terça-feira, setembro 05, 2006

Para Carmita Loures

Tantas saudades sinto de ti, vó.
Sei, a vida necessita sim, da morte,
Eu sei também que tive tanta sorte,
De poder conhecer-te. Mas vou só,

Sem teus abraços, vida vira pó...
Cadê meu rumo, prumo. Esse meu norte,
Se perdeu. Vai sangrando todo o corte
Jamais esquecerei, um pão de ló

Que, no fogão a lenha, tu fazias...
A noite me trazendo as fantasias.
As tardes, transcorrendo, são saudades...

Meus medo de criança, tua paz.
A vida maltratando, nunca mais
Vou poder reviver aquelas tardes...

Miraí

Doces manhãs, infância vai distante...
Subindo em todas árvores, quintal.
A minha avó, sorrindo nest’umbral.
Meus dias mais felizes; viajante

Do tempo, essas saudades delirantes,
São companheiras santas, festival
Das minhas brincadeiras. No Natal
Os presentes guardados, numa estante

Da memória, trazendo meu sorriso...
Amor passando, célere, preciso.
Quem me dera viver eternamente...

As flores do jardim não mais existem,
As dores entretanto, sim, resistem...
Eu era tão feliz. Hoje, semente...

Salmo 2 - Versos Brancos

Os gentios amontinados, vão;
Os povos imaginam coisas vãs.
Os reis da terra se erguem contra o Pai
E contra seu ungido, então dizendo:
Rompamos ataduras, sacudamos
De nós as suas cordas. Deus rirá,
O Senhor zombará desses gentios...
Então lhes falará, na sua raiva,
E no furor, os turbará, enfim.
Proclamarei decreto dito a mim,
Pelo Pai: Tu és filho meu gerado;
Te darei os gentios por herança,
Os fins de toda terra, possessão...
Os esmigalhará, com tua vara,
Os despedaça como um vaso frágil.
Ungi meu Rei no monte do Sião!

Agora, reis, sejais bem mais prudentes.
Juiz da terra, deixa-se instruir.
Servi, ao meu Senhor, com tal temor;
Beijai ao filho, fuja de tal ira.
Para que não pereças no caminho...
Quando acender, su’ira, brevemente.
Boa ventura então, aos que confiam...

Salmo 1 - Versos Brancos

Homem que não seguir conselhos d’ímpios,
E nem dos pecadores, segue a trilha;
Nem de quem escarnece, sent’à roda,
É bem aventurado, com certeza...
Antes, tem seu prazer na lei de Deus.
Medita dia e noite sobre a lei...
Qual árvore plantada no ribeiro,
Dá frutos no seu tempo; suas folhas,
Não cairão, prospera em todos atos.
Pois são como a moinha que se espalha.
Os ímpios não resistem no juízo,
Nem mesmo os pecadores entre justos.
Pois o Senhor conhece, desses justos,
O caminho, que jamais perecerá!

Salmo 10 Versos Livres

Por que estás tão distante, Meu Senhor?
Nesse tempo d’angúsitas t’escondes...
Os ímpios perseguindo o pobre, fúria!
Que sejam apanhados nas ciladas,
Que eles mesmos, cruéis, já maquinaram...
Bendizendo o avaro, nega o Pai;
Deus, eles não buscam por altivez...
Renegam existência do Meu Deus.
No caminho, atormentam toda vez.
Desprezam inimigos, seus juízos
Estão acima, os abalos não temem...
Imprecações povoam suas bocas,
Assim como os enganos e astúcias...
Malícias e maldades nessa língua.
Nas aldeias, tocaias já preparam,
Matando os inocentes e os mais pobres.
Armas estão ciladas, escondidas...
Prontas para roubar, qualquer um pobre...
Diz, em seu coração, que Deus não viu...

Levanta-te Senhor, erguei as mãos;
Não te esqueças jamais, desses humildes!
Tu viste esses tais ímpios, quebre braços!
O pobre se encomenda ao Meu Senhor,
És auxílio Senhor, dos órfãos todos..
És, pois, o Rei Eterno, em Tuas terras,
Perecerão gentios. Ó Meu Pai,
Ouviste então, desejos dos mansos,
Conforte os corações. Os Teus ouvidos
Abertos, sei, para eles estarão!
Faças cair justiça sobre os pobres,
Que os órfãos, reconheçam-na também,
E qu’homem não prossiga em violência...

Mulher A Gente Encontra em Toda Parte...

Mulheres, tantas tive, tão diversas...
Negras, louras, mulatas e morenas.
Todas as formas, gordas, magras, pequenas...
Muitas ganhei, perdi, simples conversas.

Brasileiras, latinas, russas, persas.
Mulheres não faltaram. Açucenas,
No meu jardim plantei, colhi apenas,
As que plantei, nenhuma foi às pressas...

Desses amores falsos, nada resta,
Nem me permitirei falar de festa,
Pois sei desses amores, tudo em vão!

Mulheres, sem pensar, tantas troquei...
Se, na verdade, tantas, encontrei;
Mas não a que detém meu coração...

Nem tudo que reluz

Quando estava distante e tão sozinho,
Não tinha nem sequer conhecimento
Do que estava passando-se. Momento
De sufoco, perdido, tão sem ninho...

Bastava-me saber, do teu caminho.
Mas nada disso tive, me contento
Com tão pouco. Tampouco meu intento
Foi, desses meus sonhares, teu carinho...

Nada tive, notícias, vento leva...
Restaria talvez, a simples treva,
Mas tal escuridão foi minha luz...

Percebi que sentias simples farsa,
Nunca pude dizer: minha comparsa.
És um falso tesouro, só reluz...

Percorro meus delírios, sonhos, medos... Versos Brancos

Percorro meus delírios, sonhos, medos...
Segredos ponho, barcos e tempestas;
Festas e fantasias, carnaval...
Aval de Deus permite cada luz...
Iluminas as minas de minha alma...
Acalmas todas dores que virão.
Por certo não conjugas sofrimento
Com meus desejos mais sutis, carinho...
Num átimo, meu último segundo.
Caçando tais estrelas ness’astral.
Sim, nossa verdadeira manhã morre.
Escorrem dos meus dedos, nossa vida.
Ávida vida, deve breve vértice...
Artífice da sorte, motes mortes...
Temo o temor, tremendo teus tentáculos.
Meus oráculos mentem, nada tenho...
Venho desse jamais tivesse sido...
Duvido do óbvio, vingo minhas chagas.
Algas nas águas, mágoas nas lagoas;
Entoas novas loas, trovas, canto.
Tanto tempo terei temporal, medo...
Segredo meu segredo segregado...
Minhas minas terminas temerária.
Na confusão dos cios, ciclovia...
Havia álibi, livre colibri.
Mas quando vi, estavas só vagando...
E te perdi, pedi a penitência.
Feche teus olhos, veja o meu desejo.
Num martírio, deliro e nada resta,
Pela fresta, janelas, portas... Morta
A solidão, revive viva vida.
Não quero mais senão, sertão, serralha.
Nem a canalha forma que me forma.
E que me informa: foste tão fugaz...

Nada mais tenho, nem sequer pretendo.

Nada mais tenho, nem sequer pretendo.
Vou vida afora, percorrendo o mundo...
E cada vez que tento, nem desvendo
Tal mistério, perdido me confundo...

Se quis simplicidade, vou vivendo
Na complexa agonia, mar profundo...
Respirando acredito estar morrendo.
Tanta dor, me calando lá no fundo...

Quis ter verdades, sempre refletidas
Nos olhos da mulher que nunca tive...
as canções que cantei, por essas vidas,

São as mesmas que ensinas e não crês.
Quero teu beijo, todo dia e mês,
Mas nunca omitirei por onde estive...

Contrastes

Quero roçar meu corpo no teu beijo,
Acariciar, manso, cada ponto...
Transbordar em carícias meu desejo,
Vagando lentamente, ficar tonto...

Quero sentir fugaz, o que delira...
Nas mãos maliciosas, ter-te inteira;
Penetrar mais profundo, até que fira
Suavemente. Rolar nessa esteira...

Quero teu gosto, gozo em meu delírio,
Fazer desse repasto, minha orgia...
Gozar tão mansamente, esse martírio.
Poder ver no teu rosto, doce magia...

Quero sentir as ondas de prazer,
Contraindo teus músculos, e dentes...
Saber melhor plantar depois colher,
Conhecer os teus rios e nascentes.

Minhas mãos, sentinelas e recrutas,
Procurando saber onde se encontra;
Dessa mata, vertentes, poros, grutas...
Navegar teus macios lagos, lontra...

Teu respiro, aspirando me sufoca,
Decorar esses mapas tua pele...
Invadir, caçador, pois, cada toca.
Fazendo não querer, mente e repele.

Nas curvas dessa estrada , capotar...
Conhecer artimanhas mais sutis,
Levantar tua saia devagar,
Nos teus braços saber que sou feliz...

Teus seios, mordiscar, bem lentamente,
Teu pescoço, libido se explodindo...
Nessas danças, bailar feito demente,
Sentir o cheiro, olor do gozo vindo...

Quero insensatez, quero tuas pernas,
Num balé misterioso, entrelaçando
As minhas, nas carícias mais eternas;
No teu corpo, suave, naufragando...

Eclodir as centelhas desse incêndio,
Conhecer nossos mares e marés.
Aprender bem mais desse compêndio
Escrito vorazmente, mãos e pés...

Quero a ternura, fera e mais voraz...
Nos olhos revirando sem ter nexo...
Conceber sonhos lúbricos, audaz...
Desenhar as mil formas do teu sexo.

Minha língua feroz e delicada,
Vagando pelos vales e montanhas...
Sentir a tua boca, minha amada,
Hastear tais bandeiras nessas fronhas...

E depois, descansar o meu cansaço,
De guerreiro feroz qu’apascentaste...
Dormir tão calmamente no teu braço,
Depois de tal batalha num contraste...

Cobiça

Nos corpos mutilados de crianças,
A vida transcorrendo calmamente...
De nada servirão, as tais lembranças.
Não restarão sequer na nossa mente.

As fotos de famintas esperanças;
Esquecidas, jogadas, simplesmente...
A morte sem sentido, mas não cansas
De tentar prosseguir, vida demente...

Tenho todo cansaço, sangro à toa.
A vida, bem sei; vida é muito boa...
Pena que esses retratos não se calam...

Essa boca faminta de justiça,
Recebe, em troca, escarro da cobiça.
Em silêncio, pedindo, nada falam...

Amor fluindo pelos dedos, sal...

Amor fluindo pelos dedos, sal...
Quero essa sombra, divinal, cometa...
Navegarei sem me cansar, o astral
Buscando conhecer novo planeta.

Veleidade

Nas tais penumbras de minh’alma, vejo
Os olhos pálidos da minha dor.
Nas fímbrias prendes solidão; desejo
Então, fugir, quero escapar. Apor

As mãos cansadas, e sentir o beijo
Mais carinhoso, ser teu beija-flor...
Fazer assim d’amor, mais belo arpejo.
Nada quero sentir, senão calor...

Quero todos segredos, confissões;
Nada dizer, nem precisar, sermões
Feitos dessa total cumplicidade...

Nossos carinhos, envolvendo a lua,
Sofreguidão, te perceber, tão nua...
Transparências trazendo veleidade...

Escombros

Nas noites frias, quando, enfim, não tenho
O calor de teus braços m’acolhendo,
A tristeza invadindo tudo, fecho o cenho,
Pouco a pouco, perdido, irei morrendo...

Mal acredito, nada resta. Venho,
Meus caminhos, tortos, me perdendo...
Nessa procura, no vazio embrenho;
Não consigo saber nenhum adendo...

Te quis, decerto essa certeza foge
Não me deixou, sequer, sentir o alforje
Que pesava atroz, me machucando os ombros...

Não sei mais repartir, sequer o peso,
Só me resta encolher quem fora teso;
E recolher meus restos dos escombros...

Quando percebo; o fim da noite vem Versos Brancos

Quando percebo; o fim da noite vem,
Trazendo essa alvorada com o sol,
Manhãs tão radiantes, são promessas,
Da vida renascendo sem tempestas...
Meus medos são desejos não cumpridos.
A sorte nada faz senão mentir...
Me cabe nessa história ser poeta.
À parte do que sinto, nada falo...
Queria transformar os meus caprichos,
Mas omitindo, vou seguindo mudo...
Repito meus dilemas, num soneto;
A morte s’aproxima, mas me calo...
Revendo por rever os meus problemas,
Quem dera nada fosse tão difícil.
Em versos brancos, fiz sentidos vários...
Canários vão cantando, nessa mata.
Me mata essa saudade de você.
Você que me permite então sonhar.
Sonhar que é outra forma de viver...
Viver sem ter segredos, traz verdade;
Verdades são momentos de prazer;
Prazer dos beijos loucos que me deste,
Deste mundo jamais vou me evadir;
Evadir por quê? Sinto essa presença...
Presença mais vital, felicidade...
Felicidade brilha no horizonte.
Horizonte trazendo novo dia...
Dia mais feliz, quero, de fato...
Fatos novos são luzes sobre trevas...
Trevas que na minh’alma são tristezas;
Tristezas por saber que nada sei,
Sei somente do canto que ensinaste,
Ensinaste, depressa, a não morrer...
Morrer dessa saudade, dor cruel,
Cruel como a distância que guardaste,
Guardaste, sem saber a minha luz,
Luz dos teus olhos vão brilhando, cegam...
Cegam um coração vadio, louco...
Louco dessa vontade de saber.
Saber em que caminhos, te perdi...
Perdi na minha luta contra a morte.
Morte que se traduz, em não te ter...