domingo, fevereiro 21, 2010

25307

Ventura de beijar a tua pele
Seguindo mansamente e sem defesas
Encontro no teu corpo estas belezas
Às quais o imenso amor já me compele,

Sentir a maciez aonde atrele
Descendo com ternura as correntezas,
Bebendo da alegria em tais levezas
Destino que em destino ora se sele.

Vagar pelos recônditos caminhos,
Os olhos no passado tão sozinhos
Agora ao perceber tal maravilha

Esbaldam-se na festa prometida,
E assim, mudando toda a minha vida,
A sorte finalmente, em paz já brilha.

25306

Visão que transtornava um sonhador
Beleza incomparável de uma diva
Uma alma se mostrando imperativa
Trazendo em seu sorriso, amor e dor,

Pensara neste encanto redentor,
Ainda que pudesse manter viva
A chama se desfez e ora me priva
Do imenso e desejado farto amor,

Quimeras do passado ressurgindo
Aonde imaginara ser infindo
Percebo que deveras resta apenas

A sombra de um momento mais feliz,
E quando a realidade contradiz
Esperanças, se restam, são pequenas...

25305

Amor recende aos sonhos mais felizes
E deixa em minha pele; tatuadas
Eternas e diversas cicatrizes,
Lembranças de outras eras, bem fadadas.

E quando esta alegria tu desdizes,
Matando desde já uma alvorada,
Refaço o caminhar em vãos deslizes
E sinto que afinal não resta nada

Somente esta lembrança que maltrata,
A sorte se desnuda amarga e ingrata
Deixando para trás qualquer beleza,

E sigo sem ter forças pra lutar,
Entregue neste imenso mergulhar,
Levado pela forte correnteza.

25304

Na aragem que invadia nosso quarto
Trazendo o teu perfume mesmo quando
Ausente dos meus braços se notando
O olhar que desejara tanto, farto.

Dos sonhos mais audazes não me aparto
E o mundo neste instante demonstrando
Cenário que buscara, desabando
Prazer em desencanto, ora descarto,

E sinto tão distante o doce aroma
Somente uma ilusão deveras toma
A casa e me transtorna inteiramente,

Porquanto fui feliz e ora não sou,
O vento que deveras adentrou
Decerto, sem pudores foge e mente.

25303

Não deixe que a tormenta já desfaça
O quanto nosso amor quis, pois se fez
Na mansa e delicada sensatez
E tudo se perdendo em vã fumaça

A vida num momento foge, passa
Deixando para trás o que ora crês
E quando sem destino e sem porquês
A sorte se puindo em dor e traça,

Mas tudo se renova e se transforma,
O amor não segue regras, nega a norma
E vive por viver sem ter motivo,

E desta forma sinto e ainda creio
Que tudo sem temor e sem receio
Mantém o nosso amor, decerto vivo.

25302

Jamais da sorte atroz e traiçoeira
Eu beberia em fonte poluída
O que restou de mim em frágil vida
Ainda traz o sonho por bandeira,

E quando venha a noite derradeira
A sorte pode ser que distraída
Permita uma alegria que decida
E deixe para traz a história inteira,

E assim gerando luz onde sombria
Podendo ver nascer de novo o dia,
Aonde se eterniza noite escura,

Quem sabe no final eu possa ter,
Depois de tantas dores, o prazer
No qual toda a tristeza já se cura.

25301

O berço da esperança abandonado
Deixado nalgum canto desta casa,
E quando a solidão invade e abrasa
Revivo os dissabores do passado,

E tendo esta certeza sempre ao lado,
A vida pouco a pouco se defasa
E o quanto imaginara em paz atrasa
O vento noutro rumo, desfraldado,

Assaz maravilhosa noite quando
O mundo em minhas mãos se renovando
Depois simples falácia, eu te perdi,

E tudo o que se fez belo e sublime,
Sem ter quem me deseje ou mesmo estime,
Do quanto imaginara nada aqui.

25300

Amei-te muito além do que devia
E sei que nada disso foi real,
O quanto se pensara em triunfal
Deveras tão somente fantasia,

Enquanto a porta às vezes se entreabria
Julgara, e este meu erro foi fatal,
Que tudo se faria em bom final,
Restando agora a noite ausente e fria.

Escravizado em mágoas, sem remédio,
Restando ao andarilho o imenso tédio
E nele as velhas chagas reabertas,

E quando te percebo; nada tenho,
De nada valeria tanto empenho
Se o amor, já desconheces e desertas.

25299

Sentisse teu alento após tempestas
Vivendo de um momento de ilusão,
Encontro neste instante a solução
Abrindo o coração exposto em frestas,

E quanto mais audaz; ao sonho emprestas
Momentos verdadeiros de emoção
E sei que novos dias nos trarão
Suprema maravilha que hoje gestas,

Mas quando meu reflexo; sinto e vejo,
Apenas percebendo algum lampejo
Do todo que pensara ser completo,

Eu sei que nada disso é realidade
E quando a solidão se adentra e invade
Aborto esta esperança, mero feto.

25298

Quem dera se um momento de ventura
Viesse em lenitivo me mostrar
Que além deste sofrer resta o sonhar
E nele toda a paz que se procura,

A mão que me acarinha e me tortura
Esconde os raios fartos do luar,
Deixando a noite escura derramar
As brumas, traduzindo esta amargura

Aonde não consigo mais sentir
O gosto do prazer e sem porvir
A vida perde todas as razões,

Terríveis madrugadas; morta a aurora,
Somente esta neblina atroz se aflora
Enquanto o vão imenso tu me expões.

25297

Na pálida esperança que me toca,
Ainda resta um pouco do que fora
Paisagem tão feliz e redentora
E agora em outras sebes se desloca,

Qual presa que se esconde em simples toca
À espera de uma sorte salvadora,
Minha alma tantas vezes sofredora
Aos poucos sem defesas se sufoca.

E tudo o que pensara ser melhor,
Estrada percorrida e já de cor
Medonhos espinheiros; coleciona

E o quanto se transforma neste nada
A sorte à qual pensara destinada
Esconde-se e o vazio vem à tona.

25296

Sonhando com teus lábios, ternamente
Vivendo do que fora luz e agora
Distante dos meus olhos não decora
A vida que deveras já desmente.

E sinto neste amor, cruel e ausente
A força que me toma e revigora
Na luta desmedida e sem ter hora,
Teimando num futuro mais contente.

Audaciosamente eu sei que nada
Resume nossa história e abandonada
A senda que sonhara minha e tua,

Do todo que passamos; nada resta
Somente sobre as folhas e a floresta
Ainda soberana e plena lua.

25295

Não rias deste pobre peregrino
Que segue em descaminhos mais atrozes,
Ouvindo do passado mansas vozes,
Agora sem ter rumo, desatino,

Nas ânsias ancestrais deste menino,
Os dias sem amor, cruéis algozes,
Os rios se perdendo, buscam fozes,
Enquanto sem ter paz, já me alucino.

Houvesse qualquer luz no fim da estrada,
Quem sabe poderia na alvorada
Rever os meus conceitos, ser feliz,

Porém no simples fato de ser só,
Retorno num momento ao mesmo pó
Levando desta vida, cicatriz.

25294

Pudesse me esquecer das noites vãs
E embalde não consigo ter a paz,
Que tanto me sacie e satisfaz
Tornando mais palpáveis as manhãs,

Alucinado busco algum momento
Aonde possa crer numa alegria
Que há tanto dos meus dedos se esvaia,
Deveras se reluto, ainda tento,

Vencido pelas turvas esperanças
Nos bares e tavernas, meu consolo,
Vivendo como um fosse um simples tolo,
Buscando tão somente noites mansas,

E bêbado, percorro tais vielas
Qual barco que perdeu lemes e velas.

25293

Pudesse descansar os tristes olhos
Depois de tantas lutas vida afora,
O quanto nesta Terra se demora
Uma alma feita em dor, urzes e abrolhos,

Um leito mais suave que permita
O fim com dignidade de um poeta,
Que tendo a fantasia como meta,
Não lapidou jamais rara pepita,

Aonde se fizesse um mundo audaz
Ferrenhas ilusões, final descarte,
A sorte muitas vezes se reparte
Somente o desvario agora traz

A quem se deu inteiro e ao nada ver
Cansado de lutar, melhor morrer.

25292

Permitem que se veja a liberdade
Os olhos pós a noite tão escura
E tendo em minhas mãos, tanta procura
Sem ter sequer quem queira ou mesmo agrade

Espúrios descaminhos desconexos,
Revelam o final que não preciso,
Quimera que em delírio diz o aviso
Testando com certeza os meus reflexos,

Adentro o temporal desguarnecido
As armas que ora empunho são palavras
E delas renovando minhas lavras,
O medo há muito tempo esvaecido,

Reluto, mas prossigo em tal batalha,
E a vida impiedosa me retalha.

25291

Tramando desde sempre a claridade
O olhar de um sonhador se perde ao léu
E bebe cada estrela, alçando o céu
E dele com certeza em paz se invade,

Aonde se pensara num laurel
Ascendo à mais sublime liberdade,
E dela ao perceber a ansiedade
Encontro com certeza o meu papel,

E faço do cenário encantador
Um último recanto aonde o amor
Aflora-se deveras sem enganos,

Mudasse novamente velhos planos
Teria novamente a me guiar
A força incontestável do luar.

25290

E nela com certeza mergulhar
Nesta onda que desmancha-se na areia
E bebe a claridade em lua cheia,
Entregue à tal delícia sem pensar,

Se um dia fui capaz de me entregar
À sorte desairosa que rodeia,
Agora que encontrei a paz se anseia
E nela toda fonte a desvendar

Os rumos de um andante cavaleiro,
Momento de esperança derradeiro
Expressa um coração tão desolado,

Vivendo dos resquícios do passado
Agora se permite iluminado
Aos raios desta lua, meu luzeiro.

25289

Aos raios mais sublimes do luar
Derramo minhas ânsias e protejo
O amor que na verdade se é lampejo
Deveras não devia se acabar,

E nele quanto mais eu mergulhar
Um sonho triunfal ora prevejo
Promessa de uma aurora em azulejo
Trazendo imensidão, clara e solar.

Não deixe que este encanto se esvaeça
Do amor que ora nos rege não se esqueça,
Pois nele um derradeiro passo além

Da eterna desventura que inda trago,
Vislumbro a placidez de um manso lago
Que amor em plena paz sempre contém.

25288

Percebo que a real felicidade
Esconde-se em pequenas soluções
E delas quando o sonho tu repões
Permito-me sentir a claridade,

Aonde desfraldara ansiedade
Os medos em terríveis turbilhões
Mostraram ao sentimento tais versões
Diversas do final que ainda agrade.

Ocultas as jogadas que farás
E nelas por saber ser tão audaz
O fim já se aproxima; é xeque-mate,

E sem defesas sigo à revelia,
Aonde houvesse chance eu tentaria,
Por mais que a realidade me maltrate.

25287

Não necessita mesmo que se tente
Alguma nova história ou mesmo a antiga,
Por mais que tenha a paz que ainda abriga
O coração deveras descontente,

Eu sei o quanto amar se fez urgente
E a vida sem contê-lo já periga,
E mesmo que vivê-lo em paz consiga,
Eterno desandar de um penitente

Carrego há tanto tempo a minha cruz,
E quando ao desencanto ora me opus
As horas não passaram de mentiras,

E tudo o que restaram, meus retalhos,
Envolvendo sutis penduricalhos,
Resume-se em pequenas, rotas, tiras.

25286

Gerando do não ser confusa cena
Arrasto-me deveras sob o solo
E trago neste nada em que me assolo
Suave fortaleza que serena,

Figura desprezível, tão pequena,
Aonde houvesse pânico quis dolo
E nada além do caos aonde atolo
Os pés nesta seara atroz que me envenena.

Eu sei que jamais pude crer na sorte
E mesmo que este tempo me comporte,
Conforto eu não terei sequer na morte,

Por falta de vontade ou de suporte,
Ainda cicatrizo o velho corte,.
Teimando em procurar o mesmo Norte.

25285

Não quero noite calma nem serena
Tampouco um turbilhão que ora me dane,
Se o coração se mostra em fria pane
Verdade muitas vezes envenena,

Enquanto a realidade me apequena
Não quero que o pomar dos sonhos grane
Sabendo do final que desengane
Esqueço desde sempre a torpe cena.

E creio ser plausível ter na fé
Uma saída a mais, e a preferida
Tocando devagar, barco da vida,

Ancoradouros; sei e até de cor,
Na mesa da esperança, pão, café
Só quero do mais caro e do melhor.

25284

Apenas desvendar qualquer verdade,
Até a que me fira e me maltrate
Fazendo nesta história um arremate
Diverso do que outrora em liberdade

Quisera com total tranqüilidade
Ao mesmo tempo sinto que arrebate
Das mãos e me deixando em xeque-mate
Por mais que a ladainha ora me enfade.

Rascunhos do que fomos; garatujas
E as mãos que em outras mãos agora sujas
São meras testemunhas deste fato,

E quando me isolando eu me defendo,
O tempo noutro tempo se escorrendo
Cenário ao qual sem medo, eu desacato.

25283

E quando percebendo a claridade
Depois de tantas noites em vazio
Resisto ao mesmo não que desafio
Vagando sem saber tranqüilidade

E quando se percebe iniqüidade
Anseio por momento em que o estio
Matando com vigor o imenso frio
Traduza outra esperança que se brade

Diversa deste vão aonde eu guarde
O amor que se mostrando sempre tarde
Retarde a glória intensa que procuro,

E vândalo do tempo, eu me disfarço
Usando este poema quase esparso,
E nele vou fugindo deste escuro.

25282

Insólito mergulho em águas frias
Permite se tentar ver na tortura
O bem que certamente se procura
Nas trevas que deveras já nos guias.

Por estradas atrozes andarias
Matando em piedade e com brandura
Promessa para os loucos de uma cura
Satânicos momentos tais orgias,

Depois de tantos séculos eu vejo
A velha ladainha noutra face,
Enquanto a humanidade se desgrace

Nos risos dos pastores o sobejo
Êxtase que tramando outro castigo
Partilha deste açoite como abrigo.

25281

E desta luz intensa, mesmo plena
Esboço alguma leve reação
Sabendo que outros dias mostrarão
Com toda a claridade a velha cena,

E quanto mais entranho mais se apena
O fogo desta santa inquisição
Guardado na memória, no porão
Aonde a velha imagem se apequena,

Vorazes desde antanho tais comparsas
Confrades das insanas, rudes farsas
Gerando vez em quando torpes mitos,

E quando se prepara para o bote
Permite que deveras já desbote
Vestimenta que embota os infinitos.

25280

A morte traduzindo a liberdade
Depois de tanto e imenso sofrimento
Por mais que me perceba mais atento,
A dor não respeitando nada, invade

E toma sem respeito a qualquer grade
Num ato tresloucado e violento
Expondo a realidade ao sentimento
Que tanto nos ajude ou desagrade.

Fazendo indagações jamais confirmo
Os termos tão venais e quando afirmo
Não tendo neste fato uma firmeza,

Espero o contra-ataque inevitável
Cenário que hoje sei desagradável,
Gerando no final só incerteza.

25279

Sabíamos vencer vicissitudes
Enquanto muitas vezes noutro rumo
Diverso deste agora em que me esfumo
Mudando vez em quando de atitudes,

Por tanto que deveras me saúdes
Os erros que cometo, sempre assumo,
E quando após tempestas eu me aprumo
Em outras direções bem sei que iludes.

Estando nesta vida de passagem
Apenas companheiros de viagem
Que um dia se encontrando por acaso

Deixaram suas marcas nas calçadas
E agora sob estrelas vãs, forjadas
Somente nos restando o fim e o ocaso.

25278

Funambulescas noites, dor e gozo
A sorte se equilibra em bamba corda,
Ao mesmo tempo a vida me recorda
Momento que pensara glorioso

E agora ao percebê-lo vão; jocoso
Realidade chega e quando acorda
No parapeito vejo, estou na borda
A queda num segundo, pavoroso.

Escuto a voz sombria do quem fora
Imagem que julgara redentora
Desnuda esta faceta em turvos tons,

Aonde imaginara a salvação
Doridas garatujas me trarão
Malévolos retratos, antes bons.

25277

Alvissareiras noites, argentinas
Corrientes tres, cuatro ocho bons momentos
Olhares sensuais, corpos atentos
Enquanto nesta dança me fascinas

Exalas em delícias diamantinas
Às dores de Gardel, doces alentos
E deixo para trás os sofrimentos,
Mineiro coração descerra minas

Aonde se percebe um passo audaz,
E nele este delírio que compraz
Parceiros desta noite em mesmo tom,

Um sonho se deslinda em bela tela
E o amor intensamente se revela
Ecoa ainda em mim, o bandaleon.

25276

Exposto aos chascos vários dos iguais
Jamais eu poderia crer possível
Que a vida transcorrendo noutro nível
Diverso do que agora demonstrais

Expondo nas igrejas os vitrais
Pensando num milagre mais plausível
Servindo-vos qual fora um combustível
Que pelas ruas, tosca derramais,

Acrescentando ao nada que ora trago
Na forma de carícia ou mesmo afago
Um pouco do total feito ironia

Desfaço as velhas sendas e prossigo
Sabendo a curva outro perigo,
E dele uma vacina já se cria.

25275

Das cóleras diversas que coleto
Procuro destilar o que talvez
Ainda me permita sensatez,
Mas sei o quão diverso o predileto

Caminho feito em farsa ou incompleto
Afigurado em tisne ou rubra tez,
E enquanto todo o sonho se desfez
Sonego qualquer parto, ou mesmo o feto.

Esterco-me do sangue feito fera
Que quando se sacia degenera
E muda no seu bote algum destino,

Incréu, por vezes vejo em rastros falsos
Prenúncios de terríveis cadafalsos
E deles, com certeza eu me previno.

25274

Bebendo em tua boca tal salsugem
Inóspitos caminhos desvendados,
Ausculto do passado velhos brados
Das asas destroçadas nem penugem,

E quando se percebe tal ferrugem
Minha alma nos destroços malfadados
Expressa a realidade em falsos dados
Enquanto feras toscas berram, rugem.

Alpendres não protegem da tempesta
E tudo o que em verdade ainda resta
Imagem caricata e distorcida,

Assino uma alforria que não quero,
O encanto se omitindo, nunca é vero
E nele não baseio a minha vida.

25273

Hediondas caricatas desventuras
Vencidas ou atadas aos grilhões
Que agora quando lúcida me expões
Aquém da realidade que procuras,

Buscando em noites vagas ou escuras
Momentos mais audazes, turbilhões
Adentro fantasias, batalhões
Bebendo com prazer fartas agruras,

Endeuso falsos ritos, mas os sei
E quando me percebo noutra lei
Diversa da que creio, com sarcasmo

Afasto dos meus olhos claridade,
Na cena que deveras me degrade
Percebo o meu retrato opaco e pasmo.

25272

O amor quando se quer perfeito e manso
Perfaz caminhos sóbrios em tempestas,
E neles com certeza tu te emprestas
Gerando esta ilusão que agora alcanço,

Vencendo do passado qualquer ranço
Não se traduz somente em ritos, festas,
Mas não permite frestas nem arestas,
Trazendo ao caminheiro um bom descanso.

Viver o amor sem medo, tédio ou risco,
Fugindo do terror feito em confisco
Dos dias salutares em prazer,

A possibilidade disto é clara
E quando em fonte límpida declara
Expressa a maravilha do viver.

25271

Cuidar da coisa amada como fora
A parte essencial da própria vida
Impede que se veja em despedida
Imagem muitas vezes redentora,

E quando a mão sobeja e protetora
Tocar com mansidão, sempre decida
Pelo caminho feito em paz e lida,
Trazendo a luz deveras promissora.

Assim se perpetrando em doce esfera
O fato de viver decerto gera
A sorte tão benquista e desejada,

Deixando para trás vagar agruras
No encanto que teceste e ora emolduras
Criando do vazio; a imensa estrada.

25270

Ao ver formosa e rara claridade
Que Amor a cada olhar nos acrescenta
Aonde se pensara em violenta
Discórdia a mansidão agora invade

E tomando de assalto em liberdade
Ao mesmo tempo atrai e me apascenta
Vivendo esta emoção deixo a tormenta
E bebo da maior tranqüilidade.

Assisto à derrocada dos receios
E deles recriando sem rodeios
Momentos mais felizes; vou em frente,

Ferrenhas as batalhas que enfrentara
Até ter a visão sobeja e clara
Do amor que a cada dia me alimente.

25269

Vosso olhar comprazendo dos meus medos
Trazendo a paz que tanto necessito,
Amando-vos senhora, eu acredito
Distante dos meus dias, os degredos,

Nos versos resguardados os segredos
Percebo algum momento em manso rito,
E tanto me entregando, mesmo aflito
A sorte tenho agora entre meus dedos.

Vencer as trevas tantas e bem mais
Beber das maravilhas que entornais
Enquanto em vossos rastros eu prossigo,

No amor que nos encanta ou nos maltrata
Aprazo-me deveras mesmo ingrata
A rota que se mostra em desabrigo.

25268

Vencer os meus amargos dissabores
E ter nas TUAS mãos a Glória imensa,
Saber quão maviosa a recompensa
Colhida em Teu jardim, sobejas flores,

Seguindo MEU SENHOR, por onde fores
Uma alma transparente agora pensa
Na vida pós a vida que pertença
Aos TEUS caminhos sábios, redentores.

Amar- TE é ter certeza de uma LUZ
Quando à felicidade nos conduz
Gerando noutro ser igual verdade,

Assim re comprazendo de um pequeno
GIGANTE FORTALEZA se faz PLENO
No AMOR que distribui e nos invade.

25267

Da treva original à treva eterna
Hiato feito em luz já se desfaz,
E aonde se quisera mansa paz
Ou mesmo a imensidão da vida terna

Agora sobre tudo já se inferna
A fúria desta espécie, tosco antraz
Que se mostrando assim, louca e mordaz,
Pensando-se deveras ser superna.

Meteóricos destinos se entrelaçam
E quando os dias turvos ora passam
Deixando cicatrizes mais profundas.

Mal respirando a luz ora agoniza
Mostrando ser deveras imprecisa
Passagem entre cenas nauseabundas.

25266

A Natureza expõe fatos concretos
E deles me alimento vez em quando,
Vetusta fantasia dominando
Momentos que pensara mais discretos,

Anárquico poeta, sei dos vetos
E deles me sacio fomentando
A fúria de quem passa desdenhando
Delitos com certeza, prediletos,

Não posso crer na venda do milagre,
Assim do VINHO vejo que avinagre
A sorte de um Cordeiro exposto em cruz,

O PÃO que ora sustenta o bolso alheio,
Renega a salvação pela qual veio
Sacrificado REI, CRISTO JESUS.

25265

A rebeldia expressa em cada passo
Na busca por pegadas, vários rastros
Que traguem aos meus dias novos lastros,
Diversos do que agora ainda traço,

Sei quão é vário e vago cada espaço,
Se o barco perde velas, lemes, mastros
Já não me curariam teus emplastros
Tampouco de outra sanha me desfaço

Percebo as inconstâncias deste tempo
E venço qualquer medo ou contratempo,
Inútil parecer além do fato

De ter nas mãos adagas e gatilhos,
Já não conheço mais sequer os trilhos
E o que fora plausível nó; desato.

25264

Diversos burburinhos noite afora
Trazendo ao solitário a vida intensa
Enquanto no não ser ainda pensa
A fonte luminosa comemora

O próprio esvaecer que se demora
E nele uma agridoce recompensa
Formando nuvem frágil, mas imensa
Insaciável luz que se devora.

Esbarro nas entranhas do viver
Tentando meu caminho esclarecer
E sendo variante de outros tantos

Num tétrico arremedo em mil retalhos,
Os dias repetindo os atos falhos
E neles coletando os desencantos.

25263

Reboa-se distante a voz sombria
De uma alma agonizante em frios vãos,
Aonde se pensara em tons cristãos
Atéia multidão já se porfia

Percebo então na falsa confraria
Diversos e confusos solos, chãos,
Repetem sem saber os mesmos nãos
Que há tanto a humanidade refletia.

Ao esboçarem crenças contradizem
Nos atos quando em deuses se deslizem
Gerando sintonias dissonantes,

Espúrias atitudes, sonhos lúcidos,
Não sei o quanto lúbricos ou lúdicos
Só sei que no final vejo-os farsantes.

25262

Num lúgubre caminho se traçara
As variáveis toscas que ora enceto,
E ser além de simples mero inseto
Tornando a vida agora bem mais clara

Enquanto a fantasia se escancara
E bebo o meu futuro se concreto
No prato que se mostra o predileto
A face do glutão já se escancara.

Calcário corrigindo esta acidez
Aonde a plantação de outrora fez
Colheita muita além do que se espera.

Assíduas regas trazem a esperança,
Mas quando em aridez, solo se lança
Aborta em nascedouro a primavera.

25261

Em márcios brados; vejo este passado
Aonde com soturnas mãos pesadas
As forças poderosas mal amadas
Tornaram o país, sanguíneo prado,

E quando em podridão condecorado
Reinando sobre as massas desarmadas
Em faces muitas vezes torturadas,
O libertário sonho condenado,

O fogo autoritário contradiz
O sonho de igualdade e de respeito,
Na fúria e pela fúria, faz seu pleito

Deixando tatuada a cicatriz
Que gera outros fantasmas no futuro,
O mocho só se expõe em pleno escuro.

25261

Palavra quando acida traz em si
Potenciais diversos e complexos
E quando se procuram novos nexos
Respostas encontradas lá e aqui

Desnudam o que outrora já perdi,
E sei que mesmo quando estão anexos
Resíduos na verdade são reflexos
Do todo que deveras concebi.

Versões que o mesmo tema contrapõe
Enquanto várias vezes, traz e opõe
Diversidade é sempre necessária,

Assim ao perceber uma entrelinha
Desvenda o inaparente que continha
Numa faceta esparsa ou mesmo vária.

25260

Desvendam-se desejos em delírios
Aonde se pudesse crer no quanto
Entregues ao mais raro e belo encanto
Deixando no passado vãos martírios,

E quando se mostrasse em tal nudez
Uma ânsia delicada e poderosa,
Bebendo desta glória caprichosa
O amor no próprio amor já se refez,

Avanço sem percalço e me demoro
A cada novo toque ou descoberta,
Enquanto o medo foge e me deserta
Grileiro sem escrúpulo, eu decoro

As sendas com sublimes diamantes,
E encontro veios fartos, deslumbrantes.

25259

Arrebentando assim como se houvesse
Erupções tão complexas e profusas,
As horas se permitem mais confusas
Enquanto uma ordem vaga se obedece,

O tempo quando em tempos novos tece
Permitem que se tente em velhas Musas
As novas transparências, belas blusas
Ou mesmo algum rigor em rito ou prece,

Esvaecendo assim verdades rotas,
Em títeres que somos; sei que notas
Diversidade imensa e salutar,

Mas quanto a voz uníssona desnuda
Realidade estúpida e miúda
Impede a liberdade do criar.

25258

Adentrando qual fora uma radícula
O pensamento imagem delirante
Verdades variáveis num instante
Transmite uma visão mesmo ridícula,

Aonde se pensara mera espícula
Percebo quão deveras penetrante
A farpa que me corta e se agigante
Outrora fora pálida partícula

E assim ao ver de perto o que pensara
Minúscula expressão, agora clara
Expõe realidade bem diversa,

E quando sob o prisma verdadeiro,
Bem mais do que pensara corriqueiro
Na imensidão do nada, uma alma imersa.

25257

Há coisas que pergunto e não consigo
Sequer quem me responda então eu tento
Usando para tal o pensamento
Aonde com certeza encontro abrigo,

Deveras percebendo este perigo
Ao qual exposto vejo o sofrimento,
E quando na verdade busco o alento,
Caminho mais sensato, ora persigo,

Ao animal é tudo permitido,
Canibalismo, estupro, roubo e morte
Ao homem repetindo a mesma sorte

Porém ao crer pecado é coibido,
Assim minha alma tosca afirma cética
O demônio gerou, enfim, a ética.

25256

A Terra outrora grávida parindo
Espécies tão diversas não sabia
Que quanto maior fosse a fantasia
A queda noutra cena se fluindo.

Refém do próprio filho que quis lindo,
E nele com encanto e com magia
A mãe agora em trágica agonia
Percebe o seu futuro, mero e findo.

Qual Nero eviscerando a genitora
Humanidade esboça um ato igual
Achando ser deveras tão normal

Quão tosco o original deveras fora
O homem também busca esta uterina
Visão da Terra mãe, outra Agripina.

25255

Oceanos bravios e as procelas
Repetem velhas cenas do passado,
Aonde se mostrasse abandonado
O mundo reproduz diversas telas

E nelas entranhadas torpes celas
Aonde se pensara em luta e brado,
O quadro noutro quadro disfarçado
Impede outras visões deveras belas.

Um carrossel reflete a humanidade
Que segue em contraluz o próprio rabo
E quando do futuro der o cabo

Voltando ao que já fora ora se invade
E mata o seu porvir com o pretérito
E crê que nisto existe qualquer mérito.

25254

Nas landes onde gero os pensamentos
Nefastas sombras tomam o cenário,
O passo em meio à lama é temerário
E os dias repetindo os mesmos ventos,

Charnecas invadindo os sentimentos
Viscoso caminhar em piso vário
Seguindo neste rumo que ao contrário
Do costumeiro; nega meus intentos

Extraio de minha alma a sordidez
E nela tantas vezes já se fez
A fétida impressão de liberdade

Que tanto se fazendo em voz medonha
Por mais que a fantasia ela componha,
Permite ao sonho etéreo o seu degrade.

25253

Absconsos caminhares noite escura
E vejo sem respostas meus anseios,
Por mais que me envolvesse em teus enleios
Não cessariam nunca tal procura,

E quando a dúvida deveras já perdura
Não faço e nem pretendo tais rodeios,
Os olhos seguem vagos; vão alheios
Transcendem qualquer forma de ternura.

Escapas pouco a pouco e mesmo quando
Percebo, não reajo transformando
O quanto poderia no não ser

Espúria criatura ora me isolo,
Se eu planto mais abrolhos no meu solo,
Daninhas com certeza irei colher.

25252

Convulsionado espaço que freqüento
Enquanto em solilóquio nada vem
Senão o mesmo etéreo e vão ninguém
Ao qual eu permaneço sempre atento,

Vivendo o que me resta em sofrimento
Angustiosamente a mente tem
Mistérios que deveras só contém
Quem usa vez em quando o pensamento,

E em tal discernimento sei vazios
E neles retornando aos desafios
Antigos da existência que se busca,

Esbarro nas mentiras e trapaças,
Até quando distante e alheia; passas
A luz que emanas forte, vejo fusca.

25251

Um mero vibrião ainda existo
Somente pelas ânsias naturais
Aonde veramente fosse mais
O persistir recende a um vago quisto

Insólito retrato de Mefisto
Enquanto com nobreza derramais
Em vós percebo luzes ancestrais
E fragilmente exposto inda resisto.

Anseio os libertários manifestos
E neles mesmo quando estão infestos
Por virulência torpe ou insensata

Percebo um ar que possa transcender
Levando ao gozo pleno de um prazer,
Até por ser tão vil, já me arrebata.

25250

Não necessita mesmo que se brade
Gerando do não ser confusa cena,
Não quero noite calma nem serena
Apenas desvendar qualquer verdade,

E quando percebendo a claridade
Insólito mergulho qual falena
E desta luz intensa, mesmo plena
A morte traduzindo a liberdade.

Contradições comuns, insofismáveis
Em solos desiguais, mas sempre aráveis
Cultivos mostrarão diversos frutos,

Mutáveis os caminhos se percebe
Dicotomia traz a mesma sebe
Olhares necessários; bem argutos.

25249

Tampouco desconhece algum lugar
Aonde se tivesse mais concisa
Resposta necessária e tão precisa,
Por isso noutras sanhas trafegar,

Aonde se mostrasse sem pensar
O que deveras nego e se matiza
Em cores mais suaves, mera brisa,
Não basta e jamais vai me saciar.

Por ser até convicto, um eremita
Somente em palatável acredita
E desconfia até mesmo da fé,

Aonde se pudesse transigente,
Mas quer o muito além do que pressente
O não saber algema cada pé.

25248

Vivendo por viver sem ter razões
Explícitas que possam traduzir
As fontes do passado no porvir,
Entrelaçados passos: tropeções

E tendo enfim terríveis aversões
A tudo que se crê antes de vir
Procuro das verdades; abstrair
Novéis explicações, mas sei senões.

Descrevo no que posso; verso e rima,
Aquém do que o real procura e estima
Estigmas que deturpem a clareza,

Mas não seguindo a tropa vou ao léu,
Diverso do novelo ou carretel
Negando desde o início a correnteza;

25247

Nesta beleza rara em que compões
Decifro as ansiedades minhas, nossas,
Antes até da saga onde tu possas
Falar da maravilha das visões

Nas quais encontrarias soluções
Diversas das que trago, mas em fossas
Profundas sonegando o que ora endossas
Encontro em solilóquio outras versões.

Socráticas verdades eu repito
E quando nada sei, sendo finito
Percebo quão a dúvida faz bem,

E tento desvendar algum mistério
E mesmo aleatório ou sem critério
Resposta na pergunta se contém.

25246

A vida bem melhor de ser vivida
Na paz que tanto quero e já não vejo.
Às turras com as tramas do desejo
Persisto nesta sanha que duvida

E nela muitas vezes dividida
Entre o que penso e temo e não prevejo
Fazendo do pensar algum lampejo
E dele me protejo sem guarida.

Escusas emoções, rastros que sigo
E tanto quanto eu quero; sem abrigo
Vasculho nas entranhas da verdade

E teimo em perceber novo matiz
Enquanto o que é mais claro contradiz,
Mesmo até quando o explícito já brade.

25245

Sem termos nem perguntas, de que vale
A vida se não fossem os anseios
E neles embutidos meus receios
Por mais que muitas vezes nada fale,

Nas mãos o que deveras não embale
E embace o pensamento em novos veios
Meus olhos não permitem ser alheios
Enquanto outra verdade não escale,

Ausente de respostas; sigo em vão
E embora muitas vezes, negarão
Persisto na procura e não me canso

Fartando-me da angústia do querer
E tanto quanto eu possa percorrer
A tempestade longe do remanso.

25244

As horas entre luzes vão dispostas,
Mas não consigo mesmo ter a luz
E quando minha imagem reproduz
As dúvidas deveras são repostas,

Enquanto outras perguntas várias postas
Realidade afasta em contraluz
E o vário se transcende e nele opus
Caminho divergente ou viro as costas.

Na obviedade se perde o investigar
E muitas vezes nunca basta o olhar
Que num primeiro instante ludibria,

E assim por tantas vezes enganado
O final vejo enfim tão deturpado
Se vê realidade e é fantasia.

25243

E sabem decifrar sem despedida
Aqueles que percebem num olhar
O muito além do simples declarar
Imagem por si só bem concebida,

Quem tanto se procura e não decida
Diverso que possa caminhar
Permite-se por vezes o calar
E segue como sombra em toda a vida.

Mas vejo que talvez neste não ser
Resume-se a verdade e o poder
Que tantos numa busca interminável

Em compêndios de vã filosofia
O fio muitas vezes se perdia,
Resposta se tornando indecifrável.