sexta-feira, fevereiro 19, 2010

25163

Tornando o meu sonhar mais satisfeito
Após as discordâncias do passado,
Andando por caminho torto, errado,
Entregue às ilusões, sonho desfeito.

Agora que te encontro e abro o peito
Confessando deveras o pecado
O dia nascerá iluminado
A paz a nortear cada preceito.

Não me deixo levar por desenganos
A vida se transforma e novos planos
De fato mudarão o seu sentido,

O mundo preconiza nova chance
E nela uma certeza que se alcance
O raro paraíso prometido.

25162

Deixando para sempre más lembranças
E velhos dissabores que coleto
Enquanto nesta vida o predileto
Caminho se perdendo enquanto lanças

Os olhos para as nuvens, esperanças
Audazes percorrendo este dileto
Delírio pelo qual eu me completo
E ao mesmo tempo aguardo estas vinganças.

Alçara um eldorado em pensamento,
Mas quando da verdade estou atento
O mundo desabando sobre nós,

E o quanto fui feliz inutilmente,
A vida a cada dia me desmente,
Num rastro que se mostra duro e atroz.

25161

Agora que encontrei amor perfeito
Depois de tão sofrida caminhada
Aonde se imagina mansa estrada
Desfiladeiro imenso; onde me deito

E o amor insanamente faz seu pleito
Tomando já de assalto a destroçada
Alma pelo sonho abandonada
Felicidade enfim é meu direito,

Escusos becos, ruas sem saída,
Assim se demonstrara a torpe vida
De um tolo e descabido sonhador,

Mas quando se pensara já perdido,
Jogado nos porões de um vago olvido,
Ela adentrando a porta traz o amor.

25160

Comigo em tanto amor pra sempre avanças
Deixando para trás vicissitudes
E mesmo que deveras inda mudes
De ti só guardarei boas lembranças,

O amor traz alegrias, medos, lanças
E nele se percebem atitudes
E mesmo que deveras não ajudes
As noites ao te ter sempre são mansas.

Quem tanto se mostrara um infeliz
Agora que a verdade contradiz
Encontra-se em sobeja maravilha,

Por sendas tão tranqüilas que eu caminho,
Aonde há tanto tempo era sozinho,
Uma alegria imensa a alma palmilha.

25159

Amor em primavera neste outono
Conflitos entre o ser e o querer ser
Mudanças tão difíceis de prever
Ludibriando o tempo já me adono

E quando na quietude até ressono
As súcias demoníacas a ver
Percebo quão inválido o poder
E sinto-me deveras como um mono.

Espúrias as imagens refletidas
Mostrando quão inúteis estas vidas
Assaz maravilhosas por momentos,

Velhaca criatura fantasia
Além de um simples gozo em alegria,
Bebendo depois disso os sofrimentos.

25158

Fazendo as flores raras, folhas belas
Outono transformado em primavera
E quando a solidão se degenera
Destino bem diverso tu já selas

A fantasia velha castelã
Usufruindo os gozos de um reinado
Há tanto tempo inválido e fadado
À realidade amarga, torpe e vã

Deixando prosseguir tal heresia
Minha alma se transporta ao nada ter
E molda noutras formas de prazer
O que talvez em paz nem pensaria,

Fazendo da emoção sua trincheira,
Atocaiando a presa, guerrilheira.

25157

De quem sempre vivera em abandono
Pegadas pela vida se apagando,
Não posso mais sonhar nem quando
Entregue totalmente em manso sono,

Nas ânsias de um prazer me desabono
E perco a direção, já desabando
O todo que eu pensara se mostrando
Desnudo coração, amor detono,

E sinto que talvez tenha somente
Sementes de uma inválida colheita
Às vezes de tocaia esta alma espreita

E mesmo quando vê; logo desmente
Montando um mundo escuso e virtual
Jogando no porvir a pá de cal.

25156

As noites pululando em zil estrelas
O vento uivando adentra na janela
E toda a fantasia se revela
Nas ânsias e desejos de contê-las

Há tanto desejara enfim revê-las
Imagem deslumbrante que tão bela
Futuro extasiante agora sela
Na mágica ilusão de recebê-las

Deitando em minha cama, carinhosas,
Constelação soberba feita em rosas
Perfumes que saciam tais vontades,

Um sonho sem igual tão prazeroso
E nele esta promessa rara em gozo,
Realizada quando o quarto; invades.

25155

Sonhando com teus beijos noite afora
A vida se transforma em poesia,
Minha alma embevecida fantasia
E num sublime sol já se decora,

Enquanto a maravilha assim demora,
O amor em explosão conduz e guia
Quem tanto em solidão se maldizia
Vivendo uma emoção que se assenhora

Tomando já de assalto uma alma triste,
E vendo que o futuro ainda existe
Resisto e luto agora pela vida

Há tanto desprezada e sem sentido,
O amor abrindo então olhar e ouvido
Percebe esta esperança ressurgida.

25154

Os céus já se tornando raras telas
Romântico caminho se desnuda
A lua entre as estrelas já se escuda
Imagens deslumbrantes, raras, belas.

E quando neste quadro tu revelas
A sorte extasiante, uma alma muda
Expressa no silêncio e se transmuda
Rompendo as mais terríveis, duras celas

E liberta caminha em desvario,
Audaciosamente eu desafio
Catervas que talvez ainda tema,

E rompo neste instante tais grilhões
Enquanto em luz sublime tu expões
As marcas indeléveis desta algema.

25153

Morena; amar eu quero em cada cena
Mal importando o texto e a\qualidade
Enquanto este cenário amor invade
Entrega se mostrando intensa e plena,

Assídua maravilha desfrutada
Delitos cometidos, despudores,
Dos sonhos e delírios multicores
Um brinde que se faz à nossa estada

Vetustas ilusões? Reais momentos
E neles com total satisfação
Estrelas no infinito mostrarão
Caminhos que impedindo sofrimentos

Demonstrem diademas e colares
No iluminado céu, nossos altares.

25152

Da sorte que bem perto já me acena
Enveredando cada amanhecer
E sorvo da alegria e do prazer
Vontade satisfeita, agora plena,

Acasos entre lances discordantes
Volúpias nos encantam e dominam,
E quando nossos corpos determinam
Roubamos das estrelas, diamantes

Redemoinhos tantos, carrosséis
Rondando, a bela lua avermelhada
Trilhamos com certeza a mesma estrada
Bebendo em rara fonte, puros méis,

Numa explosão de fogos multicores
Celebração ao deus que traz amores.

25151

Dançamos nossos corpos nesta busca
Insaciavelmente não descanso
Aonde se pudesse algum remanso
Vontade é bem maior e logo ofusca

Numa ânsia incontrolável e insensata
Voracidade assim à flor da pele,
Ao gozo incomparável me compele
Enquanto este delírio me arrebata,

Desvendo os teus segredos, vago estrelas
Adentro estes fantásticos recantos
E envolto pelas teias dos encantos,
Delícias que procuro ora contê-las

Seguindo cada passo que tu deixas,
Alheio às mais diversas, toscas queixas.

25150

Ensimesmando hermético e monástico
Não tendo uma resposta que inda possa
Além de se mostrar nefasta fossa
Resolvo me calar num ato drástico.

Espasmódico rito me inebria
Em solilóquio, às vezes eu me indago
Galgando em desespero um vão afago
Insólita e canalha fantasia,

Esboço reações que não virão,
E teimo em provocar os deuses falsos,
Os santos que conheço são descalços
De toda forma amarga de ambição.

Inconfundível traço de união
Levando ao descaminho ou salvação.

25149

Em simultâneos jogos, treva e luz
Ascendências diversas sobre mim,
Demônio disfarçado em querubim,
Reflexo que se inverte em contraluz,

No gozo pelo gozo se disfarça
Imagem distorcida de algum deus,
Depois se preparando um vil adeus
Somente aí percebo a torpe farsa,

Envolto pelas ébrias fantasias
Querência superando o bem querer,
Na angústia insaciável do poder
Satânicas figuras já desfias,

E delas bebo até que esteja farto,
Enquanto de algum Éden já me aparto.

25148

Conflitos entre um ente e sua essência
Diversas magnitudes, mesmo ser,
Na luta quase insana posso ver
A morte do que fora uma clemência,

E não posso chamar coincidência
Aquilo que talvez sem entender
Desfruta sempre fútil tal prazer
E dele, só por ele, a penitência.

Limite feito amor, paz e perdão,
Vitoriosas hordas não verão
Já que o prazer embota enquanto tento

Conciliar as luzes divergentes
Enquanto o paraíso tu desmentes
Afasta-te de tal discernimento.

25147

Vultos quase informes do passado,
Apóiam-se no umbral e vejo bem
Que quanto mais a noite desce vêm
Tecendo um quadro amargo e assombrado

Vencido pela insânia, nada levo
Senão uma incerteza fria e atroz,
Ao abafar assim a minha voz
Destroçando a esperança que inda cevo

Deixando esta carcaça sobre o solo,
E peremptoriamente nada resta
Imagem destruída e tão funesta
Enquanto inutilmente eu já me imolo

Nas ímpias profundezas de minha alma,
Um distorcido luar traz a calma.

25146

Beligerantes forças me entranhando
Vivendo sem saber qual melhor sorte
Se aquela que deveras me conforte
E torne o pensamento bem mais brando

Ou mesmo a que me expõe em carne viva
E traz a fome insana e transparente
Voracidade imensa, fúria ardente
Aonde quem tem não foge sobreviva

Às várias intempéries do caminho,
Audácia a cada passo, salto e luta
Um louco caminhante não reluta
Da morte inconseqüente me avizinho

E crio paradoxos e os sustento,
Indiferente ao medo e ao sofrimento.

25145

Ladeira aonde expresso queda e dor
Ao mesmo tempo leva ao mais sublime,
Por tanto que estimule ou mesmo estime
Na frágil consistência deste andor,

Arruinando enquanto fortifica
Matando devagar, traduz a cura,
Além ou bem aquém do que procura
Uma alma que deveras não se explica

Tomada pelo medo ou pelo anseio,
Escrava dos pudores ou prazeres
Enquanto não decifras teus quereres
Em gozos desprezíveis banqueteio

O que virá depois, nesta fornada;
A paz eterna, a fúria ou mesmo o nada?

25144

Simétricos caminhos, paralelos
Levando aos mais diversos descaminhos,
Aonde se fizessem toscos ninhos
Apenas disfarçando em tais alelos

Metades discordantes, mas iguais
Levando ao Paraíso ou ao Inferno,
E quando nas estradas eu me interno
Externo os meus desejos sensuais

Limites sempre tênues, liberdade
Fazendo o desfazer ou recriando
E sendo quase sempre manso e brando,
Ao mesmo tempo enquanto se degrade

A vida na total dicotomia
Prazer que glorifica se recria.

25143

Esta engrenagem tosca se destrói
E nada poderá restituir
Após a sede imensa e sem porvir
Invés de cultivar, o homem corrói

E bebe a podridão que agora espalha
Tornando nossos rios simples valas,
E quando se percebe em tiros, balas
Saudoso das adagas, da navalha,

Explodem o seu tosco semelhante
E pensa ser um deus, vil criatura,
Retrato distorcido da amargura
Um bípede canalha e mal pensante

Esgota-se em si mesmo enquanto traça;
Da criação divina, mera traça.

25142

Seguindo os rastros vários que deixaste
Na curta caminhada pela Terra
Minha alma maravilhas já descerra
E tem nesta visão raro contraste

Quem dera se soubéssemos trazer
Da bela teoria às nossas vidas
Em bases tão mordazes sendo urdidas
Mormente se entranhando no prazer

Talvez aqui pudesse ser edênico
Lugar onde existisse a liberdade
Na faceta real que não degrade
Um mundo em luzes fartas e ecumênico;

Porém prostituído o verme vaga,
Endêmico demônio, podre praga.

25141

Fatídico momento se aproxima
Deixando mil cadáveres no chão,
E quanto às tempestades, sobrarão
As sombras do que fora outrora estima,

A marca da pantera em cada face
Descubro minha pele e vejo o quanto
Tomado pelo horror e desencanto
Ainda prosseguindo em vão impasse

Adentro os meus demônios e os decoro
Com todos os meus erros e pecados,
Urdidos pensamentos, desmembrados
Canibalesco verme, eu me devoro

Não deixo nem sinal de uma existência
Há tanto desfraldando incoerência.

25141

Fatídico momento se aproxima
Deixando mil cadáveres no chão,
E quanto às tempestades, sobrarão
As sombras do que fora outrora estima,

A marca da pantera em cada face
Descubro minha pele e vejo o quanto
Tomado pelo horror e desencanto
Ainda prosseguindo em vão impasse

Adentro os meus demônios e os decoro
Com todos os meus erros e pecados,
Urdidos pensamentos, desmembrados
Canibalesco verme, eu me devoro

Não deixo nem sinal de uma existência
Há tanto desfraldando incoerência.

25140

Espíritos venais soltando as feras
Esgarçam a esperança mais sutil,
Aonde este demônio refletiu
Aborto sonegando as primaveras

Efervescentes noites de neon
Mendigos e vadias pelas ruas
Nas ruínas do passado continuas
Mantendo o descalabro em mesmo tom,

E quando vês a foto: alto relevo,
Esboças reações horrorizadas
Depois esqueces tudo nas baladas
E segue Satanás em doce enlevo,

Assim para a total putrefação
Humanidade segue, sem perdão.

25139

Espionando ao longe, um astro vê
A sórdida e terrível criatura
Que enquanto se destrói vaga e procura
Insana uma verdade; mas não crê

Aonde se pudesse ter a sorte
Nefastas imundícies se espalhando,
O vendaval inglório outrora brando
Traduz o irresistível dom da morte

Um títere somente desce o rio
Os capitães do mato ressurgidos
Das feras incrustadas os rugidos
A liberdade é um torpe desafio,

Impávido o cadáver de um senhor
Transforma a servidão em vil louvor.

25138

Usando uma lanterna em noite escura
Qual fosse algum filósofo de outrora,
Aonde em que barril a alma se ancora
Deixando resolvida esta procura,

Há tanto se repete e sem bravatas
Histórias conhecidas e constantes,
Aonde imaginara diamantes
Os sonhos se derramam em cascatas

Não sobra nem sequer as mãos de quem
Há tempos se fez símbolo e disfarça
Inevitavelmente exposta a farsa
O tempo jamais poupa, enfim, ninguém,

Onde beijara agora só escarro,
Um ídolo banal com pés de barro

25137

Aonde se pensara em luz sidérica
Apenas sombras foscas e neblinas
Enquanto te denigres me dominas
Em voz estridulosa quase histérica,

A força necessária mesmo homérica
Já não comporta formas cristalinas
E quando desgrenhada te alucinas
Vontade insuperável fria e feérica

Jamais resistiria aos dissabores
Que explanas e derramas onde fores
Tornando assim inóspito o viver,

Herméticas saídas, labirinto,
Há tanto o amor imenso segue extinto
Deixando como rastro um desprazer.

25136

De uma alma que se perde, sentinela
Tentando o refazer em nova história
O quanto se perdera na memória
Aos poucos insolente se revela,

Apáticos caminhos desvendados
Medonhas as quimeras, pesadelos
Meus dedos quase sempre ao percebê-los
Adentram paraísos destroçados

E vejo nesta herética figura
Retrato insofismável do que fora
Outrora alma nobre e promissora
E agora noutra face se afigura

Provando do veneno que destila
No inferno virtual, se esvai, se exila.

25135

Sidérica ilusão em fogo e chama
Adentro alabastrinos espetáculos
Aonde imaginara vãos tentáculos
Efervescência adentra e em fúria clama,

Harmônicas essências bom perfume,
Sulfídricos fantoches se esvanecem
Enquanto insofismáveis luzes tecem
Nos olhos mais satânicos, o ardume

E o vento promissor de um novo dia
Arranca das entranhas; vil Mefisto
E impávido ou mordaz, ainda insisto
Nesta insana batalha em fantasia.

Imagem que se inverte especular,
Sorriso demoníaco a brilhar.

25134

Na rara rutilância da esperança
Que após as desventuras inda brilha
Escolta quem caminha e da armadilha
Refugiando ao longe ora se lança

Preparam-se solares compaixões,
Mas quando se percebe em vãos esgares
O quanto desejavas transformares,
Ausência de alegria, pois repões

E nisto perpetua-se esta espera
Refeita num florir sempre abortado,
Aonde se queria já granado
Inútil florescer da primavera

Que embora seja bela trama o luto
Desfeito quando expõe um novo fruto.

25133

Se eu trago aqui estigmas vários
Da torpe confraria dos humanos,
A cada vez que vejo em desenganos
Percebo quão nefastos os corsários

Eternos sacripantas, vãos insetos
Inermes criaturas, quais helmintos
Nos olhos cabisbaixos seus instintos
Levando aos dissabores mais abjetos

Chupins que se revezam noutras cenas
Seres fantasmagóricos, venais
Entranham-se quais fossem vis chacais
Ou mesmo as histriônicas hienas

Assim em descaminhos decorara,
A humanidade, aos poucos destroçada.

25132

O próprio sofrimento nos ensina
Que a vida se cumprindo como um fardo
Impede a consciência de algum cardo
Negando dos prazeres fonte e mina,

Emana-se deveras cristalina
A voz deste cantor, sobejo bardo,
Mas quando em caminhada, eu me retardo
Paisagem decomposta me domina.

Num êxodo constante não percebes
Quaisquer transformações nas velhas sebes
E bebes poluída insensatez.

Num abrasivo solo incandescente
A cena modifica num instante
E tudo o que era sacro se desfez.

25131

Carrego no meu dorso o fardo imenso
De quem tentou tramar escapatórias
Em noites tão soturnas quão inglórias
Sem ter em minhas mãos, o branco lenço.

Se às vezes no passado ainda penso
As bocas esfaimadas das memórias
Rasgando os pavilhões, matam vitórias
E assim sem ter mais nada, sigo tenso.

E em tais vicissitudes desprazeres.
Aquém do que talvez ao recolheres
Ainda imaginaras ser possível

Beber alguma gota da querência
Que morrendo ao relento em indulgência
Demonstra quanta a vida é perecível.

25130

Ao colher as flores do canteiro
De uma existência espúria e mesmo vã
Sabendo que talvez noutra manhã
O encanto se demonstre derradeiro,

A vida se perdendo no cinzeiro,
Na poesia, ancoro o meu afã
Distando da verdade que malsã
Esboça este fantoche corriqueiro

Exploro os descaminhos que não sei
Tampouco penetrasse em minha vida,
Há tanto sem remédio e já perdida,
Somente a fantasia gera a grei

Aonde possa ter felicidade,
Ao largo do final que me degrade.

25129

Heterogêneos rumos pela vida
Por vezes contradizem o que somos,
E deles percebendo vários gomos
Ao mesmo tempo enquanto não decida

Escolhas são difíceis, eu entendo,
Mas nada que te impeça de pensar
Na morte ou na passagem a tornar
Uma existência como um mero adendo

E dele ser possível ganho ou dano,
Escusas desventuras, belos ritos,
Momentos de loucuras nos aflitos
Terrores pelos quais eu já me dano

Princípio ou mesmo fim, já não importa,
Certeza há muito tempo eu vejo morta.

25128

Diversidade espúria em tom amargo,
Difícil carregar pesada carga,
E quando a voz se cala ou mesmo embarga
Letárgico momento em desencargo,

Num aterrorizante descalabro
Fenecem esperanças, turva turba
Visão do meu passado me conturba
E as escotilhas todas, teimando abro.

Naufrágios e corsários, ritos, farsas
Esgotam-se emoções em luzes pálidas
Aonde se pensasse nas crisálidas
Metamorfoses toscas,vis e esparsas

Assíduas as procelas, derrocadas
Embarcações há tanto abandonadas.

25127

Na multiplicidade do sensório
Prazeres entre lutas e batalhas,
Nas mãos deste verdugo, tais navalhas
No olhar ensandecido, altar, velório.

Esgares entre fúteis gargalhadas,
Esmagam cada parte, pernas, braços,
E quanto mais apertam estes laços
Palavras vão surgindo embaralhadas,

Fraturas cervicais, a morte vem,
Minuto interminável, vã tortura,
E incrível que pareça, bebo a cura
Distingo entre os carrascos este alguém

Que ao escarrar no rosto condenado,
Expõe-se como fosse abençoado.

25126

Amargas e insensatas sensações
Sevícias entre gozos e promessas
E quando em tuas pernas tu tropeças
Cadáveres diversos já me expões

Jazigos da esperança em luz sombria
Arcanjos disfarçados em demônios
Afloram sem controle, meus hormônios
E orgástica loucura se desfia

Bacantes gargalhares dionísicos
Vorazes garatujas caricatas
E quando os nós mais firmes tu desatas
Hemoptises traduzem gozos tísicos

Apodrecendo em vida, assim me exponho,
Na derme decomposta, odor medonho.

25125

Monótono caminho para a morte
Percorro diariamente e não percebo,
Um ser idiota; eu não concebo
Além do que deveras me conforte

Esqueço entre as vielas cada parte
Do todo que se fez estupidez,
Imagem desvalida que se fez
Servindo tão somente de descarte

Argutas armadilhas, arapucas,
Os dias são venais e não perdoam
As horas sempre fúteis já se escoam,
Prazeres que de antanho tu caducas

Resíduos minerais, espectros ósmicos
Sonhando siderais castelos cósmicos.

25124

Fluindo entre meus dedos, o futuro
Que tantas vezes quis e não sabia
Morria no descrédito; agonia
Eflúvios do passado em ar escuro

Não quero mais sentir a mão pesada
Do escárnio que desfraldas ao me veres
Tampouco apodrecer nestes quereres
Aonde se traduz o eterno nada,

Intensas sensações de dor e medo
Aventa-se possível liberdade,
Mas quanto a vida nos degrade
À fúria do não ser calo e concedo

Um último momento de esperança
Que ao fogo dos incréus minha alma lança.

25123

Ferozes sacripantas vis beatos
Nefastas demoníacas figuras
Imiscuindo insanas quase obscuras
Profanam natureza em torpes atos,

E desta horda maldita já se emana
O fétido terror que agora embrenha
Uma alma sem pudor, tudo desdenha
E bebe desta lástima mundana

Uivando, uma alcatéia; escuto ao longe
Confrades da caterva que se expõe
E a morte insaciável decompõe
Sorriso de um falsário, quase um monge

No alforje carregando escalpes tantos,
Espalham no arrebol, vis desencantos.

25122

Amargas sensações se repetindo
Avesso à claridade em trevas sigo,
E faço do sepulcro meu abrigo
A névoa se transforma em bem infindo

Opacas maravilhas, lusco fusco
E os mochos entre tantos pirilampos
Abrindo em noite densa, novos campos
Espectros; fátuos fogos, ora busco

Chacais se aproximando, e da matilha
O bote se prepara e descarnado
Cadáver do meu sonho abandonado,
Fosforescente ao largo ainda brilha

Os ventos entre as árvores ululam
E as sombras dos meus erros; vãs, pululam.

25121

Assisto ao meu horrendo e terminal
Momento sobre a Terra; um vão planeta
Enquanto ao subterrâneo me arremeta
Nefasta maravilha ritual,

Velando o corpo inerte exposto às larvas
Que enfim irão fartar-se em tal festança
Deixando no passado uma esperança
Em meio às vagas trevas, toscas, parvas,

E neste funeral a despedida
Há tanto deseja por parentes,
E a fera gargalhando, expondo os dentes
Carcaça pouco a pouco apodrecida

Resume uma passagem leda e inglória
E esboço num esgar, fatal vitória.

25120

Da consciência humana; nada herdado
Que possa traduzir felicidade,
Enquanto a redenção ainda aguarde
Bebendo a podridão do antepassado,

Extraviando a sorte em jogatinas
Audazes, mas estúpidos caminhos,
Vinagre destruindo raros vinhos
As dores são eternas concubinas.

Insaciável ser, tosco glutão
Não vê que destroçando o seu porvir
Na fúria inconseqüente, destruir
Tramando apocalipses que virão

Vendendo a salvação por uns trocados
Dantescos caricatos destroçados.

25119

Antíteses se mostram: gozo e dor
A vida se alimenta de outra vida,
E quando se percebe apodrecida
Uma alma leva à treva, ou mesmo à flor,

Reabastecendo assim, o eterno ciclo
Satânica figura; uma deidade
Escorre sobre a Terra a humanidade
E nela novamente eu me reciclo

Sabendo que depois virá decerto
Um ser evoluído ou mesmo não,
E quando se fizer tal mutação
Quem sabe outro caminho sendo aberto

Deste primata bípede um adeus,
Imagem semelhança de outro Deus.

25118

Fluidificando o outrora quase sólido
Caminho mais audaz, porém perverso,
Eu sigo ensimesmado e assim imerso
Transformo o pensamento em louco bólido.

Insólitos desejos em neblinas,
Cadáveres dos sonhos insepultos
Vislumbro de soslaio toscos vultos
Enquanto mais distante te alucinas

E bebes desta ingrata tentação
Gerada em uterinas podridões
E delas os demônios que assim expões
Belas alegorias mostrarão,

Imagem sedutora e tão formosa,
Entranha-se deveras prazerosa.

25117

Um dínamo que move terras, mares
Esta esperança atroz nos devorando
E sabe destroçar, pois desde quando
Erguera nos desertos seus altares

Alimentando a fome insaciável
Da tosca criatura que se vende
Enquanto falsamente se arrepende
Tentando um céu distante, imaginável.

Atravessando assim em descaminhos
Os passos de um bendito Criador,
Aonde poderia crer no amor
Apenas espalhando seus espinhos,

Jardins que outrora foram metas belas
Utópicas veredas; vãs, revelas.

25116

Galgasse cordilheiras e veria
A Terra em plena paz, bela e singela,
Mas quando mais de perto se revela
A fera intolerável não sacia

Da própria espécie expondo uma sangria
Apodrecendo o verde desta tela,
Gerando em coisas fúteis, torpe cela
Num consumismo espúrio, fantasia.

E chutando o mendigo, a prostituta
A canalha se julga mais astuta,
E serve a Satanás, o deus hedônico,

E serva dos prazeres e delírios
Prepara a cada dia, seus martírios
Num mundo sem justiça e desarmônico.

25115

Do que será capaz a humanidade?
A torpe turba segue ao cadafalso
Gerado pelo próprio gozo falso
No escárnio e insensatez que tudo invade

Por mais que a cada dia se degrade
Não vê, corja imbecil, novo percalço
E segue este demônio e neste encalço
O nauseabundo odor mostra a verdade.

Acossando corsários siderais
Na fúria inesgotável, animais
Em total desvario negam luz.

E enquanto este cordeiro, eterno luto,
Bendito dentre todos, uno fruto
Lacrimejando exposto em fria cruz.

25114

Audazes os espectros dos alquímicos
Modernos caricatos, santos vãos,
Espalham pela Terra podres grãos
E seguem descaminhos, toscos, cínicos.

Seria na verdade até grotesca
Não fosse tão terrível pantomima
Que enquanto nos saqueia também prima
Pela voracidade gigantesca,

Já bastaria a Vós, querido, a Cruz,
Caterva imunda bebe todo o sangue
Até que este cadáver ora exangue
Com ossos já puídos, rotos, nus

Levante-se e feroz mostre outra face
E toda a humanidade, em paz, desgrace.

25113

A força de uma crença incontestável
Mantém superstições medonhas vivas,
Por mais que existam luzes cognitivas
Reproduz-se a figura detestável

Criada por astutos bandoleiros
Há tempos nos concílios e tratados,
Medonhos caricatos desgraçados
Vendendo falsos santos, corriqueiros,

Seria muitas vezes enfadonho
Não fosse tão cruel farsa canalha,
Enquanto o pobre Cristo em vão trabalha
Na viva consciência que ora exponho,

Os homens sem defesas andam nus
Expostos aos vorazes urubus.

25112

Fenômenos que outrora pareciam
Sinais de Deus ou mesmo dos demônios
Nas ânsias e delírios dos hormônios
Delitos e pecados propiciam,

Por vezes não sabemos explicar
E logo vem à tona outra crendice
A história tantas vezes contradisse
Loucuras, convulsões, treva ou altar

E assim entre fantasmas, santidades
Vivemos até hoje em ignorância
Terrível desvario ou discrepância
Contradições espúrias, novidades.

E a corja insaciável continua
Em cada templo, igreja até na rua.

25111

Contraídos, os músculos da face
Expõem estas verdades que inda oculto,
Satânico caminho, espúrio culto,
A cada novidade que desgrace

Momento quis pacífico, outro estorvo
Esgotos freqüentados com regalo,
E quando vejo a cena, nada falo,
Na fria expectativa, qual um corvo

Espero rapineiro, o fim de tudo,
E nos escombros fétidos mergulho,
Revolvo estas escórias, pedregulho,
Nos túneis entre corpos, não me iludo,

Por mais que a realidade se degrade
Encontro uma real felicidade.

25110

Percebo neste século nefasto
As nuvens que negrejam nossos dias,
Das brumas e neblinas percebias
As sombras do futuro e se me afasto

Encontro a cada infausto outro motivo
Fomentando o terrível pessimismo
Espero o derradeiro cataclismo,
E enquanto isto não vem, eu sobrevivo.

Ascendo aos meus infernos, paz e guerra,
Soturnas paisagens, podres lagos,
Aonde imaginara alguns afagos
O que se fez carícia ora se encerra

Restando tão somente este abismal
Caminho para o rito terminal.

25109

Gargalha em ironia uma alma insana
Bebendo destes charcos, me alimento
E quanto mais audaz; ledo tormento,
Verdade incontestável nos engana,

Esgarçando os meus pés em espinheiros,
Pereço a cada dia em que me ausento
Deste vigor terrível, violento,
Momentos que bem sei são derradeiros,

Dilacerada há tanto uma esperança
Numa espectral imagem, decomposta,
A carne se desfaz em pasta exposta
E ao tétrico vazio já me lança

Amputo cada sonho, demoníaco
No olhar envilecido de um maníaco.

25108

Na milenária dor hereditária
Carrego em convulsões os meus demônios,
Quais fossem realmente patrimônios
Entranhados em mim qual alimária

Vestindo esta macabra fantasia
Edênicos caminhos desconheço,
E quando me perguntam o endereço
Satânica resposta já se urdia

Surgindo dos meus ermos, fartas brumas
Rendendo as homenagens a Satã
A vida se resume neste afã
Deveras, companheira, ora te esfumas

E seguimos nos pântanos o caminho
Enquanto nos escombros eu me aninho.

25107

No subsolo encontrando as minhas luzes
Servindo de repasto a tais necrófagos
Durante a minha vida em vãos sarcófagos
Imagem que deveras reproduzes

Em celerados rumos, desconexo
Vagando entre as penumbras, solidão,
Somente os desvarios mostrarão
Além deste prazer de sangue e sexo.

Esgoto-me nas trevas e neblinas
Medonhas caricatas criaturas,
E quando embasbaca tu procuras
Motivos pelos quais já te alucinas

Encontras no meu rosto o especular
Delírio que ora entranhas sem pensar.

25106

Com avidez rasgando a minha pele
As garras entranhando, vão profundas
Sorvendo do veneno que me inundas,
Satânico caminho me compele,

E sei que talvez possa ser feliz
Bebendo deste sangue ensandecido,
E quando meus fantasmas eu agrido
A realidade invade e contradiz

Espúrias fantasias vãs quimeras,
As ondas deste mar tão poluído
E a fúria insaciável da libido,
Afloram-se famintas, loucas feras

E sei que assim encontro algum motivo
Que possa me manter; ainda, vivo.

25105

Bravias tempestades, vendavais
Explodem-se em pedaços, restos vários,
Aonde houvera gritos temerários
As garras; em silêncios, entranhais

E expondo com terror esta ossatura
Entregue aos vossos torpes desatinos
Olhares piedosos e assassinos,
Um ar mais respirável se procura

Não tendo mais saída; sigo entregue
E tudo em tal volúpia; ensandecida
Vós devorais o que restou de vida
Demônio in saciável não sossegue

Enquanto ainda houver respiração,
O resto; as rapineiras findarão.

25104

Ardendo em febre e quase entorpecido,
Heréticos demônios me acompanham
Espaços, pouco a pouco, vêm e ganham
Do corpo há muito tempo esvanecido,

Empedernidas rotas, voz sombria
Arquétipos de sátiros fantasmas
As horas em silêncio, vagas, pasmas,
No olhar enlouquecido, uma agonia.

Olhando para trás percebo a causa
Das pútridas veredas que ora entranho,
Um ser se decompondo, vão e estranho,
Inútil meu lamento, peço pausa

Mas tudo se acelera e dos destroços
Só restarão cabelos, sombras e ossos.

25103

Erguendo o meu olhar em ânsias várias
Esquivo-me de espectros do passado,
Encontro o meu cadáver; transtornado
Visões tão funestas, temerárias

Demônios me rondando, sombras, trevas
E esta figura insólita sorri,
Percebo que este eflúvio vem de ti
Enquanto uma alma espúria; ao largo levas

Eviscerado; aguardo o meu final,
Agônico e jogado às rapineiras
Nas sombras; com sarcasmo tu te esgueiras
E o corpo decomposto, cheira mal,

Escombros do que fui; agora ao vê-los
Adentro; sepulcral, meus pesadelos.