terça-feira, novembro 14, 2006

Sons marinhos trazidos pelo vento,
O canto das sereias inebria...
Impuro, procurando o sentimento
Jogado pelo amor nesta água fria,

Encontro nas falésias que rebento
Razão fundamental desta alegria,
Final deste meu tolo sofrimento:
O rastro da sereia-fantasia!

As andorinhas voam e gargalham,
Se rindo deste pobre sonhador...
Distantes, os golfinhos já se espalham

Ao largo do oceano em calmaria...
O rastro da sereia em estupor,
Os pés da minha amada, encontraria...
Crisaldálias e jasmins, nosso jardim...
As crisálidas presas, borboletas
Prometidas. Guardado tudo em mim,
Estrelas, meteoros e cometas...

Ah! Porque foste embora? Vou assim
Como presas crisálidas, repletas
De esperanças. Mas nada mais, enfim...
Inda são borboletas incompletas...

Eu quero liberdade em pleno vôo,
Quero poder sentir o manso vento.
Meu canto livre pelos céus escôo...

Mas a garganta fecha e nada sai...
Escravo, liberdade é pensamento
Simplesmente. Saudade nunca vai...
Sonho terrível, sangue e podridão!
Nas ruas vermes loucos e famintos
Devoram, não permitem solução,
A noite e seu fantasma aperta os cintos,

Forte vento em total destruição
Os olhos marejados morrem tintos,
Toda terra, efeméride vulcão,
Destroçada, resquícios indistintos...

Sobre mar flamejante vejo um vulto
Caminhando, flutua simplesmente...
A voz distante, quase não ausculto...

Neste mesmo momento, um manso brado...
O sonho se desaba num instante
Olhos abertos, vejo-te ao meu lado...
Mocidade terrível fantasia,
Que nos leva a loucuras e delírios!
Dores e fantasmas numa orgia
Misturando cegueiras e colírios.

Vagando entre mistérios forja o dia
Amiga iluminada dos martírios.
Vencida nunca morre a maestria
Saber que podres águas brotam lírios...

Nascente de fantásticas canções,
Trazendo chocolate tão amargo;
Multiplicam temores, aversões.

Ri-se do que jamais soube enfrentar
E chora, do que sempre passa ao largo,
É noite que promete seu luar...
Não me peças perdão, nunca perdôo.
Meus dias em revoltas, contra-sensos,
Sou pássaro que nunca alcei teu vôo,
Os pesos nessas asas são imensos...

Somente meus martírios sobrevôo,
Nas mãos que não me afagas, brancos lenços,
Teus barcos e fragatas abalrôo
Em meio a procelares mares densos...

Não me peças perdão, isso é difícil,
Em todo o dicionário, esse verbete
Arrancado, queimado e fictício.

Mendigando por luas que perdi,
Nas mãos não mais carrego meu barrete,
O mundo do meu sonho está em ti!
Tua beleza nua no meu quarto,
As mãos se carinhando tatuagem...
Uma força inaudita, essa visagem.
Quero, depois de tudo, morto, farto,

Usufruir prazer igual ao parto.
Explodir em orgasmos, na viagem
Deliciosa, margem contra margem,
Sabendo: solidão fera, descarto...

Aconchego de braços e prazer.
Sorrisos e cansaços, santa benção!
Neste solar momento, me deter...

Na nudez que desfilas, meu regresso
Ao mundo divinal, pleno de unção!
Estrelas que derramas, já tropeço!
Amores e suores, ruas e estrelas
As cordas soltas do violão
Liberdade e esperança.
Versos meus não são lanças,
Mas sangram...
Quem me fez assim?
Fim e precipício
Queria ser início, nem indício...
Indicio meu amor com palavras vãs.
Espero a feliz cidade que ano que vem e nunca vime...
Vi-me esteira e cais, caos...
Nascendo de suores e prazeres,
Deve ser por isso que a vida pesa, preza e não completa...
Reta e meta que me remetam ao final do caos, à fênix...
Egoísta, sim, eu sou profundamente.
Mente profunda, em profusão... Minto mesmo e dane-se!
Cosmo e cais, castidade e castiçais.
Sais de fruta que ninguém é de ferro.
Ferro de Carlos, nas almas...
Mineiro, sou mineiro e matreiro, como todo mateiro...
Minhas fontes e farsas, fomes e fornalhas, são versos e vermes. Veros vermes...
Quero um vermífugo, preciso expirar. Êxtases e estases, canção...
Cigarros e cigarras, primaveras e fumo, me esfumo no ar...
Alma e álamo. Alameda.
Amêndoa e olhos, carinhos, vem prá cá
Que a noite urge, o tempo urge, a vida urge... A morte ruge
E ronda...
Solidão, amiga, amiga, amiga, amiga...
Amanhã irei a Marte, quem sabe à morte
A minha norma é sempre ir, ir , ir.
Ir ermo, eremita e ermitão,
Ereto e retrátil.
Táctil e tétrico.
Métrico e Martinis...
Por incrível que pareça, não bebo, não bato, não firo, não caio...
Não saio e nem saia...
Faz tempo, saias e searas...
Cios e sombras..
Sou o contrário do que quis e não querias.
Sou marceneiro e macerado...
Carpinteiro e carpido,
Sou o fado, o resto deixa pra lá...
Mas te amo, sinceramente te amo, embora não vieste,
Embora não te toque nem existas.
Resistes. E resisto.
Desistes?
Não desisto!

Geórgia: Agricultora

Um grito forte ecoa no meu peito.
Estrela amiga minha, redentora!
O verso que procuro, mais perfeito,
Espelhando teus sonhos de cantora
Adormece buscando-te no leito
Constelar. Quero amar quem já se fora
Cavalgando por mundo. Contrafeito,
Brado-te pelos céus, ó salvadora!
Tropicais paraísos em teus dedos,
A mão que reproduz, fecunda a terra,
Dispondo de fantásticos segredos.
No horizonte meus olhos, um sinal,
Procuro por teus rastros, mata e serra...
Vou te buscar, Geórgia, neste astral?

Gabriela: Força de Deus

Liberdade! Cantando suas lutas,
Suas marcas, ferozes cicatrizes,
As dores e torturas, fortes, brutas...
Os tempos transcorridos, infelizes...
Os homens e seus gritos, não escutas,
As cores vão mudando seus matizes
As penumbras noturnas, duras grutas...
Liberdade sangrando, tantas crises...
Esperança, entretanto, já ressurge
Nos olhos amantíssimos, serenos...
Minha felicidade plena turge
Em braços carinhosos se revela.
Nestes braços amigos, bons, morenos,
Da lua que sonhamos, Gabriela!

Francisca: Uma referência aos franceses, francesa

Coração vagabundo passageiro
De tantas esperanças vãs perdidas...
Procuro por amor o tempo inteiro,
Já não me bastariam nem mil vidas...
Na boca sequiosa, despedidas
E encontros, refazendo seu viveiro.
As noites que vivi mal resolvidas
Esperam pelo verde do tinteiro.
Esperança; poder enfim parar.
Mas alma passageira, tão arisca,
Espera veramente outro luar...
Coração, viajante vagabundo,
Cismando em procurar, no vasto mundo,
Um outro amor igual ao de Francisca!

Flora: Uma referência à Deusa da Primavera

Te cantarei canções do coração!
Naturalmente bela, estrela minha...
Nas cordas do sonoro violão,
A dor desta saudade se avizinha...
Em teus braços, serei uma avezinha
Procurando por tua proteção...
Teu amor, meu amor vem e se aninha
Meu canto está repleto de ilusão...
Cobertor dessa noite longa e fria,
Quem dera regressasse enfim, agora!
Deusa primaveril, das flores guia
Meu amor não suporta tanta espera,
Retorne então, querida, a Primavera
Só poderá chegar contigo, Flora!

Flávia: Dourada

Não quero teu amor, isso não quero.
Quem inventou amores não sabia
Que, mal nasce este amor, morre meu dia.
São versos que não faço nem venero.
Amor é sentimento cruel, fero.
Vem fazendo esta estúpida sangria,
Rasgando, maltratando a melodia.
Nada além de ilusão jamais espero!
Conheço bem promessas e mentiras...
Não quero teus carinhos, quero nada!
Esperanças cortadas, várias tiras,
O canto que prometes, não suporto!
Embora dos meus sonhos, seja porto...
Flávia, vais me cegar, brilhar, dourada!

Fernanda: Ousada, inteligente, protetora

Mais terras que percorra, não terei
Senão brilhos, olhares, e canções.
Em todos os desertos, fui o rei,
Embora nunca houvesse corações!
Procurando esta lua, descasei,
Não me deste sequer os teus verões
As terras sem destino, descansei,
Amores se explodindo em amplidões...
Meu mote falta sorte, sobra morte...
A noite que me trouxe esta ciranda,
Por certo provocando fundo corte,
Não deixa outro caminho em minha sina.
Na boca carmesim desta menina,
Amores se traduzem em Fernanda!

Felícia: Feliz

Equilibrando dores, alegrias
Respiro sentimentos diferentes.
Coração escraviza-se em folias.
Meus medos e quimeras são urgentes...
No picadeiro trago as fantasias,
Dançando sobre luas e vertentes.
As ruas prometem cantorias,
Amores sais refletem tantas gentes...
Palavra e pensamento vêm à tona.
Rodopiar da saia da morena,
A vida me promete não ter pena.
O canto que te trago, de carícia,
Nem medo nem quimera falastrona
Felicidade a se explodir: Felícia!

Fátima: Donzela esplêndida

Beija-me! Necessito teu carinho!
Meus mares e saveiros onde estão?
Meu mundo desabando, estou sozinho,
As luzes, esperanças vão ao chão...
Meu canto, engaiolado passarinho,
A noite me promete sempre o não.
Encharco meu amor, cálice, vinho...
Promessas? Só me fez a solidão!
Nos teus olhos a vida me protege,
Últimas esperanças de viver!
Destrua tal tristeza, a vil herege
Que teima em devorar meu sentimento!
Eu não tenho sequer tempo a perder
Ah! Fátima, me beije... Calmo, lento...

Fabrícia

Ah! Como dói o amor quando distante...
As horas não se passam, vida voa...
O mundo se desaba num instante
Quem dera ser feliz... Rei e coroa...
Nos olhos derramados deste amante
As lágrimas se secam. São à toa,
Jamais renascerá o radiante
Sol... Mas um girassol louro destoa...
Floresce mais teimoso neste prado.
As cores e os brilhos são farol...
Promete ressurgir vital delícia...
Quebranto e solidão meu triste fado,
Mas, entretanto a vida, um girassol;
Promete renascer, loura Fabrícia!

Fábia

Passeias pelo campo mais florido...
Os bosques e pomares, a lavoura...
Um belo olhar, puro azul, decidido,
Sob uma cabeleira trigal, loura.

O sol fica feliz por ter surgido
E em raios carinhosos já se estoura.
Nas pastagens, o sol amanhecido,
O gado, aos belos raios, também doura.

A dona desse olhar vai distraída,
Mal percebe meus olhos sonhadores.
Encontro noutros olhos, minha vida.

A natureza absorta, mansa e sábia,
Respeitando esta cena, manda as flores
Perfumarem teus passos, bela Fábia!


Fábia: Aquela que planta favas







Fabiana



Lua sobre esse pampa mavioso,
Eu ando procurando por amores.
O meu tempo passando doloroso,
Horas celestiais, campos, flores...

O céu iluminado por leitoso
Cobertor divinal, tragando as dores
No seu mata borrão mais vigoroso,
Derrama sobre o campo seus pendores...

Na guaiaca repleta, sentimentos
Mais sonhadores, levo essa esperança
Na espreita de que venham os bons ventos.

No meu coração vibrando campana
A me trazer a doçura, esta lembrança,
Tempo em que nos amamos, Fabiana...


Fabiana: Fava que cresce