domingo, fevereiro 14, 2010

24816

A noite prosseguindo malfadada
E estúpida quimera feita em vida,
Depois de ser criada, bebe o nada
Herança em podridão, já sendo urdida,

Vendendo nas Igrejas, a saída
Em falsas profecias, debandada
Dos sonhos e desejos, submergida
Uma esperança morre abandonada.

O Pai não sabe mais o que fazer,
O unigênito filho em sacrifício
Aos poucos novamente o apodrecer

Reinando sobre a Terra em duro infausto,
A serpe se recria desde o início,
Servir a humanidade em holocausto?

24815

Sem rumo sem caminho e sem fiança
A pútrida figura vã, nefasta
Enquanto do Senhor assim se afasta
Nos braços decaídos já se lança,
Ainda pura enquanto uma criança
A vida a sensatez rouba e desgasta
No fim viril canalha ora desbasta
Infanticida, mata esta lembrança.

A fome do dinheiro e do poder
O sexo em face hedônica e maníaca
A imagem depravada e demoníaca

Que agora num espelho eu posso ver,
Aonde se pensara em Amor, paz,
Fulgura em ironia, Satanás...

24814

Apenas solidão decerto alcança
Quem tanto se perdeu em luz sombria,
E quando este fantasma se recria
A voz sem ter resposta e vã, se lança
Quem fora qual fiel desta balança
Destrói e avassalando a fantasia
Por deuses mais profanos já se guia
Bezerros em bizarra e louca dança.
Assisto à minha própria invalidez
E quando num espelho ainda vês
Imagem destorcida de um arcanjo
O genocídio esgota a nossa sanha
Enquanto a criatura perde e ganha
Cavando a sepultura em tosco arranjo.

24813

Quem mata em nascedouro as alvorada
Não pode ser do Pai a semelhança
Enquanto em descaminhos sempre avança
Depois de certo tempo, resta o nada,
A sorte que se vê tão destroçada
Nas mãos apenas guerra, fúria e lança
Deixando morrer cedo uma esperança
A torpe criatura degradada
Esconde-se em palácios e castelos,
A morte cultivando em seus rastelos,
Traçando em aridez próprio futuro,
Negar os descaminhos que ela gera,
No olhar sombrio e tosco desta fera
Verei o Pai que tanto amo e procuro?

24812

Tristezas, velhas lobas em matilha
Espreitam suas vítimas; tocaia
Assim se retratando quem nos traia,
Matando em nascedouro esta novilha
Que um dia em esperança tosca brilha
E bebe da sanguínea e fútil praia
Enorme insensatez que em fúria caia
Por sobre o falso altar que nos humilha.
Assassinando à própria espécie em fuga,
Grilando a Terra inteira, a sorte aluga
E vende o que jamais tivera dono,
E o Pai prostituído em falsas crenças
Um vândalo canalha; no que pensas?
Deixando a própria MÃE neste abandono.

24811

Seguindo cada passo desta trilha
Perdendo a direção por tantas vezes
Algozes dos meus sonhos, velhas reses
Das quais as ilusões seguem; matilha
E tudo num fulgor inútil trama
Histórias que deveras cortam fundo,
E quando deste pouco já me inundo
A voz de um desespero tanto clama,
Aspergindo demônios entre enredos
Vasculho pedregulhos e searas
Enquanto a morte; lenta, me preparas
Os dias se transformam em degredos
Decrépito fantoche; nada faço,
Sufoca-me o terror, tomando o espaço.

24810

Se esgueirando qual réptil pelas gretas
Uma esperança bebe este veneno
E quando a realidade eu concateno
Percebo quão inúteis as lunetas
Não vislumbro afinal novos planetas
E o mundo que pensara ser pequeno
Agigantado espectro e me apequeno
Minúsculo fantoche que arremetas
No etéreo espaço; creio que finito,
E, tosca criatura, em vão eu grito,
Mal percebendo o que ora represento,
Jogado pelas pedras fina areia
Verdade num instante me incendeia,
Palavra, com certeza leva o vento.

24809

No céu em derradeira voz, um brado
Esboça a reação que não virá,
O fogo incoercível queimará,
Deixando qualquer sonho no passado,
Um anjo demoníaco mostrado
No etéreo neste instante tomará
As rédeas do poder e desde já
O mundo num segundo destroçado,
E quem se fez Amor puro e perdão,
Sabendo da total escuridão
Ainda se lamenta e assim deplora
A tosca criatura que criara
Do lamaçal espúrio, jóia rara
Que, fera dentre as feras se devora.

24808

O dia prenuncia-se terrível
Envolto em temporais e fogaréus
As hordas de demônios ganham céus
E tudo se transcorre em ar incrível
Diversos meteoros, corruptível
Humanidade enfrenta os turvos céus
Nos olhos se espelhando insanos léus
Num ar irrespirável riso audível
Do deus feito em discórdia, vil Satã
Fazendo da penumbra o seu afã
Trazendo em batalhões, fúria devassa,
Enquanto um frágil ser, mero campônio
Olhando embasbacado tal demônio
Que ao largo, respeitando-o, ri e passa.

24807

Toando apocalípticas trombetas
Alucinados gritos, gargalhares
As frutas apodrecem nos pomares
A cada novo passo, outras falsetas
A vida se mostrara em tais facetas
E nelas entre deuses, lupanares
O tanto que do pouco reformares
No vago do infinito te arremetas
E vendo esta decrépita ilusão,
As aves da esperança migrarão
E insetos mais vorazes poluindo
Cenário que criado em Pleno Amor
E agora em formidável decompor
Nefasta turbulência em mar infindo.

24806

A manhã derradeira se anuncia
Depois de destruída a fortaleza
Aonde com denodo e com destreza
A natureza humana combatia,
A morte se aproxima a cada dia
E dela se percebe esta grandeza
Anunciada há tanto; na impureza
O genocídio insano se sacia.
Esgotam-se os momentos da aventura
Terrestre desta podre criatura
Que tanto se fez trágica e feroz,
E o Pai lacrimejando em tempestade
Na fúria de um amor, agora invade
E a vida se perdendo em frágeis nós.

24805

As nuvens impedindo o novo dia
Jamais abandonando em paz meu céu,
O tempo se demonstra um carrossel
Que volta e meia mostra em fantasia
O quanto na verdade consumia
A sorte que pressente num revel
O quadro inusitado em que o corcel
Marchava sobre mar e penedia.

Abraço os meus fantasmas e mergulho
Bebendo a solidez em pedregulho
Sorvendo esta ilusão que me maltrata,
Assim ao renovar história e lenda
Sem ter uma alegria que me atenda
A sorte desabando em vã cascata.

24804

Notícias do final; trazem cometas
Que volta e meia tramam novas vindas
E enquanto a realidade; já deslindas
Ainda se perdendo em vãos trombetas
Rumos apocalípticos; prometas
E quando a morte trama em noites lindas
Diversas fantasias sendo infindas
Vontades pelas quais inda cometas
Os erros do passado e neste ciclo
O velho pensamento não reciclo
E bebo o purgatório em plena vida
Enfrento as minhas feras, dentes, garras
E assim da realidade tu desgarras
Mostrando a morte vaga e prometida.

24803

O céu vai trespassado pelas setas
Do deus moleque e insano que se dá
Tomando este abandono desde já
As horas infelizes e incompletas,

Das ânsias e delírios vão repletas
E tudo o que desejo negará
Razão se desbotando mostrará
O que com passos firmes ora vetas.

Escrevo como quem se dando inteiro
Já sabe do fantasma e companheiro
Na factual mentira que propagas,

Nas mãos e dedos vejo claramente
O fim que tenebroso se pressente
Nas ânsias de navalhas, nas adagas.

24802

Nem mesmo algum alento ou fantasia
Que possa me acalmar frente à tormenta
A voz de uma esperança ainda alenta
E o rumo da verdade, distancia.
Houvesse outro caminho, mas me guia
Somente a noite fria que atormenta
E mata com ternura violenta
Na sanguinária imagem, uma agonia.

Espero que talvez ainda possa
Viver sem ter nos olhos medo e troça
Destroço do que fui vão perambula
E deixa seus pedaços pelas ruas,
E enquanto ainda indócil tu flutuas
Expressando a emoção, estranha bula.

24801

Um mundo tão fantástico se cria
A cada novo mote ou mesmo sonho
E quando a realidade eu decomponho
Sobrando em minhas mãos a fantasia
O todo se partindo qual queria
Momento muitas vezes bom, tristonho
Da parte ao infinito eu busco e ponho
O quanto de amargura ou de alegria
Aonde o ser talvez enfrente o não
E nesta alegoria se verão
As marcas do quem sabe e do jamais,
Assim neste teclado, a vida passa
Tentando ver no ocaso, alguma graça
Repito os desafios ancestrais.

24800

Moldado pelas trevas mais concretas
Aonde se pudesse crer na vida
Que tanto me maltrata em voz doída
E nisto com certeza me completas
Assíduas ilusões formam poetas
E neles a verdade se duvida
É mera fantasia adormecida
Ou mesmo as dores, finas, prediletas.
Senzalas que deveras nos libertam
Enquanto as liberdades já desertam
Ocaso que se faz em voz medonha
Ou mesmo o rebrilhar em céu escuro,
Nas mãos a imensidade que procuro,
Imerso em pesadelos, rindo, sonha.

24799

O fim estipulado pelos sonhos,
Transcende à própria vida enquanto trai
A sorte feita em Fado que se esvai
Em sombras e caminhos vãos, medonhos.

Os dias tantas vezes enfadonhos,
Aonde se pensara em Paraguai
Levado por extremos, a Xangai
Pacíficos momentos? São tristonhos.

Adentro as variações de noite e dia
E deste genocídio onde se cria
Noctâmbulos fantasmas, nossa sina,

Uma figura espectral que se esvaece
Nas ânsias e delírios, u’a quermesse
Que ao mesmo tempo ilude e me fascina.

24798

Trazendo tais verdugos tão medonhos
Adentro fantasias, pesadelos,
Cadáveres que busco ao revolvê-los
Momentos mais felizes e bisonhos,
Servindo de parâmetros, meus sonhos
Ainda me envolvendo, vãos novelos
Conceitos do passado, que ao revê-los
Espreito os aços finos e tristonhos
Nas pontas dos punhais esta heresia
Que há tanto se moldara e poderia
Arrefecer a fúria dos incautos,
Encontro os meus demônios e abraçá-los
Deveras a minha alma; purifico
Ascendo ao teu altar; me mortifico
Sorvendo sem pensar, sismos e abalos.

24797

Porém trago um sorriso quase irônico
E dele me esbaldando em festa insana
Aonde se pudesse soberana
Levando o meu cantar quase sinfônico,
Mergulho neste caos, e assim lacônico
Vagando pela paz que tanto engana
Mesquinhos os delírios da profana
Senhora que se faz em gozo atônico.

Esboçam-se viagens para além
Do quanto poderia imaginar
Ainda houvesse um cais ou mesmo altar
Falena que no lume sempre vem
Bebendo a fantasia que a derrota
Ao mesmo tempo excêntrica e remota.

24796

Estóico, não permito um só entrave
Que possa transtornar a caminhada,
Além do que julgara mansa estrada
Um passo mansamente mais suave,
Porém a cada dia espero a nave
Que leve para a noite constelada,
Depois de certo tempo vejo o nada
Arguta fantasia onde se agrave
A tosca hipocrisia do viver
Aonde se ancorara o desprazer
Herméticas paisagens, nada além.
E tudo se concentra no vazio
Que a cada novo verso desafio
E sei que na verdade me contém.

24795

A morte, esta palavra amiga, é chave
Que possa reabrir as esperanças
Nas quais o teu futuro ainda lanças
Sabendo da verdade, frio entrave,
Por mais que ainda em águas puras lave
A vida se tomando em vãs lembranças
Diversas e sombrias alianças
A cada novo passo mais se agrave
O quanto se pensara em mais harmônico
O mundo neste caos escorpiônico
Estóicos caminhares já não vê
E sabe distinguir força e falácia
Por mais que ainda há brilho em cada hemácia
O fim já se aproxima e diz por que.

24794

Deixando o velho corpo apodrecido
As sendas que pensara salvadoras
Em meio às tempestades; tentadoras
Delícias atraindo a vã libido,
As moscas carpideiras me beijando
Tocando a minha pele, em larvas vejo
Além deste prazer, louco e sobejo,
A mansidão de um rito, amargo e brando
Eviscerados sonhos, noite insana
Protestos de um cadáver que respira,
Aonde uma ilusão acende a pira
A própria juventude ainda engana
E teimo em navegar mares sombrios
Vencendo a cada porto, os desvarios.

24793

Por duras tempestades foi vencido,
Corsária que julgara-se imbatível
A vida se transforma, e noutro nível
Seara do passado, mero olvido,
Descrevo a minha vida sem sentido
Auto retrato expondo indefectível
Caminho pelo qual, tosco e falível
Decifro o meu degredo e não duvido
Do quão inútil fora a minha história
Mistura de ironia com vanglória
Embarcações ( os sonhos) naufraguei
E tudo me transporta ao velho cais
Aonde no final; presenciais
O derrocar de quem se achava um rei.

24792

Agora encontra enfim, na morte, o tônico
Um pária que seguira em noite fria
E a cada desavença se inebria,
Na dor e na desgraça um torpe hedônico.
A pedra se lançando; hercúleo agônico
Herética fornalha que se cria
Vetustas esperanças, fantasia
Delírio em desacordo, desarmônico.

Da vida tão somente um vão capacho,
Agora este sorriso inútil e escracho
Demonstra o que o fantoche ainda sente.
Por mais que talvez tenha algum juízo
A morte não seria um prejuízo,
Quem sabe até alívio, simplesmente.

24791

O sonho que virá me deixa afônico
E sem saber sequer como evitá-lo
E neste ensandecido e vão abalo
Apenas um fantoche que histriônico

Gargalha pressentindo o desarmônico
Caminho ao qual me entrego e nada falo,
Pudesse na verdade garimpá-lo
E ter além do cais o anti-distônico.

Mas sei o quão inútil tal seria,
Arguta esta insensível agonia
Preparando este bote de soslaio,

Enquanto entorpecido nada faço,
Aos poucos ocupando todo o espaço
Tornando o libertário, seu lacaio.

24790

Houvera sempre tido em tal sentido
Aonde se pudesse além do vago
Ainda perceber algum afago
Por mais que a sorte é morta em tosco olvido.
Caminho sem destino, distraído,
E dele novas pedras, urzes, trago,
E sei que a cada passo um novo estrago
Herético fantasma revivido.

Medonhas garatujas do passado
Visões eternizadas pelo medo,
Ainda uma esperança vã concedo
Ao tempo que soubera desgraçado,
Aonde simples fera, a vida avança
Erguendo estes espectros da lembrança...

você

Você, que eu hei de amar numa segunda chance,
Antes que o tempo atroz demasiado avance,
Será no meu pomar a fruta temporã,
Trazendo em si o frescor do orvalho da manhã.

Você, que eu hei de amar num derradeiro lance,
Há de me convencer que a vida não é vã.
Para que a fera em mim se dome enfim, se amanse,
Será o meu relax, será o meu divã.

Você que tanto quis e jamais poderia
Imaginar agora além de uma alegria
Um porto delicado, aonde a nau depois

De tempestade tanta, encontra finalmente
Ancoradouro calmo a luz que me apascente
Neste infinito mar que é feito de nós dois...


dueto com CLAUDIO CORREA MARTINS

24789

Um rumo já decerto construído
Há tanto se disfarça em sombras, mas
Ao perceber então quanto mordaz
O mundo que pensara e destruído
Seguindo cada passo, ouço o ruído
Das aves agourentas; canto audaz
Perdido no vazio que se traz
Quem segue de paixão tola, imbuído.
Afrescos e portais, meus arabescos
Em sonhos espectrais, muros dantescos
Erguidos pela insânia que se aflora
Nas hordas onde estive, vã caterva
Minha alma da ilusão, outrora serva
Sorvendo esta excrescência; em paz agora.

24788

Num ser que é tão feliz estando agônico
Quimeras explorando cada canto,
Aonde se pensara em ledo encanto
O mundo que quisera em gozo hedônico

Desnuda este fantasma que histriônico
Mergulha no final, lamúria e pranto
Carpindo a própria sorte, ainda canto
Num grito desumano e desarmônico.

Além do carbureto e do amoníaco
Havia um sonho vão e afrodisíaco
Que agora, demoníaco se esvai,
Assisto ao fim da cena e ainda aplaudo
A morte traz à vida este respaldo
Caudal que leva à Zeus ou Adonai.

24787

Servindo de alimento aos frios vermes,
Apenas refazendo a mesma história
E nela com certeza esta vitória
Mostrada em cenas frias, peles, dermes.
Esgoto a minha vida em vãos inermes
E deles renascendo sem vanglória
Voltando qual a fênix nova escória
Refeito em intestinos, epidermes,
Esta excrescência eterna; que ora orgânica
Agônica presença que mecânica
Ainda deambula, pensa e fala
Depois de certo tempo se extasia
Na larva traduzida em agonia
Deitando este cadáver nesta sala.

24786

Refaço o meu caminho, hercúleo e insano
Enquanto se buscara uma indulgência
Derrota-se o viril com inocência
E a vida se refaz em novo plano
E quando em voz suave ainda explano
O mundo que sonhara esta inclemência
Ao mesmo tempo diz sonho e ciência
Traçando no final o desengano.
Escravizado enquanto libertário
Trancando a fantasia neste armário
Por onde deveria ter risonho
O quão inútil verso que inda trago,
Diverso do que outrora quis afago
Imagem sonhadora? Eu decomponho.

24785

Vencendo qualquer forma de tristeza
A barca da ilusão já não comporta
E quando vejo aberta a tosca porta
Levado pela espúria correnteza

Ao ver nesta paisagem a beleza
Que enquanto ainda creio me conforta,
Porém realidade logo aborta
E deixa este vazio sobre a mesa.

Seviciadas noites, abandono,
E quando entorpecido inda ressono
Apenas vislumbrando pesadelos,

Momentos de alegria? Nunca mais,
Estranhas maravilhas rituais
Prazeres tão sombrios, e sorvê-los...

24784

Carpido pelas moscas derradeiras,
Aonde quis a glória vejo em pus
O quanto desejara em força e luz,
As ânsias se transformam lisonjeiras
Andara toda a vida em finas beiras
E ao precipício o passo me conduz
Sabendo quão a morte nos seduz
Estradas que percorro; costumeiras
Trazendo a cada passo outro martírio
Invés de lua eu vejo agora o círio
Funestas homenagens? Não preciso,
Vergastas contumazes; dor e corte,
Após tanto festejo, enfim a morte,
Quem sabe inferno; nada, ou paraíso?

24783

Amigas e leais, tais companheiras;
As sórdidas lembranças de outras cruzes
E quando se preparam novas urzes
Desfilas em inúteis corredeiras
As hordas de fantasmas nas bandeiras
Propõem o final antes que cruzes
Portais que imaginaste entre mil luzes
E da verdade ainda tu te esgueiras
E o homem criatura amarga e inábil
Registro terminal, férreo e contábil
Demonstra um saldo imenso e negativo,
Vivesse este prelúdio em fantasia
O amor em suas ânsias manteria
Espectro deste verme; ainda vivo.

24782

Devoram-me – um banquete sobre a mesa;
Astuciosamente nada faço
E quando num regalo, o mesmo traço
Ensandecido exponho a sobremesa
Vagando pela Terra com nobreza
A pútrida visão agora abraço
Tomando pouco a pouco cada espaço
No fim não restará qualquer beleza
Aonde com fatal sofreguidão
As aves rapineiras comerão
Carniças do que somos e seremos,
Tremulam as inúteis, vãs bandeiras
Aquém do que tu pensas; mesmo queiras
Em holocausto espúrio já nos demos.

24781

As últimas palavras são leais
E delas faço a minha poesia
Enquanto desfilasse esta utopia
Que agora, mais distante, derramais,
Vivendo fantasias sensuais
Enquanto a realidade se recria
Deixando para trás velha agonia
As ânsias repetindo os rituais
Dos quais pudesse ao menos ter a sorte
Do gozo mais profano que conforte
E trague ao fim da noite a majestade,
Mas sei que adormecida vós não vedes
E mato noutras fontes minhas sedes
E a solitária luz; o quarto invade.

24780

Os vermes, tão divinos comensais
Satânicas figuras que diversas
Ao terem nos seus âmagos; imersas
Vontades e delírios sensuais,
Enquanto pela vida méis e saia
E sempre sobre a própria tanto versas
Verás que na verdade são conversas
Morte e vida são coisas tão banais.
Refeitas pela mesma podridão
Na qual se erguendo o Pai da criação
Retrata-se a verdade insofismável,
A eternidade em solida paisagem
Não é; meu caro amigo, uma miragem
A vida pela morte é renovável.

24779

Esgotam toda a forma de pureza
As espécies venais que sobre a Terra
Vagando em podridão; o ciclo encerra
O quanto quis o Pai, rara beleza
E quando se percebe esta riqueza
A fome do poder, angústia enterra
E tomando o cenário, fome e guerra,
Assim caminha a nossa Natureza.
Espúria criatura, torpe verme
Que enquanto não deixar rota ou inerme
A própria desventura não sossega,
Aonde se termina a nossa história
De Deus; talvez apenas tosca escória,
Imagem; semelhança? Vaga e cega.

24778

Não tendo mais sequer uma tristeza
De tudo o que quisera e se fez tanto
O amor embevecido em tal encanto
Mergulha nos teus braços; se represa.

E quanto mais audaz, maior beleza
E então alvissareiro sonho eu canto
Deixando no lagar vinagre e pranto
E a vida se refaz com sutileza.

Afeto transbordando em ilusão
Fomentos ideais para a paixão
Nefastas as delícias que ora sorvo,

E vejo ao fim da tarde o crocitar
Do pânico adentrando este luar,
E observam nossa sanha, a pomba e o corvo.

24777

As vísceras expostas; ledo cais
A faca que entre os dentes corta e brilha
Enquanto a fantasia vã palmilha
As pútridas insânias; derramais.

Servindo-vos qual fossem animais
As ânsias percorrendo a amarga trilha
Preparam em silêncio esta armadilha
E dela carniceira vã; gozais.

Herética e medonha caminhada
Aonde se pensara em mansa estada
Apenas maremotos, cataclismo.

Vagando pelas noites vou mesquinho
Sabendo desta fera o descaminho
Por onde tresloucado ainda cismo.

24776

Aquele que se fora sem jamais
Pensar nalguma chance de retorno
E quando a poesia fez-se adorno
Os dias se mostraram tão banais.
Angústias que entre pedras derramais
E ser-vos não servil, mas por retorno
Apenas um anseio frio ou morno,
Aquém do que deveras propagais,

Esmero-me em tentar outra saída
E mesmo quando a vejo, distraída
A sorte se mostrando sempre embalde
Não tendo quem deveras a desfralde
Bandeira da ilusão a meio mastro
Nas sendas do vazio então me alastro.

24775

Saber se houve delícias ou beleza
Durante os dias tantos que tivemos
Metaforicamente busco os remos
E enfrento; destemido, a correnteza
Transmite nos teus olhos tal leveza
E dela os descaminhos conhecemos
Matando com prazer, medos e demos,
O amor se faz com lúdica destreza.
Acercam-se de nós fogos e ritos
Trafego por diversos infinitos
E chego extasiado ao fino orgasmo,
E numa delicada sintonia,
A insanidade em luz demonstraria
O mundo pelo qual me entusiasmo.

24774

Aos poucos minha carne é corrompida
E dela se percebe a fetidez
Aonde me rondara a sensatez
Apenas uma sombra apodrecida,
Viver e ter razões que a própria vida
Durante muito tempo já desfez
Permite se tentar em languidez
Estúpida e venal, torpe saída.
Esgoto que deveras perambula,
Os olhos embotados, fome e gula
Anseios de um cadáver ambulante
Esquife se formando pouco a pouco,
E enquanto tosca fera, eu me treslouco
Ascendo à solidez do diamante.

24773

Numa orgia divina consumida
Um êxtase se trama em fúria e gozo
Momento incontestável, majestoso
Estrada desbravada e assim ungida,

História que em loucuras traz a vida
Nas ânsias delicadas, prazeroso
Caminho muitas vezes pedregoso,
Frondosa maravilha insana urgida.

Inebriante luz adentra a casa
E enquanto este delírio nos abrasa
Incandescentes lumes, fogaréu,

Cavalgas por espaços siderais
E neste cavalgar encontro o cais,
No constelar galope de um corcel.

24772

As larvas e bactérias devorando
O que restou de nós, podre carcaça
Às vezes o vazio já se traça
Perdendo as esperanças, ledo bando;
Inevitavelmente se moldando
A morte enquanto a vida se esfumaça
Pérfida invalidez ora me abraça
E tudo neste instante desabando.

Condeno-me ao terrível abandono,
E mesmo a fantasia desabono
Reflexo desta estúpida carniça

Que tanto se fez gozo, fúria e medo,
E agora se amparando no degredo,
Ainda algum prazer, morto, cobiça.

24771

E como numa espécie de sarcasmo
Vivenciando o gozo do vazio
Ao mesmo tempo mato e me recrio
Fingindo a insânia tosca de um espasmo,
Extasiada angústia deixa pasmo
Quem tanto se procura e me inebrio
Gerando dentro em mim tal desafio
Do cataclismo tramo este marasmo.
Na fútil placidez da vida morna
Somente esta mesmice ainda adorna
O que pensara outrora ser poético.
O canto intolerante do presente
Por mais que da verdade ele se ausente
Esconde-se deveras vão e herético.

24770

Para amor tão verdadeiro
pouco importa a primavera.
Muito menos o dinheiro
traz prazer a quem o espera.

Celina Figueiredo

Amor supera a força da estação
Insofismavelmente traz em si
A força insuperável que vivi
Mal importando os dias que virão,
Agreste, mas saudável ilusão
Explode em harmonia e traz aqui
Longínquos descaminhos vêm a ti
Mosaico feito em luz, medo e emoção.

Mantendo sutilmente este alicerce
Por mais que a realidade desconverse
Prepara a eternidade de um momento,
Tramando insuperável caminhada,
O amor ao resumir o tudo e o nada
É fúria pela qual eu me apascento.

24769

Tomado pelo fogo de um orgasmo
Atravessando as noites fúria insana
E quando à própria sorte se abandona
Exposto sem temores nem marasmo,
A vida já contém em si sarcasmo
Desnuda esta vontade soberana
Ao mesmo tempo sacra e vil; profana
Enquanto deixa em êxtase, mas pasmo.
Ascendo aos mais longínquos patamares
E quando intensamente procurares
Perceberás o quanto de delírio
Invade o nosso caso e me atormenta
Sagaz audácia atroz e violenta
Trazendo enfim um lúbrico martírio.

24768

Macabras sensações vão me tomando
E esgotam minha força enquanto luto
E tudo o que fizera outrora o astuto
Delírio de um poeta perde o quando.
Caminhos muitas vezes decifrando
Nas horas doloridas, medo e luto
Momentos em que às vezes eu reluto
Verdade sendo frágil, sonegando.
Esboço a reação, mera tolice
Se a própria resistência já desdisse
O rumo que pensara libertário,
Atento aos dissabores mais vulgares
Não sei se percebeste e se os notares
Verás invés do amigo, um adversário.

24767

Entrar por tuas minas e teus veios
Bebendo desta sôfrega loucura
Enquanto nos sacia, traz a cura
E deixa no passado meus receios,
Nos veios delicados, devaneios
Fartando no delírio, se perdura
Olvido neste instante uma amargura
E deixo os sofrimentos, vãos e alheios.
Estruturando a vida em firmes bases
Por mais que vez em quando tu te atrases
Presença redentora me alivia
Escândalos em sândalos e gritos
Dois vândalos noctívagos e aflitos
Adentram sem limites, fantasia.

24766

Calando meus caminhos mais sedentos
Voluptuosamente eu sigo os passos
Astuciosamente gozos lassos
E delicadamente em tais momentos
Vencendo as ânsias vago em sentimentos
Decifro os teus desejos, leves traços
Adentrando os encantos, nossos laços
Deixando atrás os medos e tormentos.
Escravos das insânias; somos fartos
E quando a luz invade casa e quartos
Antevendo o prazer que nos sacia
Edênica vontade nos anela,
A lua penetrando na janela
E o jogo se prolonga até o dia...

24765

Deitando em teus cabelos, meus enleios
Delírios em delícias desfrutados
Hedônicos caminhos, vãos pecados?
Na fina transparência, belos seios,
A porta me isolando dos receios
A sorte se lançando vejo os dados
Rolando sobre a mesa em aguardados
Momentos sensuais, meus devaneios.
Pudesse eternizar cada segundo
Searas delicadas me aprofundo
E bebo extasiado este rocio,
Aonde se mostrara em tanta fúria
O amor que se profana sem incúria
Viagem pela qual; sonhos recrio.

24764

Meus dedos te percorrem, calmos, lentos
E sentem teu furor em umidade
Na fúria de um anseio que se brade
Adentro com loucura tais momentos
E neles percebendo vários ventos
Prenúncio de uma intensa tempestade,
Que ao fim só nos trará felicidade
E aos dissabores tantos, os alentos.
Herético caminho? Não pretendo
Ascendo ao Paraíso e como adendo
Encontro esta profana maravilha
Na lúbrica paisagem, enlanguescida
Razão que tanto busco de uma vida
Aonde a fantasia explode e brilha.

24763

Nos rumos que me levam aos anseios
Dos quais se poderia ver a luz
Enquanto a realidade não seduz
Procuro a liberdade em outros meios
E vejo tão somente estes receios
Gerando este vazio em contraluz
Sabendo desde sempre ao que conduz
Os vértices inúteis de tais veios
Mistérios entre tantas ilusões
No quanto da mesmice que me expões
Diletas emoções, ritos sombrios
Ecléticos delírios? Não mais quero
Tampouco adentro o mar imenso e fero
Dos estopins esqueço os vãos pavios.

24762

Eu tento desvendar tua nudez
E dela as ânsias tantas que me trazes,
Tormentas no passado, em outras fases
Em ti uma esperança se refez,

Caminhos que vivera insensatez
Esplêndidos luares; satisfazes
No vértice dos sonhos os vorazes
Delírios em que amor encontra a vez.

Assíduas maravilhas demonstradas
Enquanto percebendo em tais estradas
Nos ápices, meu êxtase completa,

Minha alma incandescida em ti se expõe
E á própria realidade amor se opõe
Nas tramas desta luz, a predileta...

24761

Sabendo desfrutar gozos etéreos
Adentro fantasias e as decoro
Com toda a maravilha em que me ancoro
Caminhos delicados, teus mistérios

Ardentes ilusões em fogaréus
Erguendo o meu olhar além do cais
Momentos desfrutados, sensuais
Vagando entre as estrelas, risco os céus

Enlanguescidamente adormecida
Desnuda; incrível sílfide ressona
Dos meus anseios fartos, deusa e dona
Reinando sem saber tomando a vida

Beleza incomparável, doce alento
Aplaca deste bardo, o sofrimento.

24760

Carnais estes meus sonhos mais intensos
Delírios de um amante em loucas sanhas
E quando com vontades mais me assanhas
Os dias às insânias são propensos,
Deixando no passado os dias tensos
Voando bem acima das montanhas
Dos ápices conheço então entranhas
Caminhos delicados, mas extensos

Vivendo com total sofreguidão
As horas do teu lado levarão
Aos mais supernos êxtases possíveis
E quando se aproxima esta explosão
Em fogos de artifício uma emoção
Atinge os patamares mais incríveis.

24759

Sangrando assim total insensatez
Na insânia de um momento mais atroz
Aonde não se escuta nem a voz
Ausente desta estúpida aridez.

E quando se percebe o que talvez
Ainda possa ter em novos nós
Vencendo a estupidez, cruel algoz
Revendo num instante o que desfez

Eu creio não haver mais solução,
Os dias que virão demonstrarão
O quanto se perdeu pelo caminho,

E agora assim distante da verdade
Apenas o furor que nos degrade
Entorna-se e me torna mais sozinho.

24758

Momentos deliciosos, livres; tento
Vivendo este delírio feito em brilho
E quando por teu corpo um andarilho
Encontra a redenção de um sofrimento
E nele com delícias me apascento
Caminhos delicados que ora trilho
Não tendo na viagem, empecilho
Até que chegue o gozo, violento.
Viver em tal volúpia sem problemas
E quando do teu lado tu me algemas
Não quero a liberdade, sou só teu,
Meu mundo neste instante volta a ter
Além da claridade e do prazer
O encanto que co’o tempo se perdeu.

24757

Nas noites mais distantes, a quimera
Teimando em se chegar adentra o quarto
De todos os prazeres já me aparto
Aonde se esconder da louca fera?
O quanto de prazeres vida espera
Até que se descanse, lasso e farto,
Porém, felicidade; eu já descarto
A paz que tanto busco? Ah quem me dera...

Escuto como um eco a voz sombria
E dela o meu passado se recria
Deixando o meu presente sem futuro;
Aonde se tivesse outra estação
Meus sonhos e delírios estarão,
É tudo que deveras mais procuro...