sexta-feira, junho 09, 2006

Sobre José de Paiva Loures

Uma das lembranças que tenho de meu pai é do apego que ele tinha pelas flores. Os espaços mais nobres do imenso quintal de nossa casa eram ocupados pelas mais diferentes espécies de roas, dálias, lírios, zínias, palmas, copos-de-leite, margaridas e outras, compondo um imenso jardim.
Todos os sábados, pela manhã, lá estava em nossa casa o sacristão da Igreja Matriz, recolhendo braçadas de flores para enfeitar o Altar do Senhor.
Naquele sábado em que meu pai desceu ao túmulo, o longo dia foi uma interminável sucessão de lamentos, até que a noite chuvosa se abateu sobre nossa dor e nosso cansaço...
Inúmeros parentes, vindos de muito longe, buscavam melhor acomodação, espalhados pelos quartos, salas e corredores de nossa casa.
Já era madrugada quando uma das minhas irmãs se levantou, queixando-se de forte dor de cabeça, provocada pelo perfume dos lírios que atravessava as venezianas e invadia o ambiente.
Uma a uma, as pessoas foram acordando e pudemos sentir, em plenitude, aquele perfume e, para aumentar a ventilação interna, apesar da chuva, abrimos as janelas. Tal fato mereceu de minha mãe, um comentário:
-“Que bom! Assim, quando amanhecer, poderemos levar muitas flores para ele!”
Assim, com as janelas entreabertas e suportando os respingos da chuva intermitente, voltamos a dormir.
Mal a claridade de um novo dia ia surgindo, minha mãe já estava na cozinha, preparando o café e, ao se lembrar do ocorrido pela madrugada, ela abriu a porta do quintal e foi procurar os lírios que deveriam estar enfeitando os canteiros.
Instantes depois, ela voltou e pediu que fôssemos também procurar as flores no quintal, ainda molhado pela chuva da madrugada.
Qual não foi nossa surpresa quando, ao vasculhar cada canto do imenso quintal, não encontramos uma flor sequer! Todas, absolutamente todas, haviam sido colhidas pelo fiel sacristão, no dia anterior...
Sem dúvida, para se despedir, meu pai havia deixado entre nós, o suave perfume de sua boníssima alma...

De Marcos Coutinho Loures, sobre José de Paiva Loures

DAS CAMPANHAS POLÍTICAS - COMO SE ABORTA UM SONHO

Jovem e apaixonado pela política, Fernando era um dos principais talentos de oratória do MDB muriaense e, disso muito se orgulhavam seus pais e parentes.

Aos 22 anos, era candidato à Câmara dos Vereadores e, com um discurso eloqüente conquistava, a cada dia, mais respeito e maior número de eleitores.

Seus discursos inflamados empolgavam a todos, levando muita gente ás lágrimas.

A sua verve política era de assombrar mesmo os mais antigos e experientes políticos.

Porém, um fato insólito, marcou sua estréia como político.

Muriaé, como uma cidade que vivia da Rio - Bahia e era freqüentada por muitos caminhoneiros, tinha uma das maiores e mais variadas Zonas Boêmias da região.

Famosa pelo tamanho, quantidade e qualidade de opções tinha, apesar de se localizar no centro da cidade, algumas características iguais a todos os bairros proletários desse país.

A polícia visitava bem mais a região do que a prefeitura. O sistema de saneamento básico era um horror. A iluminação pública, um descaso total, assim como a saúde dos moradores, abandonados.

Água potável? Nem pensar. Água de mina, se tanto.

Fernando, como bom e honesto ideólogo, tentava reverter esse quadro.

Pois bem, seu trabalho de dia a dia era um dos mais admiráveis, sempre em presença do Padre Jonas, velho “comunista” para o Governo, mas um excelente e coerente cristão.

Às vésperas da eleição, no seu último discurso, Fernando escolhera justamente essa região para fazer um comício.

Centenas de pessoas se aglomeravam para poder ouvi-lo.

Estava bonito de se ver, aquelas bandeirinhas do antigo MDB desfraldadas naquela região abandonada por todos.

Ao começar o seu discurso, Fernando fez uma comparação entre sua candidatura e outras, da famigerada Arena.

- Márcio, filho do dono da Fábrica de Tecidos o que é?

-Candidato dos empresários!

Os aplausos corriam à solta. Entre hurras e foguetes.

-Antonico, o fazendeiro mais rico da região é o quê?

- Candidato dos latifundiários.

Mais aplausos e mais foguetes.

Mas aí, aconteceu a tragédia!

-Eu, que nasci aqui no meio de vocês o que sou?

Aí um gaiato, mais que depressa deu a resposta que selou a candidatura fracassada do jovem Fernando:

- FILHO DA PUTA!!!!!

DA UPC E DO CONSERVADORISMO


A ditadura militar deixou sobre muitos brasileiros uma sensação de medo que, muitas vezes, se aproximava de um pavor incontrolável.

Dentre essas pessoas vitimizadas pelo pânico aparentemente sem motivação algum, estava Átila que, apesar do nome, era um dos mais medrosos dentre tantos iguais, na cidade de Ubá.

Ubá, cidade de mais ou menos cem mil habitantes na zona da Mata Mineira, é um dos principais pólos da indústria de móveis de Minas e, como toda cidade mineira que se preza, tinha na TFP uma de suas mais eficientes e castradoras entidades.

Nos idos dos anos 80, o ar que se respirava, para horror de Átila, trazia o prenúncio de liberdade.

O escravo adora e teme o chicote e, como não poderia fugir à regra, nosso amigo era um fervoroso defensor da ditadura militar, o que trazia, embutido, seu ódio contra tudo que “cheirasse” a manifestações contra o Estado Ditatorial.

Foi candidato, derrotado, à Câmara Municipal pela Arena, obviamente.

Quando soube das greves no interior paulista, amaldiçoou aquele “barbudo agitador”.

Expressava sua revolta para quem quisesse e tivesse paciência de ouvi-lo.

Quando houve a ANISTIA, exasperou-se ao ver o “temível” Leonel Brizola descer no Aeroporto do Rio e ser, cúmulo dos cúmulos, aplaudido por uma multidão.

É, esse país estava virando uma anarquia. Que saudades dos tempos de Médice e de Geisel. Aqueles homens é que eram de bem.

Um borra botas fujão como esse Leonel ser aplaudido, isso o revoltava sobremaneira.

Ao ver uma foto de Fernando Gabeira portando uma tanguinha de crochê, e sendo apontado como o “Muso do verão”, ficou exacerbado : “Como pode um comunista safado como esse, depois de ter matado muita gente no Araguaia aparecer agora com essa coisa de crochê? Isso é muita falta de vergonha! Isso é coisa de um homem usar?”

As eleições para Governador o assustaram mais ainda. Ao saber que o “fujão” se elegera Governador do Rio, quase teve um colapso.

Tancredo Neves, ainda vai lá, mas esse tal de Brizola não. Nunca.

Entre seus amigos, as discussões políticas sempre terminavam com suas máximas tipo : “Brasil, ame-o ou deixe-o”, entre outras cositas más.

Pois bem, com isso, seu círculo de amizades foi ficando restrito e quase que se resumia a Pedro Paulo.

Companheiro de sinuca e de “visitas às escondidas” à famosa casa da red light, ou da luz vermelha, se preferires.

Mas aquilo que vira naquele fatídico dia no BANCO DO BRASIL, logo num banco estatal, o deixou extremamente chateado.

Ao entrar no banco, lera UPC, a famosa Unidade Padrão de Capital que, para gáudio dos que assistiram a cena, transformou-se sob uma voz revoltadíssima na seguinte afirmativa:

“Esse é o cúmulo do absurdo, a que ponto chegamos, em pleno Banco do Brasil, fazer uma propaganda dessas; repare bem no que está escrito:

UPC – União dos Partidos Comunistas”...

DE ARAÚJOS - em homenagem a Hélio Valentim

Francisco, já apresentado aqui anteriormente, perpetuava-se no poder na pequena cidade mineira e ainda não tinha tido o prazer de voar de avião. E essa era uma das suas maiores frustrações.

Sabendo desse desejo, um de seus filhos resolveu presenteá-lo com uma viagem para São Paulo, num avião que sairia do Aeroporto Pio Canedo, fretado por alguns empresários locais, entre eles o filho de Francisco.

Toninho, esse era o nome do rebento amado, era dono de uma empresa de locação de automóveis em Muriaé para onde, segundo as más línguas, teria ido boa parte do dinheiro da saúde do pequeno município.

O Aeroporto de Muriaé, ainda se chamava Pio Canedo, sendo depois modificado para outro nome, segundo dizem, por causa de “favores” de um deputado federal a um conhecido Governador mineiro, por emprestar uns aviões, coisas assim.

Mas isso não interessa, pelo menos nessa história.

Voltemos a ela.

O Comandante Araújo, aposentado pela aviação comercial onde fora um dos mais brilhantes pilotos da CRUZEIRO DO SUL, já morta a essa época, estava em um dia muito especial.

Sua esposa tinha-o abandonado na véspera e, como a dor era muita, aquele vôo daria a ele uma espécie de consolo.

Velho comandante do ar, Araújo tinha por hábito, tentar conhecer seus passageiros.

Ao ver aquele senhor sexagenário sentado com outro amigo, no bar do Aeroporto, resolveu entabular conversa com o estranho.

Ao vê-lo, teve uma surpresa enorme quando foi chamado pelo nome.

-Araújo, como está você?

Ao que respondeu que tudo bem, etc e tal.

-O vôo vai ser tranqüilo né?

Claro que sim, e o papo evoluía.

Regado a uma garrafa de cachaça que se esvaziava rapidamente, consumida pelo senhor distinto que reconhecera Araújo.

Como a gente, nessa vida, muitas vezes conhece pessoas e a memória nos trai, nada mais natural que o cidadão ter reconhecido o velho aeronauta.

O tempo passava e a conversa extremamente agradável com aquele caipira bom de papo já se alongara muito quando Araújo a encerrou, avisando que iria decolar em pouco e que, o velho conhecido deveria parar de beber.

Fora muito boa a conversa e isso aliviara um pouco o peito sofrido do nosso amigo.

Voltemos a Francisco.

Assim que chegou, acompanhado de seu testa de ferro de sempre, Francisco estava extremamente tenso.

Ao perguntar o porquê, o seu acompanhante foi informado que aquela seria a primeira viagem de avião do político experiente.

Resolveram sentar no bar e tomar umas caninhas para “aliviar” a tensão.

Ao perceber que aquele senhor estava indo em direção ao bar e que esse portava uniforme sugestivo de que seria um Comandante; Francisco, prontamente, convidou-o para sentar.

Daí em diante se deu o diálogo que captamos no bar do aeroporto.

Ao ver tamanha “intimidade” entre Francisco e o Comandante, seu amigo o interrogou:

- “Seu” Francisco, mas o senhor é muito gozador mesmo hein!? Como o senhor me fala que nunca voou e tem tamanha intimidade com o Comandante?

-Que intimidade o quê! Nunca vi mais gordo!

- Como o senhor sabia do nome dele?

- Não sabia não, e esse não é o nome dele não seu burro!

-Como assim?

- O imbecil, se o homem que trabalha no mar é marujo, quem trabalha no ar é araújo, entendeu?

Para o Velho Lobo, nesse ano onde brilham as estrelas

Velho Lobo me surpreendeste.

Sei de teu amor pelo Botafogo, e isso me fez te admirar bastante, hoje ao saber de tua afirmação de que o 13 do PT é de bom pressagio, passo a te admirar mais ainda.

Pelo que significa essas duas estrelas tento, com humildade, te homenagear.




Nas alegrias do povo

Desse povo sofredor,

Ao nascer de um dia novo,

Onde prevaleça amor.

Nas esperanças de glória,

Na liberdade do sonho,

Em meus olhos, onde ponho

O brilho de nossa história.

De todos meus sentimentos,

Trago os meus pensamentos

Na procura de esperança,

São poucas essas lembranças

Que me trazem tão à vida

Das tristezas, despedida

Da vitória mais curtida

São poucas, vida sofrida

De um povo cuja memória,.

Muitas vezes se esfacela

Acostumado a uma cela

Sem ter por que sonhar.

Povo cujo maior grito

Sempre foi esse bendito

De tentar comemorar,

Em cada gol de verdade,

Traduzir dignidade

Em cada jogo de novo,

No que é o pio do povo;

Com sua simplicidade

Dentre tantos, de verdade,

És o único que ostenta

Esse orgulho de ser penta.

E por conhecer de estrelas,

E Mais que nenhum sabê-las,

Consegues bem demonstrar

De maneira bem concisa

Que nosso povo precisa

Algo além para orgulhar.

Da estrela botafoguense,

Bem sei que sempre que vence

Teu coração se convence

De que vale a pena lutar.

E nesse dois mil e seis,

Isso se fez repetir,

Trazendo belo porvir

Para estrelas no Brasil,

Pra esse povo varonil

Valoroso brasileiro,

Que possa, esse mundo inteiro

De novo nos conhecer

Povo feito pra vencer

Na chama dessa batalha

Que Deus, de novo nos valha

Em campos dessa Alemanha

Onde a estrela que se ganha,

Sexta, na constelação

Que pulsa com coração

No brilho de luz tamanha,

Capaz do mundo ofuscar

De tão forte esse brilhar.

Outra estrela que avermelha,

Tem também essa centelha

Com certeza brilhará.

Eu bem sei que trará sorte,

Para todos bem mais forte

Que o ocaso de outras paragens

Que desconhecem as vantagens;

Constelação popular

Que jamais irá parar

Que representa essa raça,

Em todos campos ou praça

Que tem cheiro de cachaça

Que traduz calor e graça;

Conquistando esse planeta

Mais uma estrela, um cometa

Estrela tão benfazeja

Que nossa terra já beija

Não desiste da peleja

Tanto luta, tanto almeja

Não teme nem dor nem morte

Estrela de grande porte

Tem o número da sorte!