sexta-feira, janeiro 29, 2010

23816

Pudesse inda conter nos olhos este brilho
Que tantas vezes foi um marco em minha vida,
A sorte se desnuda e vendo assim perdida
Caminho mais diverso, ainda teimo e trilho

Enquanto sob a luz senda bela palmilho
Bebendo da ilusão; encontro-a distraída
Seguindo cada passo aonde a lua ungida
Derrama argênteo fogo aonde louco encilho

Corcel de uma esperança atroz e vingativa,
Aonde já se lança uma alma quase viva
Vivenciando a dor de ter em olhos fixos

A imensa fantasia, agora abandonada
Numa avidez tamanha apenas vejo o nada
Qual fora feito em cruz, terríveis crucifixos...

23815

Pudesse então vibrar em meio aos vários ritos
Descrentes ilusões, ardentes caminhares,
Vivendo deste encanto aonde tu buscares
Os dias que; decerto, espero os mais bonitos

Adentrando este espaço, encontro os infinitos
Por onde desejei erguer nossos altares
Estranho sortilégio: envolvo-me em luares
Distantes do que um dia embalde foram mitos.

Poeta; retornai que a lua em vã neblina
Há muito que esquecida, agora não fascina
Tampouco a serenata ainda se faz bela

Na lua do sertão, mergulho no passado
E vejo desde então, qual templo destroçado
Imensa maravilha, envolta em rota tela...

23814

Sentindo esta vontade audaz, fremente
De ter em minhas mãos, a dor da liberdade
Enquanto a fantasia entregue à realidade
A cada novo dia, a história se desmente

E falta ao sonhador, ainda o remetente
Por mais que em calmaria ainda teima e nade
A sorte em dissabor, por mais que desagrade
Permite que inda crie um dia pertinente.

Alvissareiro sonho embalde não resiste
E a vida se fazendo ainda amarga e triste
Não deixa sequer sombra aonde se descanse

Tenaz, velho guerreiro acostumado à dor
Um guerrilheiro entende a voz de um sonhador
Ainda que pareça ausente deste alcance...

23813

Envolto pela luz buscando noutras formas
A solução final aonde eu poderia
Dizer do quanto vale a imensa fantasia,
Porém logo ao me ouvir, o que eu disse, deformas.

E fazes do meu canto ameno tuas normas
Causando ao coração; imensa e vã sangria
Ainda posso ouvir distante melodia
Falando em voz macia, o quanto que em reformas

Seria necessário ao homem se quisesse
Além de simplesmente uma oração ou prece
Um claro amanhecer em brilhos mais constantes

Mudando deste vento, a marcha e a direção,
Trazendo enfim alento e paz, transformação
Ao lapidar assim; perfeitos diamantes...

23812

Clarão imaginário em tempos invernais
Provoca este alvoroço invade todos nós,
O mundo agora hiberna e mostra-se feroz
Enquanto este castelo; agora derrubais

Vós sois o que se faz na ausência de algum cais
O lobo se mostrando em fúria mais atroz
Devora o próprio lobo e tudo segue após
No verso mais sincero; a fera; demonstrais.

Sendo-vos mais tranqüilo o dia feito em guerra
O tempo sem ter tempo, a morte cedo encerra
E trama desumano o dia que virá,

Espécie decomposta exposta à tal peçonha
Ainda se omitindo, um novo dia sonha
Apocalipse então é feito desde já...

23811

Percebo na alvorada a luz destes clarões
Aonde imaginara a névoa persistente,
A vida se mostrando ainda renitente
Embora se perdendo em várias direções.

Entoas com soberba as mais belas canções
E enquanto cantas livre, a dor já se pressente
Envolta num abraço a luz que me apascente
Demonstra após a chuva, imensos turbilhões

Que a doce calmaria, uma ilusão apenas.
E quando novo mundo; em lástimas encenas
Desejas o poder e dele usufruindo

O esgoto se reabre em fendas magistrais
Deixando-se antever medonhos animais,
Porém o dia nasce envolto em manto lindo...

23810

Pudera simplesmente em chamas perceber
Vulcânica promessa expressa em plenitude
Por mais que num momento a história seja rude
O mundo que procuro ainda penso em ter

Vencendo a cada dia o enorme desprazer
Espero com certeza o bem que ainda ajude
A ter nas mãos o sonho e com firmeza mude
Aquilo que não quero e não posso mover.

Sincero verso canta amanhecer dourado,
Deixando todo o medo envolto no passado,
Entoando a canção em que se fez mais terno,

O velho coração, abrindo-se ao futuro,
Encontra na alegria, o todo que procuro,
E nisto se percebe, embora morto; eterno.

23809

Pudesse navegar e ter nas mãos o leme
Naufrágio mais distante; audaz o timoneiro
Que trama em sorte imensa, um sonho em que me inteiro
E nada, nem procela, o navegante teme.

Sem medo nem temor, por mais que já se extreme
Caminho descoberto em céu mais altaneiro
Do solo da esperança apenas passageiro,
Enquanto em poesia a Terra toda treme

Imenso terremoto, amor se revelando,
Aonde imaginara um dia bem mais brando
Tempestuosamente a mente seduzida

Envolta pelo afeto, abraça esta alegria
E enquanto se faz luz, o novo mundo cria
Refaz a cada verso a mansa e bela vida...

23808

Intraduzíveis sons espalham-se na Terra
Aonde houvera paz a fome em campo farto,
Aborta-se a esperança; indefectível parto
E imensa solidão no olha já se descerra.

Quem dera se pudesse arar a mansa terra,
Porém esta ilusão, aos poucos eu descarto,
E sinto-me sozinho, imenso e vago quarto
Olhando para a luz por sobre a nobre serra

Percebo quão perfeito, o Deus que nos criou
Humanidade tosca em triste rebeldia
Enquanto Deus criava, o humano destruía

E agora que percebo o pouco que sobrou
No olhar desta rapina, a gula se espalhando,
Um fogaréu imenso, abutres vêm em bando...

23807

Procuro neste céu azulejadas cores
Que possam me trazer a luz que tanto espero,
O amor além de tudo, o bem suave e fero
Moldando em alegria o medo em mil horrores,

Seguindo cada passo aonde ainda fores
Nas sendas deste encanto o sonho em paz tempero,
Vivendo da esperança um dia em que venero
Jardim onde plantei e cultivei tais flores.

Percebo que este eterno e nobre sentimento,
No qual eu muita vez ainda me atormento
Vivendo a magnitude expressa em cada verso

Alçando num segundo infinito delírio
Deixando no passado o que fora martírio,
Contendo em minhas mãos, deveras, o universo...

23806

Pudesse eternizar do amor cada momento
Quem sabe enfim teria a paz que se procura
E enquanto se espalhasse entre nós a loucura
A vida então seria além do sentimento

Ao qual em fantasia imerso, eu alimento
Trazendo ao sonhador um mundo em tal alvura
Que mesmo o grande mal, em tanto amor se cura
Tramando a cada dia, um claro e manso alento.

Não pude discernir, outrora sem saber
Do quanto se podia, em ti viver prazer
Deveras fora um tolo, apenas, nada além,

E quando ao acordar sublime maravilha
Que em meio à farta luz, mais forte ainda brilha
Alertando afinal, que o imenso amor já vem...

23805

No mármore em que é feita a deusa dos meus sonhos
Eternidade traz além de tal beleza
A sorte que pensara, emana esta grandeza
Aonde outrora houvera os dias mais medonhos,

Agora em primavera os sóis deixam risonhos
Caminhos em que a luz qual fora em correnteza
Desfila-se divina e envolta na leveza
Deixando no passado, os medos mais bisonhos...

Ascendo ao infinito, embarco em cada estrela
Alçando a maravilha ao menos por revê-la
Exposta no meu quarto, amante mais febril,

Enlanguescidamente encontro-te desnuda
Minha alma então se cala, e enquanto se faz muda
Formosura em nudez, igual jamais se viu...

23804

Eternos bronzes, prata à bela luz da lua
Estende-se divina a mais sublime diva
E quando vejo a luz desta figura altiva
Deitada sobre a cama, etereamente nua

Minha alma se perdendo aos poucos te cultua
E mesmo que distante, ainda sobreviva
O sonho mais audaz, que de prazeres criva
Quem sabe distinguir o belo e enfim flutua.

Na brônzea e rara tez entrego-me deveras
Além do que talvez bem sei que não esperas
Moldando em sintonia, amor claro e perfeito

Aviva-se a emoção, e bebo deste encanto,
Deveras deveria alçar em brado e em canto
A glória em perfeição enquanto eu me deleito...

23803

Aonde o meu desejo se acendera
Avança em noite imensa, a lua cheia,
E quando em fantasias se permeia
Quem tanto se perdeu, sobrevivera;

Ascendo ao coração, velas e cera
Liberdade se faz e já clareia
A vida que deveras se incendeia
No barco em que minha alma se escondera,

Espreito as velhas dores e não vendo
O tempo se mostrando sem adendo
Vivendo a maravilha de poder

Sentir em plenitude esta emoção,
Vigor e poesia, a direção
Num oceano em paz, a me perder...

23802

Há quanto a liberdade acende o facho
Trazendo na ardentia o caminhar,
Apõe-se sobre os raios do luar,
Enquanto os meus desejos; em ti acho.

Realço as maravilhas que me trazes
Nos versos em que traço o teu porvir,
Vivendo todo o amor vou repetir
Qual lua se entregando às suas fases.

Medonhas artimanhas da ilusão,
Mesquinharias tantas que jamais
Pudessem ser assim, cruéis, banais
Os ventos num naufrágio, embarcação.

Ainda destes sonhos, timoneiro,
No amor ao qual me dou e vou inteiro...

23801

Curvando sob o peso da ilusão
Que muitas vezes dita esta chibata,
Enquanto a fantasia me arrebata
A vida me mantendo sobre o chão,

Abismos que criara, em solidão,
O sonho mais feliz, já me maltrata
E quando a poesia me arremata
Esqueço qualquer rumo e direção,

Alçando eternidade num segundo,
Se em meio a tantos vagos me aprofundo
Nas vagas deste mar eu me perdi.

E preso aos teus desejos e vontades,
Aprendo a descobrir quando me invades
Trazendo o que melhor existe em ti...

23800

Ouvindo a voz do vento nos umbrais
Clamando como fosse alguém em dor,
Num rito muitas vezes qual louvor
A sorte se mostrando: nunca mais...

Pudesse mergulhar pelos astrais
Tivesse esta altivez; feito condor
Abrisse esta janela ao bem do amor,
Quem sabe neste instante dos venais

E parcos descaminhos, lenitivo
Mantendo ainda o sonho, sobrevivo
E teimo contras as forças da Natura.

Aonde poderia crer possível
O encanto que deveras sendo crível
Eterna e docemente se procura...

23799

Sonhar com a devida liberdade
Que tantas vezes traz a luz na qual
A vida se tornou menos venal,
Enquanto a poesia, o peito invade.

E toda a fantasia que te agrade
Formando este sublime festival
No mar de imensas ondas, frágil nau
Encontra enfim o cais, tranqüilidade.

Assim as nossas vidas negam celas
E libertário sonho nos alcança
Mantendo neste olhar a temperança

Que mansamente cedo me revelas
Abrindo então as velas venço o mar,
Sabendo desde sempre o bom sonhar...

23798

Aborto feito em turva sabotagem,
Deveras esta ofídica canalha
Enquanto muitas vezes me atrapalha
Deforma desde sempre esta paisagem.

Pudesse crer: somente uma miragem
Que o vendaval tomando logo espalha,
Qual fora um fogo simples sobre a palha,
Por mais que os dissabores sempre ultrajem.

Não posso me furtar à tal serpente
E o mundo que buscara mais ardente
Tornando-se vazio em fogo brando.
A sorte se desfaz a cada instante
E o mundo se transforma e o viajante
Fugindo da peçonha e te negando...

23797

Não quero ter nas mãos troféus e glória
Beijando esta bandeira que me deste,
Aonde se fizera mais agreste
A vida não repete a velha história,

A lua se desfila merencória
Jardim se tornando árido reveste
De abrolhos a beleza enfim. Decore-a

Com todos os desejos e delírios
Esqueça os dissabores e martírios
Produza com devida paciência

A luta se renhida, fortalece,
O amor não se curvou nem obedece
E a dor já não resiste à sorte. Vence-a...

23796

Das eras que passamos, turbulências
Aonde imaginara ter remanso,
Os dias entre fogos; esperanço,
Mas sei serem ingênuas inocências.

Permite-se sonhar conveniências
Enquanto a sorte ao longe; não alcanço
E deixo-me levar suave e manso
Enquanto tu desfilas tais demências.

Apenas coincidências; dita a vida
Que embora muitas vezes já perdida
Permite ao sonhador, alguma luz.

Enquanto a solidão bate na porta,
E a poesia outrora viva, é morta
Desejos se mostrando inteiros, nus...

23795

As folhas de papel rotas na mesa
Demonstram o que sentes; doce amada,
Do todo que te quis não sobra nada
Levado pela imensa correnteza,

E tendo na verdade em vã beleza
A sorte muitas vezes desejada
Descansa-se o luar sobre a calçada
Derramas sob a luz tanta leveza,

Disfarces de uma fera em franca guerra,
No olhar torpe e medonho se descerra
A dura realidade; pois tu és

Aquela a quem me dei sem perceber
Atando com devasso e vão prazer
Correntes e grilhões junto aos meus pés...

23794

Brilhantes e diversas cores; trazes
Nos sonhos entre ritos, fantasias,
Enquanto maravilhas inda crias
A vida se transforma em tantas fases.

Além do que deseja e mesmo fazes
Das sórdidas lembranças, agonias
Encontras ao final, alegorias
E mostra neste encanto o quão capazes

Aqueles que permitem brilho intenso
E quando mais atento, reconheço
Após o medo enorme, este endereço

Aonde encontrarei tudo o que penso,
Nas mãos da redentora poesia,
O mundo que minha alma fantasia...

23793

O mundo que em verdade nos esmaga
E traz em suas mãos a faca e o corte,
Aonde se pudesse ver a sorte
Apenas vejo o brilho desta adaga.

A boca vocifera em louca praga
Preparo a caminhada para a morte,
Sem ter jamais o sonho que conforte
Distante dos meus olhos, bela plaga.

Afagos de uma mórbida loucura
Durante a vida inteira, isto perdura
E traz como castigo a dor venal.

Assim ao descobrir algum farol,
Procuro pela paz qual girassol
Naufrágios esperando a pobre nau...

23792

Enquanto em rubro sangue borrifada
A vida que profanas, guerra e saque,
Aguardo este momento; em duro baque
E temo que afinal não reste nada.

Por mais que a fantasia ainda estaque
Nos olhos de quem ama a vã estrada
Uma alma pelo sonho abandonada
Usando um corroído e podre fraque

Permite-se que veja atrás do muro
Um tempo aonde em vagos eu procuro
Ao menos um momento feito em paz,

Mas sei que após a chuva, nada vem,
E quando perceber, talvez alguém
Em cujos olhos brilho ainda traz.

23791

A chama mesmo sacra ainda teima
E devasta toda a sorte de esperança
Aonde a solidão cruel avança
O tempo na verdade já se queima,

Em meio aos constelares diademas
As nebulosas tomam o cenário,
O amor que sempre fora necessário
Agora se prendendo em vãs algemas.

Por mais que nada temas, inda crês
Nos dias mais atrozes e venais,
E enquanto procuravas por um cais
A vida se perdendo num talvez

A nossa embarcação, naufrágio à vista,
Sem ter sequer um bote que inda a assista...

23790

Não quero ser o mártir que sonhaste
Tampouco irei fugir à realidade,
No quanto a própria vida nos degrade
A morte se aproxima em tal desgaste,

E quando percebeste tal contraste
Verás então que a solidariedade
Caminho mais tranqüilo, na verdade
Impede que o viver se torne um traste.

Sondando estes oráculos confusos,
E os búzios entre cartas e ciganas,
Por vezes quando pensas; já te enganas

Os dias que virão bem mais obtusos
Trarão à tona todo este dilema
Também a solução, pois nada tema...

23789

Jamais reconhecendo a própria morte
Buscando qual hedônico, o prazer,
Deixando muitas vezes de viver
Ao léu se entrega a vida, leda sorte.

Sem ter sequer a força que comporte
Imensidão do mundo, eu posso crer
No quão insuperável é o ser
Por mais que já sonegue a luz e o aporte.

Do trágico futuro, nada falo,
Os olhos embotados de um vassalo,
Uma avassaladora e vil verdade.

Enquanto a humanidade se distrai,
O pano sobre a cena, aos poucos cai,
Demônio em súcia atroz, a Terra invade...

23788

Quem sabe se esmagando esta serpente
Eu poderei; talvez, saber da luz,
Pesando em minhas costas, farta cruz
Aonde se mostrara então ausente

O brilho que nos olhos já se sente
De quem em luminárias reproduz
O encanto deste canto em versos crus
Na audácia mais feliz e transparente.

Aonde houvesse um modo de tentar
Poder em plena tarde ver luar
E deslumbrar a prata que derrama

Tomando toda a cena, mansidão
Enquanto o fogaréu desta paixão,
Aumenta – insensatez- a enorme chama…

23788

Quem sabe se esmagando esta serpente
Eu poderei; talvez, saber da luz,
Pesando em minhas costas, farta cruz
Aonde se mostrara então ausente

O brilho que nos olhos já se sente
De quem em luminárias reproduz
O encanto deste canto em versos crus
Na audácia mais feliz e transparente.

Aonde houvesse um modo de tentar
Poder em plena tarde ver luar
E deslumbrar a prata que derrama

Tomando toda a cena, mansidão
Enquanto o fogaréu desta paixão,
Aumenta – insensatez- a enorme chama…

23787

A sorte pela qual eu tanto zelo,
Não deixa que se creia no vazio,
Enquanto a tempestade eu desafio,
O amor em luzes claras, frágil, belo

Em tramas mais suaves eu revelo,
Enovelados dias eu desfio
Moldando com denodo o bem que crio,
Destino em teu destino já não selo.

E sigo em libertária caminhada,
Uma alma sem temor; quando ilibada
Não deixa qualquer dúvida e se entrega;

Por mais tempestuoso o que virá,
Gerando a calmaria desde já,
A sorte não será, deveras, cega...

23786

A liberdade acende a imensa luz
Que enquanto for a guia nos permite
Viver sem ter sequer algum palpite
Enquanto o próprio lume nos conduz.

A sorte que na sorte reproduz
Não sabe na verdade de um limite,
E enquanto houver a força que palpite
A história sem demora, em paz reluz.

Mas quando nos grilhões, nosso futuro,
Ao largo da alegria, não depuro
E teima-se em venal satisfação

Vergastas entre açoites e correntes,
Por mais que o amanhecer; inda pressentes
Neblinas em terror é que virão...

23785

Pudesse ter ainda em fátuo brilho
Real soberania sobre os atos
Talvez já não trouxesses nestes fatos
Além do que somente um empecilho.

E quando noutras sendas, teimo e trilho,
Pudesse desvendar claros regatos,
Tomando o meu destino, desacatos,
Os quais; corcéis soberbos; não encilho.

Ainda poderia crer nas lendas,
Mas quando os desenganos tu desvendas,
Não posso conceber sequer que cedas

E volto-me ao clamor de um peito audaz
Demonstra-se na fúria até capaz
De incendiar sem dó tuas veredas...

23784

A turba se envolvendo em néscios dias
Ilusões mesquinhas nos tomando
A corja se prepara, ataca em bando
A morte insofismável que previas

Macabras emoções, alegorias
O mundo a cada instante destroçando
O quanto tu pensaras bem mais brando
Peçonha das rapinas que tu crias.

Assíduos frenesis, espasmo tanto,
Deveras não prossigo mais meu canto
Agora em alto brado a voz se emana,

Perpetuando o medo em que baseias
O sangue que mal corre em tuas veias
Imagem de uma deusa vã, profana...

23783

O fel que dos teus lábios conheci
Num amargor imenso, fria fera,
Aonde imaginara a paz, quimera,
O sonho se perdendo todo em ti.

E quando mergulhara descobri
Abismo que em abismos dores gera
Nem mesmo a mansidão da longa espera
Acalma esta sandice em que vivi

Postergo a solução dos meus problemas,
Sabendo da verdade que inda temas
Medonhos precipícios aos teus pés.

O barco naufragado já diz tudo,
Nas ânsias deste encanto não me iludo,
Arranco estas correntes, vis galés...

23782

Brindemos, pois à gloria de saber
Que mesmo na amargura conseguimos
Vencer os mais complexos, frios limos
Vivendo esta ventura do prazer.

E tomando deveras todo o ser,
O amor no qual decerto prosseguimos,
Um tempo mais amável descobrimos
E nele nós iremos reviver

A eternidade, sendo uma promessa
No amor sem ter limites recomeça
Trazendo a quem sofreu; a redenção

E serenando assim, a luz revela
A calmaria após qualquer procela,
Negando desde sempre a negação.

23781

Deste mundo venal nós zombaremos
Enquanto houver a força que me impele
Sentindo no frescor de tua pele
O sonho que deveras escrevemos.

Não posso me furtar ao mar risonho
E nesta fantasia mergulhando
Procuro um tempo aonde seja brando
O imenso sentimento que proponho.

Vencer os mais diversos dissabores
E mesmo quando em dores, ter nas mãos
A fecundar a histórias, mansos grãos
Seguindo cada passo aonde fores,

E florescendo a paz neste canteiro,
O amor que tanto eu quis é verdadeiro...

23780

Enlouquecido teimo em fantasias
Apontam-me deveras o vazio,
Que em cada verso em vão, eu já desfio
Diverso do universo que querias,

Mendigo algum carinho em noites frias
E o medo se tornando um desafio,
Aonde imaginara o mar que crio,
Areias movediças, agonias.

Espreito num instante a fera sorte
E sei que no final somente a morte
Será de minha história, a redenção.

Enquanto houver a força que me ilude
As águas derramadas deste açude,
Jamais trariam paz e inundação...

23779

Não posso destruir o sentimento
Que ainda me habitando traz a dor,
Aonde se pensara salvador
Apenas no final, medo e tormento,

Se dele, na verdade me alimento,
E tenho outro momento ao teu dispor
Podendo novamente recompor
O que jamais deixou meu pensamento.

Vibrantes emoções? Já não espero
O olhar que se reflete agora fero
Não tendo as alegrias que sonhara.

Mas creio ser possível novo dia
Aonde a sorte em vida se recria
Deixando em noite escura, a lua clara...

23778

Não fosse o grande amor que eu alimento
Embora não consiga ter a sorte
De quem ao se perder não acha o Norte,
E encontra invés de paz, tanto tormento,

Pudesse reviver no pensamento
O amor que com certeza me conforte,
Porém sem ter a luz que inda comporte
Apenas tão somente, em vão, lamento.

Agora, se prossigo é pela fé
Já não suportaria mais galé
Meus pés acorrentados? Nunca mais.

Prefiro ao maltrapilho desamor,
Voar com liberdade do condor
Já bastam de procelas, temporais...

23777

O meu soneto é feito em dor e pranto,
Na vida, apenas fui um passageiro,
O encanto que trouxeste; derradeiro
Agora tão somente um desencanto,

Mas teimo e na ilusão ainda canto
E sinto o vento audaz e lisonjeiro,
Mordaças; já não trago e verdadeiro
Usando da esperança o verde manto

Escrevo em cada verso, uma palavra
Que possa transformar árida lavra
E trazer por colheita, uma alegria.

Assim a poesia sempre traz
Ao velho guerrilheiro, imensa paz
No mundo em que; feliz, já fantasia...

23776

Erguendo as minhas mãos, em prece eu peço
A sorte que deveras desconheço,
Se a cada novo passo, outro tropeço
Palavras com cuidado, sempre meço

E teimo em ter nas mãos a fantasia
Que tanto me maltrata e me diz bem,
E quando a noite chega e não contém
Sequer o que; talvez, se merecia

Não deixo me abalar, prossigo em frente
E mesmo na completa solidão
Envolvo em esperança o coração
Por mais que o medo e o vago ele freqüente.

Assim, da vida sou coadjuvante,
Da glória e do prazer, vivo distante...

23775

Bailando sobre os sonhos, luzes várias
Encontram a perfeita sincronia
E enquanto o coração dita alegria,
As dores vão embora, procelárias.
À sombra do passado o Amor se cria
E traz nos seus olhares luminárias
Das fontes que julguei celibatárias;
O gozo mais audaz se propicia.
E quando mergulhado em águas mansas
Num êxtase supremo, cedo alcanças
A etérea sensação de ser completa.
Assim a nossa vida em fogo intenso,
Nas labaredas fartas, recompenso
A dor de ser apenas um poeta...

23774

Pudera imaginar fúlgidos raios
Desfiles de belezas entre tantas,
E quando, maviosa tu me encantas
A lua simulando vãos desmaios,

Meus sonhos de teus sonhos são lacaios,
Moldando a fantasia quando cantas
Divina e fabulosa és entre as santas
Os medos que dominam; esmagai-os

Servindo ao nosso amor, não poderia
Vivenciar tamanha maravilha
Que tantas vezes busco enquanto trilha

Os mais sublimes prados, a alegria,
Esplêndida e sublime me fascinas
Trazendo ao peito ateu, luzes divinas...

23773

Bailando os meus sentidos nesta busca
Aonde a sorte molda um dia claro,
Amor que tantas vezes eu declaro
Nem mesmo a solidão ainda ofusca
E quando a realidade se faz brusca,
Encontro em teu olhar um manso amparo,
O sonho desfiando um dia raro
Aonde a poesia não rebusca
E traz em versos simples, rimas pobres,
Momentos que se fazem bem mais nobres
Descobres os desejos mais sutis.
E quando em tal mergulho salvador
Penetro a fonte calma em que este amor
Desvendo estes mistérios. Sou feliz...

23772

Na fleuma deste encanto que derramas
Enquanto; estrelas mostras neste olhar
Aonde poderia te encontrar
Vivendo intenso amor em tuas tramas,
Deixando no passado medos, dramas,
Apenas neste lago mergulhar
Nas águas cristalinas decifrar
Desejos e vontades que reclamas,
Expresso nestes versos tal desejo
E sei que no final serei feliz,
Se a sorte que deveras eu prevejo
Tramando com ternura o meu futuro,
Nem mesmo a fantasia contradiz
O bem que nos teus olhos, eu procuro...

23771

Enigmas que me trazes neste olhar
Que embalde, tantas vezes perguntei,
Aonde se escondera, em rara grei
Por onde poderia procurar

Quem sabe e tanto encanta ao se entregar
Mudando desde então; em ti vaguei
Num mar de azul sereno mergulhei
Jamais eu pensaria em naufragar

Seguindo a calmaria deste alento
Bebendo a mansidão em que apascento
Borrascas que deveras fora atroz

Agora que me trazes mansidão
Contando sempre as horas que virão,
Escuto como um canto a tua voz...

23770

Olhar que quando estás já se serena
Mudando num momento o brilho opaco,
Aonde se mostrara sempre fraco,
O Amor revigorando trama a cena

E a sorte transmitindo em tarde amena
O cais em que deveras chego e atraco
Após a tempestade e em paz estaco
Uma haste que permita a luz mais plena.

Havendo desde então no ancoradouro
O sol de intenso brilho onde me douro
Aspectos mais suaves e felizes,

Já não comporto a dor de ser tão sozinho,
E quando da esperança eu me avizinho
Esqueço do passado, os vãos deslizes...

23769

Não são tão simplesmente dolorosos
Os dias em que bebo a solidão,
A sorte noutro rumo e direção,
Os ventos sempre são mais caprichosos.

Aonde se pudera em pedregosos
Caminhos, perseguir a solução,
Envolto pelas tramas da ilusão
Pensara em vãos momentos, mas formosos.

Agora que não tenho outra saída,
Percebo quão valeu a nossa vida,
Do nada ao nada eterna e friamente

Vasculho nos armários da lembrança
E o tempo sem perguntas sempre avança
E o Amor em solidão, a dor consente...

23768

Poemas que jamais alguém lerá,
Sonetos se perdendo com o vento
Aonde imaginara um só momento
Esqueço o que vivemos, desde já

O tempo com certeza mostrará
Que todo sonho morre e me atormento
Vivendo sem carinho, afeto e alento
O templo que contemplo ruirá.

E o fim de nossa história será nada
A casa que se fez abandonada
Deixada ao deus dará, já desabou.

E vejo neste espelho em rugas feito
O amor cujo final; em paz aceito
Comendo cada resto que sobrou...

23767

Meus olhos seguem frios; vão extáticos
Aonde poderia ter o brilho
As sendas mais atrozes ora trilho
Momentos de terror, finais apáticos.

Se os sonhos de quem ama; são lunáticos
O coração se veste de andarilho
E encontra a cada passo um empecilho
Os dias não serão jamais tão práticos.

Assim ao perceber que a solidão
Apossa-se de um torpe coração,
Escondo-me deveras na saudade,

Aonde imaginara algum verão,
A neve se derrama sobre o chão,
Apenas sinto em mim a frialdade...

23766

As cores se espalhando no canteiro
Perfumes mais diversos, mil matizes,
Aonde no passado, mais felizes
Pensara num amor tão verdadeiro,

E agora quando sinto ainda o cheiro
De teus cabelos, logo me desdizes
Deixara tão somente em cicatrizes
O tempo sem o qual sou derradeiro.

Já não me martirizo, mas percebo
Nas dores e granizos que recebo
O fim de um sonho alegre e transparente.

Pudesse retornar ao dia manso,
Mas sei que é tudo em vão, desesperanço
Por mais que ainda sonhe, o fim se sente...

23765

Aonde se pensara num enredo
Diverso do que tantas vezes vi,
Sonhando com desejos vejo em ti
A marca da vontade e do degredo,

E mesmo quando insano inda concedo
Percebo: não estás; amor, aqui
E voltando ao início, te perdi
Num sonho que se fez atroz e ledo.

Nas flores e nos pântanos resumos
Do encanto que se vai; são frágeis fumos
E nada mais consegue enfim contê-los.

Relembro cada dia, um doce afeto,
E quando nos delírios me completo
Sentindo ainda aqui os teus cabelos...

23764

Aberta entre meus dedos, a esperança
Avança sobre os restos do que fomos,
E toma; num momento, sumos, gomos
E neste mar sombrio, ela se lança

Aonde se pensara em temperança
Desunião marcando o que hoje somos,
Diversos na verdade, vários tomos
Da vida sobre a qual já não se alcança

Sequer os leves rastros e pegadas,
A lua se derrama nas calçadas
Cadeiras e conversas. Nada vem

Senão esta neblina que se entorna
E a morte que apascenta inda contorna
Deixando um leve traço, raro bem...

23763

Amor trazendo em si, glória e pecado
Aonde imaginara um dia calmo,
Apenas solidão deveras salmo
E busco da esperança algum recado,

Percebo quanto em vão, lutei e sinto
Que tudo não passou de um breve engano,
Mergulho nos espaços e me dano
Bebendo esta aguardente, qual um absinto

E quando descobri que não pudera
Vencer os descaminhos, nada eu fiz
Somente cultivando a cicatriz
Das marcas destas garras, vil pantera.

Amar e ter a sorte companheira
É tudo o que na vida, mais se queira...

23762

O amor deixando escrito pelos astros
As sendas mais audazes; nada disse
O verso em que buscara a paz, tolice
Não restam do passado sequer rastros,

A vida se permite em vários lastros
O mundo em que a verdade se desdisse,
Na luz esta esperança em que se vice
Mantendo-se em firmeza, fortes mastros,

Seguindo em mar aberto, naufragando
Nas ondas e procelas desde quando
Ouvira o canto mago da sereia,

Amar e ser feliz... Ah! Quem me dera,
A sorte se desfaz, fria quimera,
Enquanto a fantasia me incendeia...

23761

Do amor tantas mentiras e loucuras
Levaram ao vazio em que percebo
Além da fantasia em que me embebo
As horas são terríveis, me torturas

Vivendo do passado, as amarguras
Que em meio a tais anseios eu recebo,
Aonde imaginara ser um Phebo
Realidade mostra tais agruras.

E enquanto não sossego o coração,
Recebo o desafeto da ilusão
E beijo as vãs estrelas que me deste.

Por vezes poderia até pensar
Que existe um belo raio de luar,
Porém a vida traz na dor, seu teste...

23760

A noite sob estrelas, bela e lírica
Traduz os sentimentos de quem ama,
E sabe que se envolve em louca trama
A sorte se fazendo quase empírica.

Não pude revelar o quanto eu quero
O teu amor que sei jamais teria,
Amar e ser feliz? É fantasia,
Perdoe se estou sendo mais sincero.

Não posso acreditar no mar que trazes
Ainda descortino do passado,
O Amor como um destino malfadado
Embora tenha mesmo tantas fases.

Mergulharia até se não soubesse
Das teias que este insano sempre tece...

23759

A noite se desnuda e assim, pagã
Delírios entre rotas sem fronteira,
Enquanto ela se dá e vem inteira
O Amor se permitindo em novo afã.
Até beber os raios da manhã
A madrugada audaz, a derradeira,
Loucuras entre corpos e a bandeira
Dos sonhos não se mostra mais tão vã.
Assim um sonho é feito em luzes fartas,
Mas quando em realidade tu te apartas,
Vazios adentrando o velho quarto.
O solitário e arcaico sonhador,
Sem nada mais se cansa de propor
E esquece-se num canto, amargo e farto...

23758

Manhã dos meus anseios, rutilante
O sol entremeado por neblinas
E enquanto o pensamento tu dominas
A vida se transborda neste instante.

Pudera prosseguir e sempre adiante
Nas líricas paisagens cristalinas,
O quanto não percebes e fascinas,
Semente que o amor deveras plante

E façam-se de luzes os meus dias;
Mas sei que na verdade me iludias
E tudo não passou de um desengano,

A solidão batendo à minha porta,
O frio penetrando, atroz, me corta
E em farsas; desespero e assim me dano...

23757

Enquanto os tantos astros desfilaste
Deixando tua herança em sonhos feita,
Meu coração; amarga sina aceita
Embora, na esperança um vão contraste.

Desfias os meus ermos, pois notaste
O quanto a fantasia se deleita
No amor que para mim, é quase seita,
Coluna que sustenta é como uma haste

Por sobre a qual ergui os meus castelos,
Aonde imaginara dias belos
E a tempestade atroz, tudo devora.

A morte se aproxima e se revela
Destino para quem minha alma apela
Despetalada flor percebe esta hora...

23756

Sementes que espalhaste pela Terra
Jamais perecerão, eternizadas
Nas ânsias muitas vezes demonstradas
No encanto que esta vida mesmo encerra.

E quando ouvir distante a voz da guerra
Entre os destroços todos, algemadas
As luzes que querias libertadas
O imenso sortilégio desenterra

Os velhos e profanos insensatos,
Assim no decorrer dos mesmos fatos
A vida é garimpada entre funéreos

Caminhos em que a sorte nada traz
Senão a sensação venal e audaz
Dos grãos das esperanças. Pois, enterre-os...

23755

Encontro soluções tão diferentes
Em vários e complexos descaminhos
A poesia doura velhos ninhos
E os dias se transformam quando mentes.

Religiões diversas, claras mentes
Confusas emoções, paixões e vinhos
Assim entre sabores vagos, são sozinhos
Os templos e os tormentos, quais vertentes

Erguidas sobre túmulos diversos
Aonde pensamentos vão imersos
Reflexos desta angústia que nos guia.

Em meio às tantas formas e cenários
Fizemos as pirâmides, templários
Pergunta sem respostas; agonia...

23754

Procuro calmamente novos trilhos
Por onde poderia crer possível
Um tempo onde feliz pudesse crível
E os dias não seriam andarilhos.

Mas quando percebendo os empecilhos
A sorte tão cruel quanto factível
O mundo em vagos rumos. Porém, vive-o
E mostre outro caminho para os filhos.

Quem sabe ao perceberem que se fez
Completa a mais total estupidez
Em nome de uma falsa liberdade,

Assim o sol virá bem mais tranqüilo,
Diverso da neblina que destino
Na fúria da procela, o nada invade...

23753

Andasse entre montanhas, rios, vales,
E tantas flores belas no caminho,
E enquanto do final eu me avizinho
Só peço que deveras nada fales,

E se puderes sonhos inda embales
Por mais que eu te pareça, então, sozinho,
Um trêmulo fantoche vão; me aninho
Nas ânsias de um desejo em que regales

Uma alma transtornada e tão pequena,
Apenas tua voz já me serena
E basta como um manso lenitivo,

Embalde envelhecido em podres formas,
Sonhando com o encanto em que tu formas
Um mundo aonde em paz, eu sobrevivo...

23752

Desfilo estes escombros onde restas
Efervescência outrora, diz o nada,
Aonde se mostrara iluminada
Nos ermos mais escuros das florestas
E quando aos desencantos tu te emprestas
Moldura já dispersa e desgraçada
A vida envilecida abandonada,
Em meio às fantasias mais funestas.
Assim o tempo passa e modifica
Uma alma que pensara nobre e rica
Desfeita nas veredas, feita em pus.
Por mais que te entretenham tais belezas
Entranharás depois as incertezas
Difícil carregar a própria cruz...

23751

Na multifacetária vida eu vejo
Os ramos de arvoredos mais diversos,
E teimo nas angústias destes versos,
Moldados com furores do desejo.

Aonde se fizera em azulejo
Os céus entre mil nuvens vão dispersos,
E os templos erigidos de universos
Distantes tramam mais do que prevejo.

Ainda se pudesse navegar
Entre as estrelas, luas e galáxias
Por mais que na verdade procure; ache-as

E enfim tu poderás verter luar
Por todos os teus poros, velho nauta,
A sorte de quem sonha, é sempre incauta...

23750

Amando além da vida, eternamente
Se houver eternidade, nela juntos
Embora para os outros, dois defuntos
Unidos pelo amor, nova semente

Gerada por si mesma, eterno moto
Moldando no amanhã o que se faz
Hoje e se transformando em rara paz
No amante caminha que em sonho adoto.

E quando em viuvez, etérea chama
Mantida com o fogo da emoção,
Mas noutros caminheiros que virão
O amor se refazendo já te chama

E aquilo que pensara ser eterno,
Transborda à própria morte, num Inferno...

23749

Após o que se fez em dor e morte
Navegaremos mares mais tranqüilos?
Aonde se encontrasse a paz. Segui-los;
Os vastos desencontros desta sorte?

Não tendo a expectativa que conforte
Aguardo mansos prados. Consegui-los
No imenso turbilhão e prossegui-los
Depois de anunciado o medo e o corte.

E célere tentar outras vertentes,
No quanto me querias e consentes
Esconde-se a verdade mais atroz.

Não temo o meu final, até o anseio,
E nele imaginando o vago, ou veio
O que será de nós, momento após?

23748

A morte se mostrando em cores vivas
Arguta e temerária; nada poupa
É como se coubesse noutra roupa
A imagem que em demônios loucos, crivas.

Adoto os meus enganos, são deveras
Os filhos da amargura que acompanha
A vida que se fez em risco e manha
Envolta nos anseios destas feras

Que habitam o meu eu e não sossegam,
E quando se permite algum descuido,
Esgueira-se a esperança, frágil fluido
E as sortes e desejos se sonegam.

Assim na eterna dúvida, desfio
A eternidade expressa-se em vazio?

23747

A mãe de todos nós; Natura em chamas,
Aonde se pudesse crer no sonho
O barco se perdendo, não reponho
A vida destroçada em tolas tramas.
E quando à realidade tu me chamas
O tétrico sorriso em que me exponho
Define o quão amargo, um ser medonho
Destrói a própria vida em mansos dramas.
Apátrida e vazia insensatez
Espalha-se o terror em cores mórbidas
E as criaturas vis, venais e sórdidas
Num matricídio insano como vês
Expõe-se vaga e pútrida figura
Na auto-destruição já se emoldura..

23746

Verdade midriática em lividez
Assim vejo o futuro inexorável,
Angústia a cada tempo renovável
Num misto de loucura e lucidez.

O quanto do que outrora se desfez
Mergulho num abismo inabitável
E tento ter um mundo que, improvável
Noutro caminho belo se refez.

Excêntricos prazeres e ternura,
A morte traz na morte a própria cura
E o beijo desta terra, o derradeiro.

Semântica somente e nada mais?
Romântico delírio diz de um cais
Quiçá pudesse crer ser verdadeiro...

23745

À terra devolvido, nada temo
Sequer a solidão dos ermos solos,
Aonde eternamente terei colos,
Medonhas tempestades, louco Demo,

Quem sabe na verdade, barco e remo
Sem ter as velhas chagas, tristes dolos,
Assim o meu futuro entre tais pólos
No qual a cada dia mais me algemo.

Ou mesmo este vazio e turvo nada
Dizendo do que outrora fora a vida,
E sendo pouco a pouco já perdida,

Entre sendas diversas maltratada
A pútrida e venal realidade
No terror infernal, ou claridade...

23744

O tempo se renova e não consigo
Ainda crer que tudo se desfez no dia a dia
Aonde ainda houvera poesia
A sorte que; distante inda persigo,

Procuro algum refúgio ou mesmo abrigo
Enquanto o mundo inteiro desfazia
A minha história. Triste então, eu vi-a
Expressa num tormento; meu amigo.

Aonde eu quis um mundo mais liberto
O passo a cada tempo desacerto
E incerto bebo as mágoas, nostalgias.

E embora me perceba mais ausente,
O quanto de mim mesmo inda se sente
Revivo em belos sonhos, melodias.

23743

Do verso se fazendo eternidade
Aonde vários bardos se impuseram,
Os dias invernosos compuseram
O que se fez em dor, leda saudade.

E quando a solidão tenaz invade
Além destas tristezas que se esperam
Poemas com cuidado mais se esmeram,
Na dor alheia o vento que te agrade.

Esboço alguma frágil reação
E crendo que outros tempos não virão
Mergulho no vazio, ensimesmado.

Pudesse ter a sorte de prever
E até quem sabe, o rumo reverter
Revendo os meus enganos do passado...

23742

Pudesse ter nas mãos a garantia
De um novo amanhecer em luz tranqüila,
Porém a solidão venal destila
A fúria pela qual perceberia

A turva caminhada. Mereci-a.
Se o homem quando feito desta argila
Retorna à própria terra. Ao descobri-la
Verás vermes famintos numa orgia.

São pertinentes fatos; pó ao pó,
Por isso ao percorrer a vida só,
Desvendo dela mesma os seus anseios.

E quando a voz silente se fizer
O rumo; preconizo onde puder
Saber destas entranhas, ledos veios...

23741

E quando dos meus olhos se apagarem
O que se fez penumbra e escuridão
Voltando a fecundar o velho chão
Enquanto os vãos das terras me tomarem,

Resgates que deveras ao cobrarem
Mergulharei na treva e solidão,
Na marcha em que se faz putrefação
Somente estas ossadas, se buscarem.

O fardo de uma vida se faz leve,
Momento que julgara amargo é breve
E o túmulo servindo qual remanso,

As lágrimas aos poucos se esquecendo,
O dia noutro dia renascendo
A paz que tanto quis, enfim alcanço...