domingo, julho 09, 2006

Da Tragédia Anunciada e avisada...

A situação em que se encontra a segurança pública em São Paulo é falimentar.
Nesses últimos sessenta dias tivemos a comprovação de que o desgoverno em que se encontra o maior estado da federação, não somente proporcionou, como agravou e muito essa realidade.
A partir do momento em que tivemos no passado uma demonstração de fraqueza e inoperância em relação às FEBENS, denotava-se que, quando o PCC, organização montada sob as barbas da ineficiente política estadual de segurança, fosse agir, seria muito pior do que o que se observou no Rio de Janeiro, nos tempos do Comando Vermelho.
A estrutura do PCC tende a se tornar tão grave quanto a da carmona ou da máfia italiana, tendo ramificações em todo o crime organizado.
A par disso, temos um estado ineficiente e omisso e que recusa a ajuda federal para poder impor-se sobre o crime organizado.
A destruição do sistema prisional paulista, com centenas de presos dormindo ao relento, possibilitando situações de gravíssimo risco de epidemias, de agravamento de doenças e de morte, demonstra o quanto o Estado é falho.
O fato de um ser humano ter cometido um crime não dá o direito de que o sistema público o trate desta forma. Não estou defendendo “direitos de bandidos” como os radicais obsoletos poderão argumentar. Não se pode esquecer que temos no sistema prisional brasileiro, chefes de família condenados por pequenos crimes e até inocentes ou pessoas que já cumpriram a pena.
Pela Constituição, todos os presos estão sob a custódia do Estado, e essa custódia deve ser feita com um mínimo de dignidade, e isso não é feito.
Recordo-me de Victor Hugo, em sua obra-prima, “Os miseráveis”, criticando o sistema penitenciário e penal francês, de tal forma que promoveu mudança radical sobre esse. As galés, com certeza, são mais humanas que o sistema brasileiro atual. A superpopulação dentro das penitenciárias é, de tal sorte cruel, que não recupera na maioria das vezes, tendo efeito contrário ao que se propõe.
Mesmo na “Recordação da casa dos mortos” de Dostoievski, a realidade era mais branda do que a percebida hoje.
Obviamente, a ação será respondida por uma reação tão forte quanto a inicial. A organização do crime, em grupos é facilitada pela omissão do Estado e, principalmente, pela conivência deste.
A entrada de celulares, armas e drogas nas prisões paulistas, demonstra o grau de corrupção deste estado, e da impunidade dos agentes penitenciários e da polícia civil e militar.
Não se pode pensar que a Secretaria de Segurança Pública seja totalmente desinformada, sabendo de denúncias que levam ao pré conhecimento desta com relação aos fatos que vivenciamos.
A irritação dos policiais ao saberem que tudo o que ocorreu no dia das mães desse tenebroso 2006, levou a uma chacina em massa de pessoas envolvidas ou não com o crime, num claro desrespeito e desobediência às leis vigentes no país.
A contra reação está ocorrendo agora, com a volta dos ataques a policiais e a agentes penitenciários, além da destruição de penitenciárias.
O que mais irrita é a impotência e inoperância do Governo do Estado, mais preocupado em tentar evitar perdas eleitorais da candidatura tucano/pefelista à presidência da república do que em salvaguardar a população paulista.
Essa omissão e ação, além de burra, é criminosa. Duvido que, se houvesse algum parente do surreal governador Lembo e do secretário superstar Saulo ameaçado pelos crime organizado, a atitude seria essa.
É mais do que hora de haver uma intervenção federal na segurança pública paulista, já passou da hora. A partir de certo tempo, ou seja, do domingo do dia das mães, cada morte pode e deve ser creditada a inoperância e imbecilidade do comando paulista. Inclusive a quem acha que a eleição é mais importante que as vidas ceifadas desnecessariamente.
A mudança do sistema prisional em todo o Brasil é urgente, a dignidade humana tem que ser respeitada. Não defendo mordomias para ninguém, muito menos para quem deve pagar pelos crimes e erros. Mas não posso admitir que o tratamento subcanino dado a seres humanos prevaleça; sendo isso, em minha opinião, a principal causa da formação de grupos como esse PCC, como o CV, Terceiro comando, etc.
Atividades profissionais, celas sem comunicação e com menos presos, facilitariam o controle sobre a população carcerária, do modo em que se encontra, com superpopulação e descontrole absoluto e falta de atividades, o que temos é campo fértil para o que estamos vendo agora.
A urgência absoluta é a de se coibir com firmeza e com a utilização das Forças Armadas, já que o assunto é de Segurança Nacional, e não somente do Estado de São Paulo.
Não defendo a pena de morte, longe disso, o que pretendo é que a dignidade humana seja preservada, tanto nossa, enquanto cidadão tanto quanto a dos presos.
A máxima de que, no Brasil, só vai preso quem é pobre, preto ou puta, é, na maioria das vezes, real.
Há um contra-senso em se afirmar que não se deve defender o direito destes a um tratamento mais digno.
Medidas inteligentes devem ser tomadas, a médio prazo, para se evitar o que temos hoje, principalmente em São Paulo, onde, desde as rebeliões da Febem, já poderíamos pressentir o que está acontecendo hoje, verdadeira tragédia anunciada.
E, pelo que consta, devidamente avisada.

Tucanolândia 5 - Vale muito mais do que pesa...

O rei Fernando Caudaloso, depois de conseguir se manter por mais quatro anos no poder, resolveu, não se sabe se por acaso ou não, inaugurar um novo modismo no reinado da tucanolândia.
A partir do preceito de que é mais fácil destruir ou vender do que administrar com seriedade e competência, resolveu se desfazer dos bens do reino.
Decisão tranqüila e fácil, já que um outro Fernando colocara a culpa de todos os desmandos do país nos funcionários públicos, muitos deles concursados e, com justiça, donos de seus postos de trabalho.
Pois bem, depois de um tempo, começaram as “vendas” do patrimônio público, às duras penas criado, para quem quisesse comprar.
Foi uma festa. Leilões e mais leilões, a liquidação chamou a atenção do mundo inteiro.
Aceitara-se tudo como moeda de troca, inclusive papéis de dívidas públicas envelhecidos, sem valor de mercado, mas com grande valor na hora da compra do patrimônio, inclusive com superfaturamento de alguns.
Com a desculpa de que a telefonia era obsoleta, o controle das linhas telefônicas que era um patrimônio particular, passou a ser das “concessionárias”. Vamos fazer uma analogia com a casa própria, a partir de agora, ninguém pode ser proprietário de uma casa, os imóveis passariam a ser desapropriados por preço pré estabelecido e quem recebesse “a concessão”, passaria a alugar todas as casas do país.
Medida genial como essa, só no reino da Imbecilândia.
Mas, o pior ainda estava por vir. A produção de energia continuaria sendo bancada pelo povo, mas a administração da venda dos serviços, passaria a ser dos “concessionários”.
Havia no reino, uma empresa que era tida como o “orgulho nacional”, a menina dos olhos do povo.
A Vale que, entre suas riquezas, tinha jazidas minerais incalculáveis, portos, ferrovias, rede de transportes, etc.
A avaliação de seus bens chegava a mais de trinta bilhões de dólares, com faturamento trimestral de três bilhões.
Advinha o que aconteceu? Fernando Caudaloso não se fez de rogado, aceitou os três bilhões dados...
Peraí, de entrada?
Não, de valor total.
A pergunta que não quer calar é a seguinte : ISSO É SINAL DE INCOMPETÊNCIA OU DE CORRUPÇÃO, E DAS GROSSAS!
O resto que sobrou; Furnas, Petrobrás, Eletrobrás, entre outras, estão na alça de mira de Geraldo Saidemim, candidato da ala tucana ao reinado da tucanolândia, mas isso é outro capítulo da história...

A quem interessa a virória de Lula?

Lula promove 6 milhões de eleitores para a classe C
FERNANDO CANZIANda Folha de S.PauloColaborou MATHEUS PICHONELLIda Folha de S.Paulo O governo Lula produziu uma melhora considerável na classificação econômica dos eleitores a partir de 2003, revela pesquisa Datafolha. Cerca de 6 milhões de eleitores saíram da classe D/E. A maioria migrou para a C. Praticamente a metade dos 125,9 milhões de eleitores (49%) considera hoje que sua situação econômica vai melhorar.Ao mesmo tempo, houve um aumento no consumo, sobretudo de alimentos --37% dos eleitores passaram a consumir mais desde 2003. A melhora na renda se dá por uma combinação de cenário econômico positivo e forte aumento do gasto público dirigido aos mais pobres. Na contramão, há queda nos investimentos em infra-estrutura e dúvidas sobre a sustentabilidade da atual política "pró-pobres".Além disso, os maiores aumentos na renda estão, na verdade, concentrados entre os que têm aplicações financeiras. Mas, em termos gerais, nunca foi tão baixo, desde 1994, o percentual de brasileiros que reclama da insuficiência do seu poder aquisitivo. Hoje, 28% acham "muito pouco" o que a família ganha. Eles somavam 45% antes da posse de Luiz Inácio Lula da Silva. O Datafolha ouviu 2.828 eleitores no país entre 28 e 29 de junho, quando pesquisou a intenção de voto à Presidência.No levantamento, Lula (PT) aparece com 46% e Geraldo Alckmin (PSDB), com 29%. A melhora no consumo e nas expectativas dos eleitores mais pobres explica em grande medida o favoritismo do petista, que hoje venceria no 1º turno. A pesquisa também questionou hábitos de consumo, percepção da situação econômica, nível de renda, posse de bens e condições de moradia. Foi considerado ainda o grau de escolaridade do chefe da família.O cruzamento dos dados permite agrupar os entrevistados em três classes: A/B (48% têm renda familiar mensal superior a cinco salários mínimos), C (68% têm renda de até três mínimos) e D/E (86% têm renda de até dois mínimos). Um dos principais resultados do levantamento é que o total de eleitores na classe D/E diminuiu de 46% para 38% entre outubro de 2002 e agora. A classe C inchou, passando de 32% para 40%. Já a classe A apenas variou de 20% para 22% --dentro da margem de erro da pesquisa, de dois pontos percentuais para mais ou menos. São justamente as classes D/ E e C que concentram as maiores taxas de intenção de voto em Lula: 54% e 44%, respectivamente; contra 34% na A/B.A pesquisa também questionou os eleitores sobre a participação em programas sociais do governo, como o Bolsa-Família. Os maiores aumentos de consumo (de alimentos, CDs piratas ou perfume, por exemplo) foram detectados entre membros da classe C que participam ou que têm alguém da família incluído nos programas. Entre esses eleitores, 52% consumiram mais alimentos nos últimos três anos, contra 37% na média geral. Os menores percentuais de aumento de consumo foram detectados na classe D/E.Mesmo assim, é aí que está concentrada a maior força eleitoral de Lula e, segundo algumas análises, a maior taxa de aumento da renda nos últimos anos. Dentre os D/E que participam de algum programa social, Lula chega a ter 65% da preferência dos eleitores, contra 27% de Alckmin. Os D/E e C também são os mais otimistas em relação ao futuro.


A quem interessa a vitória de Lula?
Essa pesquisa parece esclarecer esta pergunta. A imensa maioria da população brasileira não lê jornais, não tem acesso à Internet, não pode assinar as revistas de “informação” e análise política.
Nosso povo, em sua maioria, ao final do governo passado, com uma inflação ascendente, o custo de vida explodindo, a fome e o endividamento do país chegando a índices recordes, contando com um salário mínimo de praticamente cinqüenta dólares, estava sem esperanças.
Esse fato não tem como ser negado, pois contra fatos os argumentos se esvaziam.
Através das fronteiras escancaradas, a evasão de divisas estava levando o Estado Brasileiro a uma situação falimentar.
Com a administração atual, isso tudo mudou.
Obviamente, temos os escândalos de corrupção que atingem, tanto parte do governo quanto da oposição, não sendo um ato isolado do Governo; envolvendo parlamentares de todos os partidos políticos.
Isso é grave e deve ser além de esclarecido, punido. E isso também é de importância maior para o povo, mas o preço do arroz, do feijão, do cimento, entre outras coisas, têm peso mais significativo.
Vendo pelo prisma da população mais carente, o Governo anterior foi criminoso, deixando os mais carentes à míngua.
Obviamente, a vitória de Lula interessa diretamente a essa camada da população brasileira que é, indubitavelmente, a mais numerosa.
Com relação à classe média, em nível de profissionais liberais, o aumento percentual da classe C, faz com que os consultórios médicos e odontológicos aumentem o número de pacientes particulares; o mesmo se repetindo com outros profissionais.
Se pensarmos, o aumento de dinheiro circulando, com o aumento de consumo, está gerando mais empregos em nível de indústria, com melhora das vendas tanto a nível interno quanto externo, esses dados não podem ser negados.
Portanto, a vitória de Lula não contraria nem o setor terciário nem o secundário da população.
Os créditos para os pequenos agricultores, permitindo a sobrevivência destes, faz com que possamos afirmar que, para a maior parte dos minifundiários e médios proprietários, a vitória de Lula interessa.
O mesmo não se pode dizer com relação aos grandes latifundiários, a maior parte deles acostumados com as benesses dos governos anteriores, mestres no financiamento de Grandes Proprietários a tempo perdido, como outrora no “Escândalo da mandioca”, lembram-se?
Mas, existe uma parte da população muito saudosa dos “bons tempos”, em que a impunidade estava oficializada, a partir da proibição governamental das investigações sobre denúncias feitas contra órgãos públicos.
Não vou usar a leviandade de grupos de “ataque” desta turma que acusa a quem é simpático ao governo de ladrões, de corruptos, entre outras ofensas. Prefiro denominá-los de inocentes úteis.
Uma outra parcela, subitamente atacada pelo vírus da “moralidade”, argumentam que esse é o “governo com o maior escândalo de corrupção de todos os tempos”. A mentira repetida à exaustão pode virar verdade, mas isso ocorre comumente com os néscios.
A empregada que permite a limpeza da casa, por acaso é responsável pela poeira que sobe, quando a anterior escondia para debaixo do tapete?
Isso é de uma falta de argumentação exemplar.
Aconselho a esse pessoal procurar um espelho, onde verão a verdadeira face estampada. A esses posso denominar de “bobos da corte”. Repetem tudo que os coronéis dizem, as reflexões não passam de reflexos medulares, portanto sem passagem pela massa cinzenta.
Exemplam a falta de capacidade analítica e opinativa.
Outros apresentam a verdadeira face do preconceito, da discriminação e da segregação. A esses, nada a dizer.
O que falar para este tipo de gente?
Nada, sinceramente, nada...
Quando vejo postado, em alguns lugares, comparações entre Lula e Hitler, não dá para comentar isso.
Uma coisa resta de consolo, com o crescimento proporcional da classe média, ou classe C, conforme queiram, há uma possibilidade de um aumento de vendas das Vejas, Folhas, Estadões, etc...
Aí, quem sabe, a tática titica usada para tentar inibir a classe média de pensar, pode dar resultados.
Em 2010, quem sabe?

Ao grande amor de minha vida...

Interessante isso tudo, contra todas as convenções sobre amor, eu ainda te quero, e muito.
Não de um querer explícito e egoísta, desses que a vida, normalmente nos apresenta.
Muito estranhamente, te quero.
Bem sei que estás feliz e que nem te lembras mais nem de mim e nem do que vivemos.
Pode ser, até, que para ti não tenha sido algo de maior importância. Éramos tão crianças; e isso talvez tenha sido decisivo para que eu não te esquecesse.
Casei, descasei, fui feliz, chorei, me desesperei, gozei os prazeres e as dores que a existência traz.
Mas tua presença ficou sempre, como se fosse um pano de fundo para que a vida transcorresse.
Volta e meia, principalmente nas horas mais angustiantes, brilhavas, tornavas a brilhar, diminuías o brilho, mas nunca apagaste.
Estrela constante e salvadora...
Eu te amo isso é bastante, e me satisfaz plenamente.
Não, eu bem sei que não serás minha e nem quero isso.
Poderia ofuscar a luz de um tempo que foi meu, e de mais ninguém.
Teus beijos ainda alimentam a alma. A calma e a doçura que transmites são as pilastras que fazem a minha vida seguir.
Transcorrer como o rio manso que terminará no mar, inevitavelmente.
Isso és a margem que faz com que eu possa ter a segurança de seguir sem medos. A dor pode vir, a solidão nunca virá. Existes em mim de forma insubstituível e imortal.
Não sei se lerás isso ou se meu canto chegará aos teus ouvidos; pouco importa, nada importa para mim a não ser saber que te tive.
Que tive tua boca, teus olhos, teus seios, tua ânsia de viver e a primavera de uma mulher maravilhosa, que perdi no verão e que hoje, no outono, me dá a garantia de que o inverno pode chegar sem pânicos, sem medos, indolor...
Não digo e nem direi teu nome, só a mim ele pertence, nem quero te reencontrar, isso não mais é meu, foi a fotografia do que vivemos que se perpetuou num negativo sempre revelado pela alma. Minha alma, minha calma, sem chama, brasa que alimenta a vida...
Quando me falam de ti, não ouço, nem pretendo ouvir, poderia macular a imagem perpetuada, santa imagem que venero, estás no meu oratório, és meu santuário.
Ah, és a saudade doce e serena, a saudade do que, mais que tudo, fui.
Bem sei que és o reflexo de minha juventude, espelhas a vida sem marcas, a alma sem sofrimentos, o gosto delicioso do que já não mais sou e nem nunca serei.
Na verdade, não sei se te amo. Bem sei que o que amo em ti, sou eu, um eu morto e esquecido num canto qualquer.
Arquivada em minha história, mas plena a cada instante em que busco ser feliz.
Nunca me abandonarás, bem sei. E essa certeza que me faz seguir em frente. Sem medo da vida, sem medo da morte, com um álibi maravilhoso para continuar a minha existência...

Cena de sangue num bar...

Aquela tarde foi decisiva. Esperara o telefonema de Neuza durante a semana toda, e nada...

Nada de Neuza, nada do amor tantas vezes jurado e sonhado. Chegara a querer Neuza mais que a própria vida.

Vida, que vida? Amores são coisas passageiras, fazem passar o tempo, assim como o tempo faz a gente esquecer.

Esquecer como? As noites, tantas noites, a embriaguez de Neuza, o copo de cerveja esvaziado a cada instante, a vida passada nos braços e nos desesperados pesadelos.

“O amor, quando é demais, ao findar leva a paz”, mas não é somente isso, levou a vida.

O tempo congelado, a vida congelada, o emprego se danara, a esperança também.

Restara somente um sabor, o jiló da vida dera o amargo mote para uma existência sem sentido, sem paz, sem futuro.

Apenas uma coisa restara, a vingança.

Vingaria, de qualquer forma, custasse o que custasse.

A magia da esperança se tornara no desencanto da perda, da pedra incrustada no peito, na alma, no que restasse...

Ao descobrir, tempos depois, que Neuza estava namorando um velho amigo, tudo desabou de vez.

Logo ele, a quem tanto dera apoio, nos momentos mais difíceis, amigo do peito, amigo... O peito, a faca, a vida rodando, girando como se fosse uma roda gigante, no parque sem graça da infância recordada, na destruição do que antes construído com muita dedicação e luta.

A rosa vermelha, a boca vermelha, os bares, o Campari, sem amparo, no doce amaro das noites.

A sinuca passara a ser o ganha pão, as apostas, as perdas e danos da lida transformadas em porres homéricos, em pileques gigantescos, onde Neuza rodava, girava e o sangue...

O gosto da vingança estava na boca, ruminado, único norte, único rumo...

Sabia que Neuza iria ao parque, ao bar, ao mundo, e a esperava.

Num momento, os dois rodando, girando, sentados no bar. Na esquina, no bar, o vermelho da rosa colocada sobre a mesa, na toalha vermelha, as cadeiras vermelhas, a mesa...

No momento final, a faca erguida, veio toda a vida, desde a criança pobre, à chefia do departamento, abandonada, jogada fora...

E, num instante, a face avermelhada pela embriaguez, a desesperança, a gravidez de Neuza denotava a vida que viria, a esperança que não mais lhe pertencia e a faca...

Uma só bastou, a pontaria era boa, o sangue pela boca, o coração aberto...

Aberto o peito, sobraram os gritos apavorados de Neuza, e o medo estampado no rosto do namorado.

Tucanolândia - capítulo 4 - Ainda bem que quem pagou não foi Fernando... Ou de como é gostoso ir passear na França

Na tucanolândia, a cada quatro anos, pela constituição vigente, haveria necessidade de eleição para a mudança do chefe de estado, sendo proibida a reeleição.

Fernando Caudaloso, famoso pela sua maneira de governar, num escandaloso “toma lá dá cá” sem paralelo na história do pequeno reino tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, estava numa encruzilhada.

Gostou de ficar ali, com suas mordomias, suas viagens ao exterior pagas pelos contribuintes do reinado.

Inclusive, como o avião oficial do reino estava meio que meia bomba, velhinho como ele só, Fernando gostava de ir em aviões fretados, onde levava vários convidados para passearem na Europa ou nos Estados Unidos, motivo pelo qual ganhou o apelido de Viajando Caudaloso...

Essa oposição é fogo, o quê que tem umas voltinhas pela Europa, um cheirinho de civilização não faz mal e, além disso o rei gostava de matar saudades da belle France. Aquilo é que era país para se viver, que idioma fantástico, nada dessa coisa estranha falada em tucanolândia.

Aliás, de vez em quando recebia um ou outro título ou comenda, e tinha que comparecer, isso fazia tão bem ao ego...

Na Constituição do Reino, haveria necessidade de ter dois terços dos votos para uma mudança tão profunda...

O que fazer? Se fosse menos que isso, a base de bajulação bastaria, pois essa já o tinha ajudado a fazer a “Abafadoria Geral” e os engavetamentos das encrencas anteriores.

Mas, esse caso era diferente. Não bastavam as distribuições de favores do orçamento não, os parlamentares queriam mais.

Quando soube da novidade, ficou assustado.

Acostumado a dar milhões de dólares a banqueiros, acreditava que, dessa vez, a situação estivesse perdida.

Conversa vai, conversa vem, teve uma grata surpresa.

Ô povinho barato esse da tucanolândia. Menos de cem mil dólares para cada um.

Saiu quase de graça, mais quatro anos para poder passear, poder fazer favores para os amigos, que maravilha!

Mas, mal sabia ele que havia um grupo de curiosos e fofoqueiros, precursores de um famoso Senador da Terra dos coqueiros, o Bondadeza, que gravaram uma conversa entre dois tagaleras deputados.

A casa parecia que ia cair, ainda mais que os dois, não agüentando a pressão caíram fora. Claro que depois de aprovada a mudança constitucional.

Mas, como o nosso Fernando tem um pé na cozinha, fez promessa para Sete Flechas, entidade protetora dos partidários de Don Fernando Caudaloso, tudo deu certo no final.

A que preço não sabemos, mas mais uma vez, conseguiram engavetar mais um escândalo.

Acredita-se que ficou bem cara a reeleição de Fernando, mas quem pagou a conta foi o povo, então, usando o raciocínio dos fernandófilos, ficou barato...