terça-feira, fevereiro 09, 2010

24491

A lua vai tomando a direção
Dos ventos e do quanto amor desejo
E assim outra alegria enfim prevejo,
Enquanto as fantasias se darão

E delas com certeza esta emoção
Momento de prazer real, sobejo,
O coração de um tolo sertanejo
Agora percebendo esta explosão

Integra a natureza em fartas luzes,
Ao mundo sensual que me conduzes
As urzes e as daninhas não percebo,

Assim felicidade que recebo
Espalha-se deveras pela rua,
Bebendo cada raio desta lua.

24490

O vento vai rasgando em liberdade
Tomando este cenário multicor
Aonde se pudesse espinho e flor
A dor de tanto amor agora invade

E mesmo que a saudade já degrade
O que já fora outrora qual louvor,
O encanto se mostrando redentor
Já não respeita mais algema e grade,

Vencer os dissabores e seguir
Olhando fixamente pro porvir
Sem ter medo sequer da triste ausência,

Assim império feito em luz e gozo,
Um dia com certeza fabuloso
Jamais seria mera coincidência.

24489

Nas praças da cidade eu percebia
Beleza sem igual deusa perfeita
Enquanto em tal visão a alma deleita
Encontro finalmente esta alegria,
O quanto em desamor a vida urdia
Momento delicado, a sorte aceita
E tudo se transforma enquanto deita
A luz sobre a soberba fantasia
Da qual eu me inebrio e não me canso,
Sabendo logo após um dia manso
Delírios envolventes, madrugadas,
Suores e gemidos, delicados,
Numa explosão dois corpos tão suados
São almas que se entregam, desarmadas.

24488

Alçar esta esperança bela e rara
Bebendo desta sorte sem igual
O quanto se deseja sensual
O amor que em noite imensa se declara
Sabendo dos caminhos, vida ampara
Momento de prazer um ritual,
Aonde se declara triunfal
Aquele cuja vida se escancara
E toma das loucuras cada gota,
Outrora a caminhada amarga e rota
Agora outra vertente prosseguindo
Certeza de um delírio a cada instante,
E o mundo se tornando mais brilhante
A sorte a cada diz mais luzindo.

24487

Beijando a tua boca neste instante
Encontro que marquei com a alegria
Enquanto a sorte às vezes desafia
Momento tão sublime e radiante,

Teu corpo sensual e provocante,
Mergulho sem defesas na magia
E dela transbordante fantasia
Estrela sobre todas, mais brilhante.

Arfando de prazeres, quase louca,
Viver intensamente nos treslouca
Navego paraísos neste enlace,

E tudo o que mais quero, conseguindo
O dia se moldura raro e lindo,
Caminho constelar que a vida trace.

24486

Vagando pelo espaço sideral
Alcanço a maravilha de teus braços
E quanto mais estreitos nossos laços
Num ato delicado e sensual

O amor se mostra enfim consensual
E dele se permitem novos passos
Por mais que os pés se mostrem mesmo lassos
Momento de prazer é sem igual.

Teus lábios me tocando, beijos tantos
E deles com certeza mais encantos
Vislumbro intensamente esta fogueira

Traçando em noite imensa um fogaréu
Levando nossos sonhos para um céu
Numa paixão real e derradeira.

24485

Estrela meu corcel onde galopo
Por toda a imensidão a noite afora,
E sei que a fantasia me decora
Num trago de aguardente, mais um copo,.

E tudo o que vier; querida, eu topo
Bebendo a maravilha em que se ancora
A liberdade feita desde agora
E dela me entorpeço e já de dopo

Acendendo este imenso fogaréu
O amor se fantasia de corcel
E nele constelares emoções

Permanecendo assim, manso e liberto
O medo de viver, cedo deserto
Prazeres sem limite ora dispões.

24484

Bebendo desta fonte feita em mel,
Extasiado chego à plenitude
Por mais que a minha sorte o tempo mude
No amor encontro enfim o meu papel,

Vagando em noite imensa sigo ao léu
Deixando no passado a solitude
Mudando com ternura de atitude
O desvario guia este corcel

Num galopante vôo pela amplidão
O amor traçando sempre a direção
Aonde se aportara o meu saveiro

E sinto este perfume mavioso
Fantástico caminho prazeroso
Do qual e ao qual me integro por inteiro.

24483

Deixando para trás qualquer temor
Buscando esta emoção que doura a vida,
A sorte que julgara já perdida
Agora se mostrando com louvor

Traduz a maravilha deste amor
Trazendo desde sempre mais querida
Por vezes me mostrando uma saída
Permite ao caminhante ver na flor

O tanto que se fez maravilhoso
E deste encanto sinto pleno gozo
Até que me sacio imensamente,

Vibrando em fantasias posso ver
O sol extasiando o alvorecer
Além deste momento que apascente.

24482

Bebendo o temporal, cada trovão
Trazendo a tempestade dentro em mim,
Aonde se pudera sem ter fim,
Viver cada momento de emoção,
Expresso as alegrias que terão
Os que pensarem como e quando vim
Dizendo do prazer que sigo enfim
Tramando desde já forte verão,

E sem saber por que e se inda devo
O amor se transformando mais longevo
Agora este momento se eterniza,
Aonde se mostrara mansamente
O quanto se desmancha e já me alente,
Transforma o vendaval em mera brisa.

24481

Persigo um sonho ameno e tão fantástico
Aonde possa ter um dia leve
E a voz que se encantou ora se atreve
Deixando no passado o amor sarcástico,
Vivendo por prazer um sonho orgástico
Encontro esta alegria e mesmo breve
Além do pensamento sei que deve
Haver outro momento menos drástico

Aonde se perceba claramente
O que tomando em paz a nossa mente
Transmita a plenitude de um desejo
O quanto ser feliz ainda almejo
E mesmo que isto seja um só lampejo
Momento auspicioso se pressente.

24480

Buscando num sorriso a estrela guia
Que tanto me fez bem e quero mais
Vencendo em calmaria os temporais
A noite não se faz deveras fria,
E quando se propõe a poesia
Diversas alegrias; entornais
Em vosso caminhar encontro o cais
Que a cada novo tempo se recria.
Escuto a vossa voz melodiosa
E colho do jardim, espinho e rosa,
As flores decorando a minha vida,
Por mais que se expressando em labirinto
O que decerto sei e mesmo sinto,
Já sabe até de cor qual a saída.

24479

Por vezes inda tento e não consigo
Vencer os meus temores ancestrais
Quisera, navegante ter um cais
No qual encontro paz e manso abrigo,

A cada novo dia outro perigo
E dele tantas dores derramais,
Ao ter-vos companheira, percebais
Formoso caminhar inda persigo,

E dele já traduzo a direção
Moldada por calor feito emoção,
Vestindo a fantasia em que se expressa

Uma ávida ilusão feita em prazer
Bebendo cada gota posso ver
O mundo sem temor, fantasma ou pressa.

24478

Contendo o coração tanta alegria
Não sei se posso mais falar da dor
Cenário que se fez em tal louvor
A glória do sonhar me desafia
E trama com certeza um novo dia
Aonde se mostrando em esplendor
O sol de um belo tempo ao meu dispor
Verão que intensamente se anuncia.
Perenes emoções sobejas luzes
Às quais entre faróis tu reproduzes
Esculturas diversas teu cinzel
Prepara em raras cenas expressivas
Por mais que etereamente ainda vivas
Vicejas no meu mundo feito um Céu.

24477

Seguindo cada passo que tu dás
Encontro a poesia em verso e lua,
Aonde te buscara bela a nua
A sorte se mostrando mais audaz
Prazer assim deveras satisfaz
E mesmo sob a força continua
Minha alma te deseja e te cultua
Bebendo a fantasia que se traz
Nos olhos do amanhã, alvorecendo
E todo grande amor acontecendo
Nas tramas desta bela fantasia
Que a cada instante vejo renovada
Trazendo p’ra quem sonha esta alvorada
Na qual o sol se entrega e se desfia.

24476

Amor em poesia já se expõe
Aos vendavais e lutos que virão
Aonde se pensara num verão
Verás o que deveras decompõe
Uma alma que se molda enquanto põe
Os olhos nos momentos de ilusão,
Bebendo com total sofreguidão
O que perdera outrora se repõe.
E deixo a caminhada sem destino,
E nela se puder eu me alucino
Mostrando a indecisão de cada passo,
Pudesse pelo menos vislumbrar
Após o temporal claro luar,
Mas sem destino sigo em pleno espaço.

24475

Tanta noite servira como abrigo
Ao velho caminheiro sem descanso,
Aonde se encontrara tal remanso
O coração carrego assim comigo
E vivo muito embora seja antigo
O canto que deveras não alcanço
E sei do quanto fora outrora manso
E agora decifrar; já não consigo,
Escusas entre medos e lamentos,
Aonde se envolvera em tantos ventos
Medonhas e terríveis frias noites
Não deixam que se veja claramente
O abrigo que se quer e se desmente
Por mais que as ilusões; ainda acoites.

24474

Durante tantas noites me aquecera
Aquela a quem me dei sem ter limites,
Por mais que na verdade não credites
A sorte se derrama como cera
E dela se esparrama, arcaica fera
Na qual sem ter mais medo delimites
Os rumos entre sanhas e palpites
Da vida a própria vida degenera
E traz ainda forte este pavio
No qual o meu destino desafio
E beijo o temporal que inda virá
Mudando a direção de cada vento,
Ainda se emoldura o sofrimento
E dele a poesia se fará.

24473

Procuro a fortaleza inexpugnável
Que possa permitir a segurança
Enquanto a solidão audaz se avança
A sorte se mostrara incontrolável,
O quanto deste mundo insofismável
Traduz alguma força na lembrança
Ao menos poderia em temperança
Viver um tempo bem mais agradável,
Inexoravelmente caminhando
As esperanças fogem, claro bando
Deixando para trás somente a dor,
E dela recomponho o dia a dia,
O fim da leda história já se adia
Minha alma num eterno decompor.

24472

Buscara algum momento mais amável
Durante a derrocada feita em vida,
A sorte muitas vezes aguerrida
Permite muito além do quão potável
O dia que se mostra inestimável
E trama com certeza a despedida,
Bebendo da tristeza da partida,
O mundo que tentara indecifrável,
Esgoto-me no nada e dele creio
Encontrar afinal um rumo, um meio
Que possa me trazer a imensa paz,
Depois de temporais e tempestade,
Por mais que o próprio ser já se degrade,
A morte não seria tão mordaz.

24471

Queria ter na vida ao menos porto
Aonde se pudesse atracação
Sabendo dos saveiros que virão
Um rumo muitas vezes até torto,
E quando me encontrar sozinho e morto
Apenas esta ingrata podridão
Nefastas maravilhas se trarão
Fazendo o descaminho tão absorto
Imerso no vazio; a sepultura
Que a cada dia mais a vida apura
E traz neste funéreo golpe o fim,
Depois de tantos sonhos desvalidos,
De que valeram todos os sentidos
Se eu volto neste instante de onde vim.

24470

O mar que se fizera tão escuro
Deitando sob a lua se clareia
E toma esta argentina dama cheia
Trazendo a bela sorte com apuro,
Viver tal fantasia eu quero e juro
Por mais que a noite em fúria se incendeia
Não quero a claridade da candeia,
Tampouco no vazio me depuro.
Pretendo este luar sobre a varanda,
A sorte perfumosa não desanda
Depois de ter nas mãos farta clemência,
E sei que do luar não bastaria
Apenas o clarão, quero a alegria
Bebida nesta noite em fluorescência.

24469

Naufrágios que encontrei a vida afora,
O medo de saber que nada resta
Do quanto em exagero não se gesta
Tampouco a claridade me decora,

A fera da ilusão quando devora
Imagem tão terrível e funesta
Entrando pela casa em cada fresta
Decerto sem limites se demora.

E tudo se tornara em dor profana,
O quanto a vida às vezes nos engana
A sorte sem descansos ludibria

Tornando merencória a luz que um dia
De uma alma tão mesquinha inda se emana
Mostrando a realidade vã, sombria.

24468

A dor que em teus carinhos sepultei
Deixada pelos cantos farsa inglória
Aonde se mostrara com vanglória
Agora se espalhando em outra grei
Quem tem uma esperança como lei
Já sabe desde sempre esta vitória
E tudo se transforma nesta história
Durante o tempo inteiro, mergulhei

Nos braços, teus abraços, nossos laços,
Tristeza e sofrimentos morrem lassos
E deixam que se veja esta ventura,
É tudo o que deveras eu queria,
Trazendo para a vida a fantasia,
E envolto nesta trama, amor perdura.

24467

Minha alma se perdendo em vis segredos
E deles nada além de um traço apenas
Enquanto em ilusões tu me serenas
Restando para mim somente os medos,
Não posso concordar com tais degredos,
E como determinam velhas cenas
Além do que deveras concatenas,
Diversos da verdade os meus enredos.
Mas sinto ser possível ter a luz,
E dela o caminheiro se conduz
Até chegar ao fim da dura estrada
Se eu tenho mil espinhos, pedregulhos,
Ainda ouvindo ao longe estes marulhos,
O mar em noite imensa, enluarada.

24466

Aonde se fez dor, desfaçatez
Esbarro nos vazios que restaram,
Os sonhos que videntes decifraram
Falavam de um momento sem talvez
O quanto da verdade se desfez
E os versos que os encantos não douraram,
Apenas os tormentos escancaram
O que sobrou de nossa lucidez.
Assíduas emoções, dor e tormento,
Nos lagos placidez tomando assento
E tento mesmo inútil caminhar,
Procuro em cada senda um novo trilho
Deveras solitário inda palmilho
Bebendo cada raio do luar.

24465

Pudesse nesta vida ter a calma
Que poderia dar felicidade
Embora tantas vezes não agrade
Quem vive e desconhece os rumos da alma

Especiarias várias procurara
Por mares tão distantes e sombrios,
Agora os temporais e desafios
Enquanto a sorte expõe-se fria e amara

Perguntas sem respostas, vendavais
E tudo se transforma num momento,
Distante deste sonho que acalento
Os dias são terríveis, nunca mais

Terei esta certeza de um futuro
Além do que deveras sei escuro.

24464

Carinhos me trazendo a insensatez
Aonde mergulhara a poesia,
E quanto mais audaz, bem mais se cria
Sem ter sequer perguntas nem talvez
Além deste momento em que tu vês
O quase se tornando alegoria,
A noite bebe a lua que irradia
O sonho e neles sei que ainda crês.

Ouvir a voz do vento na janela
E tendo a sensação que se revela
De vela e liberdade, porto e cais,
Andando sobre brasas, sigo em frente,
Por mais que o meu passado ainda tente
Mostrar desilusão; isso jamais.

24463

Teu canto já me acalma e traz no vento
Palavra por palavra e melodia
Alheio à tempestade que ora esfria
Encontro finalmente; onde me alento,
E beijo com ternura e sentimento
Além do que já fora fantasia,
Mostrando muito mais do que eu queria,
Deixando para trás o sofrimento,
Senzalas e correntes; não mais vejo
E sinto a mansidão deste desejo
Que aflora-se em momentos cruciais,
Vencer os desencantos e poder
Saber que existe em tudo o bem querer
Fazendo que se olvide o nunca mais.

24462

A sensatez se mostra a cada instante
E lúbrica caminha pela casa
Enquanto a realidade se defasa
O mundo que eu buscara, radiante,
E vejo uma verdade inebriante
E dela acendo a vida e toco a brasa
A sorte desvairada não se atrasa
Encontro em toda esquina outro farsante.
Vestindo a hipocrisia tão vulgar,
Não posso nem tampouco perguntar
Se ainda se persiste esta ilusão
Saveiros sem ter porto naufragados,
Ainda escuto ao longe, velhos brados
E fortes tempestades que trarão.

24461

Beber de nosso amor em bela taça,
Na cristalina sorte que virá
Sabendo que me encontro desde já
Aonde esta esperança ronda e passa,
Não tendo mais no fundo qualquer graça
A tarde com certeza não trará
Futuro que queria e entornará
Somente a fantasia e se esfumaça.
Ardências entre sóis e farsas tantas,
Do quanto me desejas, desencantas
E tramas outras sendas mais diversas,
Escondo-me deveras noutro rumo,
Engodos desta vida; sei que assumo,
Mas mal tu chegas logo me dispersas;

24460

Olhando em teu olhar, embriaguez
Deveras me conquistas todo dia,
E quanto mais audaz, mais se recria
O amor que na verdade assim se fez
Da intensa maravilha a insensatez
Tomando já de assalto a fantasia
Espalha sobre a terra esta alegria
E espero a cada instante a lucidez
Que sei jamais terei, pois inconstante
O brilho deste encanto e num instante
Aquilo que era luz se torna escuro,
Mas teimo neste caso e não me escuso,
Seguindo este caminho tão confuso
Encontro toda a sorte que procuro.

24459

O tempo traduzindo a solidão
Dureza de uma vida entre paredes
E sinto insaciáveis estas sedes
Às quais fontes de amor já se oporão.

E sei quando dispersa o que não vedes
Medonha garra trama esta ilusão,
E dela este prenúncio de um porão,
Atado sem defesa às firmes redes.

Nefastas madrugadas, dias frios,
Momentos solitários e sombrios,
Restando sobre mim a tempestade,

E nela os raios tantos, farta dor
E quando me encontrando sem calor,
Apenas conhecendo a frialdade.

24458

Rutila teu olhar e toma a cena
Aonde se pudera radiante
Viver felicidade a cada instante
A vida se tornando bela e plena,
E quando com sorrisos ela acena
Por mais que esta saudade degradante
Impere ainda e dome delirante,
A tarde se promete mais amena.
Minha alma se serena quando vê
Algum motivo a mais, simples por que
Do qual se regenera esta alegria,
No tanto que me entrego e assim recebes
A flórea maravilha de t’as sebes
Que a cada novo sol mais se irradia.

24457

Brilhando na emoção eu me disfarço
E teimo procurando outro caminho
Deveras o andarilho se sozinho
Em pouco tempo morto, assim me esgarço,
Da sorte quem me dera ser cadarço
E ter após a guerra paz e ninho,
Mas sei quão doloroso cada espinho,
Verão vai se acabando, é fim de março
O outono se aproxima e nele vejo
Aquém do que moldara o meu desejo
O frio glacial de um inverno atroz,
Buscara com a sorte; firmes nós,
Mas sinto tão somente a solidão
E nela as tempestades que virão.

24456

Ladrilho em diamantes teu caminho
E sinto que deveras tu flutuas,
Imagens delicadas, deusas nuas
Nas sendas deste encanto eu já me aninho
E como fosse um simples passarinho
Buscando a mansidão da qual atuas
E espalhas tal frescor por sobre as ruas
Amor amadurece feito um vinho.
Na adega da esperança o preferido,
Jamais imaginei haver olvido
Do quanto que se deu em alegria,
E a cada amanhecer, mais envolvente,
O tanto que se quer e se pressente,
E sempre se renova e se recria.

24455

Amor nos transformando em manso canto
Permite que se creia no amanhã
Por mais que minha sina seja vã
Encontro nos teus lábios puro encanto
E deste mergulhar, desejo tanto
Suave qual frescor de uma manhã
Primaveril, momento em que a alma sã
Entrega-se deveras e me encanto.
Vencidos dissabores do passado,
O dia estando agora ensolarado
Adentrando esta tarde em luz sobeja,
Meu verso se ilumina e deste sol
Que agora se espalhando no arrebol
Calor além do qual já se deseja.

24454

Transborda esta alegria em canto e riso
Alago-me dos sonhos e desejos
E sei que na verdade são lampejos
Do quanto mavioso o Paraíso,
E tendo com certeza o que preciso,
Momentos de emoção sendo sobejos,
Encontro este delírio nos teus beijos
E deles já não sei o que é juízo,
Vencer os meus temores, ir em frente
O quanto da ilusão não se desmente
Na fúria alucinada da paixão
E dela só por ela é que eu insisto
Tramando com ternura o sonho e disto
Aguardo estes prazeres que virão.

24453

Felicidade é feita em cada instante
E dela se mostrando ser mais crível
Um mundo aonde ter gozo impossível
Não seja simples sonho de um farsante,
Por mais que a vida às vezes adiante
Momento doloroso; é bem possível
Acreditar no tempo indivisível
E ter esta alegria, radiante.
Não posso me furtar neste meu verso
A crer que embora em dores siga imerso
Um novo amanhecer se mostre quando
As chuvas sobre nós já desabando,
Mudando de cenário amor alcança
O que se fez em brilho ou esperança.

24452

Pudesse finalmente ter em mente
Que tudo se perdeu nada restou
A fonte há tanto tempo já secou
Seguindo sem destino, loucamente
A vida se mostrando novamente
Ferida ainda não cicatrizou,
Porém o coração se mergulhou
Sabendo deste ocaso e assim pressente
Futuro sem ter nexo e tão confuso,
Mas quando deste sonho assim abuso
Eu vejo alguma luz aonde houvera
Somente a escuridão, triste quimera
O tempo de viver já se aproxima,
E nele aumentarei minha auto-estima.

24451

Já não contesto mais a minha sorte
Esqueço da esperança e quedo só,
Aonde se mostrara mesmo o pó
Não vejo sequer luz que me conforte,
E sendo desvairado, assim meu Norte,
Não quero que tu sintas pena ou dó,
Amarro com firmeza cada nó
Buscando esta alegria qual suporte,
Mas tenho que saber o quão vazio
O mundo aonde luto e desafio
Teimando com um dia bem mais calmo,
Ardentes ilusões? Falsas promessas
E quando novamente recomeças
Aí tu não percebes, mas me acalmo.

24450

Pudesse ter na vida tal prazer
Que nada me impedisse imaginar
Aonde se escondera este luar
As sombras do passado; eu posso ver
E sei que não devia mesmo crer
No quanto se perdeu em louco altar,
A morte desde sempre a procurar
Caminho onde talvez, se intrometer.
Acendo esta lanterna, esperançoso
E crendo ter um sol maravilhoso
Roubando logo a cena, iluminando
Tomando já de assalto este arrebol,
Da vida e do futuro o meu farol,
Num dia mais sereno; ameno e brando.

24449

Deixando no caminho qualquer rastro
Ainda se permite a luz sombria,
Mas quando me entregando à poesia
A vida passa ter caminho e lastro,
Nas sendas deste encanto já me alastro
E a sorte benfazeja se recria,
Deixando no passado esta agonia,
Os medos e terrores ora castro.
E sinto ser possível a esperança,
Mergulho neste abismo em que se lança
As tramas de um amor maior que tudo,
Por vezes imagino outra quimera,
Aquém do que se quer ou mesmo espera,
Com novo florescer enfim me iludo.

24448

A dor que me impedira de saber
Que após a tempestade vem bonança
Deixando no passado esta esperança
Tomando com terror tosco poder,
Mas sinto a cada dia reverter
A sorte nesta voz que ora se lança
E quando o coração de outrem alcança
Mudando em calmaria cada ser.
Servir ao grande sonho feito em luz
Do amor que nos guiando já conduz
Ao quanto se pensara em ser além
De simples caminheiro pela vida,
Embora a história eu veja resolvida
A dor de uma saudade ainda vem.

24447

De uma alegria intensa esta vitória
Que há tanto desejei e não sabia
Moldada nos teares da agonia
Agora não se mostra merencória.
E tendo novamente a minha história
Repleta de emoção e fantasia
Aonde se deitara a luz surgia
O encanto sem discórdia e sem vanglória
Ser teu e não tentar outra saída
Assim no labirinto desta vida
A sorte se trazendo bem mais forte,
Mundanas ilusões? Não mais as quero,
Tampouco necessito o brado fero,
Apenas o calor que me conforte.

24446

Distante do que outrora se fez briga
Não quero mais seguir em noite vã
O amor sendo deveras meu afã
Ao mesmo tempo entorna e desabriga,

E quando esta ilusão, já nos obriga
A crer ser mais possível a manhã
No quanto ser feliz, um talismã
Trazendo esta emoção bem mais amiga.

Assim não posso mais seguir sozinho
Das ânsias da paixão eu me avizinho
Por mais que seja tênue o frágil fio

Tecendo da esperança o alvorecer
Suprema maravilha a me perder,
Aurora magistral que ora desfio.

24445

Amor proclama a glória em que se faz
Tramando um novo dia mais feliz,
Aonde não carregue a cicatriz
Dourando minha vida, a imensa paz.
E quando amor assim nos satisfaz
Trazendo esta promessa que antes fiz
Mergulho sem temor, um aprendiz
Deixando o sofrimento para trás.
Escolto-me na força do desejo
E um novo tempo em luz ora prevejo
Escondo assim a dor bem tatuada
Numa alma que se deu sem ter resposta
E agora se mostrando enfim exposta,
Adentra com prazer a madrugada.

24444

Palavras mais amigas, paz tão terna
É tudo o que eu queria ter na vida,
Mas sinto esta presença dolorida
Da sombra da ilusão, que agora aderna

O barco da esperança, uma alma inverna
E deixa para trás sem despedida
A sorte onde buscara, condoída
Uma alegria ao menos, mas eterna.

Lanternas apagando, nada vê
Quem tanto procurou como e por que
Saber do amanhecer em pleno encanto,

Ao ver essa sombria aurora; creio
Que a vida se perdendo do seu veio
Matando sem alento, um helianto.

24443

Trazendo na memória, emoldurados
Momentos que deveras me encantaram
Andando por destinos variados
Os dias se perderam, mal notaram

O quanto se mostrara desses Fados
E neles outros barcos aportaram
Deixando para trás os que esperaram
Os céus em pleno sol, azulejados.

Desfraldo nestes versos meu tormento
E nele toda a glória em que me alento,
Vestindo esta esperança, um lenitivo

Sofrer e ter apenas ilusões,
Deveras proibir novos verões,
Sem eles, meu amor, como é que vivo?

24442

Ternuras que me abrandam e se entornam
Tomando a minha senda em flóreo brilho
Além desta esperança que ora trilho,
As pombas que se foram já retornam,
E quando novamente em sonhos tornam
O que se fez outrora um andarilho
Aos raios desta lua eu me polvilho
E as pratas destes lumes já me adornam,
Viver tal perspectiva e ter nas mãos
Bem mais do que momentos, tolos, vãos
É tudo o que desejo e não alcanço,
Pudera ser feliz e ter por fim
As flores renascendo em meu jardim
E ter após tempestas, tal remanso.

24441

Saber que em nossas vidas este amor
Movendo a cada dia nos transmite
Além do que deveras se acredite
Um tampo feito em rara e bela cor,
Carrego nos meus braços tal andor
E vivo esta esperança sem limite
Na qual o coração forte palpite
Moldando um novo tempo em luz e flor.

Canteiros da esperança assim pisando
Num tempo mais suave, claro e brando
Vibrando de emoção por ser feliz
E ter em minhas mãos o meu futuro
E nele toda a sorte que procuro,
Fazendo desde agora o que mais quis.

24440

Ao ter as diferenças resolvidas
Buscamos esta paz que nos alenta
A vida sem ternura é violenta
E as noites solitárias, aguerridas
Tivéssemos a sorte em nossas vidas
De ter esta esperança que acalenta
Por mais que se encontrasse uma tormenta
As horas não seriam tão sofridas.
Vencer os temporais e ver a praia
E mesmo que ilusão deveras traia
Teremos cada dia feito em paz,
Não deixe que se apague esta esperança;
Pois nela nosso amor pleno se lança
Transita destemido e sempre audaz.

24439

Preparas lenços brancos, despedida
E trazes nova aurora em teu olhar,
Por mais que inda pudesse imaginar
Já não seria assim a minha vida.

A sorte pelo tempo agora ungida,
O gozo se perdendo sem ter par,
Vontade de sair e mergulhar,
Porém a fonte amarga, apodrecida,

Extraio deste verso o que pudera
Render a quem se quer a primavera,
Mas vejo que outonal se torna o canto

E sem saber sequer por onde e quando
O temporal; vislumbro, se achegando
E nele só por ele, o desencanto.

24438

Apunhalara-se a esperança audaz
Deixando cada parte num lugar,
Aonde inda pudera me encontrar
O que percebo agora nada traz
Somente este vazio segue atrás
E dele se percebe este luar
Deitando sobre a terra a contemplar
O quanto em maravilha se é capaz.
Erijo dos fantoches novo dia
E quanto mais voraz eu me perdia
Adio assim respostas que me faço,
Uma esperança morta agora trago
E o quanto se pensara forte e mago
Não deixa sobre a terra um simples traço.

24437

Nas noites solitárias busco estrelas
E sei que não virão; turva neblina
Apenas a lembrança inda fascina
Vontade insaciável de revê-las,

E quando se desnuda em azulejo
Promessa de se ter um claro sol,
Entrego-me aos encantos do farol
E o tempo mais tranqüilo assim prevejo

Transborda-se de luz o coração
Que tanto se entregou ao nada ter,
Agora finalmente posso ver
Além das tempestades, negação,

O quanto ser feliz traduz agora
A luz que se bordando me decora.

24436

O quanto dos anseios poderia
Trazer além de tudo o que se quer
No corpo que se endeusa esta mulher
Ao mesmo tempo é luz, dor e alegria

E quando outro momento fantasia
Espero bem além do que vier
Enfrento os temporais, fogo qualquer
Enquanto a um mundo amável, sonho guia.

Por mais que se prepare a derrocada
Ainda tento inútil caminhada
Buscando estas pegadas que deixaste,

O termo prosseguir virando lei
Vazios descaminhos, eu errei,
Amor resiste à dor preparando a haste.

24435

Levanta ao céu em forma de oração
Pedidos que jamais necessitaste
Eu sei que te pareço um simples traste,
Mas falo dos momentos que virão

Aonde a tempestade de verão
Provoque tão somente este desgaste,
A vida em sofrimento num contraste
Transborda numa sórdida ilusão.

Escuto a minha voz embora rude
Pudesse ter nas mãos o que não pude
Teria alguma chance, reconheço,

Mas como prosseguir se a cada passo,
Distante do destino que ora traço
Aguardo tão somente este tropeço.

24434

Meus gritos sendo feito deste encanto
Que um dia transtornando se fez luz,
E aos mais diversos campos me conduz
Mortalha sob a qual já me agiganto.

Levanto a minha voz, mas não me escutas
E segues descaminhos, descalabros,
Aonde imaginara candelabros
Apenas os retratos destas lutas

Alabastrino céu? Azulejado?
Jamais imaginei pudesse vê-lo
Perdido sem destino em tal novelo
Restando sombriamente o meu passado

Alagam-me estas águas mesmo turvas
Nas sendas me perdendo em tantas curvas.

24433

Eleva-se em momentos mais suaves
A voz de quem se fez enamorado,
O quadro se tecendo do passado
Além do que deveras não agraves,

Por mais que as noites sejam frias, graves,
Amor sendo demais; sigo escaldado
E bebo deste encanto e inebriado
Dos sonhos vou criando minhas naves

Até que a realidade esteja nua
E mesmo sob o efeito desta lua
Que toma e assim prateia a imensidão

Esgueiro-me entre foscas lamparinas
E sei que quando tocas e alucinas
Jamais os meus desejos se oporão.

24432

Cruzando estes espaços, trovejando
Raiando sobre negras turbulências
Aonde se mostrara em inclemências
O mundo sabe como, tanto e quando
Esqueço de onde vim, um mundo brando
E beijo sem pudor tuas querências
Não posso só viver das aparências,
Após o meu caminho desviando.
Expresso em versos tolos o que sei
Medonha maravilha em minha grei
Nefasto caminheiro; eu sigo andejo
E tudo o que talvez ainda possa
Somente este vazio em vida acossa
Matando em nascedouro o que prevejo.

24431

Os fúlgidos momentos? Não mais quero
Tampouco percebendo alguma chance
Vislumbro a fantasia que eu alcance
E dela crio um mundo menos fero.
E sei que se em teus braços me tempero
Por mais que seja só simples nuance
O amor sendo potável num romance
É tudo que deveras mais espero.
Assaz continuamente em noite clara
O tempo outrora escuro já se aclara
E o quase se completa noutra senda
Diversa da que sempre imaginara
Aonde a lua plena se declara
O quanto imaginário se desvenda.

24430

Procuro a mansidão deste regaço
E sei que nada tenho senão isso,
Mas quando na saudade inda me viço
Percebo quão vazio cada espaço
E sigo me envolvendo em falso traço
E mesmo que me trague o compromisso
De ter além do quanto inda cobiço
Percorro a velha senda passo a passo,
Não tendo outro caminho senão crer
Na força inevitável do poder
Esmago-me defronte a tais fantoches
Por tanto que se pede e não consigo,
Ainda vejo além qualquer abrigo,
Sabendo que afinal, tu me deboches.

24429

Esfuma-se num mar de ondas várias
As ilusões que outrora me moviam
Enquanto as fantasias já se adiam,
As horas são diversas, temerárias
E quando se mostraram adversárias
Do quadro de decerto removiam,
Os dedos no teclado permitiam
As sombras do passado, imaginárias
Vergastas sobre mim, fantasmas toscos,
Os dias em neblinas morrem foscos
Confusos passos levam ao vazio
E neste caminhar apenas vejo
O resto do que fora meu desejo
E mesmo sendo inútil, desafio.

24428

Mergulho nos fantásticos abismos
E vejo fluorescências divinais
Imersos neste sonho os animais
Expressam os diversos cataclismos

E sinto sob os pés terríveis sismos
E deles os meus medos ancestrais
Aonde se pudesse crer no cais,
Deixando para trás meus otimismos,

Assisto à derrocada deste sonho
E dele, a realidade recomponho
Num ar que possa ser mais respirável,

Nos grandes precipícios, fundas fossas
Encontro muito além do que tu possas
O medo de um momento inevitável.

24427

As lanças destruídas por profana
Escracha natureza de quem luta
A força necessária bem mais bruta
Realidade tanto nos engana...

E quando se mostrasse soberana
A própria mansidão já se reluta,
A fome do prazer soberba e astuta
Faz parte e eu sei da natureza humana.

Assecla das loucuras, pleno amor
Aonde se pudera recompor
Não deixa ficar pedra sobre pedra,

Uma alma se entregando a tal tormenta
Ao mesmo tempo traga e me apascenta,
Enquanto a própria vida teme e medra.

24426

Invadindo oceanos tênue frota
E dela naufragando esta galera
Matando num inverno a primavera
Apenas a daninha erva se brota
O amor que na verdade já se esgota
E traz neste sorriso a fria fera,
O quanto se deseja e não tempera
O peso do passado me amarrota
E sinto ser tão frágil a esperança
E em plena tempestade já balança
O que restou da frota em mar revolto,
Ainda perpetua esta ilusão
À qual os dias novos se oporão,
Porém qual tolo fosse ainda escolto.

24425

Um mar assim imerso em turvas brumas
Deixando o timoneiro quase ao léu
Estrelas decaídas deste céu
Enquanto temerária tu te esfumas

E beijando esta praia vãs espumas
Etéreo caminheiro segue incréu
E faz dos descaminhos seu corcel
Por mais que na verdade siga e rumas

Medonho e tão banal desfiladeiro
Meu canto talvez seja corriqueiro,
Porém ao traduzir o que ora sinto

Aonde se pudera ser exímio
Exumo este infortúnio inverossímil
E bebo a me fartar de um tosco absinto.

24424

Escombros do passado ora recolho
E bebo a podridão que assim se exala,
Adentra a solidão, penetra a sala
Do trágico vazio, sou o molho.

E farpas perfurando a pele e o olho
Quem vê nada sentindo já se cala,
Um velho se mostrando em turva vala
Final se determina quando escolho.

Dos trajes que vestira o que me cabe
Ainda este puído paletó
Traduz o que se fez tão manso e só

Enquanto este castelo não desabe
Escuto a tua voz em torre imersa,
Porém a minha vida é vã, dispersa.

24423

Pudesse imaginar a salvação
Após cada naufrágio em vão mergulho
Do quanto se fizera este marulho
Trazendo as horas toscas que virão

Abastecendo assim cada ilusão,
Da qual sem provisão inda me orgulho,
Afasto do caminho um pedregulho
O verso aonde exige-se elisão

E não se completando segue informe
Por mais que a fantasia me transforme
Do amor ao nada ter, somente um pulo,

No afã de ser feliz, um mero escravo,
As farpas que me dás, querida eu cravo
E o amargo de teu fel; amada, engulo.

24422

No mar das emoções, falsas sereias
Exímio marinheiro se perdendo
A sorte sendo apenas um adendo
No quanto tu disfarças e incendeias
Adentro sem sentir amargas teias
E o vento me tocando e me envolvendo
O todo que se quis, cruel emendo
Navego pelas águas vãs e alheias.
A cada novo dia outro corsário
O gozo se mostrando atroz e vário
Não posso procurar o ancoradouro
Se todos os meus sonhos destroçados
São marcas dos momentos desolados
Negando o sol no qual inda me douro.

24421

A taça que pensara ter nas mãos
Agora se transforma em falsa imagem,
Aonde se dourara esta paisagem
Encontro tão somente os dias vãos,

E sendo assim percebo que a ventura
Esconde-se detrás de imenso véu
O amor que desejara em fogaréu
Transforma no vazio que perdura

E quase totalmente inebriado
Bebendo deste absinto, uma ilusão
Sabendo que as inglórias sorverão
Deixando para trás o tolo brado

Aonde desenhando um novo tempo
Apenas recolhendo o contratempo.

24420

Alçando a liberdade, meu corcel
Que é feito de ilusões e fantasias
Do quanto no passado tu querias
As sortes se perdendo, sigo ao léu,

O mundo neste eterno carrossel
Desliza sobre amargas ventanias
Enquanto por espaços já me guias
Bebendo da esperança, sorvo o fel.

Ascendo num instante ao infinito
E quando neste brado, um louco, grito
Desprezos que carrego dentro da alma

Somente a sordidez inda especula
E a morte com terror e imensa gula
Aos poucos me serena, enfim me acalma.

24419

Perdi nos descaminhos pedrarias
Aonde deposito uma esperança
E enquanto a solidão ainda avança
Percebo que deveras tu sorrias
Expressas desta forma as ironias
E quando no vazio já se lança
A voz que imaginara outrora mansa
E agora se desfaz; noites sombrias.

Espero algum momento em que talvez
O todo se refaça e me transforme,
Agora esta figura tão disforme
Mostrando este vazio em que se fez
Denota a insensatez deste poeta
Que em plena sordidez se locupleta.

24418

Pesando sobre mim dores passadas
Entranho em vales mansos; quem me dera
Ainda se encontrasse a primavera
Nas noites deste inverno, tão geladas.

Bandeiras da ilusão são desfraldadas
E nelas adivinho o que me espera
Acerca-me voraz e tola fera
Trazendo em suas garras, destroçadas

Imagens do que um dia se fez glória
E agora não resiste aos temporais,
Vivendo o que pensara ter jamais

A vida se transforma e segue inglória
Matando o que restara deste sonho
Ao qual sem outra chance, já me oponho.

24417

Vivendo a plenitude onde se dá
O sonho mais audaz e delicado,
O Amor demonstra em si, início e Fado
Mudando a nossa vida desde já.

Pudesse caminhar sempre a teu lado
Sabendo que ao futuro levará
O quão maravilhoso brilhará
O fato de se estar enamorado.

Voando em liberdade, um passarinho
Encontrando o seu ninho, já me alinho
Ao tanto que se entrega num segundo,

Estendo as minhas mãos, sinto a presença
Do amor que a cada dia nos convença
Do imenso turbilhão do qual me inundo.

24416

Aonde se pudesse ter agora
Ventura que eternize este momento,
E quanto mais em ti bebo e me alento
A sorte abençoada aqui demora.

Espreito as dores várias e ilusões
Nas ondas mais diversas, mares tantos
E beijo com ternura teus encantos
Enquanto as maravilhas; logo expões

Trazendo a paz que tanto procurara
Versando sobre a nossa tenra e mansa
Visão da vida feita em esperança
Curando da emoção qualquer escara

Assim em voz sonante nosso amor
A toda humanidade; eu quero expor.

24415

O amor que nos domina e traz em glória
Sorrisos entre luzes e holofotes
Perpetuando assim supremos motes
E neles com certeza esta vitória

Que tanto procuramos: paz e gozo
Sabendo ser deveras nossa sorte
O encanto que se dando nos conforte
Mostrando um renascer maravilhoso.

A senda que entre tantas, preferida
Expressa a liberdade que nos ata,
E quando a realidade dita esta ata
Encontro uma razão plena de vida

Mesquinharias; as deixo para trás
Vivendo a plenitude que amor traz.

24414

Achando desde sempre que se pode
Fazer o que bem quer da Natureza
E dela se fartando sobre a mesa,
Humanidade esboça uma amarga ode.

Lamentos se entrelaçam com lamúrias
E a Terra a cada dia se agoniza
Aonde se espalhara mansa brisa
Os vendavais traduzem loucas fúrias.

Incúria se desnuda a todo instante
E a morte se aproxima do Planeta
Aonde se esboçara esta falseta
O mundo num caminho delirante

Extingue uma esperança e não renova
Coloca o próprio o Pai em dura prova.

24413

Amores entre súplicas, delírios
Trazendo esta desdita que me açoda,
Viver sem ter amor, querida é foda.
Encontro no vazio meus martírios

Pudesse ter alguém que me trouxesse
Uma alegria imensa eu poderia
Viver o que se molda em fantasia
Na angústia sonegada em tal quermesse.

Vencer os dissabores e sonhar,
Beijando com carinho véus e sonhos,
Momentos de ilusão, meros, risonhos,
Aonde poderia ter luar?

Não vejo mais resposta e sigo só,
Quem me acompanha então poeira e pó.

24412

Aspectos mais diversos deste prisma
Que emana em tom disperso iridescente
Assim o naufragar já se pressente
Matando o que pensara ser carisma,

Esfaimado este povo assim realça
O quão injusto tempo ainda se urde
A realidade aos poucos já me aturde
Uma alma se desnuda assim descalça.

E transmitindo ocaso invés de luz
Reflete o que deveras, fosco brilho
No quanto em desafio inda palmilho
Ao que será que a vida nos conduz?

Somente o mesmo engodo, eternidade?
Etérea uma resposta que se aguarde,

24411

Ainda se percebe a velha esfinge
E os Édipos modernos desvendando
O que talvez pudesse ser mais brando
Enquanto a realidade mente e finge.

Tingindo de outras cores o futuro
Matizes envolventes e dispersos
Nas vagas ilusões pressinto imersos
Os frágeis caminhares que procuro.

Esboço alguma tola reação
E não me satisfaço nem um pouco,
O quanto de resíduo encontro e louco
Permito a mais complexa compleição

Do tempo sem o nexo procurado
Apenas garatuja do passado.

24410

Ascendo à tradição do nada ter
Que há tanto se espalhara sobre nós
Não sendo na verdade algum algoz
O mártir se emoldura e mata o ser.

No quase ser feliz já não se impera
O gozo alentador que mal disfarça,
Na tênue mansidão de uma alva garça
Esconde-se a real, diversa fera.

Assim não posso mais ter sob a mira
O verso que talvez eu preferisse,
O lince atocaiado assim desdisse
A fúria de quem caça e logo atira

Mascaro com mentiras os meus dias
E sei que mesmo em noites vagas, guias.

24409

Atordoada imagem do que um dia
Esboçara uma infausta reação
Expressa a cada nova geração
A farsa de um poder onde se via

Etéreas maravilhas prometidas
A quem se der além do mar profundo,
Enquanto de ilusões eu já me inundo
Roubadas desde sempre estas guaridas

E os vértices se tornam mero luxo
Dos quais não poderia ter notícias
E sei desde o começo nas primícias
O qual do sonho seja tosco bruxo

E bebo da esperança que desnuda
O que restou de uma alma, vã, miúda.

24408

Efeméride humana caminhada
Destruidora paisagem logo após
E quanto mais voraz, bem mais atroz
Espécie desde sempre degradada;

A artéria se irrigando em podre escala
Não deixa oxigenar-se tal tecido
Depois de tudo exposto, resta o olvido
Aonde uma esperança já se cala.

Na sala dos banquetes, vida e glória
A partir da chegada deste símio
Que mostra-se deveras, vão e exímio
A vida no planeta, merencória.

As fontes renováveis da ilusão
Traduzem desde sempre a negação.

24407

Aços, egos são ícones sombrios
Que a cada instante moldam realidade
E nesse patamar o vão invade
Aonde se quis paz, os desafios.

Desfilo estes fantoches meros, fúteis
Tutores do real, toscos palácios
Sem ter outros poderes que inda embace-os
Carcomidos caminhos, sempre inúteis.

Esgarçam o que resta do holocausto
E mostram a faceta especular
De um totem corriqueiro e tão vulgar
Gerando esta impressão de lauto fausto.

Mas quando se percebe a vilania
A tosca podridão no vão recria.

24406

A dor aonde a luz se fez presente
Tornando a nossa vida mais sombria
Um tanto mais audaz já se desfia
O que não se procura, mas pressente

Audácia se transforma em força e vejo
O quão se maculara a Tua imagem,
E tendo nos meus olhos tal paisagem
Reinando sobre todos; o desejo

Num ar empesteado se percebe
A lúbrica serpente desfilando
E as frágeis andorinhas, manso bando
Encontram segurança noutra sebe?

Só sei que ao vislumbrar fragilidade
Exposta como nunca, a humanidade.

24405

Ao rirmos nos festejos mais cruéis
Vagando sem destino quais cometas
Jogados sem sentido, estes gametas
Esboçam reações em medo e féis,
A bala que cruzando uma favela
O tempo de viver que não se conta,
A sorte muitas vezes, anda tonta
E todo o dissabor já se revela
No fogo que incendeia enquanto cruza
Os ares das cidades em ruínas,
As mãos alentadoras e assassinas,
Realidade tosca e tão escusa
Adentra o coração? Creio que não,
Vazios do vazio brotarão.

24404

Aturdida percebo a leva insana
Nos bares e motéis, ruas, calçadas
Verdades em loucuras disfarçadas
O tempo se desnuda e desengana.
Do arbítrio ao caos, do caos ao despotismo
Um ciclo há tantos anos conhecido
E agora novamente revivido
No reino da libido ou fanatismo.
Do cismo que se mostra assim bem claro
Escombros e destroços no final,
A Terra que em verdade é cais e nau
Expondo a podridão que ora escancaro.
E escarro sobre os vermes poluídos,
Embora o brado perde-se em ruídos.

24403

Que um holocausto feito em dor profunda
E ainda a cada tempo mais inunda
Permita a realidade enfim se ver.
A pútrida carcaça do que fomos
Ainda sendo exposta em cada esquina,
Imagem dolorida que alucina
Expondo a realidade em frágeis gomos
Excêntricos caminhos são danosos
E embora muitas vezes solução
Trazendo nos exércitos o pão
Florido em ritos vários, caprichosos
E assim à eternidade que acredito
Caminho doloroso, mas bonito.

24402

Não posso me furtar a ser mordaz
E ter em minha voz o gozo aflito
De quem se fez em sonhos; nisto eu grito
Enquanto apenas fúria satisfaz.
Esboço reações, vestígios deixo
E sinto que talvez possa fluir
A vida antes de tudo isso ruir,
Mas sei que da verdade não me queixo
Apenas observando este cenário
Catástrofes vingando a Natureza
Do ser que se fez trágica dureza
Pressente-se o final num estuário
Em coliformes; feito e nada além
Do quanto de si mesmo ele contém.

24401

O quanto se chorara em vão outrora
Nas buscas por fantasmas e demônios
Carbonizando corpos de campônios
Abutre se escancara e comemora.
Por deuses entre cães idolatrados
Espécie que se encontra em extinção,
Mas temo novos tempos que virão
Que possam reviver Satãs passados.
As farsas entre mágicos jograis
Esboçam velhas aves rapineiras
E quanto estas mentiras verdadeiras
O sangue; novamente, derramais.
À beira dum incrível precipício
Refaz-se a cada dia o Santo Ofício.

24400

Tamanhos os rancores e dispêndios
Dos quais não herdarei sequer um naco,
E quanto mais feroz eu bebo e ataco
Mantendo com vigor toscos incêndios.
Das vibrações diversas que eu sonhara
Apesar de lutar, nada restando
O quanto agora teimo em fogo brando
Enquanto a vida segue mais amara.
Escaras que cultivo, olhos vendados,
Os traumas entre trâmites vulgares
E quando noutro sonho me tocares
Momentos ilusórios encontrados.
Só sei que facilmente me dominas
Palavras tão suaves e ladinas.

24399

Sentira como fosse tão somente
Um vácuo me sugando para o nada,
A sorte há tanto tempo desvairada
Exposta num fantoche açoda e mente

Esgarço-me deveras e puído
Argutas ilusões são velharias
E quanto mais audazes tu querias
A noite se explodindo em vão ruído.

Egocentrismos? Lógicas insanas
E delas absorvendo estas falácias
No férrico vazio das hemácias
Anêmica verdade; desenganas

E tramas outras tantas ilusões
E aos poucos se saber já decompões.

24398

O quão se fez dorida a sina e o carma
Especulares rotas convergentes
Outra verdade; exposta, ainda sentes,
Porém realidade te desarma
E morta em vida segues sem saber
As sortes de um momento mais feliz,
Aquém deste delírio que se quis
Mergulhas no vazio e podes ver
As sombras de um fantoche kamikaze
Aprendes tomar em decisão
Sangrando forças tantas que virão
Enquanto a morte deste todo se defase.
Esgotam-se deveras as opções
E a imagem do terror; agora, expões.

24397

Medonhos, porém mágicos momentos
Fantásticas quimeras, senda estranha
Aonde se pensara nova sanha
Os dias entornando fogos lentos.
Ascendo às mais sublimes cordilheiras
E delas num mergulho em vago espaço
Trazendo o que deveras penso e traço
Paixões entre esperanças corriqueiras
Mascaro cada tempo com mentiras
E delas renovando o meu farnel,
Seguindo, muitas vezes quase ao léu
Recolho estas migalhas que me atiras,
Ainda sobrevivo e nada além
Carcaças do passado ainda vêm.

24396

Exalando o perfume mais sombrio
Nefasta podridão tomando uma alma
Explode o que deveras fora trauma
E vendo este terror, o meu desfio

Em versos, sei mordazes, mais reais
E tudo o que se fora claridade
Exposto neste espectro se degrade
No quanto em luzes turvas transformais.

Vestígios do que fora outrora um homem
Agora em insensato descaminho
Encontram a aridez feita em espinho
E aos poucos, fatuamente me consomem.

Erguendo a voz, um último recado,
Adentrando este esgoto, meu passado.