quarta-feira, setembro 13, 2006

Despedida

Nas minhas fantasias, te vi solta,
As marcas do teu beijo em minha boca,
São labaredas, queimam. Minha escolta
Procura navegar a nave louca...
Mas teimo em estampar minha revolta,
A voz que grita aflita, fica rouca...
Meu tempo que perdi, nada edifica
A dor que já sangrei, me dignifica

Não resta nem sequer teu telefone,
Meus versos que joguei garganta abaixo,
Das noites que passei, quedei insone,
Procuro, tantas vezes, e nada acho,
Quem dera fosse assim, um Al Capone;
Das trevas que passei, um simples facho...
Terias, com certeza, mais respeito.
Amar demais passou a ser defeito!

Vomitas imbecis tais impropérios,
Fazendo dos meus versos, teus faróis,
Das mortes que cultuas, cemitérios,
As notas que queimaste sob os sóis...
Vagando não te temo. Necrotérios
Esperam quem zombava nos lençóis...
A vida fez comédia mais sem graça.
A morte, sutilmente, nem disfarça...

Mas teimas, tuas queimas virão lentas...
As asas assassinas são vorazes,
Na chama que te chama, não esquentas,
As dores que me trazes são audazes;
Nas portas, nas cadeiras, onde sentas
Cortando fortemente essas tenazes...
Não quero nada sinto, nem prazer,
As horas que disfarças sem querer...

Cigarros vou fumando sem ter pressa,
Na fumaça percebo tua cara.
Não pretendo nem quero essa conversa,
A maldita cachaça me enganara.
Sentimento profundo, vil. Ora essa!
A boca que me cospe se escancara,
A noite que não tarda, não te viu,
A mão que te servia vai servil...

Perdeste tanto tempo, mas ganhaste,
Essa batalha torpe que me inventas.
As noites que sequer enluaraste,
Na porta das lembranças são sangrentas...
Não podes reclamar nem que ficaste,
Pois são mais convulsivas, violentas...
Na porta da senzala que m’abrigas,
As velhas, costumeiras, vãs, intrigas...

Não sei mais o teu nome, nem me importa...
Carpi teu corpo, morto na memória,
Fechei a tua casa, tranquei porta,
Jamais vou reviver a nossa história...
A boca que cuspiste já vai torta,
Tristezas que traduzes, minha glória!
Pútridas as manhãs que me feriste,
Nessa tua gaiola, nem alpiste...

Me restam pois somente esses segundos,
Não quero reviver tais leviandades,
Irei te perseguir por tantos mundos,
Mataste, bem cruel, felicidades...
Nos mares, caçarei, ‘té nos profundos,
Abismos onde houver as claridades...
Não sinta-se feliz nem satisfeita,
A vingança será mais que perfeita...

Veneno que bebi já faz efeito,
A cabeça rodando vem a paz...
Olhando pro teu corpo no meu leito,
Não quero mais saber se sou capaz...
As horas que se passam, tudo espreito.
Consigo distinguir lá: Satanás!
As mortes que refiz são libertárias.
As dores que senti, se foram, várias...

Meus últimos segundos esvaindo...
A morte acaricia meus delírios
Teu corpo, nossos corpos já vão indo...
Cobertos estarão por belos lírios
Amei-te... Foi demais, e foi tão lindo...
Valeram enfim todos meus martírios...
Vivi profundamente meu desejo...
Despeço-me com calma, nesse beijo

Fim

Me sinto frágil, ágil, imbecil.
Impropérios, carinhos que me dizes...
Na certa, pensará: fomos felizes,
Amor, quando inconstante, é muito vil...

Não tentes enganar, não sou servil,
Descoramos portanto esses matizes...
Fui perdido ,perdi, cacei perdizes,
Nas ondas que perdemos, dor pariu...

Caçoas dos meus versos, sou estúpido,
Não quero mais sorver, nem restar cúpido...
Apenas navegar, pois é preciso...

As bocas escancaras, nada sinto...
Embriaguez igual, só com absinto,
Nem venha sugerir que dramatizo!

América - Com Estrambote

Montanhas, cordilheiras, os condores
Voando livres, levam suas alas
Por tantas terras, Andes, casas, salas...
Nas asas dos condores, meus amores...

Nas selvas, pantanais, matas e flores...
Zunindo meus ouvidos travam balas,
As mortes nas conquistas tristes, calas...
O cheiro dessa terra, seu olores,

A lhama que sustenta tua fome.
A prata que roubaram, ouro e vidas...
Quando te vejo, paro, tudo some...

As marcas indeléveis, te sangraram...
Marcando pouco a pouco, essas feridas
Que trazes simbolizam: te roubaram...

As luas são mais belas nos teus mares,
As terras que invadiram, dividias...
Mãe serena, mancharam teus luares!

Tradução

Amar-te, tal certeza move a vida...
Âncora e leme, vela, luz, pavio...
És princípio, caminho, rumo, fio...
Teus lábios, astrolábios. Despedida

E começo; certeza que duvida...
És chuva, tempestade, luz, estio.
Desejos delirantes, cama e cio...
Apascentas, m’acalmas. Renascida

A cada dia, trazes tal frescor,
Que nada mais me importa, nem o quero...
Suavemente, acalmas o que é fero.

Tens a palavra certa; és tão bonita...
Meu coração feliz te grita: Rita!
Tradução mais fiel do termo Amor!

Música ao vento

A música tocando, traz saudade...
Partiste em um aborto tão insano...
Deixaste tanta coisa, frágil plano;
A vida se perdeu... Diversidade,

Contraste entre a mentira e a verdade...
A música tocando, tanto engano...
Os restos de poeira que eu espano
Do coração, darão a liberdade!

Maliciosamente me deixaste,
Sabias que jamais te esqueceria...
A alegria banal que tu roubaste,

Deixou esse embornal de sofrimento...
A música tocando, traz Maria,
As notas espalhadas pelo vento...

Valsa

Dançavas, valsas, mansas valsas, alças
Desses nuances. Lances e relances,
Não cansas, danças, lanças alcances...
Os braços lassos, passos, traços, balsas...

Voas solta, revoltas, voltas, valsas...
Anseios, seios, veios, teus nuances...
Valsavas e voavas, asas falsas
Nas mansas voltas. Laços, aços, lances...

As mãos macias, cios, cílios, tílias...
Amar, mar, maré, marcos, maravilhas...
Barcos, arcos, passos, valsas, noite...

Os braços, laços, aços, lassos passos,
Dançavas, flutuavas, sem cansaços...
Descalços passos lassos, aço, açoite!

Ilusão

Escancaro essas lápides, meu fim...
O derradeiro leito, vou ao léu,
Sem torturas, fraturas, tão chinfrim.
Essas portas abertas vão ao céu...

Não quero lenços, lágrimas... Cruel
Saber que sofrerás. Nada por mim,
Epitáfios, coroas, mausoléu.
Serei mais uma flor desse jardim...

Por herança, terás meus pesadelos.
Na vida eu só plantei velhos novelos,
Revelas nessas velas com que velas

Um corpo a mais. Pressinto uma viagem,
Amar, aroma, aragem...Que bobagem!
Tuas noites serão muito mais belas!

Amores Mentem

O que me resta? Festa, fresta, crosta?
Nada mais temeria, nem Maria,
Na mão cruzada, em rezas, decomposta.
Tendenciosamente, a noite é fria...

Maravilhas sortidas, mares, costa...
Nos teus favos, melindres, fantasia...
Tua boca escancara a dor exposta,
E me cospes, rubores e franquia...

O que restará? Corpos, corvos, vícios?
Nada mais temerei, nem precipícios,
As retinas cansadas nada sentem...

Meu tempo, meu provento, vento... Séptico,
Minhas curas, lamúrias. Epiléptico,
Convulso, expulso, exposto. Amores mentem...

Tempestade

O mar crispando, louco, traz a fúria,
As ondas arrebentam nessa areia...
Não respeitam sequer qualquer lamúria...

Nas virações, um canto mais divino,
D’outras ilhas. Ouvindo essa sereia,
Perco qualquer sentido, vou sem tino...

Ondas do mar, naufrágio e tempestade...
Errando, sem poder encontrar porto;
Meu barco navegando, um sonho morto:
Onde encontrar a tal felicidade?

Meus medos, minhas dúvidas, verdade
Jogada nesse vento, vivo torto.
Nas procelas, vencido, quieto, absorto.
Procuro teu caminho, tempestade!

Serpente

Quando eu escuto a voz, feroz, dos medos,
Viscosa, essa serpente vem, invade...
Rasteja até chegar, nem cedo ou tarde,
Vertiginosamente meus segredos...

Na vasta, rubra esfera, travo os dedos...
Quero o gosto nefasto mais covarde,
Os enganos as farsas, falsos ledos...
Fingir dessas penumbras, claridade...

Pegajosas as tramas que preparas,
Mentirosas as rosas que perfumas,
Nas manhas, novas noites, vais, esfumas...

Eu recebo teu beijo, nojo, taras...
Não sobreviverei, vou de repente,
Morto por ess’amor cruel, serpente...

Contigo Aprendi

Eu, contigo aprendi a não sonhar,
A acreditar na dor, cruel saudade...
Olhar estrelas, cega claridade,
E nada mais, jamais poder amar!

Me ensinaste mentiras ao luar...
Fantasias cruéis, “felicidade”,
Coragem pra saber tal falsidade...
As marcas que deixaste, vou saudar!

Jamais t’ esquecerei, estejas certa...
Agradeço-te enfim, o ser poeta...
Saber cantar tristezas, assim rindo...

Ver as cores do mar, as fases da lua...
Muito obrigado, sinto-te tão tua,
A vida passa, então me vês sorrindo..

Caminhemos

A minha alma ecoando busca a tua,
Nessas fráguas, as mágoas queimam, tanto...
Amiga, me permita teu encanto,
Talvez, um dia, tenha toda nua

Nas noites que imagino, minha lua...
Respiro teus venenos, lentos, pranto...
Amor divino, cego, louco, santo,
A cada dia, a dor vem, continua...

O vento e madrugada, nova dança;
Nas estradas, atalhos d’esperança
Levam ao nada, nada, simples nada...

Caminhemos distintos caminhares,
Naveguemos por mares, por vagares
Que, afinal, voltarão por essa estrada...

Piegas

Ao falar dess’amor que tu me negas,
A morte vaticino, perco a paz...
Não quero parecer, mas sou piegas.
A vida é conseqüência que se traz

Dos sonhos e esperanças. Nas adegas
Da minha alma, um só vinho tanto apraz..
Minhas noites, meus medos que navegas,
Morrer sem teu amor, serei capaz!

Na tarde solitária, sem notícias,
Os ventos, tempestades, são primícias...
Não te verei jamais, Ó doce Lara...

Teus olhos sorridentes, ironia...
A noite que perdi pensei, podia,
Amanhecer teus braços, noite clara...

Cassino

Cartas jogadas sorte desafio...
Nos dados, rodam, giram... Nas roletas,
Olhos negros, vermelhos. Sina, cio...
Tudo passando, luzes violetas...

Estás distante, estática. Me fio
Nos lunares lunáticos...Lunetas
Mirando espaços; louco tempo, estio.
A sorte não bafeja, lambo as tetas

Da ganância; mas falta puro leite.
Não há sequer ninguém que isso aceite,
As cartas viciadas gritam não!

Espero o final, lento inexorável,
Quem me dera tivesse mais amável,
A lança que perfura o coração!

Bodas de Lara

Bases frondosas: árvore esperança...
Grinaldas buquês, festas, despedidas...
Alabastrinamente vão vestidas
O que restara nessa contradança.

O que tenho melhor, amor, avança;
As tardes que deixei estão perdidas...
Nos meus dedos, meus medos são feridas.
Nas bodas, tuas bodas, a criança

Morta, ressurge, tímida, reclama...
Me perco, cego, dor que mata inflama.
Te perder foi atroz, mal tumular...

Escadarias, luzes, enlutado...
Tais esperas, festejos, triste fado...
Quem me dera jamais poder amar!

Teu amor

Procurei por palavras, lavras, árias,
Por semitons, resquícios, vícios, ócios,
Encontrando templários, bossas, bócios,
Catedrais, campanários, urzes várias...

Procurei por tenebras, ervas ,párias...
Por estilos restingas, espigas, beócios,
Encontrando resinas, equinócios,
Ânsias, ósculos, hóstias, sol, canárias...

Procurei silabar fastios, círios...
Por símbolos falazes, frases, lírios,
Encontrando retinas, íris, flor...

Procurei por carvões, porões, cadência...
Por tráficos tenazes, ás, demência...
Encontrando somente teu amor!

Sol e Lua

Quando te conheci, Lara, tocavas
Cítara e eu guitarra, rebeldias...
Quando, de noite, nua, decolavas;
Louco, audaz, procurava por orgias.

Enquanto eras serena, acalmavas,
Meus delírios cegavam, valentias...
No teu coração, calma, no meu, lavas.
Minhas palavras acres, repelias...

Lara, distante sonho, mansidão,
Meu contraste feroz, sou furacão...
Quando fervo no frevo, tu Nirvana...

Quando sou tempestade, tu és brisa,
A vida que me enruga vem, t’alisa...
Brilhando sol e lua, uma cabana!

Ícaro

Ao te ver, anjo, voas liberdade;
Sonho com asas, céus poder chegar,
Buscando assim, em toda claridade,
Os teus braços, teus mansos olhos, ar...

Quisera poder, anjo, na verdade
Voar, te ter bem perto, meu luar...
A vida cruel, pura dor, maldade,
Asas não me deu, como vou negar!?

Mas, num sonho dourado, asas de cera...
Flutuar, conhecer estratosfera,
Partir para o jamais, nunca alcançado...

Alcançando assim, glória, pobre pícaro.
E, depois, num mergulho des’perado,
Nos teus braços morrer, como fosse Ícaro!

Narciso

Narciso, flor cruel rouba a beleza...
Dessas águas que foram espelhares,
Sugaste do mais belo, seus olhares,
A alegria, a luz, toda realeza.

Deixando um corpo estático, tristeza...
Cadavérico, magro, sem luares,
Sem esperanças, morto, sem altares!
Nessas lacustres margens, incerteza...

Num momento acredita ser um Deus,
Noutro sonha com ricas fantasias...
Faminto e saciado, luzes, breus...

Nas fantásticas danças, nas orgias,
Tentando procurar,no sexo, nexo,
Buscando amar, assim, próprio reflexo!

Carícias

Nas melífluas carícias, teus passos.
Nesse teu som, diáfano, macio;
As mansidões serenas... Doce frio,
Carinhos, madrigais; nossos laços.

Quem fora resistência, passos lassos,
Caminha pela sala... Águas, rio...
Das mentiras que crias, ouço, rio.
Nas nossas festas, praças, luzes, paços...

Nas tuas noites, nossa paz, concertos...
De todos os meus erros sem consertos,
Te perder , o maior de tantos medos...

Em cada parte, tantas as seções,
Já me deste teus sonhos, tais cessões
Desfraldariam todos meus segredos...

Coração Beduíno

Coração beduíno, meu deserto...
Nos oásis buscando pela vida,
Cansado de sofrer, da despedida.
Vontade de estar longe, estando perto.

Coração, navegando mar aberto,
Distâncias que percorrem, nau perdida.
Cansado de bater, pede guarida.
Cruel busca incessante, vive incerto...

A cada batimento, vai mais fraco,
O espelho em que te miras, mais opaco.
A vida não convida para a festa!

Nas tuas rebeldias, foste herói.
Agora, a tarde vinda, como dói...
Nada, nem coração, enfim me resta!

Brilho estrelar

No teu brilho estrelar, és solar fácula;
Na tua trilha sigo, meu farol.
Sem te ter, perderei meu rumo, sol!
Minhas noites perdidas, pura mácula...