quinta-feira, setembro 07, 2006

Amplidão

Nos vazios celestes, nada assoma,
As pétreas solidões são nebulosas.
Nas vagas mansidões mais tenebrosas,
Só luzes percorrendo, como um coma...

Ao nada, junto ao nada, nada soma,
Os sons são sem sentido. Desairosas
Ventanias varrendo, vagarosas,
Tempestades terríveis, tudo toma...

Nestas vazias, vastas amplidões,
Silêncios são suplícios são sertões...
Siderais sentimentos virginais,

Esparsas e longínquas tais estrelas,
Tantas vezes sonhei pudesse vê-las,
Mas conheci teus olhos, não vou mais...

Breu

Nossos sonhos, qual torres protegidas
Pelos deuses d’amor e pensamentos,
Se elevam levam livres movimentos
Carreiam cordilheiras, nossas vidas...

Nos andores, condores, despedidas,
Flutuam no sonhares meus tormentos,
Queixando-me, percebo tantos mentos
Tremendo, indo temendo as recaídas...

Nossos sonhos, discípulos, Morfeu,
Penetram nas penumbras, nos umbrais,
Deixando leve, breves festivais;

Por onde ondeavam maremotos,
Motivos e matrizes, modos, motos,
Remotos nossos sonhos, sorvem breu...

Reflexos

Teus olhos, rutilantes são perfeitos,
São feitos de pepitas preciosas,
Pupilas transcendendo maviosas ,
Das luzes, tantos prismas sem defeitos...

A lua, procurando novos pleitos,
Cansada de roubar as fabulosas
Cores solares, vaga, quer das rosas
Que Deus criou, saber os preceitos

Que permitam brilhar com suavidade,
Depois, de tantos meses procurar,
Quem desse mais beleza e claridade,

No universo, mil versos e versões,
Tentando encontrar ricas soluções,
Reflexos nos teus olhos foi buscar...

Manhã Virginal

Na virginal manhã de nosso amor...
Senti as rosas brancas sobre a mesa...
Flutuavas num átimo. Beleza
Alva; aromas, amoras, amador...

Bebias vinho, lanças, danças flor...
Singravas sonhos, sombras, minha alteza,
Por cetro luz, concertos, com certeza
De pássaros canoros, teu albor...

Nessa manhã, sedosa quão sincera,
Sentias paz. Audaz fiz da quimera
Somente riso, límpidas centelhas...

As rosas brancas, belas como o dia,
Deixadas esquecidas, mas eu via,
Lentamente, coravam-se vermelhas!

Teus Braços

Quando seus braços, baços embaraços,
Bruma bacante bélica abençoa,
Nos seus abraços busco bruscos laços,
Belas bromélias, braços vida voa...

Nos tímidos tentáculos seus aços
Penetram tentadores, tão à toa.
A lava que me leva, embaraços...
Nos seus abraços, sei que me perdoa...

Cansado de cismar sem ter descanso,
Servindo de consolo, solo manso,
As marcas dos seus braços, são perenes...

Nas pompas dos amores mais solenes,
Nos dias das orgias fantasias,
Seus braços santificam alegrias...

Liberdade

Liberdade, terrível flor insana,
Que necessita sangue podridão.
Exigindo cruel fel, traição...
Nos clarins, batalhões suor e gana...

Muitas lutas perfazes tanto engana,
Dilaceras, feroz, embebes chão,
Embriagas, torturas. Mansidão
Devoras voraz, vives qual cigana.

Procuras tuas curas duras penas,
Na morte traiçoeira, me envenenas...
Necessitas de mártires e mortos.

Destróis nações, invades sangras portos,
Mas, te busco, desejo tua lira,
Nas lutas, liberdade, então delira...

Ninho

Nossa luxúria, augúrio insensatez...
Delícias e fascínios compartilho,
Arranco brutalmente esse espartilho,
Prazeres espelhando tua tez...

Nas vésperas convertes d’altivez
No lírico e eufórico estribilho,
Gemidos lagos úmidos partilho
Da mímica temática. Se fez

De dois um só sonido, num coral,
A vida festejando o festival,
Dos corpos embolados num carinho,

Na rija mansidão , nossos carinhos...
Na vasta solidão , dois passarinhos,
Orgásmicos, procuram por um ninho...

Lua

A lua, predileta musa. Brilhas
Esparramando bênçãos pelas matas!
Teus clarões nas searas forram trilhas
Noctívago, permeio serenatas

Refletes verdejantes maravilhas.
Nas buscas insolentes, me maltratas...
Lua, das tuas mansas, belas filhas,
Uma dorme comigo e m’arrebata!

És flâmula tremulas bruxuleias,
Tecelã tantas formas, tuas teias,
Passeando sutil, sobre essa terra...

A quem planta, fulguras nos plantios,
A quem ama, incitando tantos cios,
Nos teus rastros, clareiras, mares, serra...

Vésper

Num lânguido tormento, me seduzes,
Teus seios devaneios me provocam,
As vozes da volúpia, que me tocam,
Transformam tolas formas, novas luzes...

As ondas de desejos que produzes,
Inflamam os meus versos, que te invocam...
Meus feitos mais perfeitos se retocam,
Teu corpo incorporando minhas cruzes...

Percorro teu veludo, velos, pelos
Navego teus venenos nego vê-los,
Deliro tua lira na minha’alma...

Amansas minhas danças, tuas lanças
Destinos contra sensos, vais, alcanças.
Na vésper estrelar, reluzes calma...

A Seta de Eros

Teu corpo, vai galgando a eternidade,
Nas chamas, no clarão de tais estrelas,
Procuro sem saber, onde bebê-las,
Vagando vou vivendo essa saudade...

Dos astros reluzentes, claridade,
As luzes que produzes tento vê-las,
Quem sabe se abrirá para envolvê-las
Olhos a procurar n’imensidade!

Satélites criou Nosso Senhor,
Ao ver a solidão desses planetas,
Num átimo, ultimou seu Deus d’amor.

E Eros com sua seta mais certeira,
Gerou de forma lírica cometas,
E tal flecha, roçou-te, companheira...

Vísceras Expostas

Nas vísceras expostas, postas paz...
Cada pústula repulsas postulas,
Mas és éter, flutuas. Tuas gulas
São meus guias, vadias; vou atrás.

Se temo teu veneno traz antraz.
Se cedes teu remédio, negas bulas...
Devoras, todas horas, mas anulas...
Teu beijo pedra, perda, Satanás!

As mãos vãs e vazias vagam vilas,
Das frestas frenesi, fórmicas, filas...
Dos céus véus e meus veios, meios, fim...

Sexo verbal, venal, vogal verdades...
A saúde amiúde traz saudades;
Veleidades, vazio vago assim...

Lua Nua

Lua nua, meu limbo e poesia,
Clarão noturno, entorno tuas luzes,
Nos caminhos, meus ninhos, minhas urzes..
Vou perdido, adiando cada dia...

Lua bela, estrelar, alma vadia,
Rolando tantas formas, somos cruzes;
Nas pedras, perdas, trevas avestruzes
Escondidos fugidos, qual valia?

Venero meus anseios, seios, lua...
Procuro, me torturo, estás tão nua...
A vida continua, mas cadê?

Elevo meu navio, naufraguei...
Acendo teu pavio, me queimei.
Ó lua me responda então, porque?

Orgia

Nos teus palácios ácidos devoras...
As formas que comportas, tão disformes.
Nos jornais, nos anais, nossos informes,
Noticias seus cios, nada imploras...

Vértice recrudesces, tolas horas,
Teus peixes a pescar, salmoniformes,
Jamais eu poderia, seus conformes,
Rolando teus espaços, parcas toras,

Não quero o fero gozo de teu sexo,
Nem tento teu invento, tonto nexo...
Minha mina minada nada cria...

Meus olhos, óleos, aços, são pedaços,
Abrindo loucos braços, teus abraços
Convidam para a noite numa orgia...

Tardes

Vestida com vermelhas vastidões,
A tarde ardendo desce mais fugaz,
Coragem decorando corações,
Nuvens navegam, forjam fuga audaz...

Quero o gosto em um gesto, gerações
Passando perspicazes pedem paz...
Sirvo sim e não, sinto seus senões,
Carpindo cada cântico capaz...

Nas ondas me denotas novos clãs,
Quem dera dessas tardes as manhãs,
Variariam ares e pendores,

Surtiriam telúricos pensares,
Viveriam viveiros vagos ares...
Saberiam conter os meus amores.

Estupidez

Chegando em casa, fúnebre rotina,
A mesma casa, triste e tão vazia...
A mesma imagem queima-lhe a retina,
Das esperanças mortas, onde via

O rosto angelical , sua Marina...
A vida cruel segue novo dia,
E nada mais senão doce menina,
Que o tempo já levou... na ventania.

O quarto aonde noites eram lúbricas,
Fazem dos sonhos cenas tão mais lúdicas,
Mas tudo vai perdido, na lembrança...

Quem dera não tivesse que sonhar,
Quem dera se esquecesse de matar,
A quem amara, estúpida vingança...

Onde Andas Maria?

Quem souber de Maria então me informe,
As saudades estão me corroendo,
Eu acho que lá fora, está chovendo,
Essa dor que consome é tão enorme...

Nas ruas, a cidade toda dorme,
Aqui dentro, depressa, estou morrendo,
A vida vai passando, acontecendo...
Não há sinal algum que me conforme...

Maria foi apenas a saudade,
Deixando suas marcas, quem há de
Me informar com certeza onde está...

Nem bares, mares, luas, nem botecos,
Vou procurando a esmo em pandarecos,
Estarás por aqui? Talvez por lá...

Naufrágio

Meu medo, caminhando meu naufrágio,
Procurando nas barcas, meu destino;
Esqueceu de saber qual o presságio
Guardado fosse guia, atroz, mas fino...

A vida, transcorrendo cada estágio,
Se renova na busca do menino
Esquecido no canto, no pedágio

Que a vida paga, lívida e cruel.
Buscando essas estrelas do seu céu,
Sem jamais revestir minhas mortalhas...

Vertendo minhas lágrimas, são falhas,
As defesas que tento conhecer.
Pois é tão bom saber sobreviver...

Anjo

Quando Deus, distraído, permitiu,
Por esquecer as portas entreabertas.
Uma luz, dessas belas, incertas,
Aproveito-se então, dos céus fugiu...

Como um anjo que, livre decidiu,
Conhecer um planeta. Nas ofertas
Que tinha a seu dispor, as asas certas
De que na Terra a vida enfim surgiu;

Escolheu tal planeta pra viver.
Mal sabia que assim podia ter
Escondidas as asas noutro arranjo.

Cresceu bela mulher, que me fascina.
As asas ocultadas, da menina,
Eu descobri palpando-te meu anjo...

Coração

Coração, marinheiro sem destino,
Que no cais, procurando pelo mar,
Entrando totalmente em desatino
Esqueceu como pode navegar...

Coração, naufragado, perde tino,
Não reconhece estrelas, nem luar...
Brincando, marejando, qual menino,
Marinheiro qu’esquece de nadar...

Coração, as saudades são teu barco,
As Percas de deixaram és um arco
Na procura insensata das marés...

Coração, as perguntas sem respostas,
Queimam tanto, ardendo nossas costas,
Coração, um veleiro de cem pés...

Vendavais

Quero poder amar com tal liberdade,
Que não precise nunca mais mentir...
Quero poder viver, nada pedir,
Não esperar sequer essa saudade...

Atracar no cais, barco em tempestade,
Com toda proteção, poder fugir...
Não ter medos, segredos por aqui;
Minhas âncoras, Porto Soledade,

Saveiro, refletindo sobre o mar,
As sombras que roubou desse luar.
Nas correntes marinhas ir sem rumo...

No meio dos sargaços flutuar,
Sem ter medo receio de voltar...
Em meio a vendavais, manter o prumo...

Inverno

O que dizer do que se chama vida?
Repúdio, lágrimas, martírio, dor?
Não poderia conceber amor,
Nunca tive remansos. Vi, perdida,

A juventude, alheio, sem saída...
Quisera piedade, por favor...
Sentira simplesmente tal pavor
Que só pensava, enfim, na despedida...

Conheci os salões da solidão,
Num marasmo, inconstante. Coração
Dizendo nada, nada repetindo...

Vieste, mansamente, tempestade...
N’outono temporã felicidade.
Mas, triste, meu inverno já vem vindo...

Ilha

Ilha deserta amor, nossos desejos,
Trocados na silente paisagem...
Sentindo nas carícias dessa aragem,
Da bela natureza, mansos beijos...

Náufragos mais felizes, sem ter pejos,
Nas delícias tragando essa visagem,
Descobrindo em teu corpo, uma viagem
Ao paraíso, aprendo tais manejos,

Que permitam saber novas canções...
Nas algas, nas anêmonas, caçoes...
Nos cavalos marinhos e gaivotas...

Nossa nudez, as conchas com que lotas
Tuas mãos. Nessa areia, a maravilha
De conseguirmos conquistar noss’ilha...

Amor

Amor, como é difícil te encontrar,
Meus caminhos, perdidos foram vagos,
Mergulhei tantos rios, mares, lagos...
Naveguei por planetas, sol, luar...

Amor, nos nossos passos, caminhar,
Sem temer por dilúvios nem estragos,
Conhecer, ness’amor, segredos magos...
Nos canteiros, antúrios, vou plantar...

Em dois corpos, una alma um respiro,
Os nossos gozos, juntos num suspiro...
Sentir doce certeza do teu bem...

Diversa liberdade que cativa,
Aprisiona, tornando mais altiva
As vidas que, uníssonas, convivem...

Atriz

Não quero te entender, ter-te me basta...
Nas variantes vozes que me dizes,
Nas profanas mordaças, tais matizes
Na corredeira louca que m’arrasta...

Muitas vezes luxúrias, outras casta,
Sorrindo da dor, lágrimas felizes.
Procurar liberdade, ter varizes
Nos segredos sutis, atrai, afasta...

O que me falas, vento já levou.
Tuas malícias, forjas o que sou...
Numa diversa hipocrisia, ris...

Conhecer-te? Jamais queria tanto.
Aos teus olhos, satânico,sou santo...
No fundo, um paradigma, uma atriz...

Batem na Minha Porta

Eu ouço alguém batendo em minha porta,
Mas quem será que, nessa madrugada;
Bate assim, procurando pelo nada...
Minha esperança há muito está tão morta...

Batendo, fortemente, quem se importa,
Uma vida vazia, abandonada...
Esquecida num canto, assim jogada...
Quem irá se importar? O frio corta,

E na porta sinais duma existência,
Lutando mais feroz, a persistência
Com que bate, trará um novo alento...

A quem ,abandonado, não tem paz;
Quem será? Ao abrir, sofrer não mais...
Porém, ninguém batia, só o vento...

Novo Rumo

Que trazes de surpresa para mim?
Carinho, balas, tiros, emboscada?
Exatas incertezas, dizem nada...
Um tapa significa seu jardim...

Mas meus braços estendidos; um sim,
Esperam no romper da madrugada.
Ouvirei a palavra sossegada,
Mansa, suave... Dura qual marfim,

Todas as minhas dúvidas terminam,
Nos meus medos, tragados pelas marchas,
Nos meus pés que, faz tempo, se cansaram...

Essa tua resposta, novas achas
De lenhas que sustentam nossa vida,
Ditará novo rumo de partida...

Noite

A noite engole dias, vem a paz,
Adormecendo berços de crianças...
Devolvendo, nos sonhos, esperanças.
Transformando qualquer ser em capaz.

Noite de pirilampos. Tanto faz
Amanhecer, importas as lembranças
De festas, risos... Velhas nossas danças,
Ressurgem nessa noite, sem jamais

Esquecer-se de doses de luxúrias...
Viajo sem limites, das Astúrias
Ao pólo Norte. Nunca temer morte,

Nem sequer minhas dores e fracassos,
Sentir meu gozo, beijos... Os abraços
Benfazejos da boa, feliz, sorte...

Tuas Mãos

Tuas mãos, tantas vezes caridosas,
No desespero vidas salvam, matam...
Com carinho, suaves, me maltratam....
Têm espinhos, também recendem rosas...

Unidas, vão pedindo piedosas,
Num abraço, por vezes m’arrebatam.
Mas, cruéis, se divertem e me caçam...
Na procissão, caminham andrajosas...

Ultrajes e calúnias, mãos sedentas.
Repartem solidárias, mas são lentas
Nas carícias que fazes, nosso quarto...

Ajudas nos delírios, novo parto...
Tuas mãos que, silentes, falam tanto...
Aplacam a dor, causam todo o pranto

Riso

Teu riso que me trouxe primavera.
Também fez dessa vida, girassol,
Iluminando, trazes arrebol...
Teu riso, sensação doce d’espera...

Tantas vezes, girando numa esfera,
Escutava-te rindo, eras o sol...
Seguia teu sorriso, meu farol.
Deixava tão distante vil quimera...

Acalentando as dores, tão mordazes,
Tornando mais felizes e vorazes
Todas as manhãs; riso claridade...

Quando a noite cai, triste e maculosa,
A vida parecendo fim... Gostosa
Risada, vem trazer felicidade...

Jardins

Muitas vezes, vencendo meus tormentos,
Adormeço nos jardins dessa casa.
Sem saber, mergulhando numa brasa.
Não permite esquecer dos velhos ventos,

As vagas vozes volvendo, vão lentos,
Todos os totens, tolo o tempo atrasa.
Soube sentir, sem sonhos; só me embasa
O jasmim nos jardins dos sofrimentos...

Em mim, nada assim, símio sinto o fim;
E cravo meu agravo tudo enfim.
Nos galhos da roseira, sei espinhos...

Nas dálias, tantas falhas fiz enredo,
Desses lírios, delírios, sem segredo...
Hibiscos, passarinhos... Cadê ninhos?

Lago e Circo

Mergulhada num lago sem saída,
Encontras as quimeras que me deste
As roupas que vestiste, toda peste
Que cultivavas numa torpe vida...

Não salvarei –te, deixo-te perdida,
Afogada na mágoa que te veste,
Sem nem sequer, rezar para que reste
De teus sonhos, nenhuma sobrevida.

Nas águas podres, pestes e vorazes
Predadores te beijam, mais audazes...
Sugam teu sangue, matam lentamente...

Minha vingança tarda mas não falta,
Apagar todas luzes da ribalta,
Aplaudindo espetáculos, somente...

Espalhadas ao Vento

Onde está a casa, nossa casa, lar...
Perdemos todos nossos sonhos, sim;
Não restando talvez, nem seu jardim,
Apenas na lembrança, vão ficar,

Os quartos, nossa sala... Quis pousar
Meu coração, querer tirar de mim
As recordações. Viver assim,
Preso a sonhos, segredos, um lugar...

Andávamos solenes, sem temer
Sequer as tempestades que não falham.
Amávamos serenos, mas, cadê?

A nossa casa, perdida num passado,
Oco, sem mais sentido, foi jogado,
Nessas cinzas cruéis, ventos espalham...

Sentimenos Vagos

Sentimentos vazios, vida traz.
Amores,ódios, passam num minuto.
O coração, sofrendo, mas é bruto,
Logo depois, sereno, se refaz...

Nunca irei, tolamente, perder paz,
Meus dias passarão, finjo astuto
Para poder dormir, com isso oculto
Todas as minhas dores, pois jamais

Conseguiria enfim, sobreviver...
Mas, francamente, tento não conter
Lágrimas dos amores já perdidos;

É como carregar, as cicatrizes
Pensando que serão bem mais felizes,
Os dias que vierem, iludidos...

Lúbricos Cansaços

Num desejo impudico, tanto quero,
Dessa boca sevícias e carinho,
Ir roçando, bem manso, vagarinho.
Pois, em cada centímetro, te espero...

Quero o romper d’aurora audaz e fero,
Volúpias e delírios, num caminho,
Que possam transformar quem foi sozinho,
Nas múltiplas fornalhas dess’ acero...

Num frêmito voraz, tornar-te nua,
Tentando penetrar a tua rua,
Invadindo, posseiro, tuas lavras...

Transgredir os sentidos e palavras,
Minhas mãos penetrando teus espaços,
Depois, juntarmos, lúbricos cansaços...

Onde Estás?

Distante de teus olhos, de teus seios,
Meus dias invernosos vão sem brilho...
Me perco nos caminhos que não trilho;
Sonhando com delícias, meus anseios...

Distante de teu corpo, caço veios;
Mas nada encontrarei então me estilho.
Não tenho mais nem cais nem tombadilho,
Sem rumo, minha vida sem recheios...

Quis muitas vezes, longe de teus braços,
Tentar seguir, mas perco meus espaços,
Esvaem os meus dias, pelas mãos...

As horas, meus minutos, todos vãos...
Sonho com tua boca rubra, manso;
Te procuro, onde estás? Mas não t’alcanço!

Minha Vida

No teu cálice, vinho. Embriaguez...
Em tua boca, orgias e loucuras;
Quando vagueio; tonto, essas procuras,
Tantas vezes me mostram tua tez.

Tenho o teu gosto amargo. Mas, freguês
De tuas mansidões, tuas torturas;
Me iludem, várias vezes t’as doçuras...
Teu bafejo de fera, insensatez...

Eu quero conhecer tuas entranhas,
Lamber todas feridas, teu carinho.
Sangrar nos cortes fundos que me lanhas.

Quero o teu porto, sinto que és a única
Desd’a primeira até última túnica,
Que acompanhaste todo o meu caminho...