segunda-feira, agosto 07, 2006

Malícia - Soneto

No teu corpo, a malícia, cativante.
Nos teus seios transborda meu desejo,
Tua boca carmim vai, delirante,
Na busca dos teus lábios, antevejo.

Carícias são premissas. Ofegante,
Procuro por teus olhos, neles vejo,
O gozo refletido, radiante.
Pudera mergulhar, num simples beijo...

Teu toque prenuncia mil delícias,
Quisera conhecer os teus segredos,
Vertendo devagar, tantas carícias.

Percorrem todo o corpo; leves dedos,
Entreabrem tua blusa, com malícia,
Penetro, qual luar, teus arvoredos...

Soneto

O cheiro do café, na mesa posta,

A broa de fubá deliciosa,

O leite quente, tanta coisa exposta,

Traz uma sensação maravilhosa...

O sol nascendo, brilha lá n'encosta,

A vida se refaz, sempre gostosa.

Noutra manhã feliz , a gente aposta.

A natureza-mãe, tão amorosa...

O boi mugindo, longe, lá no pasto,

O galo canta, livre melodia.

Aos olhos, tudo belo, num repasto

Digno dos deuses, velha fantasia.

A menina se esconde, riso casto.

Vida passa, transborda d’alegria...

A Isca

Gilberto, filho de João Polino, era o maior pescador de Santa Martha; disso; Dona Rita e Ritinha, não tinham dúvidas.
Todas as noites, Betinho se aprontava para pescar, levando uma vara de pescar, algumas minhocas e um embornal.
No dia seguinte, era batata; Beto trazia uma enorme quantidade de bagres, lambaris, cascudos e acarás de fazer inveja a quem quer que fosse.
Para quem não conhece, o cascudo é o robalo da roça, peixe delicioso e de difícil captura. Vivendo nas locas de pedra, raramente pode ser pego no anzol. Mas isso era desconhecido pelas Ritas, mãe e filha.
Muito menos João Polino, já que odiava pescaria, embora não desprezasse um peixinho frito.
Lambari frito é um dos melhores tira-gostos que existem. Uma cervejinha gelada ou uma dose caprichada de cachaça com um lambari bem tostado é uma iguaria dos deuses!
Pois bem, Betinho se gabava de não voltar sem trazer pelo menos um a dois quilos de peixe. Sendo comum voltar com o embornal cheio, deliciosamente cheio.
Tudo transcorria às mil maravilhas até que sua irmã caçula, a Ritinha, começou a namorar um médico, lá dos lados de Guaçui.
Esse médico, um tal de Marcos, era metido a pescador e, sabendo das habilidades de Gilberto, convidou-o a pescar no rio Norte, braço do Rio Itapemirim.
A pescaria foi ao entardecer, pescaria de piau e de bagre.
No começo, Marcos acreditando que Gilberto era um experiente pescador, ficou meio assustado com a quantidade de isca que o mesmo levara, uma meia dúzia de minhocas.
Depois; a vara, muito curta e frágil, própria para piabas ou acarás de pequeno porte, não tinha muita pinta de que iria agüentar o tranco.
A linha, 0,10, muito fina para peixes maiores, ainda mais para o piau, lutador contumaz.
O mais interessante de tudo era o tamanho da chumbada, muito grande e pesada comparativamente com a vara e com a linha.
Até aí tudo bem, cada um com seu método, embora achasse estranho, Marcos nada comentou.
Mas, passando uns dez minutos sem beliscar, Beto, apressadamente, saiu do lugar e foi para outro lado. Mais dez minutos, outra mudança, assim sucessivamente até o final da pescaria.
Resultado; Marcos pescara dois bagrinhos miúdos e Gilberto, nada.
Como era de se esperar; Marcos, meio desconfiado, resolveu perguntar ao “grande pescador” o que havia acontecido.
Ao que Gilberto, prontamente, respondeu que eram problemas com a isca...
Passando uma semana, Marcos resolveu desafiar Gilberto a uma nova pescaria. Dessa vez não iria mas colocara uma meta para Gilberto, que trouxesse pelo menos dois bagres e se daria por satisfeito.
No final da madrugada, eis que Betinho aparece da aventura. Todo enlameado, com a roupa em petição de miséria; mas trazendo, orgulhoso, uma grande coleção de bagres, mandis, cascudos e, para espanto de Marcos, algumas dezenas de lambaris e acarás.
“Espera aí, Gilberto; que isca é essa que você usou que conseguiu pescar até lambari de noite”. Para os não aficcionados, lambari e acará são peixes diurnos...
Gilberto, todo orgulhoso, falou que, daquela vez, tinha acertado na isca e que isso era segredo.
Em posse dos dez reais apostados, Gilberto saiu todo serelepe.
Mas, depois de uns quinze dias, a isca milagrosa de Gilberto foi descoberta.
Descoberta e bem punida. A tarrafa foi apreendida, junto com a peneira.
Marcos está até hoje cobrando os dez reais da aposta...

Versificando - Redondilhas

Amo-te tanto, querida;
É sublime, amar-te assim,
Não concebo despedida,
Te quero sempre, pra mim.

A vida não me negaria,
Pois, tanta felicidade,
Minha maior alegria,
Poder te ter, de verdade...

Minha amada, doce canto,
Em tua boca traduz,
Tanta luz e tanto encanto,
Tudo, em ti, me seduz...

Quero um momento contigo,
De poder me confessar,
Não quero mais o perigo
De viver sem te amar...

Meus segredos? Sabes todos...
As esperanças também,
Não me permito os engodos
De viver sem ter alguém.

Quero, portanto teu beijo,
Quero carícias sensíveis...
És, portanto, meu desejo.
Os lugares mais incríveis...

Contigo, não temo a morte,
Nem a espero, contudo
Não quero perder a sorte,
Te perdendo, perco tudo...

Minha pobre namorada,
Minha rica companheira,
Companhia nessa estrada,
Minha paixão derradeira...

Agradeço tanto brilho,
O que emites para mim,
Te persigo, lindo trilho,
Perfumado de jasmim...

Nos cabelos tão macios,
Nos teus olhos tão bonitos,
Eu me prendo nos teus fios,
Amores mais infinitos...

sextilha

Minha luz, senda e seara,
Andaluz anda Luzia,
Tento e nada me separa,
Travestido novo dia.
Sem temer teu paradeiro,
Buscando no mundo inteiro.

Mares, não serei, serão...
Nas marés, as ventanias
Sempre só, na solidão,
Lhe darão as valentias,
Nunca tão verdadeiro,
Meu mundo, sendo o primeiro...

Vi, embora, não vivi,
Nem quis crer em tal poema,
Do pouco que, louco, vi,
Na vírgula, cada trema,
Esbarrando no certeiro
Salto, mais que verdadeiro;
Derradeiro...

Sextina

Meu barco, navegando na saudade,
Meu tempo transportado para vida.
Percebo que tu foste crueldade,
Não quero a juventude assim, perdida.
Nem temer essas ondas, tempestade,
Nem saber dessas dores, despedida...

Nesse momento exato, despedida.
Numa cruel malícia da saudade,
Tombando na primeira tempestade...
Perdendo a cada dia, minha vida,
Que me traz , toda noite, nau perdida,
Sem sentir, vou vivendo a crueldade,

Não quero nem concebo a crueldade,
Trazendo-me essa amarga despedida,
Do que me restou, lágrima perdida...
Deixando tão somente essa saudade,
Que foi a marca expressa em minha vida.
A morte rememora a tempestade.

Buscando pel’amor na tempestade,
Temendo, simplesmente, a crueldade;
A de nunca, jamais, amar na vida.
A cada dia, nova despedida.
Meu peito vai sangrando tal saudade.
Nem quero te rever, estás perdida,

Meus versos, que te fazem tão perdida,
Quero mesmo salvar, na tempestade,
Bem antes que traduzas em saudade.
Não quero perceber a crueldade
Bem antes que isso seja despedida,
O maior amor, toda a minha vida...

Querendo conhecer, de tua vida,
Saber que tu andaste, tão perdida,
Pois sabes, dos amores, despedida,
Tão sem rumo, enfrentando a tempestade,
Tuas dores, amores...Crueldade.
Por isso, me matando de saudade.

Amor, tanta saudade nessa vida,
Parece crueldade, traz, perdida,
Qual fora tempestade, despedida...

Tucanolândia - capítulo 33 - A melhor saída


Esses professores reclamam de barriga cheia.
Isso é uma verdade insofismável, ainda mais em Tucanolândia, principalmente na província de Saint Paul.
Imaginem o que é gastar 30 por cento do orçamento de uma província em Educação, mesmo que sejam os 33% que Dom Gerald afirma.
Não contentes com isso, esses deputados provinciais estão ficando malucos.
Imaginem só o que significa aumentar em quatrocentos e setenta milhões de reais a já polpuda fatia que vai para os ensinos superior e técnico.
Nada mais lúcido do que nosso querido Dom Gerald cortar, para o bem de todos, esses gastos.
Assim, como poderia sobrar dinheiro para coisas muito mais salutares e inteligentes, como salvar bancos quebrados, por exemplo.
O povo vive é de pão e não de caneta. Tenta ver se você consegue comer um lápis ou um caderno, não vai dar boa digestão não.
Aliás, intragável é esse pessoal que vive dizendo que a saída do país é a educação; qualquer analfabeto sabe que a melhor saída é Nova York...

Entardecer - Soneto

Percebo nos teus olhos, tanto frio;
Certezas, já não tenho, nem as sei.
Amores são segredos, vou vazio,
Lembranças desse tempo em que fui rei.


Agora, que não temo mais, vadio.
Confesso que não penso e nem pensei,
Em meio a temporais, inunda o rio,
Por onde tantas vezes naufraguei...


Não quero nem sentir meu pensamento,
A verdade doída me maltrata,
Velhice vai chegando, meu tormento,


Nem posso reclamar da vida, ingrata,
Nem posso maldizer, um só momento.
Prazer que não reluz, hoje me mata…

Non sense

Minha manhã, ascendida,
Dividida entre marcas e maçãs,
Nas vãs vagas, vazias vozes,
Nas nozes e avelãs.
Temo o tempo sem tempero,
Tento o tanto que não canto,
Nas vãs vagas, vazias vozes,
Nas nozes temporãs.
Quero o gosto do agosto,
No gesto que empresto, terçã.
Nas vãs vagas, vazias vozes,
Nas nozes tão malsãs.
No medo, segredo e sina,
Que meu degredo defina
Nas vãs vagas, vazias vozes,
Nas nozes das tecelãs.
No sabor sabia senda,
Me rendo e merendo, venda.
Nas vãs vagas, vazias vozes,
Nas nozes dessas manhãs.
Tanto disse nada falo, me calo,
Mas não me apego.
Vou, sou, cego.
Minas vozes vãs, vazias soam,
Somam e não definem.
Calas e me chamas à luta,
Me enluto e não respondo,
Quero seguir compondo,
Pondo os olhos em outras, vãs.
Como se pudessem todas as nozes,
Serem as vozes, dos amanhãs...