quarta-feira, fevereiro 17, 2010

25039

Eu quero teu prazer junto comigo
E dele usufruir a me perder
Ecléticos caminhos; posso ver
E neles luz intensa que persigo,
Viver e ter nas mãos calor e abrigo,
Anseio de quem tanto quis saber
Da glória insuperável de um prazer
Que possa traduzir em braço amigo,
Perceba quanto luz amor emana,
A força que possui é soberana
Aproximando do Éden o caminhante
E tudo se transforma ao mesmo instante
Em que sorvendo o bem de um grande amor,
A vida se promete em rara cor.

25038

Eu te amo, esteja certa, e sempre digo
A quem quiser ouvir e até repito
O quanto te desejo estava escrito
Há tempos neste templo onde me abrigo
Amor igual ao nosso, imenso e amigo,
Decerto traz um dia mais bonito
E mostra ao navegante outrora aflito
Um cais onde não há sequer perigo.
Viver felicidade a cada instante
E ter no meu olhar o radiante
Sorriso da mulher que eu amo tanto,
Por isso não me canso de sonhar
E quanto mais desejo, mais amar,
E em nome deste tudo agora eu canto.

25037

Espalho os seus sinais no mundo afora
E tento recolher o raro fruto
O amor por vezes sendo tão astuto
A cada poro invade e sem demora

Explode em sensação que revigora
Trazendo esta alegria que desfruto,
Outrora um marinheiro atroz e bruto
Na maciez do amor, é outro agora

E sabe discernir porto seguro,
Nas ânsias do desejo em que me curo
Feridas cicatrizam mais depressa,

E quando a noite chega em temporais,
O amor com suas forças magistrais
Um novo amanhecer já recomeça;

25036

O quanto a nossa sorte revigora
Deixando para trás qualquer fraqueza
Eu falo e repetindo com franqueza
A sorte com certeza não demora,

Saber de quando a rosa ali se aflora
E ter nas mãos deveras tal destreza
Que possa preparar tanta beleza
Na qual a bela casa se decora,

É como perceber a divindade
Aonde se produz felicidade
Moldando amanheceres mais perfeitos,

Sabendo desde sempre o que se quer,
Não temo desventura e nem qualquer
Angústia que inda invada nossos leitos.

25035

Da paz que renasceu, tranqüilidade
Um bem que herdando deixo como herança
E sei que quando o amor assim se lança
Não teme mais horror nem tempestade

E sendo mais feliz quem tanto agrade
E deixe para trás qualquer vingança
Voltando a ter nos olhos a criança
Diversa do que a vida em vão degrade

Anseio por momentos mais felizes,
E quando sem sentir tu contradizes
Perceba quão divino é ter um sonho,

Por isso novamente aqui proponho
Caminho mais suave em direção
Aos dias redentores que virão.

25034

Não quero mais saber de ter saudade,
Nem mesmo a vasta inglória do não ter
Sentindo sob as ânsias do poder
A força que permite a variedade

Por mais que talvez isso não agrade
Escondo-me nas grotas do querer
E bebo a bela fonte a entorpecer
Até que possa ver felicidade.

Num lírico cantar eu desafio
O tempo em temporal, calor e estio
Vacâncias do passado não mais quero

E sendo audaz jamais me fiz austero
Vivendo esta emoção a cada dia
Saudade no porão já se escondia.

25033

Deixando uma tristeza já de fora
Depois de se tentar um novo trilho
Nas luzes desta lua me polvilho
E toda a fantasia me decora

Aonde toda a luz nos revigora
Não vejo ao caminhar outro empecilho
E quando esta ilusão; agora encilho
Galopo por estrelas, sem demora

Corcéis das emoções versos e rimas,
Aonde se buscassem paradigmas
Encontro tão somente a liberdade

E dela faço tudo o que quiser,
Nas mãos tão delicadas da mulher
O bem que se deseja e tanto agrade.

25032

Percebo que serei feliz agora
Depois de ter nas mãos o meu caminho
Vencendo cada pedra, dor e espinho
Apenas a emoção benigna aflora,

E quero sem perguntas ou demora
Viver o que me resta em manso ninho,
Jamais suportaria estar sozinho
A morte pouco a pouco me decora,

Mas tendo esta certeza de quem queira
Por mais que me perceba junto à beira
Do imenso precipício feito em nada,

A sorte com certeza está lançada
E sinto que minha alma já se inteira
Na luz do grande amor, a derradeira.

25031

Colhendo finalmente a liberdade
Após ter me perdido em noite vã
O quanto é necessária esta manhã
No brilho que semeia e tanto agrade,

Assim ao perceber tranqüilidade
Encontro na alegria o meu afã
E bebo da esperança um amanhã
Soberbo com ternura e liberdade.

Ansiosamente espero a tua volta,
E quando solitária alma revolta
E tenta a cada noite outro motim,

Viver sem ter amor é como fosse
Seguir o descaminho que agridoce
Destrói cada passagem de onde vim.

25030

Sou teu e cada vez mais me convenço
Do quanto nosso amor se fez capaz
De me trazer momento feito em paz
Carinho que procuro e nele penso

Aonde se mostrara medo imenso,
Agora com certeza só se traz
O gosto do viver que satisfaz
Quem tanto se perdeu em mar intenso,

Chegando de manhã depois da lua,
Minha alma na tua alma continua
Iluminada aos raios de teu sol,

Floresce em nós a glória de saber
O quão é necessário pra viver
O amor que se transborda no arrebol.

25029

Do quanto descobri tesouro imenso
Após os arquipélagos do sonho
Aonde cada passo eu recomponho
Num mundo mais audaz, e mesmo tenso,

Se a cada novo dia me convenço
Do tempo que virá belo e risonho,
Ao mesmo tempo em fogo decomponho
O que pensara em glória e não mais penso.

Descrevo em poesia, versos fúteis
Os passos que bem sei serem inúteis
E deles o final já se aproxima,

Aonde poderia ter a paz,
Apenas a saudade ora me traz
O fim do que julgara em alta estima.

25028

Nos braços da mulher que eu encontrei.
Depois desta procura insaciável
O dia amanhecendo suportável
A claridade toma toda a grei

E mesmo que vazio ainda creio
Num tempo em plenitude recomposto,
O amor quando demais assim exposto
Não vê sequer a sombra de um receio.

E audaz permite ao velho sonhador
Um novo amanhecer em mansidão,
E mesmo novos dias mostrarão
Momentos de diversa e rara cor,

Andantes ilusões? Não mais desejo,
O amor é muito além de algum lampejo.

25027

Singrando os oceanos da paixão
Enfrento tais borrascas e procelas
E quando abrindo ao vento as minhas velas
Permito a mais feroz navegação,

E sei que novos dias me trarão
O quanto deste amor que não revelas
E nele se emolduram raras telas
Numa diversa forma, exposição

Dos meus anseios tantos, minha audácia
E quando ausente o medo, sem falácia
Enfrento os dissabores com ternura,

O amor que tantas vezes sana e cura,
Desfiladeiro imenso que ora enfrento
Supera uma avalanche, encara o vento.

25026

Um timoneiro encontra a direção
Em mar tempestuoso quando sonha
Por mais que em novo mundo se proponha
Viver além do cais e da emoção

Singrando em noite clara/escuridão
Não teme qualquer fúria, até medonha,
E sabe da alegria que se enfronha
Nos portos que seus olhos não verão,

Assisto ao meu naufrágio em loucos braços
E sigo sem remédio rastros, passos
Deixando os lastros tantos e a abordagem

Que faz aos meus navios tal corsário,
O amor que nos liberta e é temerário,
Por vezes fantasias ou visagem.

25025

Eu tenho a recompensa deste amor,
E dela faço o mote preferido,
Ao mesmo tempo sinto em cada ouvido
A voz de um novo dia encantador,
Assíduas maravilhas dizem flor
E delas o dever mais que cumprido
Permite o florescer enquanto lido
Com todas as belezas luz e cor.

De camarote eu vejo este desfile
Por mais que uma tristeza ainda grile
As terras do eldorado que criei
Jamais conseguirá velha posseira
Tomar o que o amor ainda queira
Suprema fantasia dita a lei.

25024

Trazido por um sonho encantador,
Transponho os vários muros do caminho
E sei que não me vejo mais sozinho,
Agora embrenho as sendas deste amor

E nelas como um velho sonhador
Deveras sem defesas já me alinho
E quando da esperança sou vizinho,
O tempo azulejado em bela cor.

Assisto à derrocada da tristeza
E venço com louvor a correnteza
Espalho minha luz por toda parte,

Não tendo qualquer medo que descarte
As tramas delicadas da alegria
O sonho a cada noite se recria.

25023

Se tantas esperanças cultivei
Eu merecia enfim a melhor sorte,
Porém a vida segue sem suporte
E no vazio imenso mergulhei

Aonde tantas vezes quis o brilho
Inconfundível luz de uma esperança
A voz que no vazio já se lança
Alcança a noite em trevas que palmilho

E sei que no final não tendo nada,
O verbo conjugado no passado
Dizendo quanto andei, na vida errado,
Na estrada sem saída, abandonada.

Erguendo olhar percebo no horizonte
O sol que mesmo em nuvens já desponte.

25022

Sementes/fantasias espalhei
Por todos os caminhos prado e campo
E quando este prazer enorme; encampo
Regalos encontrados nesta grei

Aonde o meu passado mergulhei
E nela a cada vez que sonho e acampo
Constelação de luzes, pirilampo
Que há tanto no meu sonho imaginei.

Ascendo ao paraíso neste instante
E vendo imagem clara e deslumbrante
Quiçá felicidade ainda existe,

Deixando para trás a dor errante
O amor que imaginara ora persiste
Num coração que sempre fora triste.

25021

Das flores recolhi, agricultor
Perfumes que invadiram sentimento
E neles com certeza sem tormento
A vida se renova em tal louvor,

O quanto do desejo é multicor
E tudo se transforma no momento
Em que bebendo a luz eu já me alento
E vivo sem saber medo ou terror.

Assisto à derrocada das tristezas
E sigo com fervor as correntezas
Que levem para fozes divinais

E tendo em minhas mãos este timão,
O tempo mesmo quando em viração
Os temporais não voltam nunca mais.

25020

O riso mais sincero a te propor
Espelha o desespero de quem tanto
Vivera esta emoção e em desencanto
Agora só conhece o desamor,

Sabendo do cenário a se compor
Nas ânsias deste sonho que ora canto
Fizesse além da dor, qualquer quebranto
Seguindo cada passo aonde for

Quem fez de uma esperança o seu enredo
E todo o grande amor que ora concedo
Transcende à própria vida e eternidade.

Saber usufruir do gozo imenso
Do qual a cada dia me convenço
Deixando para trás dor e saudade.

25019

Castelos que criaste; ser teu rei.
E ter da realeza o gosto e a glória
Eternizado sonho na memória
Que há tanto desde sempre imaginei,
Volvendo o meu olhar encontrarei
O refazer soberbo desta história
E enquanto a realidade é merencória
Nas teias deste encanto eu mergulhei
E fiz de meus anseios realidade
Por mais que inutilmente ainda brade
Viajo em tal miragem e me entrego
Sem ter sequer desculpas nem lamento,
Na luz desta quimera me apascento
Nos mares da ilusão, feliz, navego.

25018

Arfante este caminho que nos doura,
E trama um novo tempo bem melhor
A história se repete e sei de cor
Aonde a vida em paz é duradoura,

E quando em luz imensa se traduz
A antiga caminhada ora percebo
O que deveras quero e já me embebo
Da magnitude feita em rara luz,

Assisto à triunfal em louros feita
Estrada aonde a paz se refletindo
Permite que se veja amor infindo
E uma alma se mostrando satisfeita

Induz este andarilho à perfeição
Que os dias em ternura mostrarão.

25017

Rainha que se faz distante e agora
Adentra os meus palácios da ilusão
Trazendo com total sofreguidão
Delírio que deveras já se ancora
E quando a fantasia se demora
Mostrando os novos dias que virão
A sorte congelando esta estação
Verão que nunca mais irá embora,
Esqueço deste inverno aonde havia
Somente o vento frio da agonia
E espalho pelos ares a esperança
De um tempo em que se mostre mais audaz
O quanto deste encanto amor nos traz
E nele toda a glória já se lança;

25016

Aguarda um cavaleiro dos andantes
A moça na janela, Dulcinéia
E quando o coração muda de idéia
Transforma tudo aquilo por instantes
O que pensara outrora radiantes
Agora não se mostra em alcatéia
O amor não se comporta em alma atéia
Tampouco nos trará seus diamantes
Se tudo não passasse de um engano
Nas ondas deste encanto se me ufano
Percebo a plenitude à qual me dou,
Das eras priscas velhas pedrarias
Diversas das que tanto tu querias,
Após o cataclismo, o que sobrou.

25015

Na ponte levadiça dos anseios
Castelos que imagino e não freqüento
Aonde se liberte o pensamento
A vida procurando novos meios

E deles sem temores ou receios,
Na busca de qualquer paz ou alento
Deveras no vazio me atormento
E os dias sem amor jamais são cheios,

Atrelo-me aos augustos caminhares
E sei que quanto mais assim sonhares
O tempo não fará mais distinção

E tudo se renova a cada instante
Nas mãos de quem se dá, tal diamante
Prismáticos delírios se darão.

25014

Vencendo os dias vagos e tristonhos,
Não deixarei sequer alguma chance
À solidão que vejo num relance
E trama dias toscos e medonhos,
Aonde mergulhara velhos sonhos
Por mais que a realidade não alcance
Encontro num segundo onde se lance
A sorte de delírios mais risonhos,
Augúrios entre oráculos e búzios,
Momentos do passado macambúzios
Atrozes armadilhas desta vida
Que tanto poderia ser melhor,
Mas todas as defesas sei de cor,
Não quero mais ouvir a despedida.

25013

Formando um carrossel de raros brilhos,
Manhãs ensolaradas onde eu vejo
Além de simplesmente este lampejo
Momentos pelos quais adentro em trilhos

Que levem ao mais claro e raro sol
Soberba testemunha deste amor,
E quanto tenho ainda a te propor
Um sentimento nobre, assim de escol

Permite que se creia num eterno
E tendo esta certeza vejo aqui
O Paraíso imenso que antes cri
E agora com prazeres eu interno.

E sendo ao mesmo tempo escravo e amo,
Só posso te dizer do quanto eu te amo.

25012

Seguindo os teus caminhos, sei dos trilhos
E vejo que talvez descarrilado
O amor mudando as sendas do passado
Permita aos corações mais andarilhos

Vencer os descaminhos do vazio
Aonde na verdade saciava
A sorte me queimando feito lava
E dela qual a fênix me recrio.

Assiduamente estampo a minha sorte
Nas sanhas que talvez fossem tão minhas,
E nelas muitas vezes tu te alinhas
Buscando qualquer luz que te conforte

Mas saiba que te quero mesmo assim,
O amor que te dedico, não tem fim.

25011

Que fazem dos meus sonhos teus amantes
Momentos prazerosos e felizes,
Embora ainda trague cicatrizes
Os dias que virão; mais radiantes
Mergulho nestes mares fascinantes
Deixando no passado os meus deslizes,
Além do que deveras contradizes
Percebo ao fim da estrada os diamantes
Que tanto procurara; um bandeirante
Por mais que a vida às vezes agigante
A dor de não saber e tentar crer
No dia que vire e poderia
Trazer ainda um pouco de alegria
No belo e mavioso amanhecer.

25010

Mudando o velho rumo, por instantes
Caminho entre os espinhos que espalhaste
E a vida se transforma num contraste
Em medos e terrores perturbantes

Descrevo com palavras mais audazes
Momentos de ternura em noite escura
E tudo o que se quer e se procura
Encontra nos teus braços quando trazes

Anseios delicados e profusos
Mesquinhas desventuras; já não vejo
E tudo se resume no desejo
Matando os dissabores que obtusos

Durante tanto tempo maltrataram
E agora noutros portos ancoraram.

25009

Ao ver o teu olhar me maravilho
E sei que quanta beleza se traduz
Na bela fantasia feita em luz
E bebo da esperança cada brilho,
O quanto da verdade se estampando
No olhar deveras manso e quase infindo
Os medos e terrores consumindo,
Angústias se debandam, triste bando
E apenas resumindo esta alegria
Fartura de prazeres na colheita
Uma alma transparente se deleita
E enquanto novo tempo fantasia
Imerso neste intenso clarear
Reflete cada raio do luar.

25008

Quem antes fora um simples andarilho
Agora se perdendo sem paragem
O amor quando se mostra em vã roupagem
Esquece com certeza qualquer brilho
E quando noutras sendas eu palmilho
Perdendo desde sempre esta paisagem
Por mais que dores várias nos ultrajem
Luzernas nos conduzem noutro trilho

E deixam que se veja o sol imenso
E mesmo quando só na luz eu penso
Imerso nas belezas que me dás

E delas encaminho glória e tento
Vencer os dissabores, sofrimentos
Bebendo com ternura a rara paz.

25007

Estende novos dias, triunfantes
O olhar de um velho e louco marinheiro
Aonde se mostrara por inteiro
Momentos entre nuvens radiantes

E vejo que decoras com brilhantes
O sonho da esperança mensageiro
Seguindo pela estrada o caminheiro
Conhece e tem nas mãos, raros instantes

Aonde poderia com firmeza
Sentir desta ilusão farta beleza
E ver da bela aurora estes clarões

Que agora sem temores nem vaidade
Trazendo ao meu olhar felicidade
Imensa à qual deveras já me expões.

25006

Tomada pela súbita paixão
Uma alma traz sobeja incandescência
E quando procurara coerência
Somente ansiedades mostrarão

A intensa e desconexa direção
Por vezes em complexa penitência
Ou mesmo com o estorvo da inclemência
Ausência de ternura ou gratidão.

Extensos vales, rudes cordilheiras,
As ondas entre nuvens, mensageiras
Desta borrasca imensa que virá,

E mesmo após a chuva eu inda creio
Que amor sem ter sequer algum receio
Nos céus qual fora um deus, pois brilhará.

25005

Que extrema cada gesto e perde a rota
Depois de ter achado-se infalível
O amor não tem desculpa e sendo crível
A sorte pouco a pouco se desbota
E quando uma ilusão de novo brota
O solo que pensara ser passível
De toda mansidão indescritível
Agora esta aridez mordaz denota.

Queria tão somente ser feliz,
Mas quando a realidade contradiz
Não resta quase nada ao caminheiro
Durante a tempestade, timoneiro
Nas mãos do pesadelo, intemerato,
Mas quando estou sozinho em vão debato.

25004

Aos poucos, depois disso, eu já me aprumo
E sei que navegar sempre é preciso
Ainda que se encontre o prejuízo
A vida necessita de algum rumo
Mergulho nos meus erros e os assumo
E mesmo se tivesse em paz o siso
O beijo é necessário e mais conciso
Transmite da alegria todo o sumo,
Estradas que percorro em pensamento
Tramando no final o que sustento
Em glórias e delírios sendo feito
Caminho que enveredo em paz imensa,
E quando num amor alma compensa
Nas mãos de um manso sonho eu me deleito.

25003

E faço deste encanto a direção
Durante o temporal, já que não vejo
O cais que tantas vezes foi desejo
De quem se fez em má embarcação
Vasculho os meus guardados no porão
E tenho esta impressão de que sobejo
Momento se transforma num lampejo
E dele poucas coisas sobrarão
Sequer algum momento em paz e brilho
Diverso desta senda que ora trilho
Na busca que incansável inda ostento,
Meus olhos sem saber deste horizonte,
Por mais que a lua ao longe em vão desponte
Não tenho lenitivo nem alento.

25002

Que possa me trazer felicidade
Eu sei e desconheço outro caminho,
Andara muitas vezes mais sozinho
E tudo desabando sem que aguarde
Instante abençoado ou liberdade
Na qual mais destemido ora me aninho
E quando da esperança me avizinho,
A sorte temerosa a paz degrade.
Ostento esta medalha feita em charco
Das ânsias e fulgores se me encharco
Agasalhando a morte sem saber
Escondo-me nas tramas do passado,
E quando vejo a morte lado a lado,
Entrego-me sem chances ao prazer.

25001 com estrambote

Vestimos a esperança a cada dia
E dela nós criamos tal demônio
Que enquanto o coração simples campônio
Mergulha nesta insânia em vã sangria

O ser feliz aos poucos já se adia,
O amor que fora outrora um patrimônio
Ao se inundar de farto e louco hormônio
Fantasmas e delírios vãos recria

E deles as angústias de um desejo
Aonde a derrocada enfim prevejo
E penitências feitas no prazer

Insano e sem limites, sem por que
Hedônico caminho que se vê
E nele se impedindo o amanhecer

Gerando o mais feroz e vago instinto
E o amor abandonado em vão e extinto.

25000

Escrevo nas estrelas fantasia
E delas bebo a luz que saciando
Permite este momento desde quando
O amor entre temores propicia

A glória de saber que a cada dia
O vento se percebe amaciando
A dor que no passado se espalhando
Vagara sem destino e se temia.

Amparam-se meus passos nesta escora
Amor que sem limites se demora
E traz felicidade a quem se dá,

E sei que desde sempre, agora e já
O tempo de mudança me transforma
Moldando no porvir sublime forma.

24999

Alçando a mais completa maravilha
Aonde se pudesse ter nas mãos,
Depois de tantos dias duros, vãos
Seara que emoção deveras trilha,

Andar com proteção de tantos guias,
Percebo quão sobeja a natureza
Enfronho o meu desejo em tal beleza
Enquanto estas palavras tu recrias:

Amor, calor e paz, anseios tantos
E neles as angústias se desfazem,
Olhares delicados já me trazem
Depois dos vendavais, belos encantos

E quando em ti querida, em paz mergulho,
Esqueço de um espinho ou pedregulho.

24998

O parto que gerou felicidade
Transcende à própria vida e me transfere
A luz que tantas vezes regenere
O que tal descaminho já degrade,

Ao menos noutro tempo que se aguarde
A luz trará a força que interfere
E mesmo quando amor mordas nos fere
Ao fim de tudo vejo a claridade.

Exposto sem defesas, nada temo,
Do quanto me proponho sou extremo
E nele faço assim minha morada,

Vencer os meus degredos, meus anseios
Sabendo decifrar medos alheios,
Singrando destemido a velha estrada.

24997

Exprime todo amor que eu bem queria
O verso imaginário que não veio
Aonde se transforma em vão receio
Decorre desta antiga alegoria

Mergulho nos quinhões de uma utopia
E deles percorrendo cada veio
Adentro as ilusões e de permeio
O tanto que desejo se desfia.

Anelos nos uniam; vã quimera
A vida noutras plagas se tempera
E deixa o nunca ser como uma herança

Vencido e cabisbaixo sigo aquém
Do quanto desejara e nunca vem,
O olhar para o jamais enfim se lança.

24996

Um novo amanhecer já se recria
Depois da noite escura que passamos,
A vida não suporta escravos e amos
E neles se traduz farta agonia,

E vejo o que emoção já fantasia
E nela com certeza mergulhamos
No canto que em louvores consagramos
A paz tão desejada ora nos guia

Levando ao mais profundo de nossa alma
A paz que assim se emana nos acalma
E mostra ser possível ter nas mãos

Além dos vãos deveras costumeiros
A glória de momentos lisonjeiros
Trazendo esta fartura feita em grãos.

24995

Ao estender a paz, tranqüilidade
Estendes tua mão e trazes luzes
Aonde com certeza reproduzes
A mais perfeita e rara claridade

E tendo sob os olhos liberdade
Os medos e os fantasmas, velhas urzes
Distantes dos caminhos que conduzes
Enquanto o coração em paz já brade

Ecoa-se distante a voz suave
E sem ter o temor que ainda agrave
O dia transcorrendo mansamente,

Já não permitiremos o vazio
E quando a tempestade eu desafio,
O amor, vida refaz, noutra semente.

24994

E vamos nesta mesma direção
Buscando a claridade deste sol
E como poderia um girassol
Olhando a bela estrela na amplidão
E quando as boas novas chegarão
Eu quero que se espalhe no arrebol
A saga maviosa de um farol,
E os dias com certeza brilharão
Tramando a mansidão que tanto almejo
Deixando para trás medo sobejo
Vivendo a eternidade em paz imensa,
Assim ao vislumbrar o amanhecer
Apenas belos frutos recolher,
No amor sublime a luz da recompensa.

24993

Banquetes que se faz do mesmo pão
E vinho que nos trouxe o Redentor
Sentindo se aflorar o imenso amor
E dias mais felizes mostrarão

O quanto é acertada a decisão
De ter nos olhos preces em louvor
Sabendo cultivar, o lavrador
Uma esperança traz em cada grão.

No joio que se espalha no trigal,
Vencê-lo num constante ritual
Faz parte desta luta pela glória

Não temo tempestades nem inverno,
O amor no qual deveras eu me interno
A sensação eterna de vitória.

24992

Multiplicando assim, a simples soma.
As ânsias se transformam em verdades
E quando com carinho ora invades
Quebrando o que já fora uma redoma,

A sorte num segundo enfim nos doma
E deixa para trás algemas, grades
Traçando no futuro as claridades
Entorpecendo a dor num quase coma.

Assisto aos seus encantos e mergulho
Sem ter sequer mais medo nem orgulho
Vagando esta insensata maravilha,

Astuciosamente o amor desnuda
Uma alma que embevece e deixa muda,
Delícia que se faz louca armadilha.

24991

Atados, mas libertos, vida afora
Jamais ninguém consegue decifrar
O quanto nos domina o bem de amar
Que ao mesmo tempo ilude e nos decora,

Sem ter sequer noção do dia e da hora
Agora com certeza é bom lugar
E deste tênue e vasto caminhar,
A cada novo tombo, o amor escora

Feridas cicatriza ou mesmo crua
Enquanto realidade é fantasia
E bebe da ilusão insaciável,

Esgota-se em si mesmo, o tal do amor,
E nele se percebe o redentor
Por vezes ilusório e indecifrável.

24990

Do mundo em que felizes, prosseguimos,
Estrela que nos guia e nos transporta
Deixando sempre aberta a velha porta
Jamais enfrentaremos medos, limos,

E quando em novo passo decidimos
Futuro glorioso onde aporta
O barco que nos leva amor exorta
À paz que tanto busco e que sentimos

Na placidez de um terno e belo lago,
Trazendo ao sonhador, calor e afago
Vencendo os mais diversos dissabores,

Escuto a tua voz e nela creio,
O amor quando se dá sem ter receio
Permite que se cevem raras flores.

24989

Reféns do amor imenso que nos toma
Seguimos pela vida sem pensar
Por mais que se perceba o derrotar
O amor quando demais se mostra em soma.

Jamais se permitindo algum ocaso
Brilhando a cada dia e sempre mais,
Momentos do teu lado, divinais
Da dor e do temor, já não me aprazo,

E quero ser teu terno companheiro
Vivendo esta emoção que nunca morre,
Felicidade em êxtase socorre
A vida se mostrando por inteiro

E quando navegar em turbulência
Nos braços de um amor, paz e clemência.

24988

Macabras sensações noites de frio,
Arfantes e terríveis ilusões
Estraçalhando agora os meus verões
Versos imersos trazem o vazio

E dele refazendo a dor, procrio
O quanto com sarcasmos decompões
Vivendo desde sempre as tentações
Aposto neste insano desafio,

Velhacarias sei até de cor,
O quanto poderia estar melhor
Nem mesmo uma resposta ainda encontro,

Depois de tanta busca sem sentido,
Uma esperança dorme neste olvido
Deixando tão somente o desencontro.

24987

Perdendo todo o senso, nada tenho
E deste apodrecer em plena vida
Enquanto a solução está perdida
A própria derrocada eu já desdenho

E sigo sem saber se existe glória
Tampouco me importando, mato a luz
E quando ao desespero me conduz
A vida, transformado em vã escória

Naufrago com propósitos venais
Os barcos que talvez inda salvassem
E quanto mais os dias embaracem
As pernas esqueceram-se dos cais

E vago entre sarjetas, botequins
Cuspindo nos arcanjos, querubins.

24986

Não tendo mais noção sequer de quando
Eu poderia ter um pensamento
Que até minimizasse o sofrimento
Tornando o meu caminho bem mais brando,

Mas quando vejo a história transmudando
O que quisera em paz vira tormento
Por vezes outra senda ainda tento,
Mas nada obedecendo ao vão comando.

Egrégio da ilusão; vasculho o nada
Buscando em livramento a alma lavada
Desdéns e até ofensas são a paga

Entranho outras veredas, labirintos
Momentos de calor agora extintos
Somente a dor irônica me afaga.

24985

Estrídulos; escuto de onde venho.
Falando deste insano proceder
Que tanto nos trouxera desprazer,
E nele o desespero fecha o cenho,

Angustiadamente a vida passa
E mostra em dissabores treva imensa
E quando noutra estrada uma alma pensa
Despensa da ilusão envolta em traça;

Acréscimos de dores, medos e ira
Refazem e reforçam vandalismos
E aonde quis a base, cataclismos
A morte nos devora e já se atira

Fazendo em barricada o descaminho,
Por isso após a chuva irei sozinho.

24984

O céu que me guiara desabando
Em chuvas que bem sei torrenciais
A vida que ora em trevas vós me dais
Perdendo novamente o seu comando,

Destroços do que fomos me mostrando
Momentos entre perdas abissais
Aonde imaginara paz, jograis
Em falsas impressões vão desfilando.

Elevo o meu olhar, busco o horizonte
E mesmo que outro sol venha e desponte
O resto do que fomos perambula,

E a vida sem sentido segue em vão,
Os dias que vierem nos trarão
O fim que com sarcasmo nos oscula.

24983

A vida se esvaindo sem empenho
A sorte se desmembra em medo e dor
Pudesse ter nas mãos outro louvor
Diverso do que agora inda contenho

Um templo aonde amor se fez mais forte
E traz a luz imensa da esperança
Que quanto mais distante quer e alcança
Trazendo ao meu viver quem o conforte.

Saber das renitências deste passo,
Vagando em luz sombria, se percebe
Ausência de ilusão tomando a sebe
Condena-me deveras ao fracasso,

Mas quando te percebo mesmo alheia,
A vida novamente se incendeia.

24982

As nuvens se aproximam já em bando
Trazendo este ar sombrio que não quero,
O tempo noutro tempo bem mais fero
A chuva em tal torrente desabando,

E quando se pensara em vento brando
A sorte a cada dia destempero
E tudo que queria, eu degenero
O quadro em tempestade se formando.

Alheio às tais angústias, pensamento
Vagando pelas nuvens, inda tento
Um terno amanhecer, mas nada disto

Trará uma certeza de outra vida,
O medo a cada dia tanto agrida,
Porém intemerato não desisto.

24981

Apenas o vazio inda contenho
Depois de ter tentado a luz e a glória
Restando deste pária, vaga escória
Ainda que decerto algum empenho

Demonstre este vazio de onde venho
E traga falsamente uma vitória
Que ao fim se mostre pálida vanglória
Alheio caminheiro, nada tenho

Somente o meu olhar e nada mais,
Por onde se pensara em magistrais
Momentos desabando a minha tenda,

Deserto sem oásis; percorrendo
O medo me tomando anoitecendo
Nem mesmo um descaminho a alma desvenda.

24980

A noite que se fora em liberdade,
Não deixa mais sinais do que eu pudera
Apenas navegando em fria espera
Sem ter a fantasia que inda aguarde

Chegada deste barco em tempestade
A sorte muitas vezes sendo fera
No quanto se deseja destempera
E muda do viver, a qualidade.

Esgoto os meus espectros neste charco
E quando imaginara mesmo parco
Algum momento em luz, a noite vem

E diz em repetidos pesadelos,
Que amores se distaram, nunca vê-los
Traduz o meu futuro sem ninguém.

24979

Entranha nos esgotos, falsidade
E mostra no sorriso do carrasco
O quanto se transforma em medo ou asco
A sorte que deveras se degrade,

Aonde quis talvez uma saudade
Quebrando da ilusão, o pote e o frasco
As frondes da emoção agora eu lasco
E creio na fatal impunidade.

Servir aos dissabores da paixão
Estranhas excrescências mostrarão
O quanto se faz pouco do talvez,

Ansiosamente aguardo o desenlace
E mesmo que outro rumo a vida trace
O sonho há muito tempo se desfez.

24978

E eu mostro a minha face predileta
Aonde tu quiseste algum sorriso,
Não posso enfim perder noção e siso
Uma esperança em nada se completa

Se tudo o que vivesse em tal abjeta
Figura transformasse um ar preciso,
Meu passo muitas vezes mais conciso
Arguta fantasia o amor ejeta.

Na crença de outro dia mais feliz
O todo muitas vezes contradiz
Um fato claro e explícito: não ser.

Pudesse pelo menos ter em mim
As flores que cevara num jardim
Que vi; a cada dia apodrecer.

24977

Exposto nas esquinas, nos vitrais
O Amor se faz estúpida quimera
E aonde se prepara ou mesmo espera
Os dias se tornando sempre iguais

Momentos onde outrora magistrais
Agora solidão chega e tempera,
A morte de um amor se regenera
E tudo traz os dias tão banais.

Trazendo ao meu olhar medo e desdém
Enquanto ainda a luz ele contém
Esboço este sorriso de quem sabe

Que tudo vale a pena, mesmo quando
Pressinto o nosso templo desabando
Até que toda história um dia acabe.

24976

Não deixo nem pegadas nem sinais
Andara pelas trevas e tentara
Ao menos uma chance bela e clara
De ter momentos nobres, magistrais,

E quando os meus anseios; destroçais
O fim anunciado se prepara
E o quanto quis da luz já se apagara
Em vós não tenho paz me transtornais.

Perpetuando o vago que ora sou
Não tendo outro caminho, o que restou
Traduz a insegurança e me aprofundo

No nada que percebo ao fim da tarde
E mesmo quando a morte já retarde
Há tempos me sentindo moribundo.

24975

E em cada nova curva, perco o rumo
E sei que não podia ter no olhar
Toda amplidão imensa deste mar
E quando distancio; não me aprumo

Queria ter nas mãos, o meu futuro
E crer ser mais plausível aonde possa
Vencer as tempestades minha e nossa
Caminho virtual, sonho e procuro

Andante cavaleiro de la Mancha
A sorte não se fez em boa senda,
A sanha mais audaz não se desvenda
E toda a minha glória se desmancha

Deixando um leve rastro tão somente,
E a doce fantasia não desmente.

24974

Aos poucos ao vazio eu me acostumo
E faço dele um ato de esperança
Aonde o coração ainda alcança
Expressa esta ilusão e dela o sumo

Ainda mesmo pouco já consumo
Vivendo com astúcia a luz amansa
O coração que às vezes tolo cansa
Até chegar aos olhos novo rumo.

Aprumo-se e prossigo nesta luta
E quando o passo atrasa ou se reluta
A luz ao fim do túnel diz farol

Que ao navegante ilude, porém guia
Durante a noite amarga e tão sombria
Promessa de alvorada em brilho e sol.

24973

A solidão se mostra mais completa
Depois de tantos anos do teu lado
Caminho por estrelas decorado,
O amor é solução, estrada e meta

A refeição soberba e predileta
O sonho desta forma destroçado
Amarga sensação, do fútil Fado
Felicidade aos poucos se deleta.

O quarto se tornando agora imenso
E quando no passado ainda penso
Extensas ilusões deitam aqui

E nelas eu te vejo audaz e nua,
Porém a tua ausência continua
Dizendo em plena voz que te perdi.

24972

Nas hordas de fantasmas vejo a meta
Dos sonhos de um estúpido cantor
Sem ter sequer aonde ainda por
O verso que transcende se completa

Na quase sensação de ser poeta
E ter sob meus olhos este andor
Que um dia imaginara redentor
E agora se transforma em luz discreta.

Em sobressaltos passo a minha vida
E quando desta insânia se duvida
Exponho o coração quase em destroços

Da morte que virá, a paz recebo
Dos vermes e bactérias eu me embebo
E ao fim só restarão de mim, os ossos.

24971

Daquele que se foi e agora assumo
Não posso decifrar as emoções
E tudo o que deveras ora expões
Explica o desmembrar num outro rumo

E quando pouco a pouco já me esfumo
Vagando por espaços, amplidões
Bebendo das estranhas sensações
Até aos dissabores me acostumo.

E quase não percebo alguma luz,
Ferrenhos vendavais em corpos nus
Momentos de prazer, gozo e regalo

Apenas fantasia e nada mais,
Porquanto fossem horas magistrais
Vazio depois delas, eu me calo.

24970

Da doce morte eu bebo todo o sumo
E traço os desafios que pressinto,
Por vezes iludido, mesmo minto,
Depois os meus engodos eu assumo

E quando navegasse em novo rumo
O pesadelo aumenta, o outrora extinto
Vulcão se faz em lava e quando eu sinto
A vida novamente vai sem prumo.

Extasiado o fim já se aproxima
E deixo para trás amor e estima
Estigmas que carrego e não liberto,

Assim entre as tormentas e os vagares
Por onde incertas nuvens encontrares
Decerto eu estarei sempre por perto.

24969

E uma alegria insana, a dor já veta
Deixando por herança a morte em vida
E quando se procura uma guarida
Medonhos festivais, terror e seta,

Perpetuando a noite, se completa
Na arrepiante sombra em despedida
Mergulho neste pouco que ora lida
Com toda a insensatez, caminho e meta.

Vestindo estas mortalhas que me deste
A terra que pisara agora agreste
Impede o renascer de uma esperança

E enquanto estios vários se sucedem
As ânsias e os vazios já me impedem
E a voz sem ressonância ao nada eu lanço.

24968

Nos bares me inebrio a cada dia
Dos sonhos e aguardentes, treva e luz,
E a vestimenta escusa reproduz
Momentos em falsidade ou alegria

E enquanto se desnuda a fantasia
O beijo sem amor já não seduz
E vejo o meu retrato em contraluz
Entorpecido encanto se desfia.

Herético ou hedônico, vulgar,
Aonde cada estrela irá brilhar
Meus olhos acompanham bem ou mal,

E quando me percebo enternecido,
Audácia enaltecendo esta libido
E a angústia se inicia ou tem final.

24967

Encontro na sarjeta a poesia
Depois de tantas vezes ter a sorte
De uma palavra audaz que ancore a aporte
Meu mundo de tormenta e de alegria,

Descrevo a madrugada, ganho o dia
E vejo o nascimento, vida e morte
Tocando para o Sul, adentro o Norte
E vivo sem temer tal utopia.

Urdida nas entranhas do vazio
O todo neste instante desafio
E brinco sobre as águas; timoneiro

Das letras e palavras; comandante
Eternidade eu mudo num instante
Enquanto enfrento o mar, dele me esgueiro.

24966

Que traz alguma força para o sonho
Do qual a poesia dessedenta
Sabendo quanto a vida diz tormenta
Um cais abençoado ora componho

Usando da palavra; um bem medonho
Por vezes pacifista ou violenta
Deveras alegria que lamenta
Ourives da ilusão tiro e reponho.

Na mágica e concreta poesia
A vida transparece opalescente
Por mais que esta verdade eu reinvente

O quanto já perdi se fantasia
E molda novo escape ou a prisão,
Aonde há tempestade e calmaria, sim e não.

24965

Do todo que já tive resta o nada
E dele não percebo alguma chance
Que possa me mostra ledo nuance
Depois de tanto tempo abandonada

Uma alma se pergunta desolada
Se a vida permitindo algum romance
Durante a tempestade ainda avance
Mudando todo o rumo desta estrada.

Quiçá felicidade seja alheia
E quando uma vontade me incendeia
Banquetes da ilusão em pratos nobres

Porém logo assassino tal vertente
Por mais que uma esperança ainda alente
Com manto negrejado tu me encobres.

24964

Deitando o meu caminho na calçada,
Vagando em noite imensa sem a lua
Que ao léu se entrega às nuvens, e ora atua
Em outras plagas distas, vai nublada.

A sorte em tantas dores desmembrada
A vida sendo exposta nua e crua
E enquanto minha estrada continua
Vencida e há tanto tempo desolada

Erguendo o meu olhar, neblinas fartas
E quando da esperança mais me apartas
Tocando com as mãos em carne viva

Percebo quão inútil prosseguir
Sem ter o que pensar, morto o porvir,
Aguardo alguma luz que sobreviva.

24963

E nele uma terrível solução;
Nas mãos o fim da tarde nega a noite
O vento se tornando feito açoite
Apenas tempestades me trarão
As ânsias que perdendo a direção
Causando a solidão neste pernoite
Por mais que uma ilusão ainda acoite
O sonho que se deu em migração.
Felicidade é lago em placidez
Que a própria natureza já desfez
Deixando em seu lugar árido solo,
E dele o que fazer? Perdendo os grãos
Noturnos pesadelos, velhos vãos
Abrindo-se na terra então me imolo.

24962

A seca dominando o meu jardim,
Não deixa qualquer dúvida: jamais
Terei depois de quanto derrotais
A paz que necessito e morro assim

Sem ter momento algum de paz enfim.
Em vós por tanto tempo quis bem mais
Do que deveras sei que demonstrais,
As lágrimas tomando a minha estada

Aonde se pudesse nova escada
Que aos céus levasse em manso ritual,
Mas como poderia, pois roubardes

E as luzes que eu sonhara morrem tardes
E não vejo mais sequer algum degrau.

24961

Matando toda a minha plantação
Esta aridez terrível toma tudo
E quando em nuvens negras eu me iludo
Os dias novamente me trarão

O vento leva noutra direção
Coração silencia e segue mudo,
Uma esperança é sempre tolo escudo,
Porém se eternizando este verão.

E assim vai prosseguindo a minha vida,
Aonde quis amor, só despedida,
Aonde pus meu barco, perco o cais,

Num luto que se mostra dia a dia,
A seca deste solo nada cria,
E o sol diz inclemente: nunca mais.

24960

O verso em que teimava nexo e rota
Agora se perdendo sem sentido,
Tocando mansamente dor, libido
Ao mesmo tempo luz e medo nota.

E quando me perdendo se denota
O medo muitas vezes dividido
O templo dos meus sonhos destruído,
A roupa da ilusão já se amarrota

Navego pelo nada e neste pouco
Às vezes prosseguindo manso ou louco
Do verso que perdi sequer notícias,

Mas como irei fazer sem direção
Caminhos turbulentos mostrarão
O fim das esperanças e delícias.

24959

Perdido sem caminho ou direção,
Exposto às ventanias busco um cais
Aonde com certeza derramais
As luzes mais sublimes, coração.

E quanto vos percebo a solução
Em dias mais felizes nos cristais
Que um dia com prazeres sem iguais
Iridescentes cores mostrarão.

Nas pedras, nos espinhos, urze e flor
As variantes todas; guerra e amor
Lições que aprenderemos com certeza,

E sinto-vos deveras muito além
Das dores e terrores que inda vêm
Mudando desta vida, a correnteza.

24958

Porém, pressinto ser melhor assim
Aposto nos meus dias que decerto
Mostrando a solidão que hora deserto
Vivendo esta alegria sem ter fim,

Saber que desde quando existe em mim
Um templo de ilusão que estando aberto
Permite um caminhar outrora incerto
Agora com firmeza vejo afim.

E desta afinidade me alimento
Vencendo intempéries e tormento
Ancoradouros tantos; imagino,

Aonde houvera turva imensidão,
Os dias mais pacíficos virão
E neles um momento cristalino.

24957

Da dor eu não conheço arribação
Extraviada sorte trama o fim
E quanto mais audaz, percebo em mim
Que as alegrias vãs debandarão

Deixando como um rastro pelo chão
Da insânia que completa este jardim.
Abrolho destroçando algum jasmim,
A seca dominando uma estação.

A fúria violenta das tormentas
E enquanto novamente tu assentas
A paz neste supremo e belo trono,

Olhando para os lados nada vejo,
E quando mal percebo; outro lampejo
E o rumo que escolhera; ora abandono.

24956

Carcomidos os olhos da esperança
Deixada nesta entrada sem saída
E quando mergulhando em despedida
À fúria terminal ora se lança

Deixando no passado a temperança
A sorte desta forma, vã, urdida
Imenso labirinto onde perdida
Uma alma tem o nada como herança.

Assim ao perceber final dantesco,
Após um leve instante em gozo insano,
Do quanto que não fui; já não me ufano

Às vezes tão venal ou quixotesco
Prazeres incontidos? Ilusão
As hordas de demônios mostrarão.

24955

Extremas sensações que já sentiram
Os que perderam rumo pela vida
Por mais que a realidade nos agrida
Momentos mais felizes impediram

A queda que absoluta não nos deixa
Seguir a caminhada à qual destina
Mesmo que seja turva ou cristalina
Imersa em alegria, medo ou queixa.

Da paz à guerra um salto momentâneo
E nele este tropeço é natural,
Até que num instante, o terminal
Conheçamos enfim o subterrâneo.

Levando desta história dor e mel,
Seguindo pro vazio, Inferno ou Céu.

24954

Cadáveres; em vida coleciono
E faço destes restos um emblema
Estrelas que pensara em diadema
Aos poucos se entregando ao abandono.
E quando em fantasias sou teu dono,
Por mais que tudo ocorra nada tema
O coração no qual o amor se algema
Trazendo mansamente paz ao sono.
Mas quando estes escombros tanto pesam
E os sonhos e delírios me desprezam
Só resta ao cantador, a solidão.
E vago pelas ruas, vou aos bares
Espero com certeza que ao voltares
Cadáveres que trago; morrerão.

24953

Na cíclica agonia que nos ronda,
Felicidade é mera fantasia
Medonha tempestade que se cria
Fazendo que esperança ao fim se esconda.

Pudesse crer na paz que nunca veio
E ter nos olhos raro amanhecer,
Não deixe mais o sonho esmorecer
Embora natural tanto receio,

Adentro os vales turvos da ilusão
E cevo com carinho e como vês
Após uma alegria esta aridez
Momentos que decerto mostrarão

O quão inútil crer noutra saída
Se já perdemos toda a nossa vida.