sexta-feira, fevereiro 12, 2010

24670

Estraçalhado barco enfrenta os mares
E deles não consegue outra visão
E sei que na verdade traçarão
Destino bem diverso em vários bares.
Por onde sem bom senso navegares
Os dias sem calor ou mansidão
Medonhas fantasias me trarão
Invés de solução, toscos esgares.
Não posso mais conter farsas nem risos
E aonde procurara mais concisos
Momentos revelados no vazio
Ainda se talvez restasse ao verme
Uma figura sóbria ou quase inerme
Que mesmos sendo inútil fantasio.

24669

Na espreita de que venham os bons ventos
O velho marinheiro teima em crer
Possível novo porto alvorecer
Mudando sem pensar os sentimentos
E dele com denodo os meus alentos
Explodem neste rito de prazer
Podendo num instante perceber
O que deixara atrás tais sofrimentos;
Vestindo esta ilusão adentro em mares
Além do que talvez já não pensares
Altares da emoção real, sobeja
E tendo em minhas mãos este timão
Já não temo as borrascas que virão
Além do que eu bem sei a alma preveja.

24668

No meu coração vibra esta campanha
De tempos ancestrais eras distantes
E quanto mais se mostrem radiantes
A vida não se fez deveras ganha,
Medonha fantasia trama a sanha
De loucos e sobejos caminhantes
Pensara no futuro em provocantes
Delírios onde uma alma já se assanha.
Hipnotizado encontro a solução
Nas aves que fazendo a migração
Retornam ao seu lar depois disso,
E tendo assim a sorte feita ao léu
O tempo que é do tempo bacharel
Exporta esta esperança que cobiço.

24667

A me trazer a doçura, esta lembrança
De um dia feito em festa e derramado
Nas tantas ilusões do meu passado
Enquanto sem sentido a vida avança
Mudasse pelo menos a aliança
Que é feita quando o tempo desolado
No vento se anuncia desprezado
E deixa nem sequer a temperança
A velha história então já se repete
Não vou ficar lançando em vão confete
Tampouco desfilar em fraco enredo,
Assim a cada passo que mal dei
Fotografando escura e turva grei,
Um riso de ironia; a ti concedo.

24666

Olhos distantes, mares que não tenho
E deles vejo a praia aonde aporto
O gozo que se fez feito um desporto
E tudo se moldando sem desdenho,
Especiarias tantas que contenho
Assim esta esperança em vão aborto
E quando a própria carne, rindo; eu corto
Nas sombras das vergastas eu me embrenho
E tendo esta certeza feita em fel,
O peso diamantino deste céu
Emaranhados vários que desfio,
Assino o velho ponto de presença
Aquém do que deveras já se pensa
E tudo não passando do pavio.

24665

Amores que passaram sem perdão
Seriam caminheiros do futuro?
Aonde cada vez que te procuro
Encontro por resposta este senão,
E sinto que outros tempos mostrarão
O quadro novamente amargo e escuro,
Cevando em solo agreste não maduro
Sequer verei brotar talvez um grão.
E tudo se perdendo em frágil canto,
E quando em tal mosaico eu já me encanto
Versando sobre a paz que assim refuga
Escondo o meu olhar e só percebo
O amor como se fosse algum placebo
E dele só por ele, nova ruga.

24664

Os ventos, as procelas, meu empenho
Por onde mergulhara a fantasia
E tendo a solidão que se porfia
Futuro; não conheço e já desdenho
Se apenas ilusão inda contenho
Jamais imaginando novo dia
Escolho com terror a alegoria
E beijo a tempestade de onde venho.
Ecléticos caminhos, variantes
Que se renovarão depois de instantes
Mudando a direção de cada passo,
E assim sem nada ter apensas sendo,
O mundo que se fez em tal remendo
Com erro estrutural qual tolo eu traço.

24663

Em tentar conquistar teu coração
Eu pude perceber quanto é vazio
O mundo que ora em versos já desfio
Trazendo forças tolas que farão
Apenas o que outrora diz porão
E agora novamente em tempo frio
Mesquinha fantasia; ainda crio
Embora saiba ser um ermitão.
Sabia que talvez mudasse o norte
E tendo noutro tanto quem comporte
A vida se transforma em paz perene
Não quero quem me acolha e me apascente
O barco naufragara de repente
Sem ter sequer um cais que ainda acene.
.

24662

Está tudo tão longe... De onde eu venho
Açoda-se uma triste sedução
Mudando vez em quando de estação
O tempo se perdendo sem empenho
E quanto mais audaz já não contenho
Sequer alegorias da emoção
E teimo contra os medos que estarão
Tomando seu lugar e em vão me embrenho
Buscando em turva noite alguma luz
Resquício do passado que me induz
A ter no meu olhar um frágil brilho
Mostrando que talvez inda soubesse
Roubar esta delícia que se tece
Enquanto sob estrelas, manso, eu trilho.

24661

De terras mais longínquas, d’outro chão
Pudera simplesmente além do mar
Ter toda a condição de bem amar
Depois da tempestade de verão
Enquanto meus olhares não verão
Sequer esta beleza a derramar
Encontro a poesia em preamar
Brotando, justifica cada grão
E dele novamente renovada
Refaz o eterno ciclo tudo e nada
Arrefecendo enfim o temporal
O gesto que pareça mais banal
Traduz por tantas vezes o que eu quis
Falar quando pensara estar feliz.

24660

Saudade que me fecha logo o cenho
Dizendo de quem foi pra nunca mais
Aonde no passado derramais
Caminhos pelos quais, ainda venho
E vendo a vós deveras me contenho
Por tanto que vos quero sem jamais
Poder tocar e ter o que entornais
Vagando pela noite em que me empenho
Tentando decifrar qualquer sinal,
O amor como se fora um ritual
Expressa esta saudade que inda trago
E ter-vos tão somente em pensamento
Por mais que tenebroso, eu me apascento
Sentindo deste vento algum afago.

24659

Causando no meu peito uma erupção
Tamanha que jamais comportaria
Além do furacão feito agonia
Apenas as saudades restarão
Vagando sobre pedra e vergalhão
O precipício ainda me traria
Melhor caminho e enfim só bastaria
Mergulho no vazio; a solução.
Embotadas palavras, meras frases,
E nelas cada vez mais satisfazes
Irônico prazer de morte e dor,
Ainda poderia crer na chama,
Mas quando a realidade toca e chama
Encontra solitário, o sonhador.

24658

Fomos felizes? Certo que fugiste
Deixando tão somente uma saudade
Por mais que a vida ainda grite e brade
O coração já quase não resiste
E vivo solitário amargo e triste
A cada novo dia a tempestade
E o medo de viver ainda invade
Passado que tivemos inda insiste
E traz o teu sorriso em despedida
A vida se perdendo uma alma lida
Apenas com as dores, nada mais,
Viver uma esperança mesmo falsa,
Os passos da alegria, a alma descalça,
Momentos que inda restam, são venais.

24657

E levaste contigo as esperanças
Mal deixando as sombras de teus passos
E quando os caminhares feitos lassos
Apenas na alegria ainda avanças
E sabes conquistar tais alianças
E nelas ocupando cada espaço
No enredo deste encanto eu já me laço
Enquanto as fantasias, tu balanças.

Escrevo cada verso em homenagem
Revendo o teu olhar, como miragem
Da qual oásis negam meu deserto
Mantendo o coração a cem por hora
A vida com certeza em luz se ancora
Portão do céu estava em ti aberto

24656

O amor que se fez nosso não duvida
Da sorte garimpada com cuidado
Enquanto desdenhando o meu passado
Agora vejo a luz em minha vida.
Há tempos procurara uma saída
E sempre vendo o rumo já fechado
Encontro neste amor que de bom grado
A cada novo dia revalida
O sonho feito em glória e serpentina
E tanto me domina e me fascina
Vontade de te ter no carnaval
Rainha desta escola onde sou bamba
Requebros nos quadris minha alma samba
Apoteose em rito triunfal.

24655

Vivendo como eternos foliões
Não temos mais sequer o que temer
No amor que se demonstre o bem querer
Espalho pelas ruas os verões
E quando novos tempos tu expões
A sorte se mostrando ao bel prazer
Milagres deste encanto eu passo a ver
Causando neste olhar, inundações.
Navego carnavais e deles faço
Além de meramente grito e laço
Um passo para a tal eternidade
Que dure pelo menos um minuto
Nos sinos e nos pássaros que escuto
O gozo derramando divindade.

24654

Deixando aqui um homem morto, triste
Vazio dentro da alma solitária
A sorte quando dela adversária
Não deixa um sonho só que inda resiste
E quando o vento frio ainda insiste
A noite sem um cais é temerária
Felicidade apenas temporária
Um pássaro sem canto e sem alpiste.

Pudesse pelos menos ter o crédito
E dele se fazer promessa ou édito
Inédito sonhar já se denota,
Saudade faz das suas e me castra
O fogo da lembrança então se alastra
Deixando no ar um cheiro de derrota.

24653

Não posso ser da vida um paradigma
Tampouco quero a rima mais fecunda
Minha alma que deveras já se inunda
Deixando no passado algum enigma

Carrego deste sempre o velho estigma
A sorte de outra sorte se oriunda
E calo-me deveras quando afunda
O mundo se perdendo em alfa e sigma.

Desse magma, vulcânica ilusão
O gêiser se extravasa em coração
E trama com calor, águas diversas,

Nas honras deste encanto satisfaço
O quanto desejara em cada passo
E nele fantasias vão imersas.

24652

Por onde andas, pergunto ao velho mar
Netuno não me avisa e até coíbe
Enquanto uma sereia ali se exibe
Mudando este cenário devagar.
Pudesse nesta praia mergulhar,
Talvez em Curuçao, Guiné, Caribe
Ou comer uma esfirra no Habib
Um quibe com quiabo a me fartar.
Assino cada vez a minha morte
E sem ter nem luar que me conforte
Amar se torna esporte, mas de gala,
Uma alma transparente usa biquíni
A moça rebolando na cabine
Vontade fica quieta e não se cala.

24651

Saudade desses tempos, nossas danças
Das valsas e boleros, noite afora
E quando a realidade não decora
Os tempos morrem todos, vãs lembranças

E quando no presente olhares lanças
Na mulher melancia o sonho ancora
E aquela surfistinha não demora
Aonde colocar as esperanças?

No quadro desbotado da memória
A sorte se mostrou torrente inglória
Floresce no momento esta saudade,

Mas corra antes que a vida nos sufoque
Eu gosto e muito mesmo é de um bom rock
E o sertanejo então? Troço que enfade!

24650

Transito entre os desejos, ânsia e medo
E quando me encontrando junto a ti
Descubro o que deveras percebi
Enquanto me deixaste num degredo,
O dia transcorrendo e se me azedo
No fundo quero estar agora aí
O amor, um bandoleiro que em per si
Descobre enquanto encobre algum segredo.
Veneno tão gostoso de provar
E nele novamente entorpecido
O quanto florescendo esta libido
Expõe de manhã cedo o seu luar,
Do céu em raios fartos, sol emerge
Meu rio pro teu rio assim converge.

24649

Ah! Como dói o amor quando distante
E tudo desabando, casa e teto
Por mais que outra saída, eu arquiteto
O temporal em fúria deslumbrante
Riscando o céu em ânsia galopante
Corcel se perde enquanto o predileto,
Buscando no vazio algum afeto
Cometa volta e meia, o mesmo instante.

Hereges fantasias, tosco mundo
E dele quando nele me aprofundo
Encontro esta sereia em bela praia
E dela procurando algum motivo
Descubro estando atento e sempre vivo
O que ela esconde agora sob a saia.

24648

As horas não se passam, vida voa
E diz dos desenganos a taxista
Que errando de caminho pega a pista
E tomba o meu destino numa boa.
Pessoas que descubro no Pessoa
Por mais que não consiga ser artista
O amor quando se dá e nem despista
Furada desde já; esta canoa.
Esgoto os meus demônios com a prece
E tendo em minha mão medo oferece
E beija qual sacrílego noctâmbulo.
Não vou ficar aqui de picuinha
Enquanto se mostrara esta daninha
Equilibrando os pratos, qual funâmbulo.

24647

O mundo se desaba num instante
E traz o que não fora outro momento
E sendo neste tanto eu me apascento
E bebo o teu caminho triunfante.
Mesquinharia diz do vacilante
Momento em que se mostre solto ao vento
O que se transformara em sentimento
Infausto como o Inferno que quis Dante.

Na fúnebre paisagem vejo as trevas
E quando solitária à noite nevas
Transmites outros tantos males rudes
E assinas com teu sangue o meu exílio
O amor tem seus enganos toscos. Pilhe-o
Mostrando que em verdade já me iludes.

24646

Quem dera ser feliz... Rei e coroa
O cetro se perdeu noutra princesa
E venço a cada dia a correnteza
E sei o quanto a vida é muito boa.
Por mais que esta verdade ainda doa
No quarto de dormir ou sobre a mesa
Percebo no teu corpo tal beleza
A sorte se demonstra igual leoa
E trama com furor caçada e presa
Um velho marinheiro agora arpoa
E tendo esta fartura em sobremesa
Enquanto a fantasia não escoa
Do véu que nos recobre sem defesa
A voz desta emoção em mim ecoa.

24645

Nos olhos derramados deste amante
Delírios entre risos e sarcasmo
O quanto imaginara ainda pasmo
O tempo me provoca e tão galante
Por mais que a melodia se adiante
A vida se repete no marasmo,
Transforma uma alegria neste espasmo
A sorte se mostrando um mau turbante
Desprotegido sigo a tal revel
E sem sequer cumprir o meu papel
Espalho esta poeira sobre os olhos
E colho do passado, velhas cruzes
Pisando tão somente em finas urzes
As dores vou colhendo então aos molhos.

24644

As lágrimas se secam. São à toa,
Qual fosse tempestade em copo d’água
A sorte noutro tanto já deságua
Atinge esta esperança pela proa

E quando imaginara fogo e frágua
Eu tenho esta ilusão que agora arpoa
Aonde a vida fosse e não ressoa
Apenas resumindo nesta mágoa.

Anáguas do passado e os corpetes
Distante deste tanto que competes
Desnuda maravilha nesta cama,

E o tempo em tempestade ou temporal
Demonstra quão diverso o meu astral
Enquanto não me doma, ainda clama.

24643

Jamais renascerá o radiante
E belo sol que outrora se fez farto,
E quando a fantasia eu já descarto
Não vejo outro futuro que adiante.
Querendo lado a lado sigo adiante
E faço a cada verso um novo parto
Partindo do vazio e se reparto
O tempo coaduna o navegante.
Nas dunas, nesta praia, escaldo a pele
E enquanto esta loucura me compele,
Repele-me a verdade que encoberta
Deixara ver apenas de soslaio
Da vida não me faço mais lacaio
A senda que buscara está deserta.

24642

Sol... Mais um girassol, louco destoa
Andando sem destino noite afora
Apenas esta treva inda decora
Enquanto caminheiro segue à toa
Aonde imaginara a vida boa,
A solidão cruel tempera e aflora
Senzala dentro da alma já deplora
O sonho que naufraga em tal canoa.
Esguia a fantasia se arremete
Deixando a realidade qual grumete
No início esperançoso vê que o fim
Ainda que pareça mais distante
Denota este sentido que humilhante
Acorda em dissonante som afim.

24641

Floresce mais teimoso neste prado
Abrolho destoando da paisagem
Enquanto percebera esta visagem
Revejo cada tempo mal passado,
E bebo deste sonho enluarado
Fazendo da emoção, minha pastagem,
O coração procura uma estalagem
Sem pajem nem pajé, abandonado;

Acode-me esta franca fantasia
E quando nova luz ela recria
Revejo o que pensara ser festejo.
E nada além do cais que ainda tento
O amor faz reboliço e o pensamento
Agora se arvorando é o que inda vejo.

24640

Relampejante sonho toma o campo
E dele não se vê sequer mais nada
Somente o que luzia em madrugada
Na fagulha fugaz de um pirilampo.
Enquanto a realidade; enfim encampo
A sorte noutra linha desvendada
Deixando a noite imensa já nublada,
Nas hordas da ilusão, agora acampo.

Nos pampas da emoção velha coxilha,
O coração gaudério busca e trilha
Trazendo na guaiaca esta esperança
Bebendo deste amargo vejo a vida
Nos veios da tempesta quer guarida
E assim nos braços teus, ele se lança.

24639

As cores e matizes são farol
Do dia que deveras reconheço
E teimo desde sempre, do começo
A ter este destino: girassol
Recebo cada gota deste sol
E dele faço o verso sem tropeço
O quão dorido sonho; agora esqueço
Num canto que quisera ser de escol.
Espairecendo à tarde na varanda
Bebendo a fantasia que desanda
Às vezes sou poeta ou já me calo,
Não pude suportar a solidão
E encontro nestas cores que virão
Ao mesmo tempo paz, sorriso e calo.

24638

Promete ressurgir vital delícia
Aonde escancarara a gargalhada
E mesmo esta figura destroçada
Ainda se procura com malicia
Por mais que houvesse luz, tanta sevícia
Mudara o quase todo em simples nada
E a poesia tenta em barricada
Defesa que permita uma carícia.

O corpo se trazendo com astúcia
E tendo a maciez desta pelúcia
Extrai toda a tortura e trama o brilho,
Poeta como fosse um andarilho
Vagando constelares esperanças
Buscando com os sonhos, alianças.

24637

Quebranto e solidão meu triste fado
Azares de uma vida? Não duvido
E quando da ilusão estou provido
Mergulho sem saber se existe enfado
E teimo vasculhando cada lado
Por mais que temerário, não regrido
E tanto quanto posso não agrido
O barco há tantos anos naufragado,
Das fráguas do futuro me incendeio
E tendo nos meus olhos rumo e veio
Anseio uma resposta pelo menos
Será que terei dias mais amenos,
Ou mesmo deste jeito macambúzios
Recorro à cartomante, astral e búzios.

24636

Mas, entretanto a vida, um girassol
Rondando cada instante, carrossel
Enquanto se promete gozo e céu
Às vezes me prepara um caracol,
E sem saber se existe um novo sol
Vasculha o coração corsário ao léu
Pudesse ter novelo e carretel
Assim seria ao menos teu farol
Arcando com arrancos e tropeço
Encontro muito além do que mereço
E bebo sem pudor o cio e orvalho;
E sou feito assoalho em que tu pisas
Aonde tempestade; crio brisas
E em prol de uma ilusão, aqui trabalho.

24635

Beija-me! Necessito teu carinho!
E nada além de um pálido sorriso
Por mais que se perceba algum juízo
Nas ancas da morena eu já me alinho
E vibro com prazer se de mansinho
A gente passo a passo ao Paraíso
Das cores do desejo eu me matizo
Enquanto deste gozo me avizinho.

E sendo que conheço esta textura
Do corpo aonde uma alma ora perdura
Momentos divinais, ternura e gozo,
Aonde se buscar nova senzala
A sorte se entregando nada fala
Mergulha neste mar voluptuoso.

24634

Meus mares e saveiros onde estão?
Não posso prosseguir a vida assim
Transtorno cada instante de onde vim,
Matando o que pensara criação,
Esgoto este riacho e o ribeirão
Trazendo a mansidão água o jardim
E sendo que deságua agora o fim
Escuto a voz em tom de negação.
Esbarro nos meus totens, meus fantoches
E quando noutro tanto já deboches
Assomam-se delírios, convulsiono
Buscando alguns sinais que ora não vejo
E se pudesse um verso mais sobejo
Talvez se transforme em luz meu sono.

24633

Meu mundo desabando, estou sozinho,
E sei dos meus temores; e os cultivo
Vencido pelo medo, sobrevivo
Enquanto noutros cantos vou sozinho,
Esgueiro-me e deveras me avizinho
Do canto que pensara mais altivo
Reavivando a glória de um cultivo
Que possa transformar uma água em vinho.
Ecoam dentro em mim vozes de outra era
E quando a sorte trama e degenera
A fera se transporte e volto ao não
Por onde sonegara algum final
O canto que pensara magistral
Revolve o que vivi noutra versão.

24632

As luzes, esperanças vão ao chão
E teimam entre trevas e nefastos.
Momentos que pensara serem castos
Apenas trazem turva podridão
E mesmo sem saber desta aversão
Os dias entre chamas foram gastos
E enquanto houvesse sonhos e repastos
Os meus cantos jamais perecerão.
E sendo libertário por essência
Não posso crer em tal coincidência
De passos entre espaços mais precisos,
Não vejo outro caminho e se percebes
Fantásticas lições em velhas sebes
Das glebas e grotões aos Paraísos.

24631

Meu canto, engaiolado passarinho
Procura a liberdade noutros versos
E bebe destes sonhos mais dispersos
Fazendo do teu colo e corpo, ninho.
Não posso mais seguir sempre sozinho
Vagando sem destino em universos
Momentos solitários são perversos
E deles desbotado o meu cantinho.
Receba cada frase como fosse
Ao menos um delito que agridoce
Enquanto traz o sol, beirando à chuva
Encaixo coração com coração
E sei das tempestades que virão,
Usando de pelica a minha luva.

24630

A noite me promete sempre o não
Eternizando assim o que retrato
Aonde se pudesse algum destrato
Audácia se transforma em negação
Pudesse ter nas mãos os que oporão
Com ódio este caminho que bem trato
Servindo a podridão em fino prato
Deixando a poesia no porão
Teria sem pudores faca e foice
E quando se prepara um novo coice
Galopo em liberdade, sou corcel
Aonde ser feliz é o que me basta
Por mais que tendo uma alma mais nefasta
Da terra avisto o cimo e toco o céu.

24629

Encharco meu amor, cálice, vinho
E quanto mais eu bebo e me inebrio
Aceito a cada instante um desafio
E neste mundo insano já me aninho.
Não quero nem por isso ser daninho
Descendo mansamente qualquer rio
Até que a foz se houver senão eu crio
Deixando a cachoeira e o burburinho.
Assentando a poeira desta vida
Abrindo vez em quando esta guarida
Escrevo quando quero o que bem sonho
E sendo assim um simples repentista
Visão que se pretende futurista
As sombras do passado eu recomponho.

24628

Promessas? Só me fez a solidão!
E mesmo assim deveras enganosa
Que enquanto ali desfila nega a prosa
E traz do verso apenas aversão.
Versões que se pensara não virão
Do avesso mergulhando espinho e rosa
O beijo me transporta enquanto glosa
Medonha maravilha em podridão.
O gosto amargo e cinza do passado
Ainda nos meus lábios preservado
Transmite um sonho audaz, mas temerário
Voando em liberdade, nada vejo
Sequer o que talvez fosse o desejo
Deste eremita torpe, um solitário.

24627

Nos teus olhos a vida me protege,
Últimas esperanças de viver
Jogadas neste copo de aguardente
A vida de um decrépito demente
Permite novo sonho a se perder
Pudesse transformar e tentar ser
Além do pensara ultimamente
O corpo se transtorna e assim doente
Não tenho outra saída e vou beber.
Esgoto as esperanças nesta taça
E quando a realidade eu vejo, passa
Apenas simples sombra do que fui
Moldando este vazio em cada copo
E até voar sem asas, penso e topo
Enquanto o meu castelo aos poucos rui.

24626

Destrua tal tristeza, a vil herege
E venha para a festa sem pudores
Aonde sem destino tu te pores
Verás o quanto amor já nos protege
E a sorte com certeza nos elege
E dela sei jardins, e busco flores
Diversos os matizes, multicores
Caminhos onde o amor ainda rege.
Resisto, mas não posso me furtar
A mergulhar insano no teu mar
E enquanto canta assim bela sereia
A vida noutra vida já se dando,
Encontro esta saída desde quando
O amor pega de jeito e me incendeia.

24625

Que teima em devorar meu sentimento
Já sei e não me canso de falar
Enquanto sob as forças do luar
Por mais que ainda tente não sustento
O vento se transforma em sofrimento
E o gosto se adequando ao paladar
Ainda que precise mais salgar
No quanto ser feliz, doce tormento,
Assino assim ao fim minha alforria
Nas horas em que tola tu dizias
Do beijo inusitado que te dei,
Fantasmas de nós dois rondando a sala,
Uma alma distraída já se cala
Fazendo da alegria sua lei.

24624

Desejo esta morena, saia e riso
Fazendo da gandaia nossa Roma
O corpo junto ao corpo mais que soma
Transcende nos levando ao Paraíso
E tudo sendo assim, manso e conciso,
Pisando nas estrelas, uma alma doma
E toda a fantasia que ela toma
Espalha o gosto bom do que preciso.
A vida se transforma em fortaleza
E dela sem ter medo nem surpresa
A fantasia lúdica é completa
E sendo assim galgando a bela lua
Que em tantas alegrias já flutua
Cupido pinta e borda com a seta.

24623

Eu não tenho sequer tempo a perder
E tento disfarçar num outro mote
Antes que a própria vida nos desbote
E negue necessário, este prazer.

O beijo que podia reverter
Agora já quebrou a ponta e o pote,
Reconto sem destino até que brote
Na espera do vazio, um novo ser.

Assombreado bosque em luz serena
A calma noutro tanto agora acena
Mudanças prometidas desde quando

Ao perceber o mundo desabando
Tijolo por tijolo, recomponho
O mundo que me deste tão bisonho.

24622

Equilibrando dores, alegrias
A vida de um truão é mesmo assim
Início destroçando cedo o fim,
Cedendo a cada passo em noites frias,

Se o todo num pedaço já desvias
E o quadro se mostrasse mais chinfrim
Não sou sequer demônio ou querubim,
Mas tudo o que eu desejo; fantasias.

Exercitando em mim este alpinismo
Cavalgas e procuras pelo sismo
Que logo se aflorando traz enchente

Depois é só correr e socorrer
Que tudo terminando no prazer
Por mais que me perturbes ou me atentes.

24621

Respiro sentimentos diferentes
Enquanto tempestade e riso aprontas
As horas são deveras tolas, tontas
Bebendo cada gota de afluentes.
E mesmo sendo assim ainda mentes
E no final de tudo em altas contas
Sequer a fantasia tu descontas
Deixando para trás noites gementes.
Orgásticas loucuras? Nunca mais
O barco procurando um novo cais
Encontra fina areia movediça,
E sendo assim perdoe alguma falha,
Minha alma na verdade só batalha
Fugindo deste tédio que cobiça.

24620

Coração escraviza-se em folias
E delas se faz farto e não descansa
Mereço ter alguém? Vaga lembrança
Do tempo que deveras esvazias.
Serenas noites trágicas, vadias,
E delas inda resta esta esperança
Vulgar que enquanto a vida em aliança
Amortalhado sonho que temias.
Perpetuando o jogo- perde e ganha,
Assim eu permaneço sem montanha
Nem mesmo corredeira, nesta fossa
Assoreada vida se transborda,
E vivo em precipício beira e borda,
Até que no final, sorrir eu possa.

24619

Meus medos e quimeras são urgentes
Traduzem o viver de um insensato
Que a cada novo dia cospe em prato
Aonde banqueteia e tu consentes.
Vencer os meus temores e correntes
Algemas fazem parte do contrato?
Não posso e até por isso desacato
Mostrando falsa fera em poucos dentes.
O quanto se fizera com capricho
A cada amanhecer verdade esguicho
Usando da palavra mais mordaz,
Defesa simplesmente ou ironia,
Abandonando à sorte quem me guia,
Apenas o terror me satisfaz.

24618

No picadeiro trago as fantasias
Vestido de palhaço simplesmente
Aonde se teimava e ainda tente
Uma alma sem caminhos, tu perdias,
Perfilas sob os olhos novos dias
E tudo o que pensaras, inda mente
Omite-se a verdade e num repente
A gente empoeirando as poesias.
Esgoto cada tema no espetáculo
E pondo meu olhar como um tentáculo
Oponho-me ao que outrora verdadeiro
Agora já não serve; pois, puída,
A roupa não traduz a nossa vida,
Apenas o cenário: um picadeiro.

24617

Dançando sobre luas e vertentes
Assistindo o espetáculo, disperso
Os dias entre seios, risos, versos
Expressas os anseios mais urgentes.
E mesmo que deveras já alentes
Vontade de caminho mais diverso
O beijo sem pudores traz imerso
O anseio que nos torne mais contentes;
Vestindo esta emblemática esperança
A vida tanto pede enquanto lança
Aonde, em descaminhos se inda opores
Os passos contra a enorme correnteza,
Permita-se sonhar e em tal leveza
Terás nesta vertente belas cores.

24616

As ruas prometendo cantorias
E festas entre fogos e reinados,
Os dias prosseguindo amarrotados
Nas sendas e veredas onde guias
Na constelar loucura, as fantasias
Momentos com certeza mal passados
Ungidos pelas cruzes, urzes, Fados,
E os gados da emoção que não mais crias.
Vertentes tão diversas; veja e tentes
Buscar noturnos focos mais ardentes
Fraguando o meu delírio em teu calor,
Partícipe da festa feita em vida,
A sorte noutra sorte estando urdida
Traduz ao fim das contas, nosso amor.

24615

Amores que refletem tantas gentes
Fazendo tempestade em copo d’água
Depois de certo tempo já deságua
Em rios bem maiores, afluentes
E as fozes onde ainda me contentes
Não cabem ilusões, tampouco a mágoa
E vendo o sol imenso, cada frágua
Traduz momentos fúlgidos e ardentes.
Excêntricos sabores; medo e gozo,
O tempo se mostrando caprichoso
Premissas de luares e procelas,
No entanto encantos tantos dizem pouco
Do amor em que me perco e me treslouco
Ainda algum futuro inerme selas.

24614

Palavra e pensamento vêm à tona
Depois da tempestade e do naufrágio,
A vida já não tem pena ou deságio
E sempre cada falso desabona,
O ser feliz deveras me abandona
Não resta, por defesa nem adágio,
Porém não pagarei qualquer pedágio,
O mundo transformado numa zona.
Assíduo sonhador ou mesmo otário,
O passo sem limites, temerário
Talvez levando à beira em precipício.
E quase precipito novamente,
Só quero quem deseje e até me agüente,
Um amor que não se mostre assim fictício.

24613

Rodopiar da saia da morena
Deixando um coração tão agitado
Batendo sem limites, o coitado
Jamais ao ver beleza assim serena.
E quando a vida fora mais amena
Uma esperança deixo ali de lado,
E o tempo se conjuga no passado,
Magia que deveras já se acena,
Falando da morena e sua saia
Por mais que o pensamento na gandaia
A trama se desdobra diferente,
A pele neste espelho se enrugando,
E o que sempre quisera bem mais brando
A vida já levou; cruel torrente.

24613

Rodopiar da saia da morena
Deixando um coração tão agitado
Batendo sem limites, o coitado
Jamais ao ver beleza assim serena.
E quando a vida fora mais amena
Uma esperança deixo ali de lado,
E o tempo se conjuga no passado,
Magia que deveras já se acena,
Falando da morena e sua saia
Por mais que o pensamento na gandaia
A trama se desdobra diferente,
A pele neste espelho se enrugando,
E o que sempre quisera bem mais brando
A vida já levou; cruel torrente.

24612

A vida me promete não ter pena
Dos erros cometidos em seu nome,
Por isso mesmo quando a fúria eu dome
A sorte se transforma e não acena,
Minha alma frente ao medo se apequena
E tudo se transmuda em medo e fome,
Nos braços se puder, amor me tome
Futuro, a fantasia concatena

E beija as suas fráguas; bebe a fonte
Por mais que noutro canto se desponte
O verso mais audaz se faz sincero.
Vibrando de emoção só por saber
Do quanto me ilumina este prazer
Que é nesta vida em dor, tudo o que eu quero.

24611

O canto que te trago, de carícia
E gozo prometido sem rancores
Além do que podiam teus pudores
Amor se faz com ares de malícia
E quando dos desejos a notícia
Tocando os corações, por onde fores
Terás em tuas mãos, espinhos, flores
Da dor que nos engana, tal delícia.
Sentindo o teu perfume, deslumbrado
Retorno aos velhos sonhos do passado
E quanto mais mergulho, mais me encanto
Viver a poesia sem temer
O quanto se transtorna o nosso ser,
Em voz suave e mansa, agora canto.

24610

Nem medo nem quimera que me atinja
Podendo destroçar um sentimento
No qual por vezes penso e já me alento
Nas cores e matizes onde tinja
O mundo percorrendo o pensamento
Qual fora samurai, ou mesmo um ninja
Que em lutas desumanas sempre finja
Fugindo o mais depressa do tormento
No qual e pelo qual se existe a vida
Que tanto nos encanto quanto acida
E traz novo viver em tom sombrio,
Vencer os medos tantos que carrego,
Assim fortalecendo enfim meu ego,
O mundo neste instante eu desafio.

24609

Viagem que em teus braços, determina
Caminhos pelos quais posso encontrar
Além do manso raio de um luar
Que ao mesmo tempo dói quando fascina,
E tendo uma alma tola e cristalina
Não temo mais angústias; bebo o mar
E dele a cada lágrima a salgar
Permite inusitada e rara mina.
Examinando os erros percebi
Que tudo me levara enfim a ti
E sei que por talvez amar além
Do quanto poderia; vejo o fim
E transbordando estrelas dentro em mim,
Olhando para os lados; mas, ninguém.

24608

Amor em perfeição quase divina
Não deixa sem respostas um amante
E segue sem perguntas, sempre avante
E a cada novo passo, me fascina.
Não tendo quem o tempo assim domina
Por mais que a cada dia se adiante
Incandescente fúria num instante
Destroça qualquer fonte, ponte ou mina.
Exalas teu perfume e te persigo
Pudera ser além de um bom amigo
Teria finalmente aqui repleta
Uma alma que se fez em fantasia
Tocando mansamente a poesia,
Porém o que fazer: não sou poeta.

24607

Seguindo a nossa estrada para o sol
Mergulho nos anseios da ilusão
E sei que tantas luzes proverão
O amor que se espalhara no arrebol,

E encontro nos teus braços o estuário
Dos sonhos e desejos de um poeta,
Que em ti quando se lança se completa
Por mais que a vida mostre um rumo vário.

Seguindo cada rastro poderei
Chegar a mais sublime cordilheira
Paixão ao se mostrar tão verdadeira
Dourada pelos raios do astro-rei

Não deixa qualquer dúvida e incendeia
Entrando em cada poro, sonho e veia.

24606

Quem nada poderá fazer sozinho
Já sabe dos engodos de uma vida
Enquanto a realidade, distraída
Encontra por resposta algum carinho
Nas ânsias deste encontro eu já me alinho
Minha alma neste instante esmaecida
E teimo em procurar outra saída
Que possa inebriar; diverso vinho
Do qual entorpecido bebo até
Chegar ao tal Nirvana que inda busco
Por mais que o céu esteja turvo, fusco.
Solares maravilhas, rumo e fé
De quem ao se entregar; felicidade
Tocando levemente sempre aguarde.

24605

Derrama-se por sobre a terra inteira
Dourando com sublime maravilha
Seguir deste astro-rei enquanto trilha
Minha alma destes sonhos já se inteira
E segue, alucinada a bela trilha
Além da fantasia corriqueira
Entrega-se deveras companheira
E vendo tanta luz se maravilha.
O sol entorna assim por sobre nós
Porquanto nos atando em firmes nós
Dos quais jamais um dia me liberto,
Num paradoxo sinto que esta algema
Enquanto nos unimos não algema
Mantendo o coração sempre liberto.