sábado, junho 17, 2006

Eleição no Reino Animal

Havia eleição no reino animal. De um lado tínhamos o grupo marinho e do outro o grupo terrestre.
No grupo terrestre, a situação estava muito complicada, com brigas entre os representantes de cada um dos participantes da tríplice aliança.
Os “Trogloditas”, grupo agressivo e acostumados a atacar quem quer que seja, se acreditando sempre protegidos pelos Gorilas que comandavam o reino, num passado cada vez mais distante, tinham como características o agredir sempre, a tudo e a todos.
Estavam acostumados a explorar o trabalho dos animais mais indefesos. E, como bons hematófagos, viviam do sangue desses pequenos e frágeis animais.
Por outro lado, contumazes subservientes aos Gorilas, viviam se arrastando perante esses antigos comandantes do reino.
Mas, com a saída desses do poder, os Trogloditas começaram a ver a situação se modificando.
Os pequenos animais, começaram a perceber que serviam de alimento para esses Poderosos, e as migalhas que eram entregues não eram nada mais que “iscas” usadas pra que os Hematófagos Trogloditas sugassem quase todo o sangue, deixando o bastante para que sobrevivessem e realimentassem a cadeia alimentar.
Nesse ecossistema viveram por mais de quarenta anos. Mas isso se tornava cada vez mais coisa do passado...
Um outro grupo, os dos Miméticos, também conhecidos como camaleões, tinham como característica principal, o de utilizar-se da cor que mais aprouvesse.
No varejo eram menos deletérios que os Trogloditas, mas no atacado eram terríveis. Venderam quase tudo que havia no reino, em nome de uma estranha “economia” que não era nada mais nada menos que um auto reconhecimento da incapacidade de administrar.
Os Miméticos começaram a aparecer de uma cor mais avermelhada mas, com a aproximação histórica com os Trogloditas, começaram a ter cada vez mais a cara destes...
O terceiro e menor grupo era formado por um grupo de migrantes do reino marinho, verdadeiros anfíbios. Começaram na água e se entregaram de braços abertos ao reino terrestre.
Esse grupo merece um comentário: No começo eram ferrenhos e radicais defensores dos pequenos animais entregues à fúria dos Trogloditas. Mas, agora estavam submissos a esses.
As táticas utilizadas para tentar desestabilizar o grupo marinho eram as mais diversas. Tentaram, desde o começo, usar a maneira Troglodita de atacar, usando as maiores desculpas para atacar.
Desde ilações as mais diversas até fofocas de caráter pessoal.
Para tentarem alcançar o maior número de votos, lançaram um vegetal como candidato, oriundo do grupo dos Miméticos, obviamente.
Péssima escolha, o vegetal fazia questão de ser insosso, e o número de herbívoros que poderia engolir tal coisa era bem menor do que se imaginava.
Além de tudo, os animais do reino estavam cansados de ficar pastando.
Numa última tentativa, os Miméticos acataram o que os Trogloditas sugeriram.
Partiram para a agressão pessoal, de ofensas de baixíssimo nível, a esmo.
Chamaram o líder marinho de alcoólatra, ladrão, vagabundo, analfabeto...
Só não tentaram envolver, novamente, a filha do mesmo, embora quisessem atacar o filho desta vez; porque os Trogloditas já tinham usado isso.
Mas, como tal tática foi desmascarada há tempos, evitaram reinventar tal fato.
Neste reino, havia um sábio.
Este sábio, como bom observador, ria-se de toda esta história.
Sabia muito bem que nada adiantaria.
Pelo simples fato do POLVO pertencer ao Reino Marinho...

Anarquistas, Graças a Deus

Recordo-me, no final dos anos 80, quando morava no Rio de Janeiro e havia a efervescência política no país, de um jornal que começava a circular.
Como leitor do Pasquim e sentindo uma atração por todos os jornais e revistas de humor que pululavam na época, este me chamou a atenção.
O nome do jornal (Planeta Diário) com manchetes bem chamativas e de duplo sentido, me atraiu de imediato.
Era um humor diferente, político, mas de uma forma original, anárquico.
Enquanto o Pasquim demonstrava uma atuação política mais orientada, com franca discussão e reportagens mais engajadas, esse jornal era totalmente irreverente, apresentando coisas como “Histórias de Fodas e da varinha de Condom”.
Essa anarquia era hilária, não poupando nem governo nem oposição.
Entre os editores do jornal, um me chamava a atenção, principalmente pelo nome, usado em uma piada clássica, Bussunda.
Pouco tempo depois, encontrei na mesma banca uma revista : A Casseta Popular.
Uma das capas desta revista foi épica. Um homem com a bunda exposta e com a cara do Collor – O CAÇADOR DE MARACUJÁS.
Durante a campanha eleitoral, enquanto havia a guerra entre a grande imprensa e os jornais de esquerda, A casseta popular e o Planeta Diário apresentavam uma alternativa a essa tensão.
Passada a eleição, tivemos depois o lançamento do “Macaco Tião” à prefeitura do Rio, idéia dos mesmos anarquistas.
Depois, na Globo, apesar das limitações impostas pelo “Sistema” Globo de “qualidade”, ou seja, censura, no “Casseta e Planeta”, nome alusivo ao início dos anárquicos humoristas, continuaram a dar uma bela opção ao humor tradicional.
Houve na época, uma resistência gigantesca a esse tipo de humor, me lembro de que Chico Anísio criticava muito o anárquico representado pela turma.
Lembro-me de ter atendido, num Hospital onde trabalhava num bairro de classe média carioca, um tal Cláudio Basserman, com asma brônquica. Quando o vi, logo reconheci no Basserman, o Bussunda que começava a aparecer na televisão.
O bom humor sempre acompanhando quem fazia do trabalho uma grande brincadeira, com direito aos “jacaré no seco anda”, “em caminho de paca, tatu caminha dentro”, entre outras coisas que habitavam e habitam o humor popular do país.
A morte prematura de Cláudio nos faz pensar neste país mal humorado, onde as velhas brincadeiras foram trocadas por agressões, onde o humor carioca foi substituído pelas guerras de quadrilhas de traficantes.
Onde as piadas que corriam entre os adversários políticos foram trocadas por ofensas pessoais.
Onde o convívio entre as diferenças se torna, a cada dia, mais difícil e sectária.
Essa morte, por enfarte, nos faz pensar até que ponto vale a pena o desgaste das relações inter-humanas.
A boa política da vizinhança, com direito a “implicâncias” e “gozações” está sendo trocada por agressões verbais sem sentido.
Se quisermos homenagear Bussunda e seus pares, precisamos fazer uma auto análise e vermos a que ponto poderemos ir com as trocas de ofensas, pura e simplesmente.
O Brasil está descambando para uma difícil política, a das agressões e da baixaria.
No âmbito político, tenho saudades de Brizola com sua irreverência, o “Sapo Barbudo” ou o “Filhote da ditadura” foi trocado por “Bêbado, Analfabeto, Ladrão”...
O riso está se transformando em ofensa e mágoa.
Tá na hora de pararmos e pensarmos até que ponto vale a pena isso tudo.
A velha sacanagem de chamar flamenguista de “urubu” e vascaíno de “bacalhau” corre o risco de enveredar para a loucura e a criminalidade dos “grupos” armados das torcidas organizadas paulistas.
É hora de mudarmos o tom, sob o risco de não termos nada a comemorar com a política nacional e com a democracia.
Que a anarquia, linda anarquia, deliciosa anarquia, se limite aos programas humorísticos...