sexta-feira, agosto 11, 2006

Trova

Bebi água na torneira,
No riacho me afoguei,
Se já fiz tanta besteira,
É que, menino, fui rei...

Trova

Sei do seio da saudade,
Da saudade, tão profunda,
A lua, por caridade,
De claridade, me inunda...

Trova

Beija flor, beijando a boca,
Essa boca que beijei,
Beija flor deixando louca
Tanta boca que amei

Trova

Beijando a boca da noite,
Cavalgando no cometa,
Constelações como açoite,
Montado nessa lambreta...

Trova

Rosalinda, minha rosa.
Linda rosa, na roseira.
Moça linda, mas tão prosa,
No rosal, és a primeira...

Trova

Sou mineiro, de verdade;
Demorei a ver o mar,
Quando vi, me deu saudade,
De quem aprendi a amar...

Trova

Lancei toda minha sorte,
Nas ondas do rio mar,
Mariazinha, por sorte,
Tá aprendendo a nadar...

Trova

Alameda d’esperança,
Criança corre, a brincar,
Vivendo em minha lembrança,
Vai brincando, sem parar...

Trova

Bebo a vida sem ter medo,
Posso ‘té me embriagar,
Quem quiser saber segredo,
Procure conchas no mar...

Trova

Poetando poesia,
Vivo sempre a poetar,
Quem poeta todo dia,
Conhece manhas de amar...

Trova

Vindo de triste partida,
Não pude recomeçar.
Minha sina, nessa vida,
É viver sem te amar.

Trova

Trevo entre a vida e a morte,
Na curva desta promessa,
Onde a vida teve a sorte,
Onde minha sorte começa.

Trova

Foste forte fui tão fraco,
Fracassei sem ter perdão,
Pus, na corrente, meu barco,
Embarquei meu coração!

Trova

Tempo, vento catavento,
Contratempo, vendaval.
Tento tanto, me contento,
Com teu tempo, temporal...

Fatalidade -Soneto

No túmulo da amada vejo o nome
De quem, por tantas vezes já chorei.
A dor fria, noturna, me consome...
Essa dor de saber que tanto amei!

Partindo, nada fica, tudo some;
Na poeira atroz, restos do que sei.
Da solidão vertida, resta a fome,
Dum mundo mais feliz, onde essa lei,

Que faz perder a vida de quem ama,
Que faz sofrer assim, por tant’amor,
Vivendo agonizando, velho drama...

Oh! Meu Deus, me perdoe, por favor,
Não deixe que a saudade crie fama,
E não deixe a minha’alma a ti s’opor!

Felicidade - Soneto

Quando te vi; cansada viajante,
Eu nunca poderia adivinhar,
Que, na vida, tu foste tão constante.
Embora nunca pude te encontrar...

Eu bem sei de teus passos; errante
Companheira noturna do luar.
Sempre perto, sentida tão distante,
Navegante de todo céu e mar.

Amiga, bem tentei te conhecer,
Pois nunca me mostraste tua face,
Não pude nem querer saber por quê.

Pois só me permitiste teu disfarce.
Lutando, conheci só o perder,
Enfim, felicidade vem atar-se!

Fantasma - Soneto

Teu fantasma rondando a minha cama,
Ouço tua voz, tétrica, me chama...
Bem que tento fugir, mas não consigo.
Pois me persegues tanto, estás comigo;

Desde o primeiro instante, feito chama
Que me queima, me fere, enfim, inflama.
Eu muito te conheço, és um perigo.
Bem sei de ti; jamais, contudo, digo.

Se és amiga, convives, companheira.
Mas quando me maltratas, sem perdão,
Dilacera o que fora vida inteira.

Eu conheço teus passos nesse chão,
Na minha vida sempre, verdadeira,
Foste minha parceira, SOLIDÃO!