domingo, janeiro 31, 2010

23950

Aventando uma sorte expressa em luz sombria,
Aonde se fez calma a rota tempestade
E o gosto do vazio ainda chega e invade,
Mostrando a realidade imersa em fantasia,

Na sorte que buscara a dor que não queria,
O mar sempre bravio; ausente liberdade,
Nas mãos do cantador a voz que desagrade
Emoldurando assim, o que fora utopia.

Arcar com cada engano e teimar prosseguir,
Negando desde já qualquer doce porvir,
Assim, não poderei sentir outra emoção,

Já que não mais traria o quadro que me alente,
Caminhos em que eu ande, eu finjo estar contente
Sabendo que depois, borrascas voltarão...

23949

Fechado dentro em mim oceano sombrio
Nefasta sinfonia expondo a morte em vida
Estátua do vazio, aos poucos consumida,
Esculpo deste mar, em mármol duro e frio

Auto retrato aonde; os engodos desfio.
Por mais que esta desdita, ataque e mesmo agrida,
A solução; não vindo, o apocalipse cria
Do velho tabernáculo um campo nu, vazio.

Ensimesmado e quieto, atrozes dias passo,
Deste universo imenso, apenas leve traço,
Rascunho concebido em simples garatuja.

Fantoche que se expõe um tosco caricato,
O Fado traiçoeiro, insano eu desacato
Minha alma apodrecida, agora, imunda e suja...

23948

Os dias turvos; tenho, ainda dentro da alma
Eterna viajante em busca do infinito,
Aonde se escondera eu tento e não me omito
Sabendo que o amor; deveras sempre acalma.

Não quero imaginar a dor, terrível trauma
Que agora transformada, apenas neste mito,
Não deixa que eu explane, em brado, sonho ou grito,
Mantendo-se distante, onde encontrara a calma.

Perguntas sem resposta, a vida não permite,
E tudo o que eu conheço, expõe no seu limite
A realidade tosca à qual já não enfrento,

Moldado pela foice, o corte da navalha,
A mão já calejada entrega quem trabalha,
Ferida se aprofunda, agora em vão tormento...

23947

Inócua resistência aonde eu quis um dia
Mostrar algum poder; disforme sonhador,
Bebendo desta fonte até se recompor
O que talvez transforme o mundo que eu queria.

Atento ao caminhar, a tola poesia
Permite que se veja um dia num sol-pôr
Matizes tão sutis que mostrem num amor
A senda mais brilhante, exposta em fantasia.

Romântico fantoche, atravessando o tempo
A cada nova curva, um novo contratempo
E assim vou procurando ao menos quem me queira,

Esgoto minha força, a busca sendo inútil,
O coração se mostra agora bem mais fútil,
Mas traz esta esperança, amiga e companheira...

23946

Por mares navegando em busca de algum cais
Antigo timoneiro esconde-se do frio,
E o medo do não ter; enfrento e desafio
Por mais que a vida mostre e grite: nunca mais.

Os dias do passado, as noites magistrais
A lua sertaneja, o tempo que desfio
A mansidão da sombra argêntea sobre o rio
Viagens sem limite, em astros siderais.

O gozo da vitória, a história não tem fim,
Quem dera, meu amor, a vida fosse assim,
Mas sabe o navegante aonde o seu tesouro

Perdido em ilha imensa, agora tão distante
E mesmo que oceano ainda belo; encante
O barco não tem força e busca ancoradouro...

23945

Pudesse ter do sol, fogo equatorial
Traria o brilho farto aonde recompenso
Os erros do passado, este terror imenso,
Momento de alegria, em paz fenomenal.

Mas quando vejo a sorte envolta em baixo astral
Percorro sem saber um mundo amargo e tenso,
E mesmo num vazio, ainda temo e penso,
E traiçoeiramente a vida, então, banal.

Já não suporto mais hibernar sem proveito,
As ordens do senhor, amor eu sempre aceito,
E nada me impedindo até de imaginar

Que o tempo se permite ainda em crer possível
Um templo feito em luz, diverso do irascível
Caminho que prevejo: ausente luz solar...

23944

Cadenciando a vida, encontro a paz que quero,
Não posso me furtar à dura realidade
Por mais que um verso tolo ainda não te agrade,
Encontro neste mundo, o rosto amargo e fero

Mostrando a todo mundo o quanto duro e austero
Porém traduz assim a luz de uma verdade
Que molda sem saber a cruz sem liberdade
Matando a cada dia, o mundo que inda espero

Aonde eu possa então cantar sem ter censura,
A sorte imaginada aonde se procura
Trazendo uma alegria ao coração ferido,

Ainda sendo belo o nobre amanhecer
Que é feito em claridade e traz farto prazer
Expressando este amor, cinzel com o qual lido

23943

Meu verso diz da trama aonde eu te encontrei
Vagando sem destino uma estrela perdida
Que jamais poderia encontrar a saída
Do imenso labirinto aonde o medo é lei,

Dourado brilho farto, iluminando a grei,
Que tanto imaginara, em plena despedida,
Agora vejo enfim, a glória concebida
Mudando este destino aonde vão, tracei.

Escrevo num soneto o quanto desejara
Amor em noite imensa, intensa, bela e clara,
Apenas por saber da vida que se faz

Enquanto ainda sonho, o mundo se revolta
A sombra do passado, aonde encontro escolta
Permite que se pense ausente e louca paz...

23942

Pudesse transformar a perda em algum ganho
Não sofreria tanto e enquanto houvesse chance
Visagem se moldando a cada bom nuance
A dor já se esvaindo e o medo agora, estranho.

A queda se prepara, e nela não me banho
Aonde se imagina e amor; portanto alcance
Eu posso imaginar um redentor romance
Nas ondas do poema, embarco e já me assanho.

Assim navegador que sabe a correnteza
Não teme maremoto e encara a natureza
Sabendo respeitar anseios e limites.

Por isso é que eu te peço, e nisto não segredo,
Que à sorte não entregue o mapa deste enredo,
E que afinal querida em mim tu acredites..

23941

Imagético sonho exposto na paisagem
Qual fora simplesmente um ato insano e vil
O quadro se desfaz aonde repartiu
O lúdico prazer, sem ter quem inda ultrajem

Corvos que de Allan Poe crocitam tal miragem,
Traçando sobre o busto em tétrico e sutil,
Mas desalentador cenário em que se viu
Apenas o vazio, estática estalagem.

Assim faço da vida a flâmula dispersa
Sobre a qual meu canto, ainda teima e versa
Espasmo convulsivo, insano caminhar,

Bebendo deste espectro aonde o nunca mais
Explode-se num rito, ondas fenomenais
Moldando o meu futuro em noites sem luar...

23940

Sarcasmos entre riso; irônico e estridente
Assoma-se o terror e nele me encaixando
A vida qual uma ave exposta em negro bando
Devora mais voraz, e mostra-se envolvente

Aonde quer que eu vá, por mais que ainda ausente
Estende-se sombria apátrida fadando
A sorte da querência, um mundo bem mais brando
Helênica traição ao fundo se pressente.

Aquiliana glória expondo o calcanhar
Aonde fragilmente houvera sem pensar
Histriônico gozo esgueira-se entre cruzes

Deixando um rito atônito aonde se buscara
Homérica epopéia, adentrando esta escara
Expondo no canteiro, abrolhos entre as urzes...

23939

Execrável caminho; humanidade trilha
Excêntricos, sutis, exacerbados ritos
Esguia criatura encilha velhos mitos
E nada do que fora, ainda vive e brilha,

A morte se expandindo aonde esta matilha
Expõe em dissabor os asquerosos gritos,
Os dias que tentara alçar bens infinitos
Morrendo neste tédio, a vida; uma armadilha

Lacustre placidez, apenas utopia
Herético e profano, o dito ser humano
Aonde se esperava até sabedoria

O rio desta foz, aos poucos já desvia
Da funesta heresia, estúpido me ufano
Traçando invés de paz, dor, incúria, agonia...

23938

Dos versos e versões violas e volteios
Aonde perseguira apenas os caminhos
Adentro sem saber os mais audazes ninhos,
E o sonho passarinho, explora novos veios.

Aonde se mostrara apenas meus anseios
Agora se moldando os dias mais sozinhos,
Expresso a solidão, em busca de vizinhos,
Mas nada tendo então, retorno aos meus receios.

Nos recreios de uma alma aonde em cristalina
Luz se imaginara a sorte que fascina
E nada tendo então, descrevo a sorte ausente

E bebo desta vida, uma amarga aguardente
Aguardando calado; a luz que me apascente
Enquanto o nada ter, deveras me ilumina...

23937

Austera maravilha em áurea luz composta,
Ascendo ao teu caminho, estrela radiosa,
E a noite se devassa e enquanto a deusa goza
Desnuda-se a beleza, e assim se mostra exposta.

Encontro neste encanto a mais plena resposta
E sorvo cada gota, esgoto a fonte airosa
Brilho espetacular, lúbrica e caprichosa
Num ar mais provocante alma orgástica posta.

Exímio timoneiro, o cais eu reconheço
E bebo desta mina até que saciada
Amante em luzes farta encontra na alvorada

Querendo desde já o insano recomeço
E ao lasso cavaleiro, enlaça-se a princesa
Acesa essa ardentia, a fera espreita a presa;

23936

Suprema maravilha adivinhada em gozo
Moldando esta beleza, em tons argênteos claros
Flavos cabelos; tens. Destes matizes raros
Em sonhos divinais o encanto mavioso,

Aonde se mostrara um ar mais caprichoso
A brônzea e bela tez, dos solares amparos
Esboça-se suprema, aonde outrora amaros
Caminhos mais sutis, num ar voluptuoso.

Esgueiro-me na noite e adentrando teu quarto,
Da sílfide sublime, agora não me aparto
E bebo a claridade emanada de ti

Efervescência plena; esgota-se em si mesma
Minha alma seduzida; encanta-se e ensimesma
Sorvendo essa elegância expressa imensa, aqui...

23935

Deslumbra-me a Natura exposta nua e bela,
E quando em verso audaz expresso esta emoção
Numa ávida loucura a vida; ebulição,
Num átimo se entrega e a paz já se revela.

Aonde se tecesse a mais sublime tela
A sorte se emoldura e traz a explicação
Assoma-se a beleza incrível sedução
E esse corcel do sonho, amor deveras sela.

Adentro com meu verso o cenário sutil
Aonde se mostrara intensa a luz se viu
O brilho encantador, essencialmente raro

Na trama em dramas feita, o amor nos apascenta
E a chama que devora, em brasas violenta
Expondo num anseio, o amor que ora declaro...

23934

Delírio de um poeta, exposta em galeria
A vida não passara ainda do vazio
E neste vago tom estóico ainda crio
O quase que talvez trouxesse uma alegria,

As asas que não tenho; o sonho fantasia
E neste sonho eu vejo um mundo que desfio
Em verso e vastidão, num tom de desafio
Atrevo-me a pensar, sutil melancolia.

Exímio sedutor, o amor se maculando
Aflora-se em loucura o que já fora brando
E tudo não passando apenas de promessa.

O peso entesa as mãos e o tempo desampara,
Aclara-se em perdão, a sorte assaz amara
E a sanha desse encanto, em cantos recomeça...

23933

Voláteis sensações em asas libertárias
Presença anunciada, assaz maravilhosa
Encilho o meu corcel, anseio seda e rosa
Ascendo assim ao céu; em sinas procelárias,

Acesa essa luzerna expondo as adversárias
Excita-se em fulgor a ausência caprichosa
Das estrelas sutis, a sorte ensina e glosa
Cenário sedutor, espessas luminárias.

Escassas ilusões, a senda se desvenda
E sendo o que se sonha, assoma-se essa lenda
Em sombras o vazio expressa a solidão,

Mas servo dessa luz; sensíveis sons; escuto,
Excêntrica sonata; um ás sonoro e arguto
Essencialmente expõe estranha solução...

23932

Num êxtase profano, açoda-me o desejo
E beijo mansamente a boca que se expõe
O amor que fartamente amor cedo compõe
Permite mavioso orgasmo que antevejo.

Em coralinos tons, lençóis, sedas; prevejo
Uma explosão soberba e nela já se põe
Tecida em raro brilho, a luz que recompõe
Luar catuliano, um sonho sertanejo.

A senda sempre flórea esgota-se em tais dons
Na formidável noite, envolvem-me mil sons.
Hedônica loucura atraindo faróis

Em êxtase percorro a madrugada e insone
Permito que amargura, ao largo já ressone
Bebendo numa aurora a fúria feita em sóis...

23931

Láctea maravilha exposta em noite clara
Adentrando meu quarto; imensa alegoria
Poética ternura, uma alma fantasia
E o verso em luz intensa, imensidade aclara.

Brilhante sedutora, a lúdica ardentia
Qual fora perolada, uma jóia tão rara
Na sideral beleza o amor pleno declara
Na voz do sonhador, etérea melodia.

Plangência se denota em lúbricas canções,
Emaranhados tece a luz em tais visões
Versando em vários tons atônito cantor

Desnudam-se na noite, esplêndidos novelos,
Que simplesmente até, somente por revê-los
Revela-se o corcel denominado amor...

23930

Rebrilha em mansidão volátil luz, mas farta
Parábola descreve antes do tombo e queda
E quando no vazio a vida em vão se enreda
A sorte fragilmente a mente já descarta.

O quanto deste sonho a realidade aparta
Na mão que acaricia o olhar jamais se veda
Ruína da emoção, tempo enfim depreda,
Na manga se escondendo a derradeira carta.

Eclode a nebulosa e forma nova estrela,
Aportam-se sutis; as luzes. Ao revê-la
Lembrando-me venal do fogaréu intenso
Incendiando, inglório, arcando com terrores
Jamais eu julgaria antes de recompores;
Mas hoje ao te rever na solidão, eu penso...

23929

Imerso na loucura expressa em fantasia
Adentro o vago mundo aonde eu talvez fosse
Além de mero ser por vezes agridoce
O quase que em verdade em versos se recria.

Enlanguescidamente o olhar profano guia
E molda o que pensara um fóssil que se trouxe
Dum tempo feito em luz que agora em vão; findou-se
Tramando escuridão noturna alegoria,

Herético caminho algoz de cada passo,
Hermético desejo um rebuscado traço
Esgoto-me na fera, aguardo atocaiado

O quanto do que fora eu mesmo já desfaço,
E embora mais venal, arguto, porém lasso,
Escondo dentro em mim, as sombras do passado...

23928

Se queres inda ou não, que faço senão ir
Buscando a minha própria amarga desventura
Nas mãos de quem outrora eu percebera a cura
Somente este vazio estampando o porvir.

Mesquinho descaminho aonde prosseguir
Se enfim a tal desdita em lágrimas perdura,
A noite que me traz uma alma em treva, escura
Deveras já me impele; então devo partir...

Não deixo nem a sombra ou rastro que inda possa
Falar de uma alegria, antigamente nossa
E agora se mostrando em pálida expressão.

Do solo que julgara um fértil, doce abrigo
Encontro esta aridez, deveras não consigo
Sequer saber dos cais que os barcos não terão.

23927

Já não suportaria o grande desafeto
Que tu me demonstraste ao negar a esperança,
E quando em mar sombrio uma alma enfim se lança
O gozo do passado, em mágoas, eu repleto.

Não pude perceber do outrora predileto
Caminho sobre o qual a vida já balança
E o tempo se transforma e sinto na mudança
O quanto que perdi no sórdido concreto

Granítica verdade esconde a fantasia
Enquanto no passado, estúpido trazia
No olhar torpe sorriso; agora lacrimejo

Expondo enfim tão nua a clara realidade
Sem ter sequer nas mãos a luz que ainda aguarde
O tolo caminheiro envolto num desejo...

23926

Globalizado mundo e eu seguindo disperso
Ainda preso ao tempo insólito tutor
Penando por pensar se ainda existe amor,
Esqueço a realidade e volto ao velho verso.

E quando no passado adentro e sigo imerso
Volvendo a ter no olhar, diversa e opaca cor,
Quem dera se pudesse ainda no sol-pôr
Trazer para um soneto a luz deste universo.

Mas sei que na verdade, ultrapassado e velho,
Cadáver de um poeta, um vago escaravelho
Medonha criatura, em naftalina, eu guardo

A foto em preto e branco aonde me desnudo,
Empoeirado verso; eu sei quanto me iludo
Globalizado mundo: imenso e duro fardo...

23925

Não posso me calar ao ver tantos desdéns
Aonde eu poderia um dia até compor
Um verso em que talvez dissesse de um amor
Embora na verdade, eu sei que não conténs.

Vendido numa esquina até por uns vinténs
O amor que me deste, incrível sedutor,
No fundo não valia e, mesmo tentador,
Já não traduziria os sonhos, raros bens.

Mesclando a realidade em tons fantasiosos,
Os versos que mandaste, eu sei tão mentirosos
Mergulhos num abismo; aonde se percebe

A podridão escusa em lágrimas e risos,
Apenas no final, enormes prejuízos
E o fim da longa estrada, uma espinhosa sebe...

23924

Tomado pela dor, em pleno esquecimento
Não pude prosseguir, vasculho meus guardados,
Os sonhos nada são senão dias mofados
Nem mesmo a poesia ainda traz alento

A quem já se perdeu; por isso não sustento
Com canto e fantasia, os tempos já passados,
Aonde eu poderia, entregue às sinas, Fados,
O mar que quis suave agora é turbulento...

No vento e na vertente aonde me envolvera
A Morte se aproxima e quando num desdém
A sorte nega o sumo e apenas vão contém

A vida se desmancha, a vela feita em cera
Ao fogaréu do gozo, expõe-se em louco cio,
Porém a realidade apaga algum pavio...

23923

O nada se apresenta e mostra o quanto em nada
A vida se transforma após a tempestade
A cada tempo eu vejo o quanto se degrade
Quem busca a solução há tanto abandonada.

Pudera ter no olhar a sublime florada,
Porém se no jardim a seca chega e invade
Não resta do que outrora imaginei verdade
Sequer algum perfume em flor despetalada.

Mesquinharias são comuns e recorrentes,
Atando-me em galés, algemas e correntes
Não posso nem talvez pensar na libertária

Manhã que não virá, pois sei da noite eterna
E enquanto me esvazio, a vida amarga inverna
O que pensara ser imensa luminária...

23922

Rasgando o coração; expondo a nu meu sonho
Em volta do que fora outrora uma ilusão,
Esgota-se em si mesmo, o gozo da paixão,
E nele cada verso em que me recomponho,

Abarco nesta noite o vago e tão medonho
Momento do vazio, exposto em explosão
Marcado pela dor, incrível sedução
Ao mesmo tempo em gozo um mar turvo e tristonho.

Açoda-me a borrasca e nela vejo ao fundo
Abismo sem medida e quando me aprofundo
Em água turbulenta a escuridão se faz.

Mascaro com soneto o quadro mais cruel,
Minha alma se tornando a torre de Babel,
Vagando sem destino; ausência busca a paz...

23921

Dizer do que sonhei em noites turbulentas
Ao mesmo tempo eu sei o quanto nada faço
Senão seguir o rumo e traço em cada passo
As horas mais sutis enquanto me apascentas.

Pudesse contornar estradas violentas
A sorte vai moldando usando o seu compasso
Um novo amanhecer, bisonho em cada traço,
Aguardo este final afastando tormentas.

Entoas com carinho as mais belas cantigas
A dor que me tortura enquanto desabrigas
Não deixa que eu perceba ao fim uma saída,

Eterno labirinto, o amor não tem respostas,
E quando nos retalha, as carnes sendo expostas
Traduz o sem sentido e nisto molda a vida...

23920

Nos versos me desnudo e mostro quem eu sou,
Protejo-me da fera a quem já me entreguei,
E moldo com palavra um templo em cada grei,
Aonde tanta vez, a sorte me encontrou

E quando me pergunto, esqueço se inda vou,
Mas tudo na verdade, é como eu te falei,
A poesia é ópio e traça a própria lei,
Anárquica e sensata, eclode em “body and soul”.

Vagando sobre o tema, aonde poderia
Vestindo a minha pele, apenas fantasia
Ou mesmo andando nu à noite na calada,

Metáfora, lirismo, expressão do não ser
Nas mãos com ironia, a vida ao bel prazer
Do tudo que não pude ao mais provável nada...

23919

Olhando neste espelho eu vejo o que em verdade
Talvez até pareça a ti um pedregulho,
E quando ensimesmado eu busco num mergulho
O quanto a vida traz e até já não agrade

A quem procura a paz, ausente realidade,
Poeta sem critério; expresso-me no entulho,
Mas sei que disto tudo, ainda sinto orgulho
Por mais que nada veja; a luz assim me invade.

Eu quero ser somente um velho passarinho
Voando mansamente em busca de algum ninho,
Se tudo o que já fiz um nada representa,

Essencialmente sou; deveras, um poeta
E tendo a fantasia uma ardilosa meta,
Por onde há calmaria, uma onda violenta.

23918

Eu sei que cada verso; uma expressão de dor,
Traduz a mesma história em repetidas cenas,
Assim ao prosseguir expondo minhas penas
Repito na verdade, a luz do desamor.

E quando novamente um novo amo, compor,
Enquanto em calmaria, eu sei que me serenas
As noites voltarão a serem mais amenas,
E assim continuamente espinho dita a flor.

Excêntrico caminho, amor não mais suporta,
Na mansidão abrindo e expondo qualquer porta
Permite ao andarilho a paz de um tenro abrigo.

Tempestuosamente a vida não se acalma,
Num ir e vir contínuo expressando minha alma
A paz tão necessária, insano, eu não consigo...

23917

Crisântemos, jasmins, verbenas, violetas
Canteiros da esperança; aonde eu cultivara
A flor mais desejada, a orquídea bela e rara,
Apenas aridez; nos dias que prometas

Além deste vazio, as cores dos planetas
No infinito sonho, a sorte não me aclara
E o tempo se escoando, aos sonhos, desampara.
Descrevendo este nada, empunho estas canetas

E sei que na verdade ao fim, a solidão
Tomando cada espaço, as nuvens que virão
Trarão a tempestade e nela o vento frio.

Medonha fantasia, escombros do que fui,
Castelo de esperança, ao vendaval se rui
Daninhas ervas, urze; apenas o que eu crio...

23916

Durante a minha vida; amenos dias; tive
Mas quando conheci a deusa feita em luz,
Beleza que envolvente, aconchega e produz
Incandescência e brilho; eu já não me contive.

Eu sei que quem deseja o amor que inda não vive
É como um tolo louco, às vésperas da cruz,
Como algum doente aguarda pelo SUS
Vivendo de um passado embora nunca estive.

Arcar com o delírio imposto pelo amor
Sem nada que receba; o que mais vou propor?
Seguir em manso passo em pleno temporal?

Não posso mais conter a lágrima e o anseio,
O dia que virá; a sorte que receio
O medo em cada olhar, insano ritual...

23915

Enlouquecido sigo os rastros que deixaste
Ainda não consigo a plena liberdade
O amor quando demais, eterna e firme grade
Causando a quem deseja a dor feita em desgaste

E a luz quando na treva encontra-se em contraste
Percebo que perdendo aos poucos qualidade
A vida é como um mar que uma alma cega nade
Mordaz, sem poesia, assim o que legaste.

Insânia se entornando, apenas um tormento
Aonde imaginara a paz procuro e tento
Encontra um vestígio e nada me responde.

No quanto ainda posso, uma alma vaga crê
Procuro cada rastro, em vão busco e cadê?
Estrela vida ou morte; eu teimo, mas aonde?

23914

Meus versos deste amor apenas são escravos,
E quando renegado, esqueço a própria vida
No imenso caminhar, a rota já perdida
Aonde quis roseira, apenas lírios, cravos.

Invés de um riso manso, ausentes desagravos
Adentra-me o vazio, a paz sempre esquecida,
Mortalha se prepara em lágrimas tecida
Do lago em placidez, mares em fúria, bravos;

Assim não poderia então pensar que tudo
Não fosse; na verdade, aquém do quão me iludo
Podendo-me despir do que fora ternura.

Usando o mesmo luto; eterno companheiro,
E quando do vazio, em trevas eu me inteiro
O rio sem ter foz, na lástima eu perduro...

23913

Num último suspiro, as dores e alegrias
Se dicotomizando expõem nossa nudez
E dela se percebe, a própria insensatez
Conforme em outro tempo, ainda proferias.

No quanto se demonstra em vagas profecias
O todo que na vida em momentos se fez
Permite-me dizer além do que tu crês
A sideral beleza em luzes, fantasias.

Assíduo navegante em meio aos temporais
Perguntas sem resposta, ausente ou parco cais.
Satânico caminho ou lúdica esperança?

Só restando de tudo, a mesma indagação
Se luz ou treva, cor. Aos dias que virão
O olhar ensimesmado à dúvida se lança...

23912

Do amor que nesta vida ainda desfrutara
Vivendo em poesia a sorte de te ter
E nela com loucura, um grã, doce prazer
Comendo desta fruta amena e sempre rara.

No beijo que me deste o amor já se escancara
E molda este futuro expresso em manso ser
Vivenciando assim o quanto posso crer
Na fonte que não cessa e traz uma água clara.

Potável caminhar em luas, prata e sol,
No encanto deste olhar, a fúria de um farol
Que embora em noite escura; emite em tons brilhosos

A cândida delícia em versos desnudada
Trazendo em claridade, a bela e terna estrada
Num átimo desfia em tons voluptuosos...

23911

A luz que assim se emana expressando a raiz
Demonstra em tons suaves o quanto prazeroso
É ter nas mãos o fogo e nele o próprio gozo
Momento auspicioso aonde estou feliz.

A base demonstrando o que deveras quis
Por mais que isto pareça um pouco caprichoso
Esqueço-me da fera e bebo o majestoso
Caminho sem tocaia, o céu em seu matiz.

Por vezes me defendo usando da palavra
Que quem com tal denodo; aguarda e sempre lavra
E tendo em mansidão a fonte quase lúdica.

Do amor que sei divino e mostra-se tranqüilo
Por onde o caminhar na paz que ora desfilo
Deixando para trás o tom feérico e lúbrico...

23910

Nascemos e depois em ritmo alucinante
A sorte nos conduz à mera persistência
Tomando por exemplo a própria resistência
O tempo prosseguindo, agora, ontem e avante.

Tampouco feito um livro esquecido na estante
O gozo de um prazer, e nele a penitência
Do quanto se transforma e molda-se a ciência
Um rito que denota o quanto é triunfante

O parto que refaz o riso após o pranto
E nele com certeza, ainda um raro encanto
Do qual se tem o brilho após a noite escura,

Essencial caminho aonde se percebe
O variável tom expressa o rumo e a sebe
Aonde imagem turva ainda assim perdura...

23909

A carne se apodrece e dela se refaz
A vida que dá vida e morte ressurgida
Após o que seria apenas simples vida
E da continuidade eternidade traz.

Não posso mais negar, por ser um incapaz
Esta verdade plena em norma concebida
Uma existência clara embora construída
Por sobre base opaca extrema unção da paz.

Urdindo em dor e pranto a etérea e vã matéria
Em átomos composta eternamente. Espere-a
E verás depois disso o quanto ainda existe

Num infindável ritmo expressa-se a verdade
Que a cada renascer incorporando invade
E sobre a Terra a vida, em vida sempre insiste..

23908

Deveras proibindo algum grande prazer
É que se, escravizando assim se tem domínio
E desta forma vejo aquém de algum fascínio
A história do pecado e aonde me faz crer

Que após a liberdade existe algum poder
E nele a realidade um fogo traz. Domine-o
E tudo será teu. Pois então; incrimine-o
E terás com certeza o que não podes ter

Usando da razão, espécie em extinção
Vagando sobre tudo, o amor feito em perdão.
E nisto se moldando um mundo mais complexo.

A Igreja soberana impede desta forma
Já que comer, beber; são da existência, norma,
Mais fácil proibir o prazer feito em sexo.

23907

ETERNIDADE

Para muitos um conceito meramente filosófico
Que transcende o espaço e não se mede pelo tempo
Seu verdadeiro sentido é sublime e *acrosófico
Debatê-lo é envolver-se num terrível contratempo.

Ela é antes do princípio e seu fim é inexistente
Nada há que a supere, nem sequer por um momento:
Ela é da mesma essência que o Deus Onipotente
Pois, Ele é antes de tudo; e é maior que o firmamento.

Do infinito ela é a linha que flui de forma eterna
Sem sucessão de momentos, sem sofrer alterações
Atrelada ao próprio tempo, ela é mui subalterna.

Sobre o assunto eternidade, não cabe comparações
Pois o tema é mui profundo e de beleza superna
Que encanta nossas almas e os nossos corações.

*acrosófico: palavra derivada de acrosofia cujo significado é: a
suprema sabedoria, a sabedoria divina, portanto, no soneto traz o
sentido de ligado à suprema sabedoria; à sabedoria divina.
NATHANPOETA. Abraços


Nossa fragilidade expressa em lusco-fusco
Ausência de resposta e dúvida, deveras
Desde o nosso principio em belas primaveras
O mundo se mostrando aquém do que inda busco.

Por vezes mansidão esconde um ato brusco,
Ainda, na verdade eu sei que somos feras
A morte após a morte em morte degeneras
E neste ato contínuo, eternidade; ofusco.

A vã filosofia emana um ar sombrio,
E nela a fantasia, aonde eu me recrio
Permanecendo nua, a pele quase edênica.

Comemos desta fruta e nada respondemos,
Ciência não nos veste e assim permanecemos
A fé ou esperança, etérea ou ecumênica...

23906

Por vezes me pergunto aonde encontro a paz
Um velho marinheiro, ausente de seu cais
Espera pela sorte, e teme o nunca mais,
Aonde fora outrora intrépido e voraz

Agora simplesmente, o medo vivo traz
Deixando para trás momentos magistrais
O porto da esperança, ondas fenomenais
E o encanto que a sereia entorna mais audaz...

Eu sei que na verdade existe algum remanso
Após a tempestade, e nele ainda alcanço
Momentos de prazer e glória feita em luz.

No amor que tanto quis, e sei que me domina
A luz que ora me guia, expressa a doce sina
E leva o marinheiro, ao porto que é Jesus...

23905

Dos erros que cometo a dor penitencia
E trago ainda aberta a escara terminal,
Aonde imaginara um dia triunfal
Apenas encontrei amarga fantasia.

Pudesse renascer um pouco a cada dia
Traria em meu olhar o sonho sem igual
Da vida que, refeita, expressa a magistral
E rara divindade à qual em luz se alia.

Mas sei que nada disso é possível, amigo;
E quando em desespero aquém do que persigo
Encontro tão somente uma resposta vaga

Não posso mais deixar que tudo fique assim,
Expresso o meu desejo e esqueço se há um fim,
E o brilho da esperança, ainda vem e afaga...

23904

A cada anoitecer o sonho que transporte
Levando ao nada ou tanto o quanto que inda resta.
A sórdida lembrança, às vezes tão funesta
Ou mesmo a maravilha expressa em rara sorte.

Assim num ir e vir, o medo diz da morte,
A vinda do futuro, o quanto que se gesta,
Numa aridez do solo aos vastos da floresta
O início de uma vida, o trágico que aborte.

Morfeu a divindade em suas variantes
Transporta a eternidade em poucos, vãos instantes
E tudo se refaz após o amanhecer,

Excêntrica loucura, insânia poderosa
Em luz ou pesadelo, em pântanos, a rosa
Sendo fuga ou resposta expondo ao sonho o ser.

23903

Ainda nos restando o gozo genesíaco
De um éter que se faz ao éter que voltamos,
E quando perceber, dos arvoredos, ramos,
As forças deste signo, expressas no zodíaco.

A sorte se mostrando um bom afrodisíaco
Dizendo do que em vida, ainda desfrutamos,
Por mais que alguma vez; dispersos relutamos
Numa ânsia temerosa, espasmos de um cardíaco.

E assim ao vermos logo em fogo, em espetáculo
O que se fora vida, apenas um obstáculo
Que meramente é posto aonde prosseguimos

E nisto se percebe a formação do eclipse
Embora se prepare o fim no Apocalipse
Tosca mesquinharia enquanto nos ferimos...

23902

Abortar a esperança é como se perder
No oceano sombrio envolto por neblinas,
E quando a sorte; assim, deveras assassinas
É como em plena vida, a morte do teu ser.

Ainda nos restando após o nada ter
Seguras pelas mãos, as fontes cristalinas
Das quais mesmo não vendo etéreo sol dominas
E chegando ao final, decerto renascer.

Dispersa fantasia uma esperança traz
No front desta batalha a doce e mansa paz
Supera a barricada e avança destemida.

Não teme a turva treva e bebe os dissabores,
Por isso esteja atento, e por onde tu fores,
Mantenha-a,pois nela existe a própria vida...

23901

A vida após a morte, um sonho e nada mais?
Dúvida eterna; algoz de nossos pensamentos,
Grandes Olimpos, Céus; ou excrementos?
Ínfimos seres ou figuras magistrais?

Há um Deus, respondo. Entes originais.
E nós? O que dizer? Movido a sentimentos
Procuro que me dê ao menos tais alentos,
Eternidade após ou mero nunca mais?

Traçamos nossa história um pouco a cada dia
E nisto prosseguir até que chegue o fim,
Edênica loucura, imensidão; Jardim?

Ou vazio absoluto; uma alma se esvazia,
E a dúvida persiste, e um vago som se lança
Restando tão somente, a força da esperança...