segunda-feira, fevereiro 22, 2010

25343

Se eu faço ou se desfaço que me dane,
Não tô mais pra ficar bancando o besta,
Mulher botando chifre em minha testa
Amor há muito tempo entrou em pane,

E quando esta desgraça se faz pouca,
O pobre está fodido e nada vê
Aonde se procura algum por que
A vida vai ficando bem mais louca,

Na toca do leão enfio a cara
Embora não me chame Daniel,
Não quero nem saber se existe Céu,
A porca torce o rabo e me escancara

Eu sei que a vara é curta, mas cutuco,
Pior do que o Raul; estou maluco.

25342

Tomando uns graus nos bares desta vida
Enchendo a minha cara de cachaça
Aonde teve fogo tem fumaça
Eu faço coisa até que Deus duvida,

Pegando este capeta pelo rabo,
Na sogra dou pancada e pescoção,
No sogro um pontapé no seu culhão
Depois neste forró, eu já me acabo,

Cansado de lutar contra a maré,
A vida já me deu cada rasteira
Não vou ficar aqui mais de bobeira,
Com essa minha cara de mané,

Depois de ser romântico e gentil,
Mandei a lua à puta que a pariu.

25341

Maria; eu preparei uma surpresa
Parece que você vai adorar,
Depois de tanto tempo trabalhar,
A vida com certeza uma dureza

Cansado deste mundo de pobreza
Eu acertei deveras no milhar,
Agora vou poder só passear
Fartura vai sobrar em nossa mesa.

Você vai fazer pose lá pro Orkut
Não vou mais fazer parte nem da CUT
Agora vou virar novo burguês,

Contrata lavadeira, passadeira,
Babá, um jardineiro, cozinheira
Amantes? Só lourinhas quero três!

25340

Melhor ser sanguessuga que operário,
Viver nas mordomias deste Estado
Bondoso guardião não vê pecado,
E ganha a cada dia um honorário

Maior do que o deveras necessário
Durante tanto tempo andando inchado
Enquanto o pobretão vive enrabado
Comprando um celular no aniversário.

Não quero ser escora nem escória,
Mas sei que é bem melhor cantar vitória
Do que ver empenhado os meus proventos,

Não posso correr contra a ventania,
Locupletando um pouco a cada dia
Espero todo mês novos aumentos.

25339

Jazigo da esperança, a realidade
Há tanto se disfarça em riso audaz,
O beijo traidor me satisfaz
Enquanto qualquer sonho ainda agrade.

Mas tomo esta cachaça vagabunda
Fingindo ser uísque paraguaio,
E quando noutro instante ainda caio,
Ralando o meu nariz, a perna e a bunda

Telhados são de vidro, sim senhor,
Mas dane-se quem pensa que me engana,
A moça se fazendo de bacana
Coloca a perereca no penhor,

E vende como fosse verdadeira
Mercadoria falsa, de terceira.

25338

Reveses que esta vida sempre traz
A quem batalha tanto e não consegue,
Um burro leva a carga, pobre jegue
Enquanto a burguesada se compraz,

Aonde a vaca for, o touro atrás
Jamais se permitindo que inda pegue,
A fonte já secou, e o mundo segue
Sem ter um só momento feito em paz.

Prefiro ser machado, pobre sândalo
Expondo-se à facada de algum vândalo
Ainda qual babaca dá perfume,

Capim sendo abundante mata a fome,
Depois quem ruminou vazando some
E o pobre se transforma em rico estrume.

25337

Vamos fazer então vasectomia,
Depois é só ligar as tuas trompas,
Aonde houvera outrora raras pompas
Miséria se transforma em dia a dia,

Por mais que a gente tenta e fantasia
E nestas ilusões ainda irrompas,
Com essa ordem vigente nunca rompas
Senão só restará u’a nostalgia

Dos tempos de menino onde corríamos
Libertos pelas ruas e calçadas
Decerto minha amiga não sabíamos

A que ponto chegasse humanidade
Multidões cabisbaixas vão caladas
Enquanto prolifera a iniqüidade.

25336

Espora na cacunda do sujeito
Faz sempre o desgraçado trabalhar,
Se não fizer assim nunca tem jeito
Escravo gosta mesmo é de apanhar,

Enquanto com chicote eu me deleito,
Nas costas do babaca a maltratar
O que parece ser algum defeito
É o que faz a banda desfilar.

Na força desta tal caricatura
Verdade com certeza se afigura,
E assim pensa deveras quem domina,

Depois na missa finge ser cristão,
Renova a cada tempo a escravidão,
Inesgotável fonte, imensa mina.

25335

É melhor ser cavaleiro que cavalo
Assim sempre pensou a humanidade
Vivendo com certeza esta verdade,
O pobre do infeliz ora avassalo,

E quanto mais desejo enfim montá-lo
Por mais que o escravizado ainda brade,
Adorando o chicote, algema e grade,
Também quer qualquer dia virar galo,

O pinto quando pia bem fraquinho,
A primo canto eu vejo este galinho
Já preparado enfim para a panela,

Mas dê alguma chance pro coitado,
Depois vai vê-lo enfim empoleirado
“Poder nunca corrompe, só revela”.

Como dizia o Frei Betto.

25334

Como dissera um tal Guerra Junqueiro
O Padre Eterno há tanto envelheceu
Enquanto toda a corja envileceu
A culpa com certeza é do dinheiro,

Do amor o mais sublime mensageiro,
Aquele bom sujeito, este judeu
Que o mundo há tanto tempo conheceu,
Da casa de Davi, real herdeiro

Somente por ter sido muito além
Da podre sociedade, não convém
Falar em alto tom, pois na verdade

Ainda se vendendo num balcão
O que se fez em GRAÇA E SALVAÇÃO,
Que a Santa Inquisição já nos resguarde.

25333

Picardias em pleno picadeiro,
Vestindo de bufão, povo idiota,
O bloco do moderno ou do janota
Movido por cangalha e por dinheiro,

E quando da verdade assim me inteiro
E falo o que desejo além da cota,
A roupa de palhaço se amarrota
E acaba toda a tinta do tinteiro,

Balança, mas não cai, o trapezista,
A puta vê na grana do turista
A cara do Brasil, imensa bunda.

Imposto se traduz em ladroagem
Dos tempos de Jesus a sacanagem
A cada geração mais se aprofunda.

25332

Ouvira do Ipiranga a ladainha
Dos marginais que antanho são modernos,
Disfarçam-se nos belos, caros ternos,
E a praga se espalhando assim daninha,

A cada novo dia mais continha
A fome insustentável dos infernos,
Repetem os exemplos dos externos
Ou exportam deveras podre linha.

Corruptos, corruptores são parceiros
E os pobres assaltando galinheiros
Pagando pelo pato magricela,

Aonde uma verdade se disfarça
Quem tem uma elegância feito garça
Comendo o milharal, não se revela.

25331

Barriga de ricaço, insaciável
Terríveis com certeza tais glutões,
E quando esta verdade agora expões,
De novo a história mostra o inevitável

Aonde existe otário o descartável
Alimentando o fogo das visões
Espalham por imensas plantações
Enganações de um jeito palatável,

A culpa de tamanho desvario,
É sempre de quem berra e o desafio
É se calar defronte a tal desmando,

Aonde se pensara solução
Tem gente que abusando do perdão
Articulando a fúria em contrabando.

25330

Usurários e avaros agiotas
Fazendo da trapaça o ganha pão
Futuros dias logo mostrarão
Verdades tão modernas e remotas.

Seja nas capitais, nas vilas, grotas,
A história repetindo este refrão,
Aonde existe gente tem ladrão,
Dividem cada saque em fartas cotas.

Antigamente assalto era à tacape
Desta verdade sei que não escape
Aquele que trabalha honestamente,

Pior quando nas mãos das governadas
As armas pelas leis são resguardadas,
Lutar contra esta súcia, nunca tente.

25329

O mundo desfilando os mesmos traços
Refaz a cada dia velharias
E nelas quão soberbas horas vias
Enquanto nos pintávamos, palhaços,

Aonde se fizeram torpes laços
Os casos se refletem nas orgias
Desfilam em hereges sintonias
Homens honestos sempre tão escassos,

Assenta-se a verdade em qualquer era
E quanto mais o povo ainda espera
O bem que não virá, a corja engorda,

Comendo da carcaça do plebeu,
Assim desde que o mundo em vão se deu
Só varia o tamanho desta corda.

25328

Cedendo mansamente aos teus encantos,
Jamais resistiria a tanto amor,
E quanto mais audaz a gente for
Os dias mostrarão mais belos cantos

E neles com certeza me envolvendo
Retendo em minhas mãos a claridade,
Que agora como sempre quando invade
Inteiro o pensamento percorrendo,

Atrozes descaminhos? Não mais vejo
Tampouco as intempéries que vivemos,
E quando novos rumos conhecemos,
Sabemos desfrutar cada desejo,

E assim na eternidade deste sonho,
O mundo mais feliz, quero e componho.

25327

Que bom saber da glória deste Fado,
Depois de tantas lutas, desavenças
Ainda manter vivas nossas crenças
Deixando o sofrimento no passado,

No dia com fulgor iluminado,
As horas de prazer serão imensas,
E nelas com certeza ainda pensas
Soltando o coração intenso brado,

Vivenciar a glória a cada dia,
E nele toda a sorte se desfia
Gerando um carrossel de luzes fartas,

Só peço que das dores, dos anseios
Esgote com fervor, doridos veios,
E destes dissabores tu te apartas.

25326

De ser assim, teu par e namorado
Depois das desavenças, tantas brigas,
Espero que deveras já consigas
Trazer os nossos rumos lado a lado,

Por mais que eu reconheça estar errado,
As nossas malquerenças tão antigas
Envoltas em fantasias ou intrigas
Traduzem um caminho abandonado

Há tanto traduzindo o disparate
Por mais que ainda volte e nos maltrate
Não cabe mais na vida que hoje ostentas,

Sentir os dissabores de outras eras,
Alimentando assim tolas quimeras
É como alimentar vis feras, violentas.

25325

Cortando, penetrando devagar,
Gerando as dores tantas que ora trago,
Vivesse pelo menos algum trago
Do quanto quis e nunca soube dar,

Percebo em vagas luzes o luar
Que outrora fora imenso, doce e mago,
Se os olhos no passado ainda trago,
Talvez seja preciso repensar

E ver que sempre existe algum futuro
Mesmo que nos pareça mais escuro
Ou tanto dolorido que não possa

Servir como parâmetro preciso,
Mas quando a dor invade sem aviso
Irônica ilusão transborda em troça.

25324

Dilacera, sangrando esta navalha
Que há tanto se fizera companheira,
Quem traz uma esperança passageira
Por velhos descaminhos não atalha

A vida se perdera sem ao menos
Teimar em perceber alguma chance
E tendo a fantasia que se alcance
Momentos podem ser bem mais amenos,

Fragilizado então, perdendo o prumo,
Vasculho nas gavetas e não vejo
Sequer a sombra amarga de um desejo
Que agora, pós tempestas, logo assumo,

Não deixe que esta luz se apague agora,
No instante em que esperança em vão se ancora.

25323

Triscando a melodia do vagar
Encontro; refletida a velha imagem
De quem ao se perder nesta paisagem
Permite uma miragem desvendar,

Escolho descaminhos variados
E neles perpetuo os meus engodos,
Momentos de prazer? Queria todos,
Angústias penetrando pelos lados

Espalham dissabores, mas persigo
Ainda algum alento; mesmo pálido,
E o quanto se quisera bem mais cálido
Traduz ora somente o desabrigo,

Versejo sobre velhas melodias
Em partituras toscas que recrias.

25322

Meu tempo, contratempo, Deus me valha
espúrias madrugadas, dias frios,
Não posso mais pensar nestes vadios
Momentos sempre ao fio da navalha,

E quando a realidade me atrapalha
Acendo da esperança os seus pavios,
E teimo em perceber nos desafios
A fúria que deveras já se espalha

Tomando este deserto que ora habito,
Rondando o meu caminho, e estando aflito
Esgoto minhas forças nesta luta

Inútil, disto eu sei, mas não desisto,
E quando em tal batalha ainda insisto,
O sonho uma alma audaz busca e recruta.

25321

Se quando estou vagando bar em bar
Na busca de talvez algum alento
Sentindo no meu rosto, o manso vento
Bebendo da esperança de um luar

Eu creio na alegria a me tocar
Roçando minha pele, e o pensamento
Mantendo o meu olhar bem mais atento,
No intento de deveras me encantar

Com toda a sutileza de um amor
Que há tanto procurara sem sucesso,
Mas quando solitário estou regresso

Ao nada que deveras muda a cor
Do sonho iridescente de um poeta,
Que apenas noutro sonho se completa.

25320

Comércio feito em nome do Cordeiro
Que tanto nos amando em holocausto
Se deu e neste instante, duro infausto
Traduziu farto amor, mais verdadeiro,

Agora a cada esquina um vendilhão
E nele se reflete a gula imensa,
O crime em nome Dele, já compensa
Transforma qualquer farsa em oração.

Vergonha assola a tosca humanidade
Na busca de saúde ou de fortuna
Corrupta canalhice coaduna
E faz do Amor sublime falsidade,

Antigamente à porta de algum templo,
A corja dentro dele, hoje contemplo.

25319

O Amor que desmedido diz do quanto
Amortalhando às vezes trama a cura
Além do que deveras me amargura
Promete ser além do simples canto

Por vezes solitário desencanto
Mergulho nesta noite vaga e escura
E sinto tanta dor que me amargura
Gerando angústia e mesmo dor e pranto;

Mas sei que na verdade quero e gosto
De quem mesmo que cause algum desgosto
Expõe no olhar volúpia em fúria insana

O verso se mostrando em contra senso
Traduz por muitas vezes o que penso
E nisto satisfaz e desengana.

25308 a 25318

Vivera o grande amor e não pensara
Que tudo tendo fim, também as acaba
O sonho que deveras já desaba
Turvando uma água outrora mansa e clara,

Assim a realidade se apresenta
E o tempo consumindo a fantasia
Devasta e nada após se mostraria
Mudança radical, por vezes lenta

E o passo que se dá rumo ao futuro
Encontra os pedregulhos naturais,
Depois vem o sabor do nunca mais,
E quando em voz sombria eu me amarguro

Pensando ter deserta esta esperança,
Um novo amanhecer, o amor nos lança.


2


Viver desta emoção as variáveis
Que possam nos trazer dor e alegria
E quando nela mesma se recria
Momentos de prazer ora alcançáveis

Vislumbro novos tempos adoráveis
E sei que o quanto a vida impediria
Um passo mais audaz; melancolia
Traçando descaminhos intragáveis.

Herege companheiro do não ser,
Astuciosamente; o desprazer
Engana enquanto beija e nos encanta.

Audácias se perdendo no vazio,
Sem nada em minhas mãos, aguardo o estio,
E um pássaro agoniza enquanto canta.


3


Os sonhos mais gostosos de sonhar
Perdidos numa noite de verão
Somente vãs tristezas mostrarão
A quem não aprendera a navegar

Distantes oceanos, perco o mar
E vivo na completa solidão
Angustiadamente sinto então
O mundo neste instante desabar.

Houvera uma esperança que, ilusória
Trouxera um falso gosto de vitória,
E agora sem ter nada em minhas mãos

Percebo quão difícil ter certezas
E ao enfrentar diversas correntezas,
Os sonhos que eu tivera, todos vãos.


4


Buscando, no luar, ser o que sou,
Apenas um fantasma perambula,
E traz no seu olhar a imensa gula
De quem por tanto tempo imaginou

O mundo bem diverso do que agora
Desnuda-se defronte ao seu olhar,
Cansado de tentar e de lutar,
A morte salvadora não demora,

Bebendo da ilusão em farta dose
Um tétrico fantoche, um vil bufão
Percebe quanto a vida foi em vão,
Por mais que a fantasia ainda goze

Espalha pelas ruas seus retalhos,
Já sabe do sofrer vários atalhos.



5



Reflito tanto amor, mas vou sozinho
Nas ânsias tão comuns de um sonhador,
O peso tão diverso deste andor
Às vezes em tempestas ou carinho

E quando deste rumo, descaminho,
Não tendo nem sequer por onde for,
Do quanto imaginara bela flor,
Apenas vislumbrando cada espinho,

Acrescentando o nada à minha vida,
A sorte há tanto tempo vã, perdida,
O que resta de mim, puro abandono.

E quando da esperança algum reflexo
Encontro; sem certezas, perco o nexo
Somente do vazio enfim me adono.


6


O quanto eu desejara se resume
No quase acontecer que me persegue,
Enquanto a fantasia sempre negue
Não tenho da esperança o seu perfume,

Aonde imaginara raro lume,
A luz em tom sombrio já renegue
Caminho que talvez inda sossegue
O coração de um tolo, que se esfume

Em vária caricata face escusa,
Ousando ser além que a paz conduza
E possa ter nos olhos florescência

Diversa desta opaca estupidez
Que agora se mostrando de uma vez,
Levando pouco a pouco à vil demência.



7


Amante sem ter cama, sem ter ninho
Voluptuosamente em sonhos, vago,
Mas quando me percebo sem afago
Seguindo para a morte; assim sozinho

Encontro alguns resquícios do que fora
E vejo que vivi, mesmo que pouco,
Andara em descaminhos feito um louco
Uma alma muitas vezes sonhadora,

A juventude ao longe, o fim por perto,
Não quero o sofrimento, sigo só,
Da imensidão da estrada, ledo pó,
De tanta turbulência, ora o deserto,

Mas fui feliz e basta; no último ato
Da peça feita em vida o que retrato.


8



Servindo de repasto para a dor
Um velho coração se desatina
E sabe que afinal em triste sina
Imagem retratando o sonhador

Seguindo sem destino aonde for,
Passado dia a dia determina
A seca que deveras mata a mina,
Negando o nascimento desta flor

Que outrora fora apenas esperança
E quanto mais a vida segue e avança
Percebe-se a aridez do chão inglório,

Não tendo mais por que ainda explore-o
O solo que deveras quis fecundo
Somente em vãos abrolhos, ora inundo.


9


Vivendo sem ter cálice nem vinho
Não posso mais brindar à sorte insana
Que tanto me acarinha quanto dana
Deixando-me deveras tão sozinho,

E quanto mais audaz o passo eu tento
Maior a queda, eu sei que não valera
Sequer saber da rara primavera
Moldada nesta teia, sofrimento.

Astuciosamente a vida trama
Momentos que decerto não saciam,
E os olhos num instante se desviam,
Deixando para trás a intensa chama

Que um dia norteara uma existência,
Agora só restando esta inclemência.



10


São tantos que naufrago nesse mar
Perigos entre as ondas e tempestas
O quanto de carinho ainda emprestas
Permitem este sonho navegar,

Procelas e borrascas a enfrentar
Não deixam claridades, meras frestas
E nelas ilusões que enquanto gestas
Tramitam entre céus; louco vagar.

Às vezes acredito que algum porto
Exista, mas sabendo o quão absorto
Meu passo em meio aos vários temporais

Escusas madrugadas, noites frias,
E enquanto mais distante; fantasias,
Restando inacessível qualquer cais.



11


Amores mal vividos, qual mortalha
Vestida pelo tolo caminheiro,
Aonde se pensara verdadeiro
Apenas ilusão fria navalha,

E quando em cada espaço a dor retalha,
Não deixa nem sequer ainda inteiro
O sonho muitas vezes mensageiro
No qual a realidade ainda atalha

Mudando a direção dos ventos, vejo
A sombra inusitada de um desejo
Inconseqüente rumo que ora tento,

E numa ansiedade sem limite
No tanto quanto quero que acredite
Esqueço por momentos, sofrimento.