sábado, março 06, 2010

25533

Na cama do hospital pensava em ti
Distante dos meus olhos, solidão.
E quando chega o tempo, a decisão
Deveras muitas vezes me perdi,

E tendo todo mundo bem aqui
Guardada uma devida proporção
Enfronho nos meus olhos a emoção
E dela sem perdão eu me embebi.

E a morte se aproxima dos meus dias
E nela se deixando as utopias
Somente a poesia me acompanha

E o gesto palatável diz amor
Mas quando vejo o rosto sedutor
Da morte já concluo a minha sanha...

25532

O mundo bem depressa modifica
As ordens naturais e transformando
O que pensara outrora bem mais brando
Agora se não luto, mortifica

E tudo transcorrendo não explica
O medo sobre nós já desabando
E o todo a cada dia mais pesando
A teoria aqui nunca se aplica.

Imprevisível passo leva à queda
E quando noutras tramas vida enreda
Percebo quão inútil deve ser

Quem tanto se perdendo em nada crer
No abismo feito em trevas já mergulha
E não vê da esperança uma fagulha...

25531

Com olhos dispersivos, me perdera
Do rumo já traçado em poesia
E a sombra do passado ainda urdia
Matando o que esperança concebera.

E o vento benfazejo de um sorriso
Ameno transformando o gelo em brisa,
Maturidade chega e já me avisa
Do passo necessário e mais preciso.

Vestindo esta emoção que é temporã
O amor rompe barreiras e, acredite,
Não respeitando enfim qualquer limite
Promete um sol imenso na manhã

Legado que pretendo cultivar
Imerso neste encanto a me tomar...

25530

Agora que me chamas também tento
Buscar esta esperança que perdi
E dela redundando sempre em ti
Olhar tão carinhoso e sempre atento,

Vencer os dissabores, meu intento
E deles traduzir melhor aqui
Num verso demonstrando o que senti,
Após um tempo amaro e turbulento.

Estando solitário e a depressão
Negando nos meus olhos um verão
Incendiando em fúria cada dia.

E nele a rotineira dor traçava
Numa alma sem destino e quase escrava
A morte do que fora poesia...

25529

Assisto ao derradeiro sonho que alimento
E vivo entre as neblinas, noites fartas
E quando dos teus dias me descartas
Deveras assumindo o meu tormento.

Assíduas ilusões e o pensamento
Jogando sobre a mesa as mesmas cartas
Dos âmagos profanos nunca apartas
Quem tanto se envolveu em sofrimento.

Perfaço o meu caminho em falso passo
E quando dos meus erros me desfaço
Não traço soluções, apenas sigo

E nesta invalidez uma alma insana
Medonha caricata tanta engana
Sonega ao penitente algum abrigo.

25528

Um mar feito em sargaços e corais
Distintas cores traçam o oceano
E quando se percebe cada engano
Os dias em procelas são venais.

Vagasse por espaços, siderais
Momentos em que vejo o ser humano
Na mórbida impressão de perda e dano,
Vislumbro atocaiados animais

Vorazes e insensatos neste bote
Aonde a mortandade se denote
Por tanta estupidez e vilania.

Porém esgoto pútrido e feroz
Ouvindo mais distante a sua voz
Covardia se torna valentia...

25527

Sequer estrela pálida percebo
Na treva que tomando a minha vida
Há tanto em fúria imensa decidida,
Diversa da esperança que concebo.

Eu sei que novo sonho é um placebo
E a cada amanhecer outra ferida
Expressando uma noite mal dormida
E da aguardente amarga – amor – eu bebo.

Pudesse ter nas mãos o meu destino
A faca, a foice, o tiro em desatino
O medo escancarando este delírio

E vendo tão somente o que hora herdei,
Vazio que deveras encontrei
Traduz sem ter retoques meu martírio...

25526

Das noites que brumosas eu enfrento
Após as tão sonhadas calmarias
Diversas das que em sonho fantasias
Tocadas pela mão de intenso vento.

E quando em luzes frágeis inda tento
Vencer os meus terrores tu me guias
E levas aos demônios que recrias
Tomando este arrebol medo e lamento.

Angústias tão comuns de quem procura
Um tempo aonde possa ser feliz,
E quando mais distante ou por um triz

No olhar ensimesmado, tal loucura
Abisma com seu vário ingrediente
Por mais que a solução audaz se tente...

25525

Horrivelmente imerso em trevas sigo
E tanto quanto posso ainda creio
Que enquanto houver um sonho ou mesmo um veio
Ainda se verá quem sabe, abrigo.

Empesteando a vida não consigo
Vencer a fantasia que rodeio
E dela muitas vezes mesmo alheio
Percebo bem sutil, medo e perigo.

Enveredando sendas mais profanas
Proféticos oráculos; predizes

E tentas discernir gozo de dor,
E quando vejo o encanto decompor
Chagásicas imagens: cicatrizes...

25524

Qual fora um tempestade um porto além
Do que pensara outrora ancoradouro,
Nas ânsias mais vulgares, nascedouro
Do pântano que uma alma vil contém.

E sendo que deveras sou ninguém
E disto faço a glória de um tesouro,
O sonho que pensara imorredouro
Desnudo se transforma e nada vem.

Adentro a fantasia, vil senzala
E a voz que se inebria já se cala
E escalando paredes a alpinista

Vontade transcorrendo em vagas ondas
E mesmo quando fútil me respondas
Nenhum sinal de paz aqui se avista...

25523

Vetustos caminheiros fragilmente
Estendem seus cadáveres em sonho
E quando num conjunto decomponho
A sorte se tornando mais ausente

Em cândidos momentos que se tente
Viver além de um ar tosco e bisonho,
Reconstituo a senda e assim me oponho
Ao que seria inútil penitente.

Azedam-se as vontades e esperanças
Articulando em vão as fortalezas,
E quando em voz sonante tais defesas

Ainda que tão frágil vês e alcanças
Gerando pandemônios entre risos
Legando ao nada ser, cruéis avisos...

25522

Revelas entre velas e velórios
Mordazes emoções em rito falso
E quando bebo em ti meu cadafalso
Momentos que vivera tão simplórios

Atando com denodo em tons mais vários
A cada caminhada outro percalço
E sigo em pregos, brasas, me descalço
Compartilhando tantos adversários.

Um execrável ar empesteando
Aonde se pensara bem mais brando
Fenecendo a ilusão que não sustento.

Ao deus-dará seguindo em prontidão
Vencido pelas trevas que verão
O derrotar de um sonho, violento...

25521

Decorrem dos meus vários pesadelos
Metáforas que traçam morte e dor
E quando me percebo em vão andor
Momentos terminais eu posso vê-los

E bebo da ansiedade seus apelos
Sentindo a minha face a decompor,
E nela se adivinha este sol-pôr
Envolto pelos medos e desvelos.

Incréu vasculho restos do que fora
E a morte mesmo sendo sedutora
Propaga dentro em mim lamas diversas

E pantanoso dia se anuncia
Matizando em gris minha agonia
Inebriantes féis que em mim tu versas...

25520

Se lúgubres parecem paisagens
Os antros que freqüentas dentro em ti
Extraem o que há tanto apodreci
Eternizando assim em toscos gens.

E vândalos porfiam tais miragens
Escandalosamente eu percebi
O quão se faz do nada mesmo aqui
Distante das benditas vãs paragens.

E quando as engrenagens se emperrando
As águias e os demônios revoando
Percebem teu olor adocicado

E o fardo se tornando bem mais leve,
Tua alma em lama feita, já se atreve
Aos prazeres ausentes no passado...

25519

Hominais delírios, Paraísos,
Infestam os meus olhos e não creio
Que apenas tendo enfim qualquer receio
Os dias poderão ser mais precisos.

A sorte em morte trama seus avisos
E goza do final, cruel anseio,
Enquanto do vazio sigo alheio
Vou contabilizando os prejuízos.

Juízos se finais ou nada tendo,
O mundo se desnuda em estupendo
Momento quando estás e nada além.

Após a podridão deste teu cerne
Uma alma em negação, ao fim se hiberne
Enquanto novas levas sempre vêm.

25518

Exóticas visões em contraluz
São fatos corriqueiros e banais,
Mas quando nestas farsas demonstrais
Caminho que deveras nos seduz

Espúrias emoções expondo a cruz
Que tanto, sem saberes desejais
E nela se anuncia o ledo cais
Marcado a ferro e a fogo, peste e pus.

Estéticas diversas vos dominam
E nelas vossos sonhos determinam
Arcaicas fantasias de beleza.

Após a podridão vos conhecer,
E nada do que vedes irei ver
Não há como enfrentar tal correnteza...

25517

Análogos caminhos percorridos
Pelos viventes seres desta Terra
E quando a morte chega e o ciclo encerra
Distantes dias morrem nos olvidos.

E os sons que outrora em vozes já perdidos
A porta com firmeza agora cerra,
Sobrando algum sinal da torpe guerra
Travada contra os sonhos e as libidos.

Assim hereditárias ilusões
Idênticas às tantas que me expões
Mutantes emoções proferem vagas

E quando devorada pelos vermes
Os restos destroçados, pois inermes
Serão do que desejas, tuas pagas...

25516

Iridescências, nega esta manhã
Que tanto desejara em outra face
Esgarço o meu caminho em tal impasse
E a vida preconiza a fria cã

Agrisalhado olhar, espúria e vã
Farsante que meu dia ainda embace
Estraçalhado sonho em que passe
A vida sempre atroz, cruel, malsã...

E vingo-me das hordas que me deste
E bebo mesmo pútrido ou agreste
Em fartos goles, todo o desatino,

E quando me percebes muito além
Sorrir com ironia é o que convém
E vendo o teu esgar, eu me alucino...

25515

Delicado e suave sentimento
Já não comporta um peito que se deu
Ao mais terrível medo e bebe o breu
No qual com mui prazer eu me atormento.

E sendo tão volúvel quanto o vento
O mundo que deveras concebeu
Quem morto em plena vida sabe o seu
Caminho em tempestade e me arrebento.

Nas pedras e falésias, cais distante,
Aonde se entregara um navegante
Se tudo não passou de falso sol.

E tendo inebriado o timoneiro,
O encanto em podridão é derradeiro
E nega a quem veleja algum farol.

25514

Erráticas e espúrias ilusões
Ascendem ao jamais poderei ter
E quanto neste nada o teu prazer
O mundo em crua face tu me expões.

Negrejas os meus dias, vãs neblinas
E tramas com furor outros vazios,
E em plenas esperanças desafios
Que aos poucos com terror tomas, dominas.

E assisto aos meus momentos terminais
E deles purulentas pestilências
Aonde proferisses inocências
Momentos tenebrosos tão iguais

E o pântano que legas como herança
Traçando um vago plano de vingança...

25513

Astênicos momentos desfraldados
Antrazes entre lutas e batalhas,
Nas ânsias mais profundas, as navalhas
E os cortes tão terríveis, lacerados.

Evisceram caminhos entranhados
Ancoram quando ausente tu mais falhas
No peito o falso gozo de medalhas
Ascendem aos inúteis vãos recados,

Terríveis ventanias, porto além
E quando se percebe nada vem
Nem mesmo este prazer em que sacias

Na terebrante e insólita facada
A mesma sensação do eterno nada
E as mãos que tu me deste estão vazias...

25512

Florescem alvas formas nos meus olhos
E delas encetando meus delírios
Crisântemos, verbenas, dálias, lírios
Prazeres reconheço e colho aos molhos.

Por mais que tantas vezes acidula
A vida não se perde em poucas luzes,
Arranco do canteiro torpes urzes,
Mergulho no teu corpo, em fúria e gula

E teimo em descumprir qualquer tratado,
Fronteiras não conheço nem limites,
E quando em minhas mãos, mais te permite
O sonho se desenha desvendado.

E esplêndidas manhãs anunciadas
Em luzes mais profanas consagradas...

25511

Carnais delírios tomam minha rota
E entranham delicadas maravilhas
Aonde com furor as armadilhas
Permitem a delícia em bancarrota.

Minha alma neste instante sente e nota
Diversas emoções aonde trilhas
Molduras tão sublimes formas, brilhas,
E o sonho tal beleza em luz adota.

Arranco do passado a dor venal
Aflora-se o desejo em sol e sal
Mareias com teu corpo em água clara.

Excelsos os caminhos percorridos
E os sândalos que exalas, percebidos
Nos gozos em que a fúria se declara...

25510

São purificadores os anseios
Que tanto encanto trazem e me tomam,
Poéticas loucuras já nos domam
Com sôfregos delírios, belos seios.

E adentro os teus caminhos sei dos veios
Dois corpos quando em fúria ora se somam
Harmônicos prazeres nos assomam

Tentáculos divinos nos enlaçam
E as trevas bem distante quando passam
Realçam o teu brilho inusitado,

Em abordagem lúbrica um corsário
Tomando de teu corpo este estuário
Luxurioso templo emoldurado...

25509

Venusianos montes versam gozos
Impudicos caminhos entranhados
E neles ânsias feitas em pecados,
Mordazes, mas audazes, maviosos.

Em lúbricos detalhes prazerosos
Olores tão diversos desenhados
Sidérea fantasia em nossos Fados
Volúveis, mas sutis, voluptuosos...

Alvíssima manhã das cãs distante
Imensidade em raio deslumbrante
Partícipes de insânias venturosas

E nelas entre luzes mais profanas,
Deliciosamente tu me explanas
Delírios no momento em que mais gozas...

25508

Véus brancos em venéreas maravilhas
As aves em seus vôos vão levando
Ao vento o tempo atento em raro bando
Enquanto mais atenta em luzes trilhas.

Ancoras em corais, sobejas ilhas
Expressam recomeço imerso quando
Aos poucos furnas, urnas desnudando
Mudando a direção conforme brilhas.

Exalas o perfume e me iluminas
Num lume extasiante e tão fugaz,
Lascívia perpetrada em loucas minas

Esguia silhueta se desnuda
Delírio que em martírio satisfaz
Cenário em tom tão vário se transmuda...

25507

Grinaldas desfraldadas pela lua
No vértice de um céu em pratas feito,
Audaciosamente insatisfeito
O pleito mais distante, atroz, flutua

O sonho que ora enfronho e ledo atua
Enquanto em quarto escuro e frio deito,
A claridade invade e me deleito
Imagem qual miragem bela e nua.

Ondulo entre o não ser e o ser além
E quanto encanto o canto ainda tem
Que possa confessar em versos lúdicos,

Momentos entre tantos temporais
E quando em brando vento mergulhais
Em vosso olhar luares quase lúbricos...

25506

Entoas entre tons mais dissonantes
Momentos variáveis e ferinos
Atando aos nossos pés tais desatinos
Perpetuando luzes deslumbrantes

Bem querência; tomaste em vãos instantes
Dobrando com furor último sino
E quando em brando vento me alucino
Destróis inlapidado diamante.

Embrutecida acidas nossa vida
E trazes em mil fases, despedida
Acidulando agora o que restara.

E a cândida ilusão se torna fútil,
O passo em contrabando segue inútil
O tempo em voz velada se dispara...