sábado, julho 15, 2006

Nunca poderia te esquecer

Não poderia esquecer aquele dia, nuca mais poderia esquecer.
Ao te ver partindo, deixando um gosto amargo, o gosto da saudade, da solidão, senti o quanto te amava.
No começo de tudo, era um simples jogo, um brinquedo de conquista, uma fantasia criada sobre o nada.
Para te falar a verdade, naquele tempo não te queria, nem te desejava, foste simplesmente uma aventura, daquelas que a gente sabe que vai acabar e nem luta contra isso...
Bonita? Eu não te achava bonita não, até meio sem graça, com aquele vestido desengonçado e aquele jeito comum de menina comum, de tantas e tantas que atravessam cada esquina e se oferecem ao gosto e ao olhar, a cada dia, a cada semana, em cada bar.
Conhecera-te na infância, menina gordinha, sardenta, feia mesmo. E ao te reencontrar, na nossa adolescência, descobri que me desejavas. Gostei disso, e somente disso. O orgulho de ter sido querido e desejado por alguém, aliados da minha timidez, me permitiram te ter.
Mansa e serena, sempre presente, me acostumei contigo; é isso, me acostumei e nada mais que isso. Costume e rotina.
Ficamos juntos por quatro anos, que transcorreram na mansidão do rio sem cachoeiras, sem grandes cascatas, sem turbilhões nem redemoinhos.
Depois disso, vieste com essa história de “não te quero mais, foi bom, mas acabou”, essas desculpas comuns que se usa quando se quer terminar um relacionamento sem magoar.
Houve um tempo em que até desejei ouvir isso, mas, agora não; fiquei surpreso com a dor, com a angústia dessa notícia.
Para falar a verdade, chorei, surpreendentemente chorei.
Conseguiste penetrar em todos os recantos do meu sentimento, sem que eu percebesse...
Dominaste-me, sem tempestades e sem confusões, calmaria.
Amiga, é difícil dizer-te o quanto me fazes falta, é muito difícil para quem, egoisticamente, se achava teu dono, te achavas minha, minha, somente minha.
Mas, de coração, desejo tua felicidade, pode parecer estranho, mas quero que sejas feliz.
Distante de mim, longe, em outros braços, outra boca, outro homem...
É complicado, muitas vezes, eu conseguir entender isso, mas o que sei é que te desejo muitas felicidades.
E isso me dá a verdadeira dimensão do amor que tenho por ti, um amor longe de egoísmos, longe de possessão, o amor sublime de quem quer, acima de tudo, a alegria e a glória do objeto amado.
E, se um dia, tu te lembrares de mim, saiba que ninguém, ninguém nesse mundo te amará tanto e tão fielmente quanto, um dia, te amei...

Tucanolândia 10 - Disk denúncia – a grande sacada.

Disk denúncia – a grande sacada.

Além do que vimos no capítulo anterior, tivemos outra situação genialmente bolada pelo Ministro Joseph Mountain.
Como complemento á tática muito bem empreendida contra os Hospitais, Joseph resolveu achar mais um grande culpado pela situação em que se encontrava a saúde do reino.
Com o sucateamento da tabela do SUS, congelada por vários anos, para consultas e procedimentos médicos, o que obriga os profissionais de saúde a acumularem vários empregos para manterem um certo padrão de vida, já que o preço do procedimento profissional era de dois reais e quarenta centavos, Mountain resolveu investigar a vida dos profissionais, ladrões e facínoras em potencial, com a artimanha de mandar cartas aos pacientes e solicitando que estes denunciassem os “bandidos” da máfia de branco.
Realmente, um profissional que trabalha com uma arma terrível como o bisturi, e se aproveita de que a vítima está anestesiada para causar graves e profundas lesões corporais, além de se utilizar de drogas capazes de matar, é um bandido em potencial. O fato de exercer essas ações para tentar salvar vidas é de somenos importância, apenas um pequeno detalhe.
Pois bem, partindo do pressuposto que os médicos eram as verdadeiras sanguessugas do erário público, capazes de, qual fossem morcegos hematófagos, sangrarem a exaustão o tão bem protegido e cuidado, dinheiro público, vemos que tinha suas razoes.
Pena que a idéia não prosperou, imaginemos um disk denúncia para professores que não dessem a nota que os pais imaginassem que seus filhos merecessem, um disk denúncia para advogados que não conseguissem ganhar causas, para jogadores de futebol que perdessem pênaltis, para donas de casa que deixassem queimar o arroz, para policiais que não prendessem o ladrão.
De Ministros que não conseguissem resolver os problemas ligados à sua pasta, de juizes de futebol que “roubassem” do meu time, de prostitutas que não dessem o prazer prometido, de maridos e mulheres que não funcionassem a contento, e por aí adiante...
Agora, a idéia mais fantástica seria um disk denúncia para políticos que não cumprissem os compromissos de campanha ou que inaugurassem obras inacabadas, que desviassem dinheiro público, que praticassem nepotismo, que contratassem funcionários sem concurso, baseados simplesmente em fatores eleitoreiros.
Políticos que se utilizassem de influência para ganhar licitações, para conseguir tirar presos da cadeia, de utilizarem veículos públicos para proveito próprio, etc...
É, acho que, nesse caso, as linhas disponíveis para o disk denúncia político, teriam teias de aranha, de tão poucas denúncias haveria...

Tucanolândia capítulo 9 - de como não transferir verbas e transferir a culpa


No reinado da Tucanolândia, o sistema de saúde passava por um momento ímpar: com o plano real, um plano econômico muito bem feito pelo Rei Topete primeiro, a inflação estava quase que totalmente zerada.
Mas, o real que estava equivalendo-se, no início, ao dólar, teve uma desvalorização de mais de cinqüenta por cento, sendo que o salário mínimo tinha tido um crescimento parecido. Tudo em Tucanolândia aumentava de preço, menos a tabela do SUS.
Esta estava congelada desde o início do plano real, embora a inflação e os custos de manutenção dos hospitais aumentavam a cada dia.
Joseph Mountain, em uma brilhante jogada de mídia, ao invés de aumentar a remuneração, tanto de médicos quanto dos prestadores de serviço, teve uma brilhante idéia.
Esquivando-se da responsabilidade sobre a piora da situação da saúde pública, imaginou uma jogada genial:
Passou a ranquear os hospitais, conforme pesquisa feita com os pacientes.
Estes, longe da realidade que afligia os hospitais, passaram a ter a percepção de que, quem era responsável pela má qualidade não era o Ministério da Saúde que, na verdade, estrangulava economicamente os prestadores de serviço, mas sim estes, os estrangulados...
Com essa fantástica jogada de Marketing, vimos os profissionais de saúde expostos a uma cruel “realidade”.
Eram eles, e somente eles, os culpados pelos maus serviços prestados.
Em última análise, tivemos uma situação extremamente “confortável” para quem atuava, inclusive este que vos fala, na saúde pública ou credenciada.
A remuneração de uma consulta médica, passou de dois reais e quarenta centavo, num salário mínimo de sessenta e oito reais, para dois reais e quarenta centavos num salário de mais de cem.
Desta forma, extremamente inteligente, Joseph Mountain passou para a população que os médicos e hospitais eram os verdadeiros culpados de faltarem medicamentos, e condições de atendimento.
Essa foi mais uma genial jogada de marketing político de Joseph, idéia que nem os marqueteiros mais geniais poderiam sacar.
Em tempo, os hospitais mais ricos, aqueles que não dependiam do SUS, passaram a ter propaganda gratuita do Ministério da Saúde; já os mais pobres, cuja renda era quase estritamente oriunda do SUS, foram os verdadeiros vilões da má gerência da saúde pública.