domingo, julho 16, 2006

poemeto

Seu doutor, me dá um tempo
Preu poder te confessar
Depois desse contratempo
Não posso nem vou negar
A vida me deu saudade
Por herança e por meu bem
No tempo da mocidade,
Ficou o gosto d’alguém...

poemeto

Não quero saber de ti
Nem quero mais solidão
De tudo que já vivi
Nem me resta mais perdão
Só me traz o pensamento
Longe de tantas promessas
Vou morrendo esse momento
Amando-te às avessas...

poemeto

No tabuleiro da serra
Seguindo pelas estradas
Vou trilhando pelas terras
Nas noites enluaradas.
Estrelas por companhia
Em busca do meu descanso
As três marias por guia
Em Maria o meu remanso...

poemeto

Gosto doce da maçã
Na boca de quem amei,
Trazendo meu amanhã
Dos tempos que já passei.
Vem morena me dizer,
Conhecer a mansidão
Nos teus braços vou morrer
Maltratando o coração...

poemeto

Vou em busca de teu beijo
Percorrendo essa cidade,
Espreitando meu desejo,
Conhecer felicidade.
Mas bem sei que sou sozinho
Desencanto de verdade,
Procurando pelo ninho
Encontrando falsidade...

poemeto

Eu bem fiz minha morada
Desse peito sofredor
No final, não deu em nada
Pouca coisa que restou
Foi somente essa saudade
Que me faz seguir em frente,
Amar, amei de verdade,
Me curei, fiquei doente...

poemeto

Vai o trem do caipira
Desfilando pela estrada
Espingarda quando atira
Com a mira enviesada
No meio do matagal,
Na noite enluarada
No canto desse urutau,
De tristezas, recheada...

poemeto

De Denise quero o canto
De Renata, a alegria
De Luiza, seu encanto,
O paladar de Maria
Quero de Rita a delícia
Que conheci em Joana,
De Paulinha, essa carícia
Que só me deu Mariana...

poemeto

Conheci tantas mulheres,
Tantas que perdi a conta,
No meio desses talheres,
Minha boca ficou tonta,
Procurando por carinho,
Devorando essa saudade,
Mas agora, vou sozinho,
Veja bem que maldade...

poemeto

Benfazeja essa cidade
Nas montanhas das Gerais
Onde toda claridade,
Brilha tanto, brilha mais...
Paraíso te pertence,
O teu próprio nome diz
Tudo em ti já me convence,
Pois és Espera Feliz...

poemeto

Eu nem sei como tu chamas,
Teu nome não quero ler
Só sei que quando me chamas,
Vou, bem rápido atender.
Pois, se me chamas querida,
Tem sabor de bem querer
Teu nome, já sei, é Vida,
Só por ti, quero viver...

poemeto

Cada vez que me prometes,
Retornar ao meu viver
Que pecado tu cometes,
Cometes sem o saber.
Vai matando, devagar,
Lentamente sem ter dó,
Que prazer tens em matar,
Esse coração tão só?

poemeto

Saudade escreve teu nome
No meio da solidão,
Nessa poeira que some
Na curva desse estradão.
Vivo sonhando contigo
Nada mais quero viver
Nunca mais, nunca prossigo,
Não consigo te esquecer...

poemeto

Resta uma mesa na sala
E uma rosa no jardim
Tudo canta, tudo fala
Saudade batendo em mim
Foste embora, minha amada
Nunca mais poderei ter
Minha vida anda cansada,
Mil vezes melhor morrer...

poemeto

Nas cinzas do meu cigarro,
O que restou de você
No barulho do meu carro
Tanta coisa por dizer
Tantas curvas nessa estrada
Meu rumo vai se perder,
No final vai dar em nada
No nada, sobreviver...

poemeto

O gosto da poesia
Tem sabor dessa saudade
Que me invade todo dia
Que todo dia me invade.
Faz a vida ter valia,
Traz a luz e claridade
Vestindo de fantasia
Vai por toda essa cidade...

poemeto

Gosto amargo da saudade
Fica na boca da gente
Quando vem a claridade
Com o sol lá no nascente.
Bem sei que já vai embora
A mulher que tanto amo,
Correndo por mundo afora,
Teu nome, somente, chamo...

poemeto

Perguntei ao passarinho
Onde encontrava você
Ele me mostrou seu ninho
Onde podia esconder
O amor que tive na vida,
E, bem triste, já perdi,
Me disse, na despedida,
Eu bem te vi, bem te vi...

poemeto

Tesoura cortando pano,
Me faz lembrar de você
Quando ainda tinha esse engano
De nossa vida viver.
Mas tudo foi simplesmente,
Mentira sem serventia,
Hoje sei, completamente,
Que foi tudo, fantasia.

poemeto

Rosa tenho tanto medo
De perder o teu perfume
Conhecendo teu segredo,
Sentindo esse teu lume;
Das rosas que conheci,
Nenhuma é assim tão bela,
É pena que te perdi
Rosa branca e amarela...

poemeto

A porca de tão pesada
Já não anda, meu senhor
A vida desconsolada,
Nada serve sem amor.
Quero o pó dessa estrada
Alimenta o sonhador
Na noite, na madrugada
E por onde quer que eu for...

poemeto

Vi meu rosto nesse espelho,
Reflexo revelador,
No outro lado, bem mais velho
Valha-me Nosso Senhor.
Mas o coração safado
Mesmo assim não toma jeito
Achando-se com direito
De pender para o teu lado...

poemeto

Vagamundo, vagabundo
Coração sem serventia,
Rasgando rasgo profundo
Morrendo um pouco por dia
Cada dia sem Maria
Sem magia e sem valor
Trazendo tanta folia
Transbordando esse calor
Coração, bem que podia,
Traduzir taquicardia
Noutra palavra, amor...

poemeto

Minha mão anda cansada
De tanto escrever teu nome
Pela noite, madrugada,
Em cada canto ou calçada
Vasculho toda cidade,
Não encontro nem metade
Do que fomos e mais nada,
Nada mais quero da vida,
Minha esperança perdida,
Não consigo disfarçar,
Procurando no luar
O que restou de meu mundo,
Nesse universo que inundo
Com meu canto sem sentido,
Por mais que tenha vivido
Tudo se perdeu, sentido
Nenhum tem mais essa vida,
Que antes tivesse perdida
Do que perder quem amei.
Preciso saber onde estás,
Se existes ou se partiste
Onde encontrar essa paz...

poemeto

Tantas são as esperanças
Que encontro nos olhos teus,
Me trazendo essas lembranças
Desses tempos mais ateus
Quando alegre, qual criança,
Neles encontrei meu Deus...

Do Terrorismo

A invasão do sul libanês por Israel é injustificável. Tal atitude de declaração de guerra a um país vizinho, sob a justificativa de retaliação contra um grupo terrorista, transforma Israel em um Estado Terrorista.
Não concordo com as ações do grupo terrorista Hizbollah, longe disto; já que tenho em mente que as soluções pacíficas são as melhores para qualquer tipo de conflito, mas não posso conceber a invasão de um país livre, sob qualquer argumento.
O risco de uma eclosão de violência na região é iminente, podendo transformar o conflito em uma guerra de proporções comparáveis a de 1973, com a geração de uma crise internacional de resultados imprevisíveis.
Paralelamente a isso, a invasão do território palestino pelo mesmo estado Israelita, me faz crer que a paz no Oriente Médio é utópica, puramente utópica.
A reação do Governo Norte americano era de se esperar, já que a interação entre os povos vem de longa data, sendo Israel, o principal aliado norte-americano no Oriente Médio.
Assim como a tímida reação da ONU, desmoralizada e desacreditada desde o início da Guerra do Iraque.
Sou favorável à autodeterminação dos povos, visceralmente favorável.
Acreditando que cada povo tem direito à sua pátria, tal qual o povo judeu tem, vítima por milhares de anos da discriminação e da escravização; mas um erro não justifica outro.
Aliás, a reação do Império Norte Americano neste caso, me remete a outras situações onde as operações dos yankees se mostraram totalmente desastrosa, como no Vietnã, na Coréia e no sudoeste asiático, levando alguns povos à beira da miséria, como no Camboja e no Laos.
A ação imperialista americana nos leva também a pensar na ação européia sobre a colonização africana, quando a divisão de países não respeitou diferenças nem de povos, nem de nações, assim como de idioma e cultura.
A África ainda é um continente com fronteiras a serem refeitas, assim como a própria Europa refez as suas até os dias de hoje, com a independência de Montenegro, por exemplo, e as guerras na Chechênia e em Kosovo, territórios ainda sob custódia e de futuro incerto.
Recordo-me das ações criminosas do Estado Terrorista de Israel sobre os povos que mantém sob domínio, tão imperialista quanto qualquer potência da história.
Assim como, nos últimos anos do milênio passado, a ação dos governos norte americanos sobre o Oriente Médio, levando às intervenções desastrosas no Afeganistão e no Iraque, culminando com a invasão desses países e a criação e fomento da guerrilha e do terror.
Não podemos nos esquecer, também, da ação intervencionista e criminosa dos EUA sobre o Panamá e a Nicarágua, isso sem falar sobre Cuba, Filipinas etc.
Temos também, na nossa História, a amarga e cruel invasão do Paraguai, com efeitos deletérios insuperáveis sobre o povo vizinho.
A exploração vergonhosa dos povos mais fragilizados pelas potências mundiais ou regionais é uma constante na História do Homem.
Os pontos de tensão, como no Tibet, não escolhem ideologia nem culturas; sendo inerente ao ser Humano, desde a origem da espécie, dividida em clãs rivais.
Nesse ponto, desde o início da civilização até os dias de hoje, muito pouco evoluímos, sendo necessária uma reavaliação do papel das Organizações Regionais, como a OEA, a OTAN e a ONU neste campo importantíssimo para a organização da Humanidade.
Temos que tentar nos reavaliar e perceber até que ponto nós mudamos, desde o início até hoje. E como e onde poderemos agir para mudar essa realidade.
Quem gerou a crise na Coréia do Norte foi quem criou a Coréia do Norte, ou seja, o imperialismo soviético e norte americano que hoje posa de “moralizador” sobre o mesmo monstro que gerou.
Os atos de terrorismo feitos pelo estado israelense e os feitos pelos governos norte americano, russo, chinês e outros se diferenciam em que dos atos feitos por grupos não governamentais, como as FALC, a Al Kaeda, Hizbollah, entre outros?
É muito engraçado o Presidente Norte Americano agir como terrorista, em nome do combate ao terrorismo...
Aliás, qual o nome que poderemos dar às ações da CIA na América Latina nas décadas de 60 e 70?
A necessidade de uma noção mais clara de civilização se faz imperativa.
O novo mundo que queremos, justo e igualitário passa, obrigatoriamente pela ruptura do homem com suas raízes imperialistas, escravagistas e belicosa.
A utopia da igualdade, liberdade e fraternidade, que nos remonta a cada 14 de julho, na revolução francesa, ainda está tão distante como sempre foi, apesar da famosa “globalização” que é mais uma palavra sem sentido, apenas e tão somente um termo virtual...

Tucanolândia - capítulo 12 - Vale o que está escrito

Uma das coisas que mais chamava a atenção no reinado de Fernando Henrique Caudaloso era o cumprimento da palavra dada, só comparável à máxima dos banqueiros do jogo do bicho: “vale o que está escrito”.
Todos sabem que, em Tucanolândia, uma das coisas mais honradas é o jogo do bicho. Se você ganhar a aposta, pode ter certeza de que ganhará o prêmio, nada mais certo que isso.
Falando em banqueiro, Fernando Henrique Caudaloso, inspirado nesse exemplo, fez um programa de salvação dos bancos, o famoso PROER (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Sistema Financeiro Nacional).
Este programa, de total interesse nacional, já que as economias do povo do reinado, principalmente as pequenas economias dos mais pobrezinhos, iam para as cadernetas de poupança, aplicações comuns no reino, estavam todas no sistema financeiro do país.
Em um ato de total desprendimento e amor à pátria, com o sentimento verdadeiramente cristão, Dom Fernando Henrique Caudaloso primeiro, pensando no bem estar do povo, principalmente dos mais pobres, resolveu ajudar os pobres banqueiros que estavam tendo prejuízos enormes no reinado.
Os bancos das províncias, todos estatais, deveriam ser privatizados, já que, como sabemos, o povo do reinado não estava preparado para administrar os seus bens e, embora os políticos locais fossem de uma integridade ímpar, era melhor sanear as dívidas desses bancos antes de vendê-los, com altos lucros, para a iniciativa privada.
Pois bem, tal ato de heroísmo custou aos cofres públicos, segundo Fernando Henrique Caudaloso, somente cerca de dez bilhões de reais, embora para os presidentes do Banco Central de Tucanolândia tenha sido um pouquinho mais, cerca de trinta bilhões e para alguns economistas do Cepal, um outro tanto, cerca de cento onze bilhões, coisinha pouca, já que representam somente pouco mais de onze por cento de todas as riquezas nacionais.
Mas a palavra de honra é mais importante que tudo, e isso não tem preço.
A oposição ao Rei Fernando Henrique Caudaloso, essa oposição sem nenhum patriotismo e sem honradez, somente pelo fato de que um dos parentes do Rei ser casado com uma herdeira de um dos bancos ajudados, o Nacional, acusou o pobre rei de favorecimento.
Com essa ação, as pobres economias do povo de Tucanolândia, principalmente as Cadernetas de Poupança foram salvas, num heróico ato do Amado Rei...

Tucanolândia - capítulo 11 - eu assinei isso?


No reino da Tucanolândia, em 1998, a Presidência do Tribunal Regional do Trabalho do Estado de São Justo, achando que o prédio em que estava lotado era pequeno, resolveu construir um novo, grande e moderno.
Como se sabe, a justiça trabalhista sempre foi um dos maiores orgulhos do reino, com uma justiça ágil e competente.
O trabalho escravo, de há muito tinha sido erradicado do reinado, sendo extremamente raro um caso em que o trabalhador não tivesse as garantias trabalhistas.
O presidente do Tribunal, tinha tido a brilhante idéia de fazer essa mudança e, ao contrário do seu homônimo mais conhecido por Papai Noel, resolveu “cobrar” pelos direitos autorais, afinal ninguém é de ferro e uma obra de tamanha importância e relevo não era, assim corriqueira.
Pois bem, os royalties ficaram somente em cento e sessenta e nove milhões de reais, coisa bem pouca para um reino tão rico quanto o de Tucanolândia.
Claro que uma ação assim não seria isolada, teria que ter tido o apoio de outros cidadãos influentes no reinado.
Um deles, senador eleito pela capital do reinado, Tucanolandópolis, teve seu nome firmemente associado ao delito.
No escândalo que se deu, não houve jeito, cassaram o senador e prenderam o juiz.
Coisa rara àquela época, tivemos a punição dos dois.
O problema é que, a obra tinha sido analisada e condenada pelo Tribunal de Contas do Reinado.
E, para que fosse aprovada, tinha que passar pelo clivo do Rei Fernando Henrique Caudaloso Primeiro. Esse, como um dos maiores intelectuais do reino, surpreendentemente afirmou, num ato de auto crítica, que NÃO TINHA LIDO O QUE TINHA ASSINADO!
Depois, um dos analistas mais conhecidos do reino, justificando o fato, afirmou que era compreensível que um homem como aquele, doutor honoris causa de várias Universidades Européias e Nacionais, como a Faculdade de Ciências Ocultas e Letras Apagadas de Piriri do Norte, uma província famosa de Tucanolândia, estava genialmente distraído...
Uma outra coisa interessante ocorreu no julgamento do Senador de Tucanópolis: havia um painel, aparentemente inviolável, de votação; mas, dois senadores curiosos e amigos da turma que programara, eletronicamente, o painel de votação, tiveram acesso à lista de votação, afirmando que sabiam quem votou contra ou a favor da cassação do Senador.
O interessante é que um deles, um baiano famoso, Toninho Bondadeza, disse que uma das maiores adversárias do Governo, uma senadora famosa da oposição, tinha votado CONTRA a cassação do senador.
Depois disso, ambos renunciaram para não serem cassados, coisa em que foram imitados anos depois por outros políticos.
Ah, em tempo, um dos maiores críticos da atitude desses parlamentares foi Patrick “Olha a faca”, neto de Toninho Bondadeza...

O umbigo na terra.

Seu moço, aqui é minha terra, meu torrão natal, meu e dos meus pais, dos meus irmãos e dos meus avós.
Aqui estão enterrados todos aqueles que amei, em cada palmo desse chão, está a história desse que vos fala.
Filho de Dona Zica e de Seu Lula, gente simples, trabalhadores, que a terra engoliu de velhice, velhice de sertanejo que começa depois dos trinta.
As rugas precoces e profundas me lembram a terra seca, profunda nas grotas e nas curvas do rio seco. O suor molha mais os sulcos que a chuva, coisa difícil por aqui.
Chuva que, quando vem, transforma a vida, vida boa, vida próspera nas colheitas de mandioca, feijão, milho; no leite gorduroso das cabras e da vaquinha, companheira fiel no arado e no alimento.
Mas, a cacimba da alma, tantas vezes aguada pela dor da morte, carpida e tristonha, das perdas da vida e das vidas, tem a água salobra, que prende na garganta, não desce, empanturra.
Meus irmãos, dos quinze que Deus deu, a seca, a fome, a desidratação e a surucucu levaram oito. Sete restaram, todos fortes e valentes, todos foram embora, menos eu.
Fiquei aqui, essa é minha terra seu doutor. Meu umbigo está grudado nesse chão.
O riacho, quando vivo, é tão bonito, mas, na seca, com seu leito cheio de areia e de pedra, leva as mães, como levava a minha, com a lata na cabeça, em busca da água barrenta no açude seco.
Nessa terra, moço rico tem água, fazendeiro rico tem gado, e tem os caboclos e jagunços.
Meu pai, pobre e lutador, morreu sem bala, sem tiro, sem morte matada, a não ser dos calangos e dos bichos da seca.
Gambás e cobras ajudavam a matar a fome, mitigada pela palma, disputada com o gado.
Somente o carcará, bicho danado, tinha pasto nas carnes dos bichos mortos pela queimada e pela seca.
Vaqueiro, sou vaqueiro com meu gibão e cravinote, pronto para a batalha, correndo entre os espinheiros dessa caatinga seca e sedenta.
Minha mãe, me recordo sempre, dizia, entre as orações de graças e de pedidos de perdão, pelo pecado cruel de existir, que onde o umbigo está, a vida continua, a distância traz a falta de paradeiro.
A pedra que não cria limo, é pedra rolando, inconstante e que, quem muito muda não cria limo.
Meu limo está entranhado nessa vaquinha, nesse arado, nesse chão.
Não vou embora não seu moço, fico aqui até o derradeiro dia.
Minha esperança é tão verde quanto meu sonho, quanto os olhos da amada, os olhos da terra que tento cultivar.
No cultivo da espera por outro tempo, um dia...
Os moços prometeram, vi na televisão, mas é tanta promessa que não tenho mais pressa, nem esperança.
Vou vivendo, às avessas, sem amanhã, na espreita do calango, na ponta da espingarda, com o rosto, a cada dia, formando as serras e os vales.
Vou ficando, quem sabe um dia, essa terra, minha terra, seja mais mansa e mais amiga.
Minha mãe e meu pai, meus irmãos, trago comigo, pesando o coração, deixando meu andar de banda, por estas bandas onde vivo, aonde vou também, um dia, me juntar com meu umbigo e alimentar esse chão.
Faminto de todo meu povo, matando a fome do sertão.
Meu sangue, regando a terra, para que, quem sabe, um dia, os homens desse país, pensem um pouco na gente.
Nós somos brasileiros, esse é o nosso país, mais que brasileiros, nordestinos, essa é nossa sina e mais que nordestinos sertanejos.
Aqui, nessa caatinga; aqui, nesse sertão, é nosso primeiro e derradeiro solo, o solo sem consolo, o solo sem apoio, no aboio do meu gado, da minha vaquinha Estrela, do meu boi Fubá, da estrela solar que esturrica, que seca e mata.
A terra, meu único bem, bem amado bem te vi, no mandacaru que, a cada florada, traz a esperança do milho, do feijão e da mandioca.
Por isso, seu doutor, não vou embora, nunca na minha vida.
Não deixo o meu Ceará, é aqui a seara onde será, meu sertão, a terra prometida, minha lida e minha sina, minha raiz.