domingo, novembro 05, 2006

A dor que me penetra qual mortalha,

A dor que me penetra qual mortalha,
Trazendo minhas ânsias, ser feliz...
Os brilhos que esta lua sempre espalha
São látegos denotam cicatriz...
Sombrias tempestades, qual navalha,
Malditas me torturam. Por um triz
O bote destes lumes, dor canalha,
Vestida de ilusões, vã meretriz!
Castamente covarde dissimula.
Forjando santidade se revela
Nas horas mais sombrias, vago o mundo...
Ó lua, por que queimas, sua vela?
Traíste meus delírios de poeta,
Meu verso vai embalde, vagabundo...
Mataste qual Cupido e sua seta!

Atravessando trevas nebulosas,

Atravessando trevas nebulosas,
Em busca da amplidão do teu carinho.
As mãos que se perfuram, olorosas,
Lancinantes desejos pedem ninho.
Angústia dos jardins que perdem rosas,
Embalde me apeguei ao teu espinho...
Nos mares das volúpias tenebrosas,
Um canto que se cala, passarinho...
Neste atroz pesadelo, latejante,
Mistura das tremendas fantasias.
Represo meus temores, arquejante.
Não posso receber a vida amarga
Como quem saboreia as ambrosias;
Amor que me devora: afaga e larga....

Sacrifícios banais, não os mereço.

Sacrifícios banais, não os mereço.
As aves cujas garras se aprofundam,
Por vezes, tantas dores, desconheço.
Os meus versos, exóticos, redundam...
Não quero nem saber teu endereço,
Os olhos que clausuras nunca afundam
Nas pernas que escondeste, neste avesso.
Permita que sentidos nos confundam...
O mesmo sentimento que exorcisas,
Enclausura os amores que negaste.
As bizarras fanfarras que cotizas
Em avalanches tétricas devoras...
Simulas delicada, negas haste,
No fundo te desejo sem demoras...

Minha tola esperança adormecida

Minha tola esperança adormecida
Nos espectros vazios busca amparo.
Volúpia de quimeras, esquecida
Envolta nestas brumas, desamparo...
Distante da vereda mais florida,
É fera que perdeu o rumo e faro...
Vacilante esperança quer guarida,
Febrilmente desejo nobre e caro...
Nas cândidas procuras estelares,
Nas buscas incontidas da verdade.
É fruto que não nasce em meus pomares,
Perfume que me negam os rosais,
Esperança adormece, frialdade...
Acordará do sono? Nunca mais!

Nostalgia e dolência nesta tarde...

Nostalgia e dolência nesta tarde...
Carinhos imortais da amada bruma...
A noite me trará embora tarde,
O gosto da explosão, marinha espuma!
Quem ama não precisa deste alarde,
Espreita um caçador, um salto, o puma...
Olhar que no infinito, fere e arde,
Não pode descansar de forma alguma!
Espasmos da luxúria florescentes,
Noctívagos delírios vampirescos...
Meus sonhos, meus amores, são dantescos.
Aguardo, calmamente a minha morte.
No fundo, meus defeitos, indecentes,
Misturam-se num gozo louco, forte...

Amor que se fizera arquitetônico,

Amor que se fizera arquitetônico,
Buscando novas formas, novos tons.
Nas horas mais difíceis foi irônico,
Explodindo em milhões de megatons!
Mas, nas várias tristezas forte tônico,
Espalha nos prazeres vários sons...
Amor que se pensara ser platônico,
Depressa me devora em tantos fronts...
Mistérios e sentidos já decoro.
A boca que me morde me pragueja...
Na roupa que me rasgas me decoro,
A noite que passamos como arqueja!
Não quero mais manter tolo decoro,
Vem correndo: essa boca te deseja!

Nas folhas peroladas pela neve,

Nas folhas peroladas pela neve,
Na prata que se esvai neste luar.
Estrelas decadentes, vida breve,
Desejos de morrer, fundo do mar...
Estrela merencória não se atreve
Nas plêiades divinas, navegar.
Satélites vagando... Terno, leve,
Universo mergulha, devagar...
Nas explosões noturnas, meu desejo...
Primitivos delírios e delícias...
Nebulosas, quasares, num lampejo
Transformam ilusões neste caudal.
Se fecundam, estrelas e malícias,
Explodem toda a noite, em festival!

Sensação de impotência me invadindo...

Sensação de impotência me invadindo...
Tortura sentimentos, liberdade.
Meu tempo de esperanças vais sumindo
Como a estrela que morre nesta tarde.
Estrela, companheira vou seguindo
As trilhas que deixaste, mas embalde...
Pobre bardo, morrendo vai subindo,
Em busca desta estrela vã: saudade!
Encontra tão somente seus clarões,
Resquícios do que fora mais feliz...
Ardentes, os silentes corações,
Derramam-se envoltos na loucura.
A vida vai passando por um triz
Sensação indizível de tortura...

Prelúdios e canções, serenidade...

Prelúdios e canções, serenidade...
As límpidas imagens deste amor
Passeiam mais etéreas, veleidade...
O gosto das estrelas, teu sabor
Nos silfos encontrei a paridade
Flutuantes, meus sonhos, cadê dor?
Nos espaços serenos, a verdade
Se expondo assim completa, sem rancor...
Nos brilhos da luz, sonhos e promessas.
Maravilhosamente solitárias
As horas não se passam, perdem pressas...
Sensação divinal de paz me invade...
Dores deixam de ser totalitárias,
O vento da esperança, o fim da tarde...

Violinos, dança, valsas, serenatas...

Violinos, dança, valsas, serenatas...
Seios expostos, loucas madrugadas...
Diamantes e cristais, mansas sonatas.
Mãos a percorrer, extasiadas...
A lua se elevando, suas pratas...
As bocas se devoram, tresloucadas...
Nas danças, os casais giram, cascatas...
As pernas mais febris, desenfreadas...
Sedosas confusões, pernas e cama.
A noite em tempestade não se cansa...
As pernas se entrelaçam nesta dança,
Enredos, violinos, valsa e chama...
Mergulho meus sentidos nesta trama,
A noite mais vadia, vai, avança!

Na vida me equilibro qual funâmbulo,

Na vida me equilibro qual funâmbulo,
Amores rufiões não mais os quero...
Vagueio pelos bares sou noctâmbulo
Irônico sorriso trago, fero....
Por vezes qual colérico sonâmbulo,
Nefandos pesadelos, desespero.
A vida nos seu trágico preâmbulo,
Me trouxe estes remendos onde impero.
Tavernas e bodegas são meus lares,
Conhaque, vinho e rum meus companheiros
Sarcasmos, falso amor, paixão e bares,
Sou noivo da mortalha que me espera...
O sangue que escorreu, podres tinteiros,
Amansam coração da louca fera...

Ao seguir calmamente pelas sendas

Ao seguir calmamente pelas sendas
Auríferas do amor, singelo lírio...
Em teu alvor encontro velhas lendas,
Teu perfume inebria num delírio...
Procuro me esconder, profanas fendas,
Dos siderais fantasmas, meu martírio.
Quem dera, destra vida desse prendas,
No brilho das estrelas, meu colírio...
Ó lírio companheiro das desditas,
Afaste dos caminhos, vãos quebrantos.
As minhas mãos em prece, tão aflitas,
Esperam teus pendores alvos, santos...
As linhas do destino, foram ditas
Vivendo teus simbólicos encantos...

Por que zombas amiga dos amores?

Por que zombas amiga dos amores?
São frágeis, são loucuras tentadoras...
Nos guizos dos palhaços, seus atores,
Alegrias febris, mas redentoras...
Desprezas as mortalhas, santas dores.
Macabros sentimentos... Amadoras
Noites, nas gargalhadas dos horrores,
Vestidas de luares, sonhadoras...
Não zombes deste amor, é crueldade!
Por certo não concebes melodias.
Detrás deste descaso, uma verdade.
O medo te conteve, teu fiasco...
As noites que se passam, tão vazias,
Esperas perfumar teu lindo frasco!

Sonho medieval trazendo Lara,

Sonho medieval trazendo Lara,
Estranhos cavaleiros, armaduras...
A pele alabastrina, lua clara,
Nossas noites imersas, tão escuras...
Anéis e diamantes, jóia rara,
Auréolas divinais, vitais ternuras.
Vitrais e catedrais, vida tão cara,
Redomas virginais, fatais loucuras!
A mansa sobremesa não regala,
Mortalhas dos sentidos vão submersas.
Nos pássaros canoros luta e gala.
O templo dos amores, monjas selam,
Palácios e tapetes, ouros, persas...
À noite meus desejos se revelam...

Amor que me deixou tantos cilícios,

Amor que me deixou tantos cilícios,
Dos ócios meus pecados revestidos.
Mergulho por ferozes precipícios,
Abismos mais profundos, desvalidos.
Da morte que procuro, nem indícios...
Clareiras e cascatas dos sentidos
Denotam meus horrores e meus vícios...
Os prazeres, as dores, nos gemidos...
Carinhos congelados, meu velário...
Exponho minha entranha e meus desejos...
Da vida, meu farnel, meu relicário,
Carrego teus relevos u’a fornalha...
Troféus que levarei, teus falsos beijos,
Teu gozo me servindo de mortalha!

Os cabelos caídos sobre o colo,

Os cabelos caídos sobre o colo,
Negritude divina em alvo viço.
Contraste mavioso, céu e solo
Serpenteando... Quanto te cobiço!
Na trança distraída, o esplendor.
Meu desejo transborda e narcotiza...
Por vezes se imiscui tolo pavor,
Nas minhas catedrais, sacerdotisa!
Delírios sensuais na bela tela,
Uma obra prima feita do prazer.
Cabelos negros, crinas, sela...
Galopo meus desejos infinitos...
Vontade de ficar, voar, viver...
Obrigado meu Deus... Sonhos benditos!

Níveo céu: testemunha da chegada

Níveo céu: testemunha da chegada
Da sílfide parceira dos meus sonhos...
Asceta, minha vida simples nada.
Crivado, pesadelos mais bisonhos...
Vetustos sentimentos, madrugada
Sem belas diluências... Os tristonhos
Ermitões solitários. Embargada
A voz, retendo gritos mais medonhos...
Quero poder fluir nos teus desejos,
Viver a calmaria sem rajadas.
Deslizar mansamente por teus beijos.
Desfrutar deste amor, raio de lua...
À noite, as harmonias já cansadas,
Sentir manso prazer de quem flutua...

Temível solidão que me persegue,

Temível solidão que me persegue,
Sacrários, praças, sés, nada me importa...
Verdade majestosa, quem a negue?
A lua se escondeu, tão fria, morta!
Seus plenilúnios fogem... Sigo entregue
Às terebrantes chagas, tosca porta
Aberta ao mar cruel. Há quem navegue?
Só a minha alma antálgica se corta...
Espreito este festim da natureza,
Os ventos, mansas brumas, lindo sol...
Perfume dos incensos da beleza...
Ocasos, sinfonias magistrais...
Estrelas, oceanos, um farol...
Somente na minha alma: nunca mais!

És sílfide, delícia encantadora...

És sílfide, delícia encantadora...
Trazes a languidez das brancas rendas.
Na boca carmesim tão tentadora,
Ardor pecaminoso, nossas tendas...
A noite que chegaste, redentora,
Caminhos, espirais, dolentes lendas.
Sonoras melodias, cantadora,
Lascivas, sensuais divinas sendas...
Sonatas e perfumes, canção, rosa....
Veludos, maciez; camurça e gozo.
A mão que me procura, carinhosa.
Palácios dos prazeres, catedrais.
Desejo de viver, voluptuoso,
Tua beleza rara, meus cristais...

Indômito desejo que me agita,

Indômito desejo que me agita,
Um sentimento pleno de prazer.
A lua generosa inda me fita,
Nos vértices celestes. Tento crer
Na mansidão farsante que palpita
Imersa nas profundas do meu ser...
Bem sei que dilacera enquanto grita,
Demônio que acabara de nascer!
Altares, catedrais e comunhão,
Confusas penitências e desejos...
A mente segue errante turbilhão.
Nas ânsias indomáveis, pois carnais.
A boca sequiosa pede beijos,
As mãos incendiadas, bacanais...

Estrelas do infinito, siderais,

Estrelas do infinito, siderais,
Divindades noturnas, constelares...
Nos espaços distantes, ancestrais,
Amalgamam-se, formam seus altares...
Nas galas tantos ermos divinais,
Satélites brilhosos, os luares,
Angústias e presságios dos mortais...
Nos campos, mares, ruas, trilhas, bares...
As dores passageiras inconstantes,
Tramando nas tocaias inauditas.
Desfilam velhas mágoas dos amantes...
Distantes, as estrelas fingem ternas,
Conhecem todas dores e desditas.
Mas sabem que isso passa, são eternas!

Em lágrimas, tormentos, tua farsa,

Em lágrimas, tormentos, tua farsa,
Se mostra tentadora e mais cruel...
A mão que te procura segue esparsa
Buscando neste inferno, pelo Céu...
Um mandrião terrível, teu comparsa,
Expõe caricaturas num bordel.
Volúpia tão banal, logo disfarça,
Na burla que demonstra teu papel...
És zero, puro zero, nada mais,
Punhais, botes, venenos, brinquedos...
Pois carregas ofídicos pendores.
Tua essência vital, estes segredos...
Voluptuosamente dilacera...
Acerba, podridões, finos horrores
Tuas presas letais, ó vil pantera!

Nasceste no netúnico reinado,

Nasceste no netúnico reinado,
Em meio a tempestades, calmarias...
Cachalotes, medusas, conchas... Fado.
As ondas os abismos são teus guias...
Num grito aterrador, tão delicado,
As águas que te cercam, gelam, frias.
Marulho sempre mostra seu recado,
Nas lutas calabares, nas orgias...
Nasceste entre tritões, teus protetores,
Amante das estrelas e da lua...
És símbolo : prazeres loucos, dores...
Descansas teus cabelos, fina areia...
Meus sonhos te imaginam, bela, nua.
Rainha dos meus mares, és sereia!

Nos astros desfilando teus encantos,

Nos astros desfilando teus encantos,
Cristais e diamantes são eternos...
Explodes teus desejos pelos cantos
Prazeres prometidos, loucos, ternos...
Cercada por palavras, por espantos,
Floresces nos jardins raros, modernos...
Regada por torrentes: gozos, prantos,
Vislumbras a ternura dos infernos!
Soberana vestal e prostituta,
Teu súdito, de súbito se orgasma.
Passeio minhas mãos pelos teus seios,
E vasculho tua alma qual miasma.
Composta de delírios e neblinas,
Traduz, nos seus meandros, meus anseios.
Tua alma, pedras raras, sedas finas...

Dançavas com volúpias indizíveis

Dançavas com volúpias indizíveis
Mostrando teus anseios de profana
Os quadris esguiavas , tão incríveis.
Nas formas e montanhas da serrana
Terra. Sonhei desejos impossíveis
Do sabor mavioso desta cana
Escorrendo meus lábios. Os possíveis
Prazeres, a luxúria não me engana.
Nas danças convulsões quase que orgásticas,
Desejos entranhados manifestas.
As pernas seminuas, mais fantásticas...
No rosto, despudores e anseios,
A boca prometendo loucas festas.
Transparência divina: belos seios...