segunda-feira, março 24, 2008

EU TE AMO! COROA DE SONETOS 152

2115

Colhendo o que plantei em minha vida,

Canteiros e pomares da existência

Embora tantas vezes sem saída

Do nosso amor jamais terei ciência

Velhos farrapos poderão dizer

O que busquei e depois da chuva forte

Encontrarei talvez algum prazer

Ao superar a luta sem suporte

Mas tenho uma vontade que não cessa

De ter além dos sonhos, o carinho

Que tantas vezes fora só promessa

Fazendo no meu peito burburinho.

Enquanto houver forças irei assim,

Tentando cevar flores no jardim.

2116

Tentando cevar flores no jardim

Durante a minha vida eu me perdi,

O tempo vai chegando quase ao fim,

Saudades de viver o amor em ti.

Melancolia chega e trama o rumo

Distante destes braços sigo só.

Um solitário apenas, eu resumo

Meu verso destruído rompe o nó.

Desatando as correntes, não terei

Sequer um caminhar mais solidário

O passo se desvia em outra grei

A cada amanhecer vou temerário.

Estúpida canção que ainda escuto

Tornando o coração deveras bruto...

2117

Tornando o coração deveras bruto,

Distância de teus olhos, treva imensa.

Quem dera se pudesse ainda, astuto

Saber depois de tudo, a recompensa.

Contudo eu não terei outro caminho

Senão tentar a sorte em nova senda.

A mão que se profana em ledo espinho

Segredo feito em sonhos não desvenda

Atento a tais sinais eu jamais pude

Beber desta alegria imaginária

Secando em voz solene o meu açude

A morte se transforma em adversária

Saudades de teus lábios companheira,

Espalho o sentimento em vã esteira...

2118

Espalho o sentimento em vã esteira

O amor que um dia tive se evapora

Fazendo da emoção frágil bandeira

A vida se perdendo não demora.

A cada novo tempo de sonhar

Apenas derramando alguma estrela

Entendo ser possível caminhar,

Porém a solidão em mim se atrela

E vaga por meu corpo, solta a voz,

Amargas ilusões vão me tomando

O gosto desta boca é tão atroz,

Meus castelos de areia desabando

O verso refletindo esta agonia

Esgota em minha vida, a poesia.

2119

Esgota em minha vida, a poesia,

E nada do que eu quis poderei ter.

A mão que me açoitava noite e dia

Agora em minha morte vê prazer.

A noite anunciando em madrugada

A mesma tempestade que nos toca,

Bandeira da esperança desfraldada

Aos poucos se rompendo me desloca

Levando para o nunca mais terei

Deixando o verso triste e desvalido,

Quem dera, mas jamais encontrarei

No que me resta agora algum sentido.

Um câncer em metástases diversas

Tornando as alegrias mais dispersas...

2120

Tornando as alegrias mais dispersas,

Tristeza não se nega, volta à tona.

Escuto em entrelinhas as conversas

A fantasia aos poucos me abandona.

Sonífera ilusão não mais se dá,

Ávida de alegria a juventude

Esquece que outro dia nascerá

Jogando fora assim sua saúde.

Saúvas carcomendo o que restou

De um homem que sonhara ser feliz.

Sem ter nenhum sentido não mais vou

Buscar aquela estrela que eu bem quis

Erguendo ao horizonte o meu olhar

O temporal; percebo, vai chegar...

2121

O temporal; percebo, vai chegar

Nublando uma esperança doidivanas

Vontade de partir e de buscar

Paisagens que se formam soberanas.

Mas nada do que eu sonho realiza

Imagens são miragens, nada mais.

E mesmo que viesse calma brisa

Meus olhos não verão a luz jamais.

Resíduos do que fomos roubam cena

Escombros pesam sempre em minhas costas.

Nem mesmo uma esperança a paz ordena,

Em cicatrizes diversas, velhas crostas.

A fonte se perdendo em seca cala

A morte pouco a pouco toma a sala..

2122

A morte pouco a pouco toma a sala,

Os ratos passeando no porão.

Quem dera a fogo, a ferro, cruz e bala

Mas não vejo no fundo, solução.

Eu teimo em perceber o que não há

Retratos em farrapos dizem nada.

O quanto eu procurei aqui ou lá,

Apenas uma estrada destroçada.

Mergulho no oceano de nós dois

Abismos encontrando, resta o frio...

No quanto não concebo mais depois

Entendo que estarei sempre vazio.

E crio mil fantasmas; putrefeito

Sentimento invadindo um velho peito...

2123

Sentimento invadindo um velho peito

Reconta cada passo nesta andança

A gente vai levando desse jeito

Tentando restaurar uma esperança.

Estrelas que perdi jamais teria

Não fosse o teu carinho, mas não quero

Apenas reviver o antigo dia

Na fantasia agora eu me tempero

Morena fez a festa e foi embora

Metade carregou junto consigo

A sorte há tanto tempo não demora

Desnuda o que pensara ser abrigo

O vento que me ronda da incerteza

Expondo este vazio em minha mesa...

2124

Expondo este vazio em minha mesa

Eu sinto o gosto amargo do não ser.

A sorte deste sonho que despreza

Permite sem regalos de prazer

Que a gente não se queira nunca mais,

A sorte se desbota em cada esquina

Madrugadas em sonhos magistrais

Mergulham no teu colo de menina;

Insisto, mas caminhos eu não vejo,

Apenas pedregulhos disfarçados.

A fonte da alegria e do desejo

Não vale mais que fósforos queimados.

Aguardo algum sinal e nada vindo

Mesmo refrão insisto, repetindo...

2125

Mesmo refrão insisto, repetindo

Amores de fantasmas e odaliscas

O quanto percebera claro e lindo

Somaram com vazios, frias iscas.

Explicitando assim o que não via

Eu teimo em transformar qual alquimista

O nada em tentativa de alegria,

Porém a solidão jamais despista

Repondo cada gota deste fel

Pedaços do que fomos se esgarçando.

A sorte transtornando o meu papel,

Queimando uma ilusão em fogo brando.

Apago o que sobrou de uma esperança

Inválida expressão nega a fiança...

2126

Inválida expressão nega a fiança

E molda este cenário em pleno horror.

Aonde procurei a temperança

O vento se fez avassalador.

Atônica emoção ainda insiste

Crisântemos; aborta em meu jardim,

Quem dera se isso fosse troça e chiste,

Ainda poderia crer no fim.

À caça em que se deu fria pantera

Gerando a sobremesa da tristeza

Traduz a gargalhada da quimera,

Repondo meus fantasmas nessa mesa.

Habito estas masmorras, mas resisto,

Do sonho feito amor jamais desisto...

2127

Do sonho feito amor jamais desisto

Aguardo algum capítulo que traga

Quem sabe este sorriso, um falso visto

Calando a solidão temível draga.

A voz que se embargando nada diz,

O templo que buscara se esfacela,

Um riso que trouxesse outro matiz

Moldura uma esperança noutra cela.

Selando o meu corcel, o pensamento,

Viajo em Eldorados tão distantes.

O gozo que se mostra num momento

Em lábios e carinhos inconstantes.

No afã de ser feliz, eu me perdi,

Apenas solidão reconheci...

2128

Apenas solidão reconheci

Depois de tanto tempo em vã procura.

O quanto desejei e nada vi

Traduz toda agonia, a noite escura.

O som de uma guitarra dissonante

Tocando bem no fundo qual lamento

Trazendo tanto inferno ao mesmo instante

Sangrando num terrível sofrimento

Legado que carrego no meu peito,

Vestígios das estrelas nos meus pés

Queimando feito lava, contrafeito

Revivo novamente estas galés.

A sorte que hoje trago é merecida,

Colhendo o que plantei em minha vida.

EU TE AMO! COROA DE SONETOS 151

2101

E o dia com certeza, iluminado

Tramando formas belas, raras, claras

Um sonho que se faz cristalizado

Deidades entre nuvens, vãs, preclaras.

Delírios entre lumes, vaporosos,

Belezas entre tantas, as extremas,

Olhares que se entregam, fabulosos,

Esquecem nas paixões, grilhões, algemas...

Estralas vagam soltas, cristalinas,

Constelares momentos em perfume

Clareando por sobre estas neblinas

Amor imensidade se resume.

Visões inestimáveis mar sereno.

Vagando pelo espaço, ledo e pleno...

2102

Vagando pelo espaço, ledo e pleno

Diáfanas imagens continuam

Volúpia se transforma em bom veneno,

Os olhos entre névoas já flutuam.

Mistérios e delírios, vastidão...

Dispersos infinitos que se tocam,

Amor ao se entregar, diapasão,

Os rios, nossos mares, desembocam...

A poesia em versos multiformes

Esgueira entre as pedras do caminho,

Os dias solitários, vãos, disformes,

Apenas rememoram cada espinho.

Jamais um sentimento atroz e mórbido

Retorna em seu disfarce vil e sórdido...

2103

Retorna em seu disfarce vil e sórdido,

Saudade com seus polens tão funestos.

Não quero mais o riso falso e sórdido

Apenas da ilusão, dormência em gestos.

Nas naves dos meus sonhos, catedrais,

Recônditos diversos que trafego,

Amor vai se afastando deste cais

Negando em minha vida algum apego.

Os astros derramando falsos brilhos,

Diamantes esquecidos nas lapelas,

Os olhos sem destinos, andarilhos,

Dos barcos que sonhei, procuro as velas.

E nada se mostrando em luz cadente

Saudade me tomando, tolamente...

2104

Saudade me tomando, tolamente

Negando as mais sutis delicadezas,

O fim a cada curva se pressente

Etéreas emoções são fortalezas.

Cristais que esparramaste em áureos sonhos

Apenas falsos vidros se tornaram.

Olhares transtornantes e bisonhos,

Eflúvios nauseabundos derramaram.

Aonde eu procurara qualquer graça,

Turbilhões em falsas garatujas

Tomando em seus tentáculos a praça

As sanhas antes flóreas, hoje sujas

Chagásica manhã dor em tropel,

Lembranças desenhando um negro céu...

2105

Lembranças desenhando um negro céu

Legado ao sofrimento não mais creio

Que ainda poderei ter o corcel

Fazendo da esperança algum recreio.

Nevrálgica emoção se desbotando

Amor já sonegando este himeneu

Estrelas fugidias, falso bando,

O céu em brilhos fartos se perdeu.

Quimérica ilusão se quis tesouro,

Fatídica saudade não se aparta,

Das ânsias e desejos frágil ouro

Sem trunfos, desconhece qualquer carta.

O quanto se quisera mais gentil,

O sonho destruindo este perfil...

2106

O sonho destruindo este perfil

Sonega qualquer porto, afunda o barco.

Sorriso que inda estampo de imbecil

Aos poucos no vazio eu desembarco.

Cortejo de fantasmas que inda afague

Aladas fantasias, turbilhão.

Jocosa maravilha, simples blague,

Apenas resultando em negação.

Patranhas da esperança, duro chiste,

Cabalístico sonho tão fortuito

Nos braços da saudade ainda insiste,

Porém a vida esconde em falso intuito

O que o amor em êxtases dizia,

Escorre pelas mãos, hemorragia...

2107

Escorre pelas mãos, hemorragia

Sidéreas ilusões em fatos frágeis

Olhares que talvez em teimosia

Persistem amplidões, mas não são ágeis...

Vestindo uma lembrança solitária

Anéis em jóias falsas decorando,

A mão que se tentara solidária

Aos poucos sem segredos, vai sangrando.

Além do que eu sonhara, nada existe

Somente o riso inerte e tão sarcástico

Na cáustica ilusão caminho triste

Silêncio sepulcral quase monástico.

Orgástica manhã nunca mais veio,

Saudade me tomando, sem receio...

2108

Saudade me tomando, sem receio

Estende uma esperança no varal,

Depois de me perder de novo creio

Guardando minhas cartas pro final.

Não vejo outro remédio, sendo assim,

Remediando eu busco algum engodo,

Embora já perceba ter o fim,

A pedra de meus sonhos traz o lado.

A vida em avidez se repercute

No vago quase nada que me dás.

A voz que em teimosia não se escute

Sonega, no final descanso e paz.

Saudade, velha cena, falsa atriz,

Apenas tão somente, meretriz...

2109

Apenas tão somente, meretriz,

Metastática luz que assim falseia,

O quanto de verdade não me diz

Adentra velozmente em minha veia.

Um ópio entorpecendo os meus sentidos,

A gana de viver se sobrepõe

Olhares e prazeres mal fingidos,

O riso em ironias contrapõe.

Palavras soltas, ventos sem bonança

Estímulos diversos nada dizem.

Apenas nos marasmos da esperança

Os dedos que se querem se deslizem.

Coletando os meus pedaços pelas ruas,

Belezas enlatadas, seminuas...

2110

Belezas enlatadas, seminuas,

Conectam os seus fios, eletrizam.

Enquanto neste palcos não atuas

Estrelas no meu peito aromatizam.

Eu quis o que talvez fosse a verdade,

Porém a gargalhada denuncia.

O tempo transcorrendo, ansiedade

Prenunciando o fim da fantasia.

A boca desprendendo a labareda

Vulcânica mulher se fez canina

Por mais que uma alegria me conceda,

Vontade de viver não determina.

Quem dera se eu bebesse o teu carisma,

Minha alma bar em bar, de noite cisma...

2111

Minha alma bar em bar, de noite cisma

Jamais conseguirei algum espelho,

Olhar que se perdendo neste prisma

Apenas refletindo o que avermelho.

Reveses conhecidos, eremitas,

Palavras sem sentido, gratuidade

Os olhos procurando em velhas criptas

Encontram tão somente a falsidade.

Amor que enternecera já perece

Sem prece sem recado ou oração.

A mão que num pecado se oferece

Tecendo no final a negação

Esfacelada teia onde te vi,

Há tempos, sem remendos me perdi.

2112

Há tempos, sem remendos me perdi

Na colcha de retalhos da esperança;

O que buscara sempre vejo aqui

Rondando minha noite em temperança

Pequinês de minha alma traduzida

Na foto que esquecemos na parede.

Após tentar salvar a minha vida

A morte se anuncia em tanta sede.

Mecânicas diversas, erros tantos,

Amor é sempre um jogo, disso eu sei.

Peão se suicida em desencantos

Tentando proteger rainha e rei.

Na boca da morena insensatez,

No tabuleiro a dama de xadrez...

2113

No tabuleiro a dama de xadrez

Tentando ser rainha, mente a sorte

O quanto eu te desejo e não se fez

Pedaço em descaminho segue a morte.

Calando esta carranca que carrego

Cruzando os oceanos, sem destino.

O amor que deixa todo mundo cego

Sequer as suas rédeas eu domino.

Pária sentimento que em discórdia

Anota meus engodos, traz o nada.

Aonde a vida fora monocórdia

Manhã morrendo assim, abandonada.

Eu quis o teu retrato nada veio,

Sobrando sem perdão, velho receio...

2114

Sobrando sem perdão, velho receio

Despisto cada rastro que eu deixei,

Dizendo na verdade por que veio,

Amor vai destroçando o que cevei.

O pântano que trago dentro da alma

Em calafrios mostra esta ironia.

Apenas o vazio inda me acalma

Tentando traduzir o que eu queria.

Não posso mais seguir cada pegada

Deixada pelo amor, inferno em vida.

O que restou de mim, não me diz nada

Estrela em decadência, distraída.

Terei depois da chuva, o mesmo prado

E o dia com certeza, iluminado.

EU TE AMO! COROA DE SONETOS 150

2087

O céu vai renovando o seu matiz

Mudando a direção de velhos ventos,

Agora um velho quer ser aprendiz

E muda sem saber os sentimentos.

Prazeres são momentos, nada mais

Olhares vão vazios pelas ruas.

Meus gozos são moleques canibais

Fotografias e cenários, divas nuas.

As mesmas que se vendem por trocados,

Ou mesmo por milhões, não muda nada.

Internteticamente meus enfados

Decifram esta história mal traçada.

Num léxico diverso, demorou,

O ferro na boneca naufragou...

2088

O ferro na boneca naufragou,

O beijo na verdade foi à toa.

O quanto meu desejo desejou

Ainda refletindo não ressoa.

Mineiro quando vê de perto o mar

Esquece da lagoa, num segundo.

Vontade de em teus braços mergulhar,

Porém o coração é vagabundo...

Um troço que destroça o tal do amor,

Eu truce uma esperança que trucida.

Vem logo desfrutar desse calor

Que vale, com certeza, toda a vida.

“ Um bolo de fubá, barriga d’água”

Faz tempo que não vejo alguma anágua...

2089

Faz tempo que não vejo alguma anágua,

Também não reconheço um galocha

A fossa traduzia alguma mágoa

A rosa que eu pensei não desabrocha

Cabrocha? Foi embora e não voltou.

Amores virtuais são um barato.

O beijo numa tela se trocou

Paixão se traduzindo em um retrato.

Canastras, canastrões são iguarias

Epístolas, pistolas dão recado.

Vernáculos diversos, novos dias

O resto vai ficando assim de lado.

O dia não permite mais estrelas,

Tua nudez, em vídeos me revelas...

2090

Tua nudez, em vídeos me revelas

Deliciando assim deste cenário.

Mergulho em fantasia tantas telas

Sem medo, sem pudores, temerário...

Às vezes sonegando alguma imagem

O pensamento alçando outro momento,

Precede com certeza uma miragem,

O fogo consumindo calmo e lento.

Mas nada do que fomos, realidade,

Apenas um segundo em frágil troca,

Amor que traduzindo liberdade

Em falsas emoções já se reboca.

Tentando ser feliz de qualquer jeito,

Eu durmo em fantasia, insatisfeito...

2091

Eu durmo em fantasia, insatisfeito

Acordo em solidão, fazer o quê?

Procuro teu fantasma quando deito

Apenas o vazio é que se vê!

Macabras esperanças sem juízo

Espectadoras frágeis da ilusão

Pressentem um fantástico sorriso

Encontram neste nada a solução.

Assíduas sementes que espalhaste

Decerto não terão bom resultado

A foto prenuncia algum desgaste

O tempo sem amor é desprezado.

Bailando a noite inteira em minha cama,

Que faço se não tenho, acesa a chama?

2092

Que faço se não tenho, acesa a chama?

Não posso desdizer o que sonhei,

Apenas não desvendo a nossa trama,

Nem quero a fantasia como lei.

Metáforas à parte estou cansado

De tanto procurar o que não vem,

O bonde dos meus sonhos, atrasado

Durante muito tempo perco o trem.

Morena que encontrei no Tororó

Menina que dançava esta ciranda

Deixando o coração vazio e só

Saudade do que fomos já desanda.

E nada do que eu cante mais encanta

Silenciando assim minha garganta...

2093

Silenciando assim minha garganta

Eu tento desvendar algum mistério

Mas nada do que tento se adianta

A vida não permite mais critério.

Se eu sério não seria o que persigo,

Se eu riso não queria teus ouvidos.

O piso na verdade é bem antigo

Os ventos seguem sempre desvalidos.

Oráculos mentiam sobressaltos

As sanhas foram sempre mentirosas.

Não posso superar velhos ressaltos

Espinhos valorando velhas rosas.

Tentáculos fazendo circulares

Sorrisos transformados em esgares.

2094

Sorrisos transformados em esgares

Desesperança toma esta paisagem

Por onde descaminhos procurares

Talvez ainda veja outras imagens.

Amor em fim? Mentiras deslavadas.

Mas teimo em ser hipócrita, um falsário.

Anjos da guarda, arcanjos, gnomos, fadas

O lucro com certeza é solitário.

Mecanismos diversos comerciam

O que pensara ser doce farnel,

Estrelas alugadas propiciam

Vendetas de melados feitos mel.

Um coração latino americano

Ingênuo, vai entrando pelo cano...

2095

Ingênuo, vai entrando pelo cano

Aquele que quisera algum augúrio

Nas coxas da morena o desengano

Mostrado num sorriso quase espúrio.

Cartadas, jogatinas, o poder

Transforma qualquer ser em mandatário.

A cafetina passa agora a ter

Toda atenção, tomando este cenário...

Amante desnudada na revista

É como bomba atômica. Decerto

Não há, eis a verdade quem resista

Ao ver o paraíso assim aberto

Vendido por milhares de reais

Em poses tão gentis e sensuais...

2096

Em poses tão gentis e sensuais

A doce transparência traz aos olhos

Os seios que decerto magistrais

Recebem silicone em flor, aos molhos...

Milagres da informática, eu bem sei,

Transformam qualquer forma em perfeição.

Qualquer pilantra agora vira rei

Safadeza virando o ganha pão.

A boçal que bigbroda em belas pernas

Paparozeada num estúdio

Escondendo sutis suas cavernas

Expressa sem temor e sem repúdio

O que nas falsas cenas se recria

Gerando tão somente a fantasia...

2097

Gerando tão somente a fantasia

Adendos mais diversos eu percebo,

Do quanto minha voz já se esvazia

Do vago de teus olhos inda bebo.

Melancolia vive em cada verso

Legado com sarcasmo que inda trago

De tudo o que sonhei não tendo um terço

Aceito, mesmo à prazo, algum afago.

Olhar que no passado ainda cravo,

Não vê sequer pegadas, mesmo assim

O mar que se fizera outrora bravo

Secando não diz nada para mim.

Nos seios da montanha, dorme a lua

Teus seios, minha cama, deusa nua...

2098

Teus seios, minha cama, deusa nua

Apronta maravilhas num olhar.

Enquanto a nossa festa continua

A vida se entregando devagar.

Assíduos sentimentos nos tocando

Melífera expressão de fogo abrasa

Paisagem com delírios retocando

Mudando a velha imagem desta casa.

Beber de teus desejos cada favo

Entoando palavras mais gentis.

Teu corpo em prazeres eu desbravo

Querendo novamente, eterno bis.

O quanto toda noite amor eu vejo

Nas ancas da morena, esse molejo...

2099

Nas ancas da morena, esse molejo

Clamando para a festa que virá

O quanto desfrutando do desejo

Pretendo sempre mais e quero já.

Na boca da sereia algum sorriso

Cerumens sonegando em audição

Encanto deste canto em paraíso

Juízo, na verdade não sei não.

Voando libertário, o pensamento,

Estanca esta sangria diz amor

Placenta não sustenta esse rebento

Desejo não traduz farto vigor.

E mecanicamente amor se faz.

Mentira deslavada aguarda a paz...

2100

Mentira deslavada aguarda a paz

Mudando a direção de cada vento.

O tempo na verdade não mais traz

Senão o que sonega o sentimento.

Assim em barco frágil inda persisto

Sem cais ou porto sigo timoneiro.

Apenas no vazio que eu conquisto

Uma expressão correta diz cinzeiro.

Teimoso da esperança, eu não me afasto

E deixo que ela volte toda noite.

Embora o coração se mostre gasto,

Na boca da alegria, um velho açoite.

E mesmo sem viver o bem que quis,

O céu vai renovando o seu matiz.

EU TE AMO! COROA DE SONETOS 149

2073

A sorte me acompanha lado a lado.

Às vezes benfazeja. Outras nem tanto.

Avança entre verbenas, rosa e cardo

Trazendo fantasia ou desencanto

Na multifacetária confluência

Metamorfose vária; sigo em frente

Do prêmio concebendo a penitência

Detalhes disfarçando o continente.

Felicidade trama o desengano

A luz prenunciando a treva imensa.

Entrando tantas vezes pelo cano

Recebo do vazio, a recompensa.

Mas vale; com certeza, toda a luta

A glória que em vitória nos enluta...

2074

A glória que em vitória nos enluta

Transformações diversas, momentâneas

A voz que em tempestades não se escuta

Imagens tantas vezes instantâneas.

A cura prometida remedia,

Deixando por seqüela a solidão.

A noite tropical gelada e fria

No olhar de quem amei; a decepção.

Metades inexatas da maçã

Negando o paraíso que eu buscava,

Eclipse escurecendo uma manhã

A neve transtornando toma a lava.

Antíteses perfeitas, gozo e dor,

Olhar em calafrios, puro ardor...

2075

Olhar em calafrios, puro ardor;

Vontade que não cessa; correnteza.

O fogo da paixão abrasador,

Toda a razão, decerto se despreza.

Incêndios redentores, morte à vista

De um jeito mais sutil me escravizando

Enquanto a liberdade já se avista

Amor vai pouco a pouco devorando.

Não deixa sobrar nada. Nem resquícios.

Jogando contra as pedras, fortalece,

Mergulho dos diversos precipícios,

Nem mesmo ao que pretendo, ela obedece.

Paixão inebriante perde o rumo.

Num gozo sem igual; eu me consumo...

2076

Num gozo sem igual; eu me consumo

Tornando os meus sentidos mais sensíveis

Bebendo de teu corpo todo o sumo

Compartilhando sonhos invencíveis.

Vestígios de mim mesmo; encontro em ti

Pegadas espalhadas neste porto.

No veio de teus braços me perdi

Ao nosso amanhecer eu me reporto

E faço deste mote o meu cantar.

Tu trazes com firmeza, égide, escudo.

Sem fronteiras, teus mares navegar

Mergulho delicia e vou com tudo.

Ao destemer enganos me liberto,

Contigo o céu jamais nasce encoberto...

2077

Contigo o céu jamais nasce encoberto

Na clara expectativa demonstrada

Por vezes solidão eu já deserto

E vejo algum sentido nesta estrada.

Fecundidade que trará colheita

Frutificando qualidade rara

Ao mesmo tempo em que comigo deita

E constelar, maravilhosa ampara

Bailando sobre os sonhos, valsa e festa.

Jazigos de nós mesmos esquecidos

Jogados numa senda que funesta

Um dia retocou nossos sentidos.

Porém no limiar da fantasia

Cenário mais sublime, amor recria.

2078

Cenário mais sublime, amor recria,

Traduzido no olhar desta sirena

Vestindo em meu cantar pura alegria

Tornando a minha noite mais amena.

Quem dera se eu pudesse, num momento,

Beber de tua boca méis tão raros,

Teus seios, teus carinhos, meu ungüento

Minutos tão gostosos e preclaros.

Roçando a tua pele, mansamente

Sentindo os teus cabelos me tocando,

Neste vôo libertário num repente

O amor que a gente faz se derramando,

Beijar teu corpo inteiro, ser só teu,

Num mundo que o desejo concebeu...

2079

Num mundo que o desejo concebeu

Eu sigo cada passo que tu deixas

Adentro este infinito teu e meu,

Esqueço que tivera, outrora, queixas

A gueixa amorenada Diva bela,

Suaves transparências, fogaréus,

Caminhos delicados que revela

Permitem que se toquem sonhos, céus...

Tua presença aqui, reveladora

Tornando cada passo mais audaz,

Imagem fartas vezes redentora

Um bem insuperável já me traz.

E assim, dois viajantes do infinito

Fazendo da alegria, o mesmo rito...

2080

Fazendo da alegria, o mesmo rito

Seguimos pela vida, companheiros.

Da força e da frieza do granito

A mansidão sublime dos ribeiros.

No quanto somos livres e cativos,

O nosso passo é firme, disso eu sei.

Olhares mais sublimes, sempre altivos

Trazendo toda a glória que sonhei.

Eu quero estar contigo a vida inteira

Assim não temerei qualquer espinho,

Sabendo deste amor, nossa bandeira

Jamais me sentirei ledo e sozinho.

A cada novo dia esta certeza,

Um gozo que se quer e tanto preza...

2081

Um gozo que se quer e tanto preza

Maravilhosamente moldurado

Evita em meus caminhos a surpresa.

A vida se passando com bom grado.

Assim durante um tempo, imaginei

Que nada impediria a caminhada.

Porém na tempestade eu mergulhei

Bonança resultou em simples nada.

Mortalha que carrego no meu peito,

Cadáver insepulto em ilusões

A morte se aproxima do meu leito

Trazendo tão somente negações...

As bodas que eu sonhara ledas festas

Infiltração tomando várias frestas...

2082

Infiltração tomando várias frestas,

A vida desabando pouco a pouco.

As noites que eu sonhara são funestas

Meu verso se esvazia, frágil, louco.

Quem um dia pensara ser feliz

Desmoronando sabe que não tinha

Senão uma ilusão que por um triz

Pensei durante a vida ser só minha.

A barca dos meus risos, naufragando

Distante do que quis ancoradouro,

O gesto carinhoso sem ter quando

Esconde noutras ilhas o tesouro.

Assim o quanto que pensei e não havia

Simplesmente falsária fantasia...

2083

Simplesmente falsária fantasia,

Mentiras que eu criei doce ilusão...

Um pássaro morrente em agonia

Não sabe conhecer arribação.

A morte com sorrisos mais gentis,

Espalha seus tentáculos vorazes.

Meu céu amanhecendo sempre gris

As bocas que se mordem quais tenazes.

Abrindo uma janela à esperança,

Teimosa mesmo frágil, vem sutil

E quando em tanto engodo ela me alcança

Espalha uma mentira amara e vil.

Quem dera se eu pudesse. Ah! Quem me dera

Ver renascer enfim a primavera...

2084

Ver renascer enfim a primavera

Um sonho tão distante de meus olhos.

A vida que em tristezas se tempera

Espalha tão somente estes abrolhos...

Não deixa que se veja um claro dia

Imerso entre estas nuvens tão espessas,

O tempo que em delírios se dizia

Deixando bem distante estas promessas.

Irônicas palavras de consolo,

Mentiras esgarçando uma ilusão.

Raízes do vazio invadem solo,

Retinas entranhando solidão.

Imerso no vazio deste jugo

Esperança, meu último verdugo...

2085

Esperança, meu último verdugo

Arrancando dos olhos qualquer brilho.

O resto do que fomos inda sugo

Sem nexo teus caminhos quero e trilho.

Olhando com sarcasmo cada passo

Que tento em multimídica expressão

A mímica ganhando algum espaço

Tecnologia esgarça o coração.

É pertinente um canto feito amor?

Impertinente verso não sossega.

Um barco inda movido por vapor

Em águas tenebrosas não navega.

Pleno de incertezas vejo o vago

Tentando depois disso algum afago...

2086

Tentando depois disso algum afago

Eu vejo em procissão os meus desejos.

Ressacas repetidas, peito gago

Prevendo da mocinha falsos beijos.

Nascido em estilingue nego o tiro

Embora a bala que me toca vem perdida.

O quanto sonegando não prefiro

Velejo em tempestade qualquer vida.

Movido à lenha, amor informatizo

Tentando me adaptar, eu não consigo.

A morte que virá não traz aviso,

Do riso em ironia faço o trigo.

Interior caminho desbravado,

A sorte me acompanha lado a lado.