sexta-feira, maio 26, 2006

SONETO

Não posso mais falar, e nem pretendo
Saber desses desejos incontidos
Viver nesses espaços compreendidos
Entre o que houvera sido, vou vivendo


Nas marcas desses dias já perdidos
Do tempo, se esvaindo, mesmo tendo
Quem nada mais podia, nem alento
Singrando velhos mundos conhecidos.


O medo me transforma noutro canto
Num último senão já descoberto
No distanciar tonto, nada perto


Trafegando por mares entretanto
Pelo meu peito aberto a teu encanto
Pelo meu sonho morto a descoberto!

LEONEL SERTANEJO

João Polino tem uma característica de personalidade muito interessante;
Hay gobierno, soy contra. Qualquer que seja esse, mesmo o eleito com seu voto.
A capacidade de radicalizar-se contra tudo e contra todos que é vista em alguns políticos nossos, de tal forma está entranhada em João que isso se torna, muitas vezes hilário.
Na pequena cidade onde morava, João era de uma atuação efetiva, mas totalmente contraditória.
Nas eleições para a prefeitura do local, João se esmerava em discutir contra os que não apoiavam o seu candidato, chegando a discutir e praguejar contra todos, amaldiçoando mesmo os filhos se esses, porventura votassem ou fizessem campanha para outro candidato.
Nas cidades pequenas, muitas vezes um cargo qualquer, da faxineira da escola até a direção dessa, passam pela mão do prefeito de plantão, essa dura realidade tem que ser modificada, mas demonstra o grau de subserviência a que têm que se submeter para conseguir ou manter seus empregos.
Pois bem, se a “vítima” de João fosse um candidato que ganhasse as eleições, esse fazia tanta balbúrdia que, mesmo que um parente seu tivesse apoiado o candidato vencedor, provavelmente a situação para o pobre ficava difícil de se sustentar.
Mas, se o candidato de João ganhasse, ainda assim estava complicado, pois passando alguns meses, lá estava João se transferindo para o outro lado; e quem era endeusado, de uma hora para outra estava “ardendo no inferno político” do inventivo e contraditório Leonel sertanejo.
Com a última eleição para presidente não foi diferente não, se João foi Lulista de primeira hora, da noite para o dia, Lula ficou sendo culpado pela Greve de Ônibus em Vitória, pela invasão do Iraque e até pela torção no tornozelo do velho João.
A última agora é a paixão de João por certa candidata alagoana; é pensando bem faz sentido...
O que temo é que, se um dia ganhar a eleição, vai começar a achar tantos defeitos na moça que, no mínimo ela vai dar as audiências de praxe, nas palavras de João, somente de calcinha e sutiã...

DOS NOSSO PECADOS

O treinador da equipe de tênis do Iraque e dois tenistas foram assassinados a tiros nesta quinta-feira em Bagdá, anunciou o Comitê Olímpico Iraquiano (COI). De acordo com testemunhas, os três homens foram assassinados porque usavam shorts. "Homens armados assassinaram o treinador Ahmed Rashid e dois tenistas, Nasser Ali Hatem e Wissam Adel Odah, na tarde desta quinta-feira no distrito de Saidiya (Bagdá)", disse Amer Jabar, secretário-geral do COI. Poucos dias antes do crime, um grupo militante sunita havia feito uma advertência e proibira o uso dos shorts. No dia 25 de fevereiro, o ex-campeão de boxe iraquiano Jasseb Rahma foi assassinado a tiros diante da família na cidade de Basra.
da France Presse, em Bagdá



É essa a realidade de um povo entregue ao descontrole absoluto, um povo em evidente situação de desgoverno, de indefinições, refém de vários grupos guerrilheiros, vindos de todos os lados, interna e externamente, colocado sob o signo do caos.
Pode nos parecer estranho e, até insano , o motivo desses assassinatos, mas devemos analisar alguns fatos antes de pré-julgarmos.
A violência iraquiana é fruto de vários “choques”: religiosos, culturais, econômicos, de governos e desgovernos tantos quanto forem os grupos existentes; isso sob o massacre diário de um exército estrangeiro sem nenhum vínculo com o seu povo.
Essa dominação externa e interna dá a dimensão do quanto é grave e insana qualquer tentativa de se intervir no equilíbrio, mesmo que possa nos parecer cruel, de um povo.
As ações desastradas do Império Americano sobre o povo iraquiano, primeiramente levando ao poder um sunita por medo dos xiitas, para depois derrubá-lo com o apoio dos xiitas, aos quais tenta inibir, de todas as formas, no vizinho Irã, demonstram onde o tresloucado presidente americano foi se meter.
A cada ação do Exército americano, aumentam os rancores e os ódios fomentados por um desequilíbrio absoluto.
Não se pode imaginar em um final para essa Guerra, a não ser a Guerra Civil sangrenta e catastrófica que virá após a inevitável retirada das tropas americanas do Iraque.
Essa medida causará uma terrível carnificina que, ao contrário do que possamos pensar, reequilibrará as diversas forças iraquianas.
Sua multicultura e seus traços extremistas são visíveis a todos, menos ao Governo Americano, cujo pensamento e é o mais representativo do povo norte-americano, torna Deus norte americano e seu povo, os Cavaleiros andantes contemporâneos.
Seria bom se Cervantes fosse mais conhecido por lá ou, pelo menos mais lido e compreendido.
“O que é bom para os Estados Unidos é bom para a humanidade”, essa afirmativa, além de bisonha é criminosa.
O desrespeito aos povos tem efeito tão devastador quanto o desrespeito ao equilíbrio de qualquer ecossistema, sendo que as reações humanas são devastadoras e mais imediatas.
As identidades entre os povos ocidentais e os radicais do Oriente são, por completo, desconhecidas pelos donos do poder e contraditórias.
Um assassinato por causa de um short é tão estranho a nós, como o desrespeito com que tratamos a natureza espanta os nossos indígenas menos aculturados.
Agora, se traçarmos um paralelo entre essa realidade e a nossa, não temos muito do que nos orgulharmos não.
Recordo-me o assassinato, na cadeira elétrica de um dos maiores defensores da dignidade humana, nos EUA, mostrando pelas mãos do abjeto Governador da Califórnia, que o perdão é simplesmente figura de retórica para o “cristianismo” norte-americano.
Outras vezes me vêm à lembrança as imagens dos prisioneiros iraquianos, humilhados de forma animalesca pelos mesmos “senhores” de Cristo.
Os massacres dos indígenas na colonização do solo americano, além da imagem do terrorista enjaulado para exposição pública patrocinada pelo criminoso ex-presidente peruano.
A imagem do assassino em série chileno, com a indecente ajuda do seu médico, saindo “doente” e andando para asco de quem ama a liberdade e a verdade.
Outra coisa que me traz essa realidade iraquiana é o aplauso de parte de nós, brasileiros, aos assassinatos em série, as chacinas sem julgamento, ou a revelia cometidas nesse país.
Seja no Carandiru,, nas ruas paulistas, em Vigário Geral, na Candelária, em Carajás, todos os dias, em nossa História.
Até que ponto o assassinato causado em nome de Deus, de shorts tem e quais são as diferenças para esses nossos pecados?

COMO DOIS ANIMAIS - EM HOMENAGEM A ALCEU VALENÇA

Havia naquela pequena cidade, como em praticamente todas as que conheci o “doidinho” que fazia o medo da criançada e, por inofensivo o riso dos adolescentes e a “limpeza” de alguns pecados das mulheres e homens do local.
A população sustentava e protegia o seu “cãozinho” inofensivo, do frio e da fome.
Mas aquele tinha uma particularidade interessante, era muito bonito.
Tinha uns olhos azuis que fascinavam, às escondidas é claro, as mocinhas do lugar.
Os seus cabelos cacheados e ondulados também chamavam a atenção delas, mas, a debilidade mental protegia o pobre rapaz das “gulosas” moçoilas.
Menos de Marcinha, essa não, essa nunca respeitara a inocência e ingenuidade do pobrezinho.
O sexo é inerente, instintivo mesmo, e a resposta aos estímulos eram imediatas.
Nos jogos de sedução e prazer, muitas vezes jogados nas matas e nos cantos escondidos da cidade, o nosso herói era extremamente eficiente.
Pois bem, Márcia mudou-se com a família para outra cidade, e por lá ficou um bom par de anos, estudou, formou-se e, casada, voltou para a pequena cidade onde nascera.
Seu marido era homem de posses regulares, mas, que em relação aos moradores do pequeno lugarejo, poderia se considerar quase que “rico”. E, ao se preparar para a mudança, resolveu comprar uns alqueires de terra próximos a sede do município.
Nessas alturas, Márcia já tinha e esquecido das brincadeiras de adolescente e imaginava até que o doidinho já houvera morrido, também isso não tinha a menor importância; a moça crescera, amadurecera e essa página do passado já tinha sido cremada da memória, como se fora um sonho longínquo.
Reparara ao chegar à cidade, que quase tudo estava como deixara, suas amigas de juventude estavam quase todas casadas; as casas estavam nos mesmos lugares, só que mais envelhecidas, o barzinho da praça tinha fechado e, no seu lugar aparecera um trailer, onde os jovens se reuniam para namorar, conversar, essas coisas corriqueiras.
Mas uma coisa lhe chamou a atenção, na pequena cidade não havia mendigos à sua época e, agora, tinha encontrado um dormindo na rua, com aquele cheiro inerente do homem, que a água e os perfumes disfarçam.
Seu marido comentava, com tristeza, a que ponto a miséria e a bebida poderiam levar um ser humano, exposto como se fosse uma ferida aberta, uma vergonhosa chaga.
Entretanto, mal poderia imaginar que, aquele homem bêbado, de olhos baços e cabelos embranquecidos, desdentado poderia lhe ser familiar.
O tempo havia mutilado a beleza do lunático, deixando as marcas indeléveis da pobreza e dos maus tratos no pobre rapaz.
Andava, como sempre, solto nas ruas, mas, como perdera o encanto da juventude, estava cada vez mais abandonado por todos, fadado a amanhecer morto de fome ou de frio nas ruas do vilarejo.
A bebida por companheira, e para isso sempre tem alguém que colabore, tomara o lugar da comida, a tosse denunciava a tuberculose que minava aos poucos o corpo, não deixando muito, restando somente a podridão em vida, daquela vida sem brilho, sem nexo.
A vida transcorria serena e suave na cidadezinha, com seu noticiário diário dado e ampliado pelas fofoqueiras de sempre, os homens trabalhando, as crianças estudando e brincando nas ruas calçadas com “pé-de moleque”, ou ensaibradas à espera da chuva.
Mas aquele dia seria diferente dos outros.
A Igreja promovera uma quermesse para arrecadação de dinheiro para a compra de novos bancos, já que os velhos estavam destruindo-se com o tempo e os cupins.
O marido de Márcia, para orgulho dessa, era um dos mais animados arrematadores do leilão improvisado.
Todas as suas amigas tinham ficado com inveja dela quando conheceram o belo rapaz; educado e gentil. O tipo de homem que era o principal sonho de consumo das moçoilas do local
E, ainda por cima, rico, muito rico...
Nesse ínterim, eis que surge o bêbado descrito anteriormente e, para espanto de todos, segura Márcia pelo braço e a beija violentamente.
O espanto se tornou geral, já que o nosso doidinho sempre fora pacato, manso, sem sinais de agressividade ou de qualquer tara.
Márcia olhou assustada, a princípio com nojo como era de esperar; mas, de repente, como num lampejo, num átimo, reconheceu no bêbado, o amante de outrora.
E, para terror de todos, se deixou levar, com os olhos fechados e a boca entreaberta, as mãos viajando, o corpo tremendo e, numa entrega sem par, sem reparar em nada e em ninguém, para escândalo de todos, se amaram ali mesmo.
Num encontro inesquecível, a onça renascera e, junto com o cão vagabundo se “amaram na praça como os animais”.

SOBRE 2010.

Partidários tradicionais do tucano Geraldo Alckmin (PSDB) ruminam, em reserva, a suspeita de que José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) estejam conspirando contra o êxito da candidatura presidencial do PSDB. Acham que, de olho em 2010, os dois estão privilegiando seus projetos pessoais em detrimento do interesse partidário.

O blog ouviu dois tucanos conhecidos por desfrutar da intimidade do presidenciável Alckmin. Um deles é deputado federal. O outro é deputado estadual. Ambos desconfiam da sinceridade do apoio de Serra e Aécio. Suspeitam que o ex-prefeito paulistano e o governador mineiro não deglutiram o fato de Alckmin ter prevalecido sobre eles na disputa pela vaga de candidato tucano à presidência.

Na avaliação dos aliados de Alckmin, Serra e Aécio apostam na reeleição de Lula. O discurso pró-Alckmin, que ostentam em público, seria mera fachada. Nos bastidores, os dois estariam bombardeando o companheiro de partido. Um dos deputados ouvidos pelo repórter chegou mesmo a insinuar que Aécio cultivaria uma política de boa vizinhança com Lula e com o PT.



Esse comentário postado no Blog do Josias é como a descoberta da pólvora.
Todos dentro e fora do PSDB sabem que a associação catastrófica de uma candidatura insossa como a de Alckmin, com o carisma e o excelente governo de Lula, em quase todos os parâmetros bem melhor do que os antecessores traz um caráter de adiamento dos sonhos de poder de qualquer um, repito, qualquer um que tente derruba-lo.
Tanto Serra quanto Aécio são “raposas” velhas e perceberam a canoa furada onde iam entrar, deixando o caminho livre para o inexpressivo Alckmin selar seu destino, obviamente com uma derrota acachapante.
Serra e Aécio têm projetos pessoais paralelos podendo, inclusive se candidatarem por partidos diferentes em 2010 e creio que isso ocorrerá.
Bastando, para isso que Newton Cardoso perca o poderio sobre o PMDB mineiro o que, em minha opinião ocorrerá.
Do lado do Governo, a candidatura que mais se solidifica é a de Ciro Gomes, que poderá vir de vice de Lula, mas, a princípio talvez como Ministro possa ter mais liberdade de ação.
Heloísa Helena pode ter cometido um erro histórico com relação ao seu partido “particular”, e que ninguém tenha dúvida de que o PSOL é Heloisa Helena, assim como o PRONA é o Enéas.
A retirada da alagoana de seu melhor cabo eleitoral, o plenário, com a sua perda de mandato por, pelo menos 4 anos, trará muitas dificuldades para que possa fazer do PSOL algo diferente do PRONA.
PPS e PDT continuarão talvez, com perdas importantes como partidos nanicos e inexpressivos.
Já o PFL terá um emagrecimento acentuado, com o envelhecimento dos velhos coronéis e a crescente independência dos seus “afilhados” com relação aos “padrinhos”.
O PMDB poderá se tornar um partido de maior poderio ainda, principalmente com a “aquisição” de Aécio Neves.
O PSDB passará por uma pesada reformulação, talvez, retornando às suas origens menos conservadoras e mais à esquerda, isso é, se quiser continuar a tentar voltar ao poder.
Alckmin poderá ou ser vereador ou, quem sabe, retornar a prefeitura de sua cidade natal ou, num “prêmio” pelo “sacrifício” um cargo num possível mandato de Serra; mas que, Pelo amor de Deus, não seja o de Secretário da Segurança Pública!

DO BOATO AO PÂNICO - ORSON WELLES AINDA CRIARIA O CAOS!



Temos observado, nesses dias difíceis de violência desmedida em Sampa, a capacidade da mídia em transformar o medo em pânico.
Um simples bilhete anônimo apareceu em Vitória, capital capixaba, dando conta de que no dia 25 de maio haveria uma série de atentados e solicitava o fechamento do comércio.
Isso foi divulgado pela mídia local, e o resultado foi catastrófico.
As escolas fecharam suas portas, o comércio idem; um verdadeiro pânico tomou conta da cidade, a ponto de um campeonato que ocorria num dos maiores ginásios esportivos da cidade ter sido suspenso durante sua realização. Isso levou os estudantes para as ruas, à espera de seus responsáveis para o retorno às casas.
Neste caso, como em todos outros, a mídia, a troco de audiência, esquecendo-se da credibilidade, precipitadamente, antes de qualquer checagem dispara a notícia, criando uma situação próxima ao pânico.
É papel da imprensa a divulgação de fatos, mas, até que ponto ela não está sendo utilizada ou poderá ser utilizada em alta escala para a criação de uma instabilidade, extremamente benéfica para que o crime organizado aumente seu poder de fogo?
Muitas coisas têm ocorrido e contribuído também para o descrédito da nossa imprensa, tanto escrita, televisada e difundida via ondas de rádio ou pela NET.
Isso tudo tem suas origens na necessidade de velocidade e da divulgação de “furos” de reportagem, que muitas vezes se transformam em gigantescas “barrigas”.
Por incrível que pareça, estamos à beira da reedição do caso de Orson Welles, isso nos meados do século passado!
O país está à mercê de grupos criminosos bem articulados, com uma inteligência ativa e que cada vez mais se utiliza dos meios de comunicação e de divulgação tanto pessoal quanto em massa.
Cabe à imprensa o retornar ao bom senso e, principalmente à responsabilidade que se exige dela.
O caso do Espírito Santo é exemplar e denota o quanto é Grave a situação real e potencialmente podendo ser multiplicada em progressão geométrica, criando o caos.
Somos bombardeados, todos os dias por notícias que, se forem analisadas demonstram muitas vezes uma contradição que apavora.
“Só sei que nada sei” já era uma verdade na Grécia antiga, e a cada dia se torna mais real, tal a profusão e confusão criada pelo afã de publicar em “primeira mão” qualquer coisa, desde o divórcio ou o casamento da atriz de plantão até uma informação de tal vulto que imobiliza uma cidade inteira.
O fato da Veja ter tido, há dias sua integridade jornalística colocada, e com razão, em dúvida, denota isso tudo que constato e afirmo.
Não se pode tratar o consumidor da informação dessa forma, ele é o fim e não o meio para que o jornalismo tenha efeito e justifique a sua existência.
Nas páginas da Internet já bastam os vírus do dia a dia, temos tido muitos “vírus” nesse setor, muitos anônimos, mas, infelizmente a maioria, na sede de ser conhecido como “bom repórter”, assinados!
Além do podre analítico que anda por baixo:
Veja essa notícia e analise:
César Maia diz que pesquisas são favoráveis a Alckminda Folha On-linegarantir o segundo turno. "Se tentar esgrimir --para valer-- programas ou se deixar entrar a comparação entre governos como agenda, aí então se joga pela janela uma eleição", diz o prefeito.

Essa notícia, numa análise simples denota outra que não foi observada; quando Maia afirma que se tentar esgrimir, para valer, programas ou comparação como agenda a eleição está perdida, ou seja, a manchete deveria ser outra:
“César reconhece que o Governo Lula é melhor que o anterior”.
Ou não foi isso que ficou explicitado na afirmativa do prefeito?
Temos, nesse caso, além de uma demonstração clara de poder de análise outro fato interessante: na busca por “furos” ou afirmativas bombásticas, o repórter perdeu uma boa oportunidade.
De outra forma, a imprensa está carecendo de um órgão próprio e regulador, independente, sem nenhum caráter opressor ou censor, de auto - regulamentação e de transparência.
Algo assim com a OAB ou o Conselho Federal de Medicina ou o CREA.

CRÔNICA - OS OLHOS E O SORRISO

Trazia um sorriso indefectível, quase sempre acompanhado de um olhar a esmo, perdido, sem nexo ou horizonte.

Quase não falava e não mexia com ninguém, mas o simples fato de olhar “daquele jeito” assustava as pessoas.

Menino criado solto pelas vielas sem calçamento do pequeno distrito de Alegre, no Espírito Santo, comia às vezes, quando lhe dessem alguma coisa, qualquer coisa.

Muitas vezes o prato de comida era acompanhado por impropérios, outras vezes a negativa era acompanhada por pedradas, copos de água fervendo e outras coisas mais.

O menino foi crescendo assim, dormindo com os bois nos estábulos ou num canto qualquer a esmo.

Nos tempos de frio, e olhe que aquele lugar era frio, muitas vezes os seus pedidos por comida ou água eram respondidos com jarros de água fria, o que foi lhe dando uma resistência espantosa.

Agüentava bem o frio, passava os invernos mais recolhido, qual fosse um bicho meio que hibernando meio que vivendo.

Os dentes perdidos na falta de assistência e pelas pedradas disparadas pelos meninos do distrito, foram deixando vazios naquele sorriso que davam mais e mais a impressão de debilidade mental, mas de uma enigmática e tenebrosa face que associava esse sorriso com o olhar, olhar para nunca, para ontem.

Como em todo lugar pequeno, tínhamos ali também, os gaiatos de sempre. E a brincadeira predileta que o ócio criava era a de deixar um aos outros, embriagados.

Com ele não podia ser diferente, o álcool era gostoso, a embriaguez mais ainda, e a anestesia fazia bem ao nosso rapaz.

Embriagado, as coisas pioravam de vez.

As poucas “boas almas” do vilarejo viraram-lhe a cara, numa sucessão de impropérios e negativas que foi definhando o rapaz.

Mas o sorriso permanecia, os olhos de sempre, a vida passando, de mal a pior.

A fome voraz fez com que começasse a se adaptar a um cardápio mais variado e simples.

Começava a comer frutas e legumes, muitas vezes verdes, arrancados do pé e devorado sem tempero, sem cozimento, crus.

Quando foi visto comendo jiló cru, uma mulher teve pena e, pouco a pouco foram uma ou outra, enchendo novamente a latinha enferrujada com os restos das refeições. Os porcos nem repararam na partilha.

Pois bem, no meio dos velhacos do local havia um que ultrapassava os limites.

Ao perceber que nosso amigo repetia o que era-lhe dito, sem capacidade de analisar, ensinou-lhe os palavrões de sempre.

Até aí tudo bem, meio as risotas abafadas das “donzelas” e o praguejar das velhas beatas, tudo ia transcorrendo como de sempre.

Um dos filhos da burguesia local, e burguesia nesses casos não passa de um sitiante melhor ou, na maioria das vezes, demonstrando melhor condição econômica, mesmo que à custa de engodos e trambiques vários, não nutria muitas simpatias pelo rapaz.

O motivo foi que, um dia o ingênuo, sem querer esbarrou na roupa nova do burguesinho e, como as mãos não eram religiosamente lavadas, manchou um pouco a blusa.

Havia uma menina muito bonita e, mais que bonita, uma verdadeira patricinha, dessas que soem ocorrer nestes lugarejos.

Ao saber que o mendigo havia assobiado para ela, revoltou-se.

E, na sua revolta foi tirar satisfação com o pobre, cuja única reação foi o sorriso sem dentes e o olhar perdido.

O aristocratazinho interpretou aquilo como se fosse uma ofensa ou um tipo de deboche.

Passaram-se alguns dias e corria a notícia de boca em boca.

Acharam o corpo do rapaz, numa clareira dentro da mata, num sitio abandonado perto do centro do distrito.

As marcas de sevícia eram assustadoras, o pênis cortado, a língua arrancada, as vísceras expostas, uma crueldade ímpar.

Somente os olhos e o sorriso, como a perdoar as mãos assassinas restavam, pairando sobre o distrito...