domingo, setembro 17, 2006

Desejo de Morte

Um apêndice inútil, sem valências...
Dos pertuitos funéreos da saudade,
Famélicos pendores da clemência.
Teus fálicos delírios, santidade...

Nos vértices dos sonhos, tuas bridas...
Aderes firmemente, sanguessuga...
Lampejos tão mordazes, t’as feridas.
As lágrimas febris, a vida enxuga...

Protéticos refinos da ciência,
Hipotéticos lagos que naufragas.
Tentáculos vorazes, inclemência,

Negas-me sobrevida e boa sorte.
Pestilentas, as bocas rogam pragas.
Desejas, tão somente, a minha morte!

Solitude

Nos sacrários noctívagos lunares,
Plenilúnio reflete meu desejo...
Nos pântanos sofríveis onde vejo
O cadáver d’amor, negados pares;

Percebo quanto dói a solitude!
Solilóquios mordazes sem ter eco,
Perduram nesta fóbica atitude.
As sombras que poluem meu jaleco,

Ficaram sem respostas, catatônicas!
As mãos e minhas pernas ‘stão atônicas;
Paralisadas... Álibis, procuro...

Refrigerando o tempo dessa ausência,
Pedindo a Eros lúdica anuência,
Ávida vida salta sobre o muro...

Coração Voraz

Meus telúricos sonhos, natureza...
Nos antúrios vermelhos, sensuais...
Meus desejos tetânicos, carnais,
Traduzem tuas luzes, realeza...

Píncaros atingíveis, meus anseios.
Nos veios que incendeio, com meu cântico,
Delícias conspurcando belos seios...
Nas viscerais cantigas, sou romântico...

As plagas mais distantes, minha meta..
Pelas fráguas vulcânico, poeta...
As labaredas queimam, lava, chama...

Nas alamedas, traço minhas rimas.
Nas correntezas, caço novas primas...
Um coração voraz, palpita e te ama...

Amores Régios Com Estrambote

Amores régios, sonhos desfiguro,
Mergulho no teu cárcere, marujo...
Marulhos me profanam, transfiguro.
Procuro minha cura, sou sabujo...

Rígidas cútis, mármore, Carrara.
Tertúlias e assembléias que freqüento;
Decidem olvidar a vida cara.
Feridas conferindo meu ungüento...

Repúdios lançarei lanças, adagas...
Distantes dos amores outras plagas...
Castiços olhos, ledos meus enganos...

Cobiço os óleos, medos e mortalhas,
As naves que navego são navalhas.
As travas que retiro, negam planos...

De tais amores rígidos, sem sexo...
Num coração mais frígido, sem nexo.
Nesses amores curo meu complexo...

Teus Sonhos

Sonhavas com momentos maviosos,
Nos dias que passei por tais carinhos.
Portais abertos, olhos invernosos
Pediam, imploravam novos ninhos...

Farsantes, minhas mãos voluptuosas,
Procuravam por outras tantas santas...
Dava-me teu olor, clamor de rosas...
Das pétalas forjavas tuas mantas...

Nos álamos, nos pélagos auríferos,
Nos campos, nos pomares mais frutíferos,
Forjávamos delírios indecentes...

Sentíamos os pântanos carbônicos,
Amores entre flores, são platônicos.
Rolávamos felizes, inocentes...

A Morte

A noite preparou a sua rede,
Espera que me caces sem perdão.
Vingança consumindo tua sede,
Minhas tormentas nunca são em vão...

Jogaste meu cadáver na parede,
Brincando vou fazer revolução.
Nos muros que caíste já me enrede,
Nas horas mortas sigo a solidão...

Não posso examinar tuas mordaças,
As bocas já me mordem, são carcaças.
Teus torpes sentimentos geram asco...

Não me permita sequer ser o carrasco,
Bem cedo te arremeto pois madrugo.
Pois sei que tu serás o meu verdugo!

Morfina

Dás o delírio cruel és morfina.
Tu és fantasmagórica, demente...
Nos versos que me mentes, amofina
A porta que fechaste vilãmente,

Abriram-se nos olhos da menina.
Respeito tuas dores fielmente.
Mas sei que nada tens e me domina
Essa cruel vontade de ser gente.

Nas pás com que cobriste as esperanças,
Dormindo retornei dessas lembranças .
Não foste nem sequer a liberdade...

Não temo nem temer felicidade;
Nem quero poluir minha passagem.
Reflito em ti, portanto, minha imagem...

Horta

Plantei meu coração, reguei tua horta,
Esterquei com teus laivos de mentiras.
Adubos foram vida e sina torta,
Lagartas espalhadas cortam tiras...

Reguei com minhas lágrimas. Remota
Essa certeza louca em que te miras.
As rúculas colhidas, tudo exorta
A não pensar nas balas que m’atiras...

Rábanos, nabos, feitas as colheitas,
Verduras, hortaliças, já rejeitas.
Colhidas com suave penitência.

As dores que senti, coincidência...
Meus dedos estancaram tal sangria,
As noites que passamos, nossa orgia...

Estilo

Não quero nem permito tanto estilo,
Nas respostas que deste sem pensar...
A vida tonelada me dás quilo,
A lua não reflete teu mirar...

No que concerne, verme sou tranqüilo;
As odes que cantei, levou o mar.
Meus medos pertinentes aniquilo;
As horas que escapei de teu sonar.

Embarco em tua nova embarcação,
Nos lemes e nas proas, tempestades.
Perdendo tanto tempo, o coração,

Não posso mais saber futilidades...
As rotas que me destes, são quimeras.
Saudades de quem fui e quem tu eras...

Minha Alma

Minha alma, sem ternuras, louca; voa...
Percorre sem parar todos os planos.
Mergulha cegamente na lagoa,
Onde nadamos, livres, verdes anos.

Minha alma, sem branduras, vai à toa.
Não cabem mais torturas nem enganos...
A vida que promete ser tão boa,
Desfigurada, segue esses mundanos...

Não quero transgredir mas já transgrido.
E tampouco agredir, mas te agrido...
Minha alma soluçando, perde tino...

Nas horas que tecemos nossos mundos,
Os medos se verteram mais profundos.
Minha alma colorindo meu destino!

As Rosas

As rosas que plantamos, já vicejam...
Brotaram seus espinhos, mas resplendem.
Nas noites que perdemos, sempre alvejam.
As rosas perfumadas nos ascendem...

Os brilhos da natura, tudo acendem...
As portas que fechamos, apedrejam.
As bocas que beijamos se recendem
Do perfume das rosas que se beijam...

Volta, meus dias seguem sem perfume...
Nem consigo ouvir mais teu queixume...
Nossos jardins pedindo teu retorno.

Perderam sem te ter, maior adorno...
As rosas vicejadas também choram,
Sem o teu brilho, morrem, se descoram...

Virgens

Teu amor, sutilmente vem e doma.
Ronrono feito um gato, domesticas.
Mansidão me envolvendo, tudo toma...
Minhas garras, sutilezas, repicas...

Penetraste vazios, alma, estroma...
Os restos que cultivo, cedo esticas,
Somos gomos iguais, perfeita soma...
Notícias que provoco, tu publicas.

Crescemos mentirosos, mas amantes...
Nos leitos que dormimos, tão profanos.
Sentimos o que nunca fomos antes.

A vida nos permite tais enganos,
Por certo tantas camas dividimos,
Mas virgens, cada noite, nos sentimos...

Procuro a Liberdade

Não quero perseguir a minha sorte...
A vida se disfarça em aliada.
Nas farsas que criei a própria morte,
Se esparsa na manhã, falsa, cansada...

Não há porto, porteira que me importe,
Sigo torto, torturo tua estada.
Me corto se me aporto no teu norte.
Sou absorto. Sortida, ensolarada

A estrada que me negas, sem motivo.
Altivo ergo os meus ombros, redivivo...
Nas voltas, já comportas os teus atos...

Nos rogos tuas pragas meus regatos...
Sem regras tantas réguas meu resgate.
Procuro a liberdade antes que mate!

Tua leveza

A vida me cedendo os agasalhos,
Me permite saber da noite e frio...
Não temo meus fantasmas, espantalhos;
Não temo a solidão, eu vou vadio.

Persigo procurando meus atalhos...
As horas se passando, meu estio;
O sol que me tortura; os atos falhos.
Pretendo conhecer desejo e cio...

Minhas certezas, sumo e cercanias.
Minas profundas, resto e valentias;
Rotas perdidas, rumos e incertezas.

Quem fora podridão hoje respira...
Quem fora solidão, hoje transpira.
Flutua, cultuando t’as levezas...

Casa Vazia

Se nada mais pretendo, por que tento?
Esquecido, permito as fantasias...
As noites que vivi me negam dias.
Os dias que não tenho logo invento...

Nas retinas cansadas, trilho lento,
Vagas luas repetem melodias...
Nascemos dessas festas, das orgias...
A noite não permite meu intento...

Minha casa vazia, nada tenho...
Cerro o punho, fechando assim, o cenho...
Estropiado sigo sem aviso.

Não tenho nem pretendo ser preciso,
A paz que transformaste em desafio...
Vida passa, compassos por um fio...

Dora

Onde te encontrarei, querida Dora?
Perguntando, procuro em todos bares...
Vou pelas madrugadas, sem ter hora.
Vagueando sem rumo, até altares...

Nas praias, nas areias, parto agora;
Nas ondas que se quebram, todos mares..
Não me importa sequer: chove lá fora,
Não meço nem procuras nem lugares...

Nos jardins, rosas planto, seus espinhos;
Nos olhos, colho pranto, Dora some...
Ando pobre, mendigo teus carinhos.

A solidão feroz já me consome...
Quem me dera poder Dora encontrar.
Perdido, te persigo no luar!

Quitéria

Recordo-me de teus olhos. Matéria
De tantos sonhos tristes, mas audazes...
A dor coberta, lamas... E Quitéria
Soçobrando, flutua. São falazes

Meus dias. Minha vida traz miséria,
Nessa busca infrutífera. Das gazes
Que cobrem meu porvir, tanta bactéria!
Tento, em vão, suicídio com os gases

Venenosos que trazes no respiro.
Percebo teu fantasma, então atiro...
Flutuas pela casa, me provocas.

Quitéria; meu transtorno e solução!
Ao mesmo tempo cospes, me convocas...
Rasgando, me mutila o coração!

Busca

Teu respiro suave enquanto dormes,
Acalenta esperanças e desejos...
Na manhã que se segue, nos informes,
Eu procuro notícias dos teus beijos.

Em vão, bem sei fugiste. São enormes
Os caminhos que segues; tenho pejos.
Mesmo assim, comportando olhos disformes,
Irei te procurar doces e queijos...

Terminais, rodovias, pensamentos;
Nas praças, nos coretos, nos portões...
Por todos cantos, campos e momentos;

Nos cantos passarinhos e tenores,
Nas luas, nos pomares, nos amores...
Em todos novos rumos, direções!

Colheita

Não quero conhecer teu torpe instante,
Nem quero transtornar minhas correntes.
Abandono-te nesta vil estante,
Onde guardo os abortos e serpentes.

Respeito teu fantasma delirante
Excluído, vencido sem patentes.
Deposito rancores. És falante,
Mas de que valeria se, dementes,

Meus olhos não protegem tua luz...
Mares diversos, pesa-me essa cruz...
Espero-te na curva, minha espreita...

Pudera, não querias meus anseios.
Vou tentando meus versos e ponteios,
Tuas dores serão minha colheita!

Presente

Como é difícil, Pai, saber da vida...
Esqueço do passado, do futuro,
Transcorrendo o meu tempo, nau perdida...
Traspasso espaços, subo neste muro.

Os sinais da manhã, noite vencida;
Claridade vencendo todo o escuro...
Brincando com meus medos, minha lida
Sorridente. Nas queda, nem fraturo

Os meus sonhos, seguindo meu cantar...
As alvoradas claras. Vou buscar
Paz, decididamente, nada mais.

Roubando toda manha da manhã,
Desta antiga e serena cortesã;
Meu futuro e passado, deixo atrás!

Cracas

Meus versos que, pretendo, serem facas.
Universos convertendo em peçonha.
As dores que me beijam não aplacas;
As flores me cortejam. Vida sonha

Com desejos sutis. Cravando estacas
Nos cortejos senis. Lavando a fronha
De tantos pesadelos, usas lacas
Para pintar, vermelha essa vergonha!

Os meus prantos, novelos, blusas rasgas;
A trucidar centelhas cedo engasgas...
Não posso permitir nem um segundo...

Num poço redimir os meus pecados,
Nas barcas navegar um novo mundo.
As cracas que carrego. Tristes fados...

Abandono

As mãos que carinham, maviosas.
Os dedos te percorrem grutas, seios...
A boca procurando colher rosas.
Gemidos traduzindo teus anseios...

As rondas que te faço, glamorosas;
Os cabelos dançando seus maneios...
Nas noites que rolamos, tanto gozas...
Persigo, calmamente, quais os meios

De te causar delírio, maciez...
De te levar total insensatez.
As noites que passamos são cometas...

Não posso permitir que tu cometas
Insana tresloucada fantasia...
A vida não terá mais um só dia...

Presença Materna

Eu nada mais teria dessa infância,
Não fosse teu sorriso, mãe querida...
As dores que trouxeram repugnância,
Por certo amenizadas, tua vida...

Perdida no passado a velha estância;
Meus sonhos pueris, sem ter ferida...
Só para ti terei grande importância!
És o resquício vivo da perdida

Felicidade audaz, da liberdade!
Minha alma virginal, tanta saudade...
As dores violentaram a minha alma.

Caminho carregando triste peso.
Quem me dera escapasse assim, ileso.
Mas a tua presença sempre acalma!

Ronda

De cada nova noite nem restolho...
As pútridas certezas me minaram...
Vazio, perfurando, cego um olho;
As luzes que brilhavam se acabaram...

Tranquei meu coração com um ferrolho.
Vis emanações fátuas soçobraram...
Minha alma estraçalhada qual repolho
Abrindo-se, fenestra-se. Roubaram

Toscos sonhos. Ofusco meus delírios.
Mártires se pretendem meus martírios...
Me deste teus transtornos por herança!

Sorvi dessas matizes as mais tétricas.
Meus versos se perderam nessas métricas.
A morte me rondando, vil criança!

Desilusão

Perdido, passo o tempo, me completo
Nas canções que negavam minha luta...
As marcas, minhas máscaras, meu teto,
São pétalas jogadas, força bruta!

Obstante, me negaste cada afeto.
Farnel que carreguei nessa labuta
Para que jamais fosses um inseto.
Bebeste então, solene, essa cicuta.

Sobreviveste tétrica, vulgar.
As garras amoladas pelo fel,
As farpas arrancadas devagar...

Me deste, sem sentido a solução;
Resistes vorazmente mais cruel.
Eu envenenarei meu coração!

Adultério

Preso, contido em tais cruéis mistérios,
Não me permito as urzes nem espinhos...
Nas marcas de teus passos nos caminhos,
Por certo derrubaste meu império!

Não posso permitir tal adultério,
As bocas que beijaste, teus carinhos.
Do grande amor que tive, cemitério;
Os pássaros procuram novos ninhos!

Não quero mais saber de tuas culpas.
A noite não permite mais desculpas.
Te quis, jamais oculto essa verdade.

Os trapos que deixaste já rasguei;
Em tudo transtornaste minha lei.
De ti não restará nem a saudade...

Amor Único

Amor que não pretendo fosse vário,
Traga minhas sonatas, sem perdão!
Disperse do meu peito a solidão.
Dispense do meu corpo, esse sudário.

Não deixe nunca mais vento contrário,
Proteja das tempestas, mansidão!
Contigo não há medos nem leão!
Nos haras desta vida ganhei páreo!

Não quero mais temores, horas cálidas.
Distante sei as dores, sempre pálidas.
Constantes os pendores desta luz!

Vencidas as moléstias tenebrosas,
Nascidas nos jardins, as belas rosas
Por certo enfeitarão a minha cruz!

Carrasco

Tantas vezes pensei na formidável
Mansidão que mentias, companheira...
Quantas vezes surgias tão amável,
Escondendo uma fera. A verdadeira

Face que me ocultavas, lamentável...
A minha fantasia, tola, inteira;
Não era nem sequer resto, execrável!
Pois rasgaste, puíste essa bandeira

Tão sublime! Escarraste nos amores.
Perniciosamente foste pus.
As mãos que tanto mordes, meus horrores;

Não faz muito, lambias. Me dás asco,
Bem sei que irradiaste podre luz;
A vida te trará o teu carrasco!

Dor Insolente

Catedrais dos meus sonhos, minha crença.
A vida não deixou sequer cascatas,
Viajo num segundo tuas matas;
Queria recolher a dor imensa!

Nas horas que sonhei, cruel doença,
Nas formas desse corpo, me retratas,
A lágrima que tenta está suspensa!
A garganta retêm mas, cruel, matas!

Catedrais, orações, a rebeldia...
Não quero ter sequer um novo dia;
Apenas a verdade é que liberta!

Não temo nem clamor nem fantasia.
Meu mote se perdeu na poesia.
Minha dor, insolente, me desperta!

Temerário

Não tenho medos, quero meus brilhos...
Essas notas melódicas transtornam...
As flores que colheste não adornam.
As bocas que beijei deram-me filhos!

As notas repetidas no estribilho,
Me dão a maciez que te roubaram.
A certeza fatal de que sonharam
Aqueles que verteram noutro trilho!

Nas frondes que me trazem velho cedro,
Nas noites que passei, nunca mais medro.
O tempo não deixara suas marcas!

Não temo a cicatriz, nem a facada,
A vida percebeu a dura escada.
Meu barco já não teme nem as Parcas!

Vôo Livre

Voando livre, lábios meus osculam
As bocas que pensei não fossem minhas...
As dores que deixei, aves daninhas,
Se perdem nos meus sonhos que pululam...

Nos cálices que bebo, cedo adulam
As mansas criaturas que continhas.
As ciências são vagas, são mesquinhas,
As doces maciezes já se ondulam!

Ondinas nossas praias, nossos mares...
Transfundo pensamentos dos luares
Onde as ondas se quebram nos penedos!

Não quero melodias mais orgísticas,
As hordas que me levam, cabalísticas;
Segredam nos ouvidos, ledos medos...

A alma feminina

Debutante perdida no passado.
A vida transformou essa menina.
O sonho que vivia, abandonado...
O tempo já dobrou a velha esquina!

Vestidos, valsas, danças... O lado
Cruel da vida, cedo descortina.
Primeiro amor, primeiro beijo dado.
A vida veloz, rápida, rapina;

Não deixa tempo para um sonho tolo...
A festa, a dança, noites belas, bolo...
Nada mais restará, pois nada atina.

Os tempos mudam, tudo se transforma...
Nos shoppings, patins, games se conforma.
Acaso mudou a alma feminina?

Petiz

Encontrando a saudade, dê lembranças...
Faz tempo que não veja essa quimera.
A vida transtornada que me dera,
Há muito adormecida. Nas crianças

Que ressuscitei; sempre esperanças!
Foram tantas as vezes, besta fera,
Corroendo-me, cria uma cratera.
Encontrei minha paz nessas andanças

Pelos tempos passados. Fui feliz,
A criança adormece mas não morre!
Ressuscita a trazer felicidade!

E rio novamente, no petiz,
Que nas difíceis horas me socorre.
Não deixando viver a tal saudade!

Fascínio

No tropel, cavalgando pelos ares,
Montado no unicórnio prateado;
Descubro a multidão, num ser alado...
Da velha lua, tantos os luares!

As estrelas se soltam nos pomares.
O tempo, sem presente nem passado...
Quem me dera viver sempre ao teu lado!
As manhãs surgiriam orvalhares...

Galopando percorro tantos mundos;
Eu nunca perderei sequer segundos,
Nas asas do corcel que tanto prezo...

Ao ver tal maravilha nada faço;
Apenas procurando teu regaço...
Ao te encontrar, fascínio, então eu rezo!

Vento

Esse vento chorando na janela,
Trazendo, no seu canto, tanta vida...
A noite que julguei estar perdida,
Ressurge linda, forte. Como é bela!

Liberta os prisioneiros, triste cela,
Acalentando as dores. Já carpida,
A juventude morta, não vencida!
O vento pintor faz serena tela!

As tintas que possui, as mais brilhantes;
Acordes que dedilha, dissonantes...
A dor da maravilha d’existir!

Vento, meu companheiro solitário;
Ao dobrar desses sinos, campanário,
O meu consolo,vento é estar aqui!

Para Marcos, meu Filho

Meu filho vai correndo pela casa;
Dono das mais perfeitas formas. Lago
Onde moram amores. Sua asa
Aberta, anjo divino d’onde trago

Os meus sonhos... És chama, fogo, brasa.
Da vida rei; dos sonhos és meu mago.
Minha saída dessa dor que abrasa,
És mansidão d’amor, maior afago...

Correndo pela casa, liberdade.
Luz que clareia a vida, mocidade.
Nesses tempos doídos és alento...

És tempestade mansa, um forte vento
De esperanças. Meus sonhos, meu perdão...
És a razão da vida, coração!!!

Obra Prima

Estátua divinal, perfeita musa;
Os orgasmos celestes te fizeram...
Em teu corpo, tais mágicas imperam..
Me fazes delirar... Tira essa blusa...

Poder fazer rodar, deixar confusa.
Criatura forjada onde deram
Para sonhar, os deuses. Lá puderam
Pedir a Zeus, paixão, da dor reclusa...

Quando mal terminava essa obra prima,
E procurando só encontrar u’a rima
Que pudesse fazer lembrar de ti.

Vasculhou dicionários, inventou
Palavras... Nada encontrando, pensou:
A maior obra prima está aqui...

Noite Enluarada

Me trouxeste esta noite enluarada;
Violões, serenatas, tantos sonhos!
Verdadeiras carícias. Dos tristonhos
Dias que vivi, sobra quase nada...

Me trouxeste esta noite na calçada;
À procura de mágicos, risonhos,
Os dias esquecidos... Enfadonhos,
Os d’agora, levando na enxurrada...

Esperei por vinganças, ranços, dores...
Mas lua, melodia dos amores,
Calmamente ressurge nos meus céus...

A jura que fizeste, o vento leva,
Onde me cegaria é frio e neva.
A lua sensual, rasga teus véus...