terça-feira, setembro 19, 2006

Poetas - Com Estrambote

Os bardos e poetas reunidos,
Buscavam solução definitiva.
As portas escondiam seus ouvidos,
A noite veio ver meio cativa...

A lua, embevecida, tão ativa,
Lembrava-se dos velhos tempos idos.
A musa, devagar, contemplativa.
Desmaia-se, perdendo seus sentidos...


Depois de tanta luta e discussão,
As horas foram todas debeladas...
Ditaram morte e vida ao coração.


As noites mais calientes e geladas.
Abriram e fecharam o portão,
Raiou o sol em plena madrugada.

São todos vendedores de ilusão!

As Massas

Amassarias massas fazes pão.
Minhas amassarias manipulam...
As fontes que fornalhas seu fogão,
As pontes que atravessas, estipulam...

As massas que, sofridas, vão ao chão,
Nas dores que conferes já pululam...
As portas que fechastes sem perdão,
Nas perdas que carpiram não ovulam...

Os termos que confesso são perdidos,
Os álibis que tive, distorcidos...
As massas que seguiram, multidão,

Os mártires já foram esquecidos...
As massas procurando por patrão,
Das massas manipulam coração...

Gomas Lacas

Restando solução, quero problema...
A vida nega tempo mas não ligo...
Quem sabe contornar o velho tema,
Não vive nem pretende ter perigo.

As letras que maltratas pedem trema,
Os olhos mais distantes não persigo.
Dos ouros que perdi, nem sei a gema...
Meus motes são medalhas, fino artigo.

As pranchas que alisam teus cabelos,
As hordas que venci foram novelos,
Nos cortes que sofri com finas facas...

As mortes que embarquei nas minhas barcas;
Arando toda a terra, meus rastelos,
As bocas já colei com gomas lacas...

A História de Dona Maria e seus Vestidos

Quem me dera pudesse transformar
Num inseto, talvez uma barata,
Só para, simplesmente, revelar,
Um mistério feroz que me maltrata...

Não consigo, sequer, imaginar,
A casa onde se esconde tal bravata
Guarda roupa que cabe sem pensar,
Profusão de vestidos em cascata...

Esse marido é tolo e não sabia,
Que sua pobre esposa escondia,
No closet coleção inigualável!

Centenas de vestidos... Espantável
A falta de cuidados da Maria,
Parece-me que a casa é ingovernável!

Rato Branco

Rato branco, baiano de nascença.
Nunca soube sequer se comportar...
Um doutor que não sabe que é doença,
Não podendo, de resto, consolar.

Não fala, simplesmente, sem ofensa;
Não sabe nem conhece luz solar.
Dos esgotos trazendo a recompensa,
Não brilha e jamais deixa brilhar...


Tristes tempos de gatos e de ratos...
Servil comia nesses mesmos pratos,
Onde o gatuno sempre se servia.

Não podia ver gato que lambia
As patas; com certeza ele sabia
Conviver muito bem com esses gatos.

Noites púmbleas

Nas noites que cantavam serenatas,
As bodas que fizeram tempestades,
As bocas que sangraram tão cordatas,
Nas horas que surgiram mocidades.

Nas fardas que mataram tolas matas
Dos fardos que levaram nas cidades.
Nos bardos que cantaram veleidades,
Cavalos que pisaram duras patas...

As noites que sangraram serenatas,
As bodas que fizemos nas cidades,
Nas horas que levaram veleidades,

Nas fardas que pisaram mocidades,
Cavalos destruíram nossas matas...
As bocas que matavam duras patas...

Fogo Fátuo

Caindo a noite, pântanos brilhando...
As almas subiriam para o espaço.
Azuis com as tristezas carregando,
Não deixam testemunhas nem um laço...

As horas enlutadas vão passando...
A solidão e o medo, meu cansaço...
As almas ao subirem, já deixando
A noite onde mergulho e me disfarço...

As luzes azuladas trazem medo.
A morte se refaz nesse segredo,
Quem são? Por quê? Ninguém responderá!

Mistérios d’existência ficam lá,
Nas almas que fugiram do degredo...
Meu amor, porventura, onde estará?

O Resto

Eu guardo as esperanças, mausoléu...
Adormeço as encostas do teu monte.
As asas alcancei, procuro o céu,
Nas linhas dessa mão, morre horizonte...

Reparto essas partículas ao léu.
Vasculho sem temor sequer que apronte
Meu barco naufragou era papel...
As farsas que montei, cabeça e fronte.

Pedidos de desculpas não me negue;
Não quero transportar minha saudade,
Montado em um cavalo, burro ou jegue.

As voltas que tracei, felicidade...
Nas portas do sertão ou da cidade.
O resto que o diabo, enfim, carregue!

Mundo Risonho

Que a ferida que deste não se inflame.
Que a dor da solidão não me persiga.
Que a morte distraída não me chame.
Que nunca mais se entorte a forte viga.

Que nunca mais me fira cruel flame.
Que sempre que se tente se consiga.
Que eu possa ser teu vero e doce estame.
Que nunca mais te esfreguem essa intriga.

Que a sorte que pensavas ser entrave
Não venha decepar teu lindo sonho.
Que a vida te permita porta e chave.

Os versos onde mostro, onde me exponho,
Não possam se perder da grande nave
Que o mundo seja sempre assim, risonho!

Erica

Nas estradas que passo, pela vida,
Meu passo, tantas vezes se claudica.
A morte vem em quando faz-se rica,
Um corte representa a despedida..

A boca desdentada vem provida
Dos venenos fatais que não se explica.
Pela rua que passo nasce erica,
Por quê? Não sei, pergunta a alma vencida.

Daninha já não deixa nem alento.
Vasculho pois porque que esse excremento,
Não deixa em paz quem pode caminhar!

Não quero nem talvez possa chegar,
Me permita meu Deus, um só momento,
Poder viver sem ter esse tormento!

Disforme

Meu rosto, qual meu peito, está disforme;
As rugas destruíram num repasto.
Nas lutas que sangrei, a vida dorme...
Não deixariam resto, rosto, rasto...

Com calma seguiria, num conforme,
As tropas que pastaram no meu pasto.
Nas horas que te tive, me desgasto,
Não quero que me digas nem me informe.

Teimosamente sigo na batalha;
Não quero mergulhar na tua praia,
Sem tempo p’ra saber da nova falha...

As tarjas cobrirão nossa gandaia.
Não venhas com palavra que te calha,
Levanta, sem pensar, a tua saia!

Fome e Provento

Quando te conheci era um cartuxo,
Vivia fielmente para Deus.
Vieste feito bala, num cartucho;
Rompendo, destruindo os sonhos meus...

Amor, tu és cruel, tu és um bruxo!
Meus olhos transfiguram-se em ateus.
As dores que me trazes, só por luxo,
Malditas; vão sangrando luz nos breus...

Vacilo, retornando cada passo.
As horas de delícia são fracasso;
Os tempos de partilha meu tormento.

As comunhões orgásticas, invento
Satânico que traz um forte laço!
Amor que me traz fome; traz provento!

Mágica

Quando percebi, foste simples mágica;
Não sabia que doías tanto assim...
Quando te encontrei, quase que letárgica,
Pensei que nada fosses para mim...

Depois, a vida calma fez-se trágica,
A sorte que pensei ser querubim,
Soprava dolorosa, cruel, álgica.
Quebrando as resistências , meu fortim...

Um algoz de mim mesmo qual verdugo;
Vasculhei nos meus restos procurando,
Motivos que me dessem sem refugo.

As forças que perdi não te encontrando...
Não restou quase nada, nem sabugo.
As portas do que fui, vão se fechando...

Carcaça

Viajando ao terreno das promessas,
Não posso me furtar a ver teu rosto.
Nas fontes que bebi, em todas essas,
Não sorvi senão dores e desgosto...

Erraste, bem sei, louca me confessas,
Mas nunca mais terei um novo agosto,
Vencidos os venenos, pra que pressas?
Rei morto vem trazendo um novo, posto!

Marta, cadê teus olhos? Não os vejo...
Minha porta entreaberta não disfarça;
Se foste rato, sempre fui o queijo.

A peça que se finda, velha farsa;
As noites que perdi, cego desejo,
Deixaram, tão somente, esta carcaça!

Borboleta

Me dás a sensação de tal brandura,
Que me ergues sutilmente pelos ares...
A noite transformada na ternura,
Ternura que se encontra nos luares...

Tuas mãos amicíssimas... Da dura
Realidade que queima meus altares,
A mansidão que trazes, tua alvura
Aumenta a sinonímia para amares...

Elfo, flutuas zéfiro me acalmas...
Nas janelas abertas dos amores;
Acaricias, plena, mãos e palmas.

Emanas tal perfume em minhas dores...
Não restam nem sequer meus tristes traumas,
Borboleta voando sobre as flores!

Haste

Meus dias se escorrendo preciosos,
Tateiam nesta busca mais sossego.
Nas portas que criei, pedindo arrego,
Peçonhas inoculas. Perigosos

Os sorrisos que trazes... Sempre nego
As cores que não tenho. Melindrosos,
Os caminhos sofríveis que navego.
Meus dias e meus dedos são nodosos!

Renasci dessas cinzas que sopraste.
A pátria que pariu m’abandonou.
As mortes que te dei, tu confrontaste;

E quase nada tive e me restou...
O vento sutilmente quebra as hastes ,
Essas hastes que ergueram quem amou!

Flor da madrugada

Não quero construir u’a fortaleza
Co’ as lágrimas que roubo de teu sono...
Nas portas que fechaste com destreza,
Abri como um ladrão, pensei ser dono

De tua delicada, grã, beleza
De resto, me deixaste no abandono!
Em matéria de fétida vileza,
Me julgavas assim ,como um patrono.

Na verdade, passeio pela vida,
Procurando um ponto de chegada
Nas bordas que me quedam, vã, sofrida;

A vida não permite quase nada!
A não ser a dor da despedida,
A não ser a flor da madrugada!

Cloasma

Do vértice, meu salto, sem vertigem...
Nos cumes altaneiros, cordilheiras,
As buscas destruíram paisagem...
Pertuitos que s’abriram nas ribeiras,

Por onde se adentraram, corredeiras,
As mostras do que fomos, u’a visagem!
Os medos enxovalham as bandeiras,
Os tédios retiraram toda aragem...

Nas pedras que carcomo sou voraz,
Nas lutas que derroto meu fantasma,
A boca que semeia Satanás,

É a mesma que devora sangue e plasma,
As tocas que aprofundo sem ter pás,
As marcas que deixei-te d’um cloasma!

Porões

Não estou preparado para a morte!
A boca escancarada espera o riso.
Nem quero provocar o teu sorriso,
Apenas não me deixe sem meu norte.

Vencido por cruel sonho, indeciso,
Vagando pelos campos vou sem sorte.
A parte que me cabe, roto, liso;
No fundo é a que permite o fundo corte!

Nos porões tenebrosos da saudade,
Morei por tanto tempo, sem esperas.
No cárcere profundo, nas crateras

Por onde procurei felicidade,
Os tempos que passei, por outras eras ,
Não me deixaram ver a liberdade!

Noites Escuras

Fui zoilo deste amor que triste morre.
As portas se fecharam por detrás.
As horas que passei tudo socorre.
Quem quis amar, perdeu ternura e paz...

Perdoe este imbecil; que a noite forre
De pétalas teu mundo, fui falaz..
As flores que me deste, eu, num porre,
Despetalei ,cruel, vazio, audaz...

Não me desculpe pelas vãs traições,
Nem me escuse sofríveis brincadeiras.
As horas que zombei das ilusões,

Não voltam, nem refazem as bandeiras
Rotas que deixei, fétidas e impuras.
Só me deseje, então, noites escuras...

Teu Sorriso

Pruridos em minha alma, teus sorrisos,
Provocam; contumazes mentirosos.
Os dentes que me mostras mansos, lisos,
No fundo são ferozes, perigosos...

Mordendo, não costumam dar avisos.
Mordiscam sorrateiros, majestosos.
Pois não adiantou teres os sisos,
Pois sempre mostrarão mais venenosos...

Sorrisos com tais dentes não desejo.
Muito menos da boca peço o beijo..
Tuas farsas me deram tanto nojo.

Restando só aplausos para o arrojo
Com que, mordendo tentas me beijar.
Sufocas me roubando, então, meu ar...

Resto de Canção

Cansado dessa lida sem sentido,
Percebo que não tenho solução...
Um copo que quebrei, tão distraído,
Nos cacos, seus pedaços, pelo chão,

Me mostra quanto tempo foi perdido,
Me rasga, mais veloz, o coração!
Rompendo esse silêncio, meu ouvido
Percebe, fundo breu, essa canção.

Pintanda de sonora poesia,
A noite que pensei desperdiçada...
Aurora nunca vem adia o dia.

A mansidão dessa alma abandonada...
Não ouço repetir a melodia...
Dos restos da canção não sobrou nada!!!

Cordoalhas

Ao te ver, me enredaste em cordoalha...
Nem tento distinguir os teus enredos.
Os cortes que me deste, de navalha,
Aos poucos, se reduzem aos meus medos...

As linhas que compõe velha toalha,
Se perdem cansaço dos meus dedos.
Nas ondas onde morro, vento espalha
As águas que enfrentaram meus segredos...

Perdido, não pretendo nem temor.
Rotulo minha máscara um tumor,
As párias madrugadas foram frias...

Me roubas, disfarçada em poesias,
O que me resta então de valentia.
Perdi, nas cordoalhas, fantasias...

Córdia Com Estrambote

Blasonava-se, falsa e mentirosa...
As tardes que se foram não deixaram
Nem, ao menos, o olor da pura rosa.
Os pés cansados nunca caminharam

Essas terras bravias. Perigosa
Mata de frondosa arvore. Deixaram
Perfumes, tuas mãos. Misteriosa
A noite tão selvagem. Me mataram

Os engodos cruéis que nem disfarças.
Poderias negar os teus comparsas?
Me viste por acaso, em mendicância?

Na vida coleciono discrepância,
As travas dos meus olhos te ressecam,
Urgentemente mentem, negam, pecam...

Não me dês teu sorriso nem concórdia,
Do que mais eu preciso, te renegam,
O meu peito não bate... Quero córdia!

Rondas Noturnas

Nas rondas das noturnas serenatas,
Acordo meus amores inauditos...
As horas que passamos nestas matas,
Traduzem os meus sonhos tão malditos...

Quem fora cachoeiras e cascatas,
Não passa mais de simples, tristes ritos.
As portas que fechaste com bravatas,
Não abrem-se sequer com os teus gritos...

Percebendo a mordida na maçã,
Desperto-me feroz desta invernada.
A dor que me trazias amanhã,

No gosto desta fruta envenenada...
Não peço nem desculpas nem perdão,
As bocas que beijaste são lufadas

Dos ventos que roubaste. Coração
Perdendo o velho rumo nas estradas!
T’a vida se prendeu n’ escravidão!

Mineiro Mar

Procuro o mar, obsessão mineira.
Navegante sem barco, solidão...
Meus portos, cais, meus mastros sem bandeira;
Meu pensamento cria a embarcação!

Nas horas mais tristonhas, sento à beira
De qualquer novo porto, atracação.
Das rosas que plantei, foi a primeira,
Dos sonhos que sonhei no meu sertão!

Mineiro pesadelo com as ondas.
As horas circulando,vão redondas,
Os medos mais cruéis as tempestades...

Os olhos salpicados das saudades.
A vida me negou tais maresias,
Restam-me tão somente as fantasias!

Gás

O gás aberto, morte s’aproxima...
A vida não passou desse dilema.
Não resta nem sequer minha auto estima;
Quem dera resolver esse problema:

Se Maria está, prefiro que redima
Seus erros, revertendo o velho tema.
Se não, vou procurando, sem ter clima,
Transtornar, transformando meu poema.

O peito aberto, o gás não pacifica.
O cheiro forte, morte e liberdade...
A noite é pobre, como a vida é rica!

Nas trovoadas lânguida tempesta...
O gás aberto, o cheiro forte invade...
Podemos começar a nossa festa!

Porcelana

Não há sonoridade que repita
As dores que senti. Ó minha amada!
Tu foste a maior gema, uma pepita;
Ao me deixar, sobrou bem pouco ou nada...

As cores que roubaste, dor aflita,
Desmaiam-se no fim da madrugada...
Tempestuosamente a vida agita
Os leques, minha luta abandonada...

Perdi os meus resquícios de hombridade,
Verti as minhas pátrias pelo esgoto...
Meu mundo decepado, nem um coto

Restou para trazer felicidade...
Nas lutas que ganhaste, soberana...
Nos vasos que quebraste, porcelana...

Fanatismo

A vida não permite mais lirismos.
Nem quero o sabor desta tal saudade.
Pelas portas do céu, os meus abismos,
Adentram ocultando a claridade...

Não me permitirão meus transformismos,
Nem a solene dor da liberdade;
Herdada pela força d’atavismos...
Permita, pelo menos, falsidade!

Nas pedras do caminho, tento o salto.
A rigidez cruel deste basalto,
Não me restou sequer mais uma curva...

Meus medos, minha fome, tudo enturva...
Fantasias perdidas no egoísmo.
A vida reproduz meu fanatismo...

Amor Raquítico

Não quero mais amores tão raquíticos.
Nem quero mais sonhar com o impossível...
Não quero mais passar momentos críticos
Buscando definir o que é mais crível.

Tentei saber das horas, perdi tempo...
Tentei falar das rosas, nem brotaram;
Sobrou-me tão somente o contratempo.
Nem flores nem espinhos se encontraram.

Bela voz que cantava nem se escuta.
A força que pensei que fora bruta,
Se perde numa curva do caminho.

Não quero mais saber se vou, caminho;
Só quero essas saudades que não perdi...
Eu não sei se te encontro mais aqui!

Dor Pétrea

Minha dor pétrea, tépido deserto..
Míticos sentimentos, dor funérea.
Procuro por minha alma tão etérea...
E, repentinamente, me desperto...