segunda-feira, junho 12, 2006

Cavalo dado não se olha os dentes

Fracasso de audiência
De O Globo, hoje:

"Ao contrário do que a cúpula do PSDB esperava, a oficialização da candidatura de Geraldo Alckmin à Presidência não conseguiu entusiasmar a militância do partido na festa preparada pelo governador de Minas Gerais, Aécio Neves. O auditório da ExpoMinas, com capacidade para 4.500 pessoas, em nenhum momento ficou lotado e durante o discurso de 19 páginas lido por Alckmin o público presente ficou reduzido quase que à fila do gargarejo".

A maioria das pessoas que empunhavam bandeiras de Geraldo Alckmin na convenção admitiu ter ouvido o nome do candidato tucano à Presidência pela primeira vez. Levadas a Belo Horizonte de ônibus, disseram que a viagem foi motivada pelas promessas de lanche grátis e de emprego na campanha.



No meio da platéia, estava dona Jurema, uma senhora que acabou de adentrar a bela casa dos setenta anos.
Politiqueira desde a juventude, daquelas que adora portar a bandeira de um candidato, levando com fé e afinco a “profissão” de cabo eleitoral.
Participara, nos bons tempos, da campanha de Juscelino ao Governo de Minas e depois à presidência da república.
Lembrava-se de Tancredo, Magalhães Pinto e isso a deixava arrepiada só de pensar.
Trabalhara na campanha de Israel Pinheiro e depois tivera certa amizade com Rondon Pacheco; sendo amiga íntima de Itamar Franco e de Aécio Neves.
E é por isso que fora para essa festa além, é claro, da possibilidade de “ganhar uns trocados” como experiente “caçadora de votos”.
Mineiramente, se aproximou de um conhecido e perguntou quem era o moço que ela devia apoiar.
Esse também não sabia; mas, seu Juca, velho companheiro de comícios e de carreatas, mostrou o candidato.
Era um careca narigudo, de óculos, parecido com aquele repórter da televisão que trabalha com aquela moça loura, grandona...
“Mas esse moço não tem cara de político não, seu Juca. Como é o nome dele?”
“Geraldo”. Respondeu o companheiro.
“Nunca ouvi falar. Ele fez o que?”
“Foi Governador de São Paulo”.
“Mas não era o Maluf?” perguntou dona Jurema.
“Isso faz tempo, esse é o atual.”
Olhando bem para a cara do sujeito, dona Jurema, desconfiada, ficou quieta.
Esperar ele falar primeiro para depois julgar, quem vê cara não vê coração.
Depois que o moço começou a falar, pausadamente, com aquele jeito de quem está cansado; dona Jurema, que era uma das primeiras da fila, foi se afastando, disfarçadamente.
O cachorro quente com ki-suco que deram para o pessoal comer, não caiu bem, e a sonolenta fala do candidato, foram dando um sono tão profundo na velha senhora que, sem que ninguém percebesse, ela resolveu voltar para o ônibus e começou a dormir.
Começou a se lembrar dos discursos inflamados de Juscelino que ouvira na juventude, foi dando uma saudade doida.
E dormiu, e sonhou, e sonhou e dormiu.
Quando acordou, duas horas depois, ficou preocupada. Será que o moço ainda estava falando?
Olhou para o lado e viu que várias pessoas tinham seguido seu exemplo e voltado para o ônibus.
Resolveu, então, voltar para o auditório a tempo de ouvir as últimas palavras do candidato.
Profissionalmente, assim como quase todos que estavam ali, aplaudiu e cantou as hip hurras de praxe.
Mas desta vez, ao contrário de tantas outras, saiu com a mesma impressão com a qual chegou.
Aquele moço disse muito, falou muito e não disse nada.
“Aecinho, você me paga, colocar a gente numa furada dessas!” Pensou a setuagenária senhora.
Mas, como o cachorro quente e o ki-suco, além da camiseta e do emprego estavam garantidos, nada falou.
Afinal cavalo dado, não se olha os dentes, mesmo que o cavalo seja banguela!

DA DIREITA RAIVOSA OU DE IDIOTAS, IMBECIS E CRETINOS

Uma das máximas de Voltaire dizia que, “embora não concorde com nada do que dizes, lutarei até a morte pelo direito de dizê-las”.
Essa é uma das mais belas traduções de democracia que temos. Porém, o que vejo, espantado, surgir nesses tempos é a figura da “direita raivosa”.
As reações, geralmente anônimas, a qualquer afirmativa que contrarie os “ideais” dessa turma são de baixíssimo nível, de uma agressividade comparável a de uma “esquerda raivosa” do passado.
Qualquer afirmativa que seja de apoio ao governo atual significa para a anencéfala turba que quem a faz é ladrão, corrupto, sem vergonha, canalha. Como se defender os desmandos dos desgovernos anteriores fosse indício de honradez.
As postagens feitas sem nenhuma argumentação lógica, são torpes e inúteis.
Ainda mais quando anônimas, pois de anônimo não tem dono.
Essa tentativa cômica de tentar inibir os pensamentos contrários é infantil e demonstra a imaturidade tanto de argumentos quanto da capacidade de exercer corretamente a cidadania.
Me recordam as “argumentações” feitas nos programas cults como os que envolvem os famosos “testes de DNA”. Isso é de um primarismo relevante.
Mas, pior que isso é, quando do lançamento da candidatura do Dr.Geraldo, esse ter sido o tom dos discursos.
Se for essa a tônica predominante da campanha eleitoral, a situação pode descambar para o ridículo, a ponto de termos que assistir uma inepta luta sobre o nada, com tantas intervenções do TSE, que corremos o risco de termos os horários gratuitos completamente tomados pelos “direitos de defesa”.
Cabe lembrar que, se formos denunciar cada CPI arquivada pelo governo tucano, teremos mais de uma por dia. Vai faltar horário para tanta denúncia.
O livre pensar é só pensar; já as ofensas sem pé nem cabeça, principalmente a quem não conhecemos e com quem não convivemos, escondidas sobre pseudônimos ou mesmo inonimadas são inválidas e atestam a incapacidade de conviver com o diverso.
Resumindo, demonstra a intolerância típica dos imbecis ou dos autistas.
Antes que se sintam ofendidos, procurem a definição médica de imbecilidade e de idiotia, ou mesmo de cretinice.
Acredito ser de bom tom uma melhor avaliação das relações interpessoais e do respeito à opinião alheia.
Aceitar as críticas é conviver, quanto às ofensas é perdoar.
“Perdoe-os, meu Pai, eles não sabem o que fazem”.
Quanto à direita raivosa, meus parabéns, vocês aprenderam com a esquerda tão raivosa e imbecil quanto.
Por isso, é bom repetir o provérbio árabe: “Os cães ladram e a Caravana passa”.