabrochadas, primavera...
Nos jardins que cultivo belas rosas;
Esqueço meus tormentos. Quem me dera!
O canto desses pássaros... Formosas
Manhãs... Meu coração sossega a fera
Que sempre me mostrou as horrorosas
Garras. No meu recanto, essa quimera
Arranca pobres flores mais vistosas...
Persigo meus desejos, nada encontro...
Não deixo de tentar um novo dia...
Fina arte de viver, o desencontro...
As gotas deste orvalho, são cristais.
Quem sabe viverei esta utopia?
As flores no jardim, amor e paz...

Amo, sinceramente sei que te amo...

Amo, sinceramente sei que te amo...
Não posso mais fugir à realidade
Nas horas mais tristonhas, na saudade,
Teu nome sempre falo e, manso, chamo!
Desculpe se por vezes te reclamo
Que não estás. Transcendo essa verdade.
Muitas vezes, mal sinto e te difamo,
Por certo, já perdi tranqüilidade...
Amor que tanto mata quanto brilha,
Não posso mais calar o sentimento...
Angústias e delírios, meu tormento.
Guardado, na gaveta, o teu retrato...
Quem teve vida tristonha, andarilha
Não sabe ser amado. E te maltrato...

Doce de Leite

O cheiro do café que estás passando,
Delícias desse tempo que hoje vivo.
A noite que vivemos, terminando,
O mundo se parece mais altivo.
A broa de fubá, a mesa posta...
Desejos de viver eternamente.
O vento me trazendo uma resposta,
A mansidão do corpo em minha mente...
Não deixe que se acabe nosso sonho...
Afaste esta severa solidão...
Meus barcos nos teus mares, sempre ponho...
O gado no curral, porteira e leite.
Amor que não precisa de perdão...
Manhã que sempre traz, doce deleite...

carta

Na carta que enviaste, triste fim...
Chegamos sem querer ao fim do poço!
A dor que sempre esteve, guardo em mim.
As lágrimas me causam alvoroço.
Resumem nossa vida. Do festim
Que preparamos resta o fosso,
As noites debruçadas no cetim
Memórias deste quadro sem esboço...
Não posso permitir que assim termine,
Amores que vivemos, são mais fortes...
Os beijos que trocamos, velho Cine,
Carícias e delírios , não esqueço...
Amor que vai morrendo, fundos cortes,
A carta que enviaste: não mereço!

nunca mais...

Teu rosto emoldurado na memória,
Belezas sem igual, és Mona Lisa.
Roçando teus cabelos, minha glória,
O vento carinhoso, leve brisa...
Deixaste tantas coisas, triste história,
A morte se aproxima e não avisa...
Num átimo mergulha, peremptória,
Só levarei lembranças. A mão lisa.
Querida, não possuo mais segredos,
Rastreio os teus caminhos pelo céu...
Levaram a coragem, deixam medos.
Nas noites que procuro e sei jamais.
O mundo vai girando, carrossel...
Teu rosto, procurando, nunca mais...

Parque, roda gigante, algodão-doce...

Parque, roda gigante, algodão-doce...
Brincando com desejos da criança.
O tempo se passou e o que era doce,
Num canto vai guardado, na lembrança...
Na foto amarelada já acabou-se,
Só restam conta gotas de esperança.
Quem tinha liberdade, escravizou-se
Nas danças da saudade, contradança.
Menino vai correndo, liberdade;
As pernas vão traçando em cada passo...
Riachos de total felicidade.
Não sabe das angústias, do cansaço.
Roda tão gigante da saudade...
Meu filho. Vem, me dê um forte abraço!

Tri nitroglicerina

Não quero te contar destas fraturas
Que trago no meu peito sonhador...
Por vezes enfrentei noites escuras.
As portas se trancaram de pavor...
Às voltas me encontrei, procurei curas,
Deixaste teu recado: agüenta a dor!
Mereço teus castigos e torturas,
Jamais me tornarei um vencedor!
Cigarros, vou tragando para a morte...
Palavras demonstrando dinamites.
Tri nitroglicerina pura e forte,
Não vejo disparates que tramites..
Carinhos desdenhados traz má sorte.
Palavras te ensinei, mas logo omites...

Resisto bravamente aos meus anseios...

Resisto bravamente aos meus anseios...
Vou decididamente buscar teus braços.
Quase que me encontrei, teus doces seios.
Nas praças e nos Paços, tantos passos...
Menina, a juventude, sem rodeios,
É fonte inesquecível, deixa traços...
Mas passa, nos restando seus meneios
Os olhos esquecidos, tristes, baços...
Balões e serpentinas foram ritos,
Amores e verdades, simples mitos.
Não canso de buscar tantos entalhes
Em meu rosto, esculpidos nos detalhes.
Cada vez que me vejo neste espelho,
A um velho navegante, me assemelho...

Restariam somente meus segredos,

Restariam somente meus segredos,
Nada mais te darei, senão meu verso...
Os barcos navegando vãos degredos.
Viajo por teus mares, desconverso,
Os anéis saturninos ferem dedos...
Nos sonetos que tento, me disperso
Os papões infantis me causam medos,
Minha mortalha imita este universo...
Não posso traduzir meu sentimento
Em palavras sutis, ledos enganos...
O que não vesti, leva esse vento...
Os tesouros escondes, tantos planos...
Mas, com certeza, sigo um pensamento
Pobres amores morrem, são insanos...

Teu vestido de noiva foi queimado

Teu vestido de noiva foi queimado
Pelos mesmos motivos que negaste.
O tempo não revive teu passado,
Amor que não convence, simples haste,
Não pode suportar quimera e fado.
Um beijo sugeria apaixonado,
Quem fora simplesmente verme e traste.
Amor sempre desiste do contraste.
Alvor desse vestido, enegrecido,
As cinzas transportaram solidão...
Quem nunca mais sonhara, foi vencido,
O medo de viver essa paixão...
Ao mesmo tempo mostra, destruído,
O que, outrora, chamara coração!

Minhas lembranças, vagas como a noite...

Minhas lembranças, vagas como a noite...
Açoites que me levam, desespero...
O tempo que permite meu pernoite,
No fundo me decora, seu tempero...
O pranto que rolei não trouxe festa.
A morte que sonhei não fez promessa,
Do nada que vivi, tampouco resta.
A dor sem teu afeto, me confessa
De todos os meus dias, vãs mentiras...
O barco dos meus sonhos, naufragado..
Esboço meus poemas, fazes tiras.
Nos bares me freqüentas, vou cansado...
Maria me promete versos, liras,
Deveras não me sobra senão fado...

Me trouxeste calor, embora fraco...

Me trouxeste calor, embora fraco...
Gaiolas me recordam passarinho.
Da vida não terei sequer um naco,
Meu canto terminei, irei sozinho...
Nas noites que varei festejo Baco,
No fim de tudo, perco meu caminho.
Da fortaleza imensa, sobrou caco.
Meus olhos aves, procurando um ninho...
Do calor que trouxeste resta a neve.
Amor que não vivemos, morre breve,
Sentimos nossos passos tão cansados...
As noites se encharcaram, pesadelos...
Erramos, tropeçamos nos novelos
Envoltos pelos mantos esgarçados...