segunda-feira, fevereiro 08, 2010

24395

Empunhando esta adaga me defendo
E fazendo o escarcéu não mais pergunto
Mudando devagar o velho assunto
Enquanto nada falo nunca ofendo.

E serve de lição para o poeta
A bêbada esperança à qual se dá,
Mundana maravilha vejo lá
E aqui a sorte apenas não completa

Eu quero no final sensualidade
Da moça que se trama mais audaz,
E quando a noite em sonhos já me traz
A arcaica solidão, não mais invade.

Mas tudo não passando deste sonho
Que em vão, um solitário, em luz; componho.

24394

Não quero um sentimento assim genérico
Vendido como fosse original,
O quanto deste amor já me fez mal,
Aonde imaginara um fim homérico,

Não posso ter nos olhos o quimérico
Caminho que disfarça o visual
Levanto com meus beijos teu astral
Aumentando afinal o hormônio sérico.

Será que atrás do quanto existe o que?
Jamais acreditando no que vê
A gente se decide pelo tanto.

E beijo tua boca sensual,
E quanto ao verso feio ou magistral,
Deveras sem perguntas, quero e canto.

24393

Ouvindo ao longe em cítolas os cantos
Que tanto me fizeram crer na vida,
Não deixo a velha imagem destruída
Tornar já sem efeito teus encantos,
E deixo para trás antigos prantos,
A sorte noutra sorte decidida
Permite esta emoção que se divida
Tomando toda a casa, sem espantos.
Longinquamente a lua se desmaia,
E quando se espraiando beija a praia
Beijando o mar em ondas, bela e cheia,
Soberba esta rainha assim polvilha
Em luzes prateadas cada trilha
Enquanto amor se encanta e banqueteia.

24392

Arpejos entre tons diversos, canto
Escondo-me nas notas que solfejo
Traduzem muito além do meu desejo
Demonstram quão real sobejo encanto.
E quando me imiscuiu neste tanto
Apesar de mais quieto relampejo
Deixando para trás pudor e pejo
Saindo num segundo do meu canto.
Esboço este soneto e nele vão
As pombas de uma triste solidão
Arrulhos se perdendo no caminho,
As horas que se foram, toscas, turvas
E quando em versos belos, sombras curvas
Nas teias deste amor, em paz me aninho...

24391

Cintilas qual a lua em noite farta,
E sabes muito bem quanto dominas
Dos sonhos e delírios, fontes, minas,
Meu corpo deste encanto não se aparta,

E sabe muito bem, jamais descarta
Esta ilusão sobeja que ora minas
Em águas delicadas, cristalinas,
Minha alma de tua alma assim se farta.

Encontro em teu caminho o mesmo que
Durante tanto tempo procurara
Somente numa noite assim tão clara

Beleza que se estampa então se vê
Um eremita às vezes tão estóico
Se expressa em decassílabos; heróico.

24390

Essências transtornantes, teus perfumes
Essencialmente raros me inebriam
E enquanto estes cristais tomam, viciam,
Acende-se a esperança em claros lumes,

Além do que pensara me acostumes
Enquanto outros momentos ludibriam
Felicidades tantas se recriam
Em meio aos meus tormentos e queixumes.

Escutando esta voz mansa e suave,
Minha alma na tua alma, sonhos crave
E traz uma alegria inestimável,

Viver o quão possível do teu lado,
Costume por um Deus abençoado,
Numa expressão de paz inigualável.

24389

Se a lua não trouxesse suas fases
Marés já não seriam como são,
Assim também no amor uma ilusão
Impede que o caminho; em vão defases,

Se todos os momentos são capazes
De trazer no seu bojo uma lição
Não sigo por seguir tal direção
Sequer mergulharia em vãos mordazes.

Atento às variáveis desta vida,
Enquanto a sorte abrindo uma guarida
Permite que vislumbre dor ou pranto,

Escuto das estrelas o clamor,
E bebo a fantasia feita amor
Inebriado e audaz, agora canto...

24388

Amor ao traduzir felicidade
Expõe nossos retratos distorcidos
Por vezes em momentos, divididos
Existe algum valor que desagrade,
Enquanto desagrega eis que me invade
O que não se perdera em vãos olvidos,
Mas tendo estes clarões reconhecidos
Eu rompo com vigor o muro e a grade.
Saber do quão feliz se pode ser
E ter nas mãos do amor este poder
Permite que se creia num segundo
Aonde a luz que guia nos traduza
Além da vaga noite tola e escusa,
E desta benção rara eu já me inundo...

24387

Por vício ou por soberba a mãe Igreja
Pensando ter nas mãos a consciência
Não vê que o próprio Deus feito em clemência
A perdição do ser, nunca deseja,

E quando a plenitude assim se almeja
Além do que se mostra em evidência
O Pai que se traduziu onipotência
Não tem uma alma amarga e sim viceja.

A dona da verdade dita regras
E quando mal percebes desintegras
Nas mãos de uma senhora arcaica e vil.

Aonde se mostrasse uma discórdia
Ao Pai cabendo a paz, misericórdia
A dita mãe prefere um cão servil.

24386

Ao homem, sendo fera e duro ser
Olhando neste espelho se vê deus
E mesmo quando imerso em tantos breus
Procura tão somente o vão poder.

Num tampo auspicioso posso crer,
Mas tenho que dizer agora adeus
Aos desejos banais, nossos e meus
E deles, só por eles, não viver.

Apego-me aos delírios de um poeta
Aonde a fantasia se interpreta
Tomando toda a cena bela atriz,

Mas sei que a realidade é bem diversa
E a sorte noutro canto segue imersa
E mesmo vendo a sombra, ora a desdiz.

24385

Trazias nas sandálias a poeira
Deste infinito termo em que puseste
Ascendo à maravilha feita em peste
Embora uma alma turva não se queira.
A sorte das algemas, mensageira
Expressando a dureza do cipreste,
O quão a melodia é vã e agreste
Tropeço na verdade, ribanceira.

Esgoto o linguajar falando a esmo
Repito esta ilusão e me ensimesmo
Mudando vez em quando a ladainha
Servindo de alimária a quem se dera
Matando docemente a minha fera,
O mundo noutro tanto, desalinha.

24384

Do verso onde concreto se faz trama
O quão hipoglicêmico eu me esboço,
As horas derradeiras do destroço
Aonde se pensara em melodrama

O tanto que não fui ora me chama,
Ainda no porvir já me remoço
E bebo e mal disfarço se me acosso
Dos seres tolos quase alma reclama.

Quasares entre luas noite afora,
E sei que o verbo ser não me decora
Tensionado prazer não diz da teia

O cerne da questão é não saber
Além do quão devia nada ser
Dúvida crucial se banqueteia.

24383

Hão de tentar mudar a direção
Dos ventos entre chuvas e tempestas
E enquanto mais distante ainda restas
Verás as novas fontes que oporão
Aos velhos caminheiros mostrarão
As horas que em verdade inda emprestas
Mudando o que adentrara pelas frestas
Trazendo nos olhares a aversão.
O cedo se tornando entardecer
Ainda no que eu pude perceber
Não vejo mais nem quero que ora esculpas
Gerando esta disforme caricata
Aonde a realidade me arrebata
Sabendo tão somente meras culpas.

24382

As flores se murchando em vão canteiro
E dele naufragando esta esperança
Enquanto o tempo molda e sempre avança
Da realidade em versos já me esgueiro
O mundo se mostrando alvissareiro
A quem tem nos seus olhos, fogo e lança
Ao mero caminheiro a morte lança
Sorriso de ironia, o derradeiro.
Escusos e diversos os caminhos
E sei que quanto mais tolos, sozinhos
Apenso no talvez definitivo
Esboço de um momento mais mordaz
E enquanto o não saber me satisfaz
Apenas por sonhar ainda vivo.

24381

Colhera do passado frutos vários
E deles esperara alguma paz,
Enquanto a dor deveras satisfaz
Encontro os teus sorrisos temerários
E deles derivando mortes, ritos
Audazes em memória já desfeitos
Aonde se mostrara serem feitos
Dos mesmos e nefastos infinitos
Residualmente encontro os tempos vãos
E neles espelhado meu futuro
E quanto mais vazio, até procuro
Tentar sementes frágeis, toscos grãos
E deles refazer a velha história
Embora a terra seca e merencória...

24380

Senhor; peço perdão pelos meus ais
Não posso me calar perante o quanto
A realidade traz tal desencanto
Por onde tantas luzes; derramais
Ser-vos-ei servil e nada mais
Além do que deveras hoje canto
Traria na verdade a dor e o pranto,
A quem dos simples lodo; transformais.
Espero alguma paz e mansidão,
Mas sei que as forças torpes se oporão
E dum porão eterno e tão sombrio
Percebo o cadafalso preparado
Aonde imaginara abençoado
Mundo que em versos frágeis desafio.

24379

Apenas ofereço a ti a face
Exposta ao mais terrível dos rancores
E sei que somente aonde fores
Trarás a voz da negação que ainda embace

O sonho de quem tanto neste impasse
Pensara recolher sobejas flores
E sabe no final, quanto te opores
O quanto esta verdade nos desgrace.

À média luz em velas, fogo brando
E mesmo quando em versos te alcançando
Disfarças com sorrisos e não dizes

O quão maravilhoso poderia
Se em ti ao perceber uma alegria
Desvendaria enfim t’as cicatrizes.

24378

Os mesmos desconfortos do confronto
Que eternamente existe em nossas mentes
Enquanto se espalhassem tais sementes
Teria algum momento em luzes, pronto.
E sei que na verdade não me apronto
Para viver dos ritos em que mentes
E sinto minhas mãos, ora dormentes
E quanto ao meu viver, tanto desconto.

E beijo esta pantera que se traja
Usando qual disfarce a serpe, naja
Aguardo a cada instante um novo bote
Servindo de cobaia nesta espreita
Enquanto a realidade em vão se deita
A vida trama a fonte onde se esgote.

24377

Insípidos caminhos, aridez
As vestes que me trazes: rotas, meras
As rotas dizem onde se desfez
O gozo que pensara em primaveras
Aquém deste prazer aonde esperas
Viver além de toda a sensatez
No olhar já se expressando uma altivez
Encontro invés de paz, diversas feras.
E tramo outra ventura que sei bem
Tramando as dores fartas quando vem
Falar do desvario em que mergulho,
Imagética luz nada desvenda,
O amor eterno e terno, leda lenda
Apenas recolhendo o pedregulho.

24376

Não valeria a pena se buscar
Em tantos desvarios soluções?
Não tendo e não pretendo servidões,
Encontro esta resposta no luar

Eterno enquanto etéreo caminhar
Trazendo pra quem sonha tais visões
Dos versos são eternas provisões
Na espera do outro dia, em luz solar.

Às vezes vozes várias ditam versos
E quando os encontrando em vãos imersos
Adentro da esperança este sepulcro,

Sabendo que talvez noutro momento,
A sorte que se mostre em desalento
Ainda encontre a força de seu fulcro.

24375

Não suporto em ti tal servilismo
E jamais poderei crer ser possível
Invés de um algum remanso ora aprazível
Preferes caminhar beirando abismo.

E quando mais distante ainda cismo
Vencendo a tempestade, sendo incrível
Além do que julgara mais cabível
Encontro nos teus olhos, forte sismo.

E sinto ser apenas um fantoche
E quanto mais audaz, a dor deboche
Do sonho que deveras se fez luto,

Porém a cada tempo, sem discórdia,
Eu sinto ser diversa tal mixórdia
Num tempo feito em guerra, em paz, reluto.

24374

Das sombras e das sobras sendo feito
Esgarço cada parte deste tanto
Enquanto solitário mais eu canto
E sinto este mergulho sem efeito,
O básico momento em vão desfeito
Esgota-se no ser e por enquanto
O todo se mostrando pelo tanto
Encanto que julgara bom, desfeito

Apraz-me desejar acima disto
E mesmo que não queiras eu insisto
E beijo a luz que sei de te se emana
A cada novo dia, outra semana
A sanha de viver me desengana,
Porém jamais do sonho enfim, desisto.

24373

A vida que buscara em azulejo
Demonstra-se nefasta e mais sombria
E quando a realidade se desfia
O verso num momento eu azulejo

Moldando em esperanças o azulejo
Descrevo com paixão e poesia
Se toda compaixão inda me guia
Desejo muito além deste desejo.

E sei-o bem provável, mãe e seio,
Num veio mais audaz, o amor já veio
Trazendo como adendo o riso audaz.

Jamais negrejaria o céu que busco
Embora em turvas luzes, lusco fusco
O canto em desencanto se desfaz.

24372

Dos sonhos, caminheiro mais servil
Aonde se fizera em noite escura
O amor se não completo nos tortura
E o que era libertário agora é vil.
Beleza em desencanto se previu
Tornando o que era glória, ora amargura
Orando sem ter horas se emoldura
Louvável acalento revestiu.
E o verso sendo uma arma mais potente
Enquanto da esperança o sol se ausente
Eu trago num soneto a voz cansada
De quem se fez amante inutilmente
Enquanto a fútil vida ainda mente
Espero após o sonho, uma alvorada...

24371

Da sorte se permite vassalagem?
Não quero tal vergasta em minhas costas
Enquanto desta cena sei que gostas,
Não tendo outros caminhos que me ultrajem

Vestindo de ilusão, soberba pajem
Que vive mergulhada em duras crostas,
O quanto do viver ainda arrostas
E moldas no vazio esta estalagem;

Nefastas maravilhas? Falso guizo,
Além do que deveras mais preciso
Eu bebo da esperança e não me canso

De ter além do mar fonte e farol,
E quando se entornar o imenso sol,
Terei enfim a paz de um bom remanso.

24370

A noite em tempestades já negreja
O velho coração de um sonhador,
Que tanto se perdendo por compor
Um tempo aonde a sorte, tola andeja

Enquanto a vida assim, torpe troveja
Eu sonho com canteiros, sol e flor,
Percebo este vazio a se propor
Na morte mensageira, que alma almeja.

Pudesse serenar tais temporais,
E deles; com certeza, aproximais
Em vossa solidão, confraternizo,

Quem sabe quando unidos poderemos
Vencer nossos fantasmas, nossos demos,
Cessando então assim, fúria e granizo.

24369

Agrupados, demônios bebem luz
E transformando o gozo num martírio
Pudesse ter nas mãos, o sonho e o círio
No quanto às mãos divinas me conduz

O Amor perpetuado em verso e vida,
Mudando a direção do sentimento
E quanto mais me entrego, mais me alento,
Por mais que a realidade ainda agrida.

Deveras sendo o Pai pleno e perfeito,
Eu creio que afinal, ao ser cumprido
Destino do perdão sendo pedido,
Por tanto amor do qual também foi feito,

Satã se arrependendo e perdoado
Será pelo Senhor abençoado.

24368

Os vultos insepultos do passado
Ainda tenebrosos, rondam sonhos
E pesadelos toscos e medonhos,
Futuro a cada dia degradado;

Escondo-me deveras num poema
E sei que talvez seja covardia,
Enquanto a realidade me feria
Fantasia em estrelas, diadema.

Vergonha do que agora já se vê
Apenas discrepâncias, ledo engano,
E quanto mais procuro; mais de dano
Queria pelo menos um por que.

Servindo de alimária? Nunca mais,
Já basta de fantasmas canibais!

24367

Um déspota terrível, Deus judaico
Que tanto castigava e assim punia
O filho a quem a sorte já desvia,
Morrendo num sepulcro mais arcaico,

E quando o mundo for deveras laico,
Talvez seja o momento em que a utopia
Desfaça com ternura esta agonia
Reinando deste modo, vil, prosaico.

Aquele que se deu em sacrifício
Um rei e um carpinteiro por ofício
Aplaca com amor tal despotismo,

Sublime Redentor que se fez luz,
Pois se à felicidade ele conduz
Num novo amanhecer vejo o otimismo.

24366

A Terra em convulsões, final dos dias?
Não creio, mas percebo que se muda
Com tanta rapidez, preciso ajuda
Vivendo em dias quentes, noites frias.
Audazes esperanças? Referias
Às várias emoções, minha alma muda
Vagando sem destino, tão miúda
Se expressando nos vãos das poesias.

Assino cada frase do que dizes,
E sei que são diversos os matizes,
Mas nada se transforma em chão volúvel
Assim como viver só por prazer,
E também sem prazeres reviver
O quão se faz do tempo ser solúvel.

24365

Sentindo o teu calor num manso abraço
Uma expressão de paz que assim conquista
Enquanto um bom futuro já se avista
Nas linhas do desejo que ora traço,

E quando se mostrando forte, o laço,
A sorte, das venturas, a cambista
Com ágios vem cobrar, mas não desista
Firmando sem reservas mais o passo.

No quanto em eloqüência amor se deu,
Traçando este destino teu e meu,
Assomam-se delírios e tormentas,

Por mais que caprichoso seja o Fado,
O amor mandando em glória em seu recado,
Enquanto com ternura, me acalentas...

24364

Viver sem esta tal modernidade
Privatizando os sonhos do passado,
O quanto da morena, embriagado
Desejo sem juízo ainda invade.

Encontro na verdade a utilidade
Mais pródiga num beijo no teclado
Por ondas telefônicas mandado
Embora o boca a boca mais me agrade

Nuinha no outro lado, que delírio,
Porém aqui sozinho é um martírio,
Mas sei que desse mal eu já não morro,

Gostosa esta danada piriguete,
Melhor então seria Tetê-a-tête
Senão vira tevê, das de cachorro,

24363

Sentindo esta delícia carmesim,
Teus lábios docemente junto aos meus
Sem ter sequer notícias de um adeus
Traduzem a esperança que há em mim,

Moldando um novo mundo, de onde vim
Imerso em solidão, trevas e breus
Senti-me como fosse um próprio deus
Cercado por arcanjo e querubim;

No Olimpo extasiado, Zeus e Juno,
O encanto com encanto coaduno
Vibrando em emoção, delírio imenso.

Na boca delicada de meu bem,
O sonho de prazeres cedo vem
E neles com o amor, me recompenso.