sexta-feira, setembro 22, 2006

Noite dos Amores

Meus olhos decifrando teus problemas,
Decoro minhas tendas com mentiras.
As ruas que iluminas, velhos temas.
As cancerosas bocas que me atiras.

Nas melindrosas luas, meus poemas.
As trevas que me deste, velhas tiras.
Nos medos que segredas torpes lemas.
Nos teus tantos dilemas já me estiras...

Adormecido nas guerras que me fazes,
Iluminando o brilho do meu túmulo.
As vezes que fingiste surdas pazes.

O começo e final, tu és o cúmulo!
As forças que roubaste fazem falta.
A noite dos amores, dorme incauta!

Decadência II

A decadência bate em minha porta...
Não me restam pernas ando cego.
Minha esperança luta, mas vai morta.
As dores do passado inda carrego.

Os tempos já são outros... Quem se importa?
As mãos já calejadas, nenhum prego.
O resto que desaba, sangra, corta...
As lutas que perdi, embalde, nego!

A decadência serve-se do resto,
Não tenho a lucidez para enfrentar
A morte. Companheira a quem empresto

O que sobrou dos raios do luar!
A mão vai descrevendo um simples gesto,
Coragem necessito: me matar!

Medo de Morrer

Olhando meu passado, hoje percebo.
Como pude mudar tão de repente?
Não posso nem pensar como concebo,
Quem fora mais feliz, vai simplesmente...

A morte bafejando me desmente,
Quem outrora já fora bel mancebo,
A pele se desmancha, um velho sebo.
Jogado às traças, morte está presente...

Não quero decifrar nenhuma esfinge.
Parábolas criadas não as temo.
A boca que hoje beijo, mente, finge.

Meu barco naufragado não tem remo...
A dor de não saber já vem, me atinge...
Com medo de morrer, então eu tremo!

Zombar do Amor

Quem zombava do amor, agora chora!
A vida tem perpétuas nuances...
Olhando assim de banda, tais relances,
Balançam derrubando tudo agora!

Quem zombava, jamais perdeu as chances
De sentir que essa vida nova aflora.
A vida repetindo velhos lances,
Quem diz nunca amaria, vai-se embora!

As lágrimas que vertes são piadas,
Contadas num passado inda recente...
As noites mal dormidas, soluçadas...

Verdades doloridas pra quem mente...
As grutas que negaste, nas estradas
Defloram, te penetram docemente!
Nas minhas hemorrágicas saudades,
Nas minhas verborrágicas canções.
As noites foram trágicas verdades.
As dores deram túrgidas sanções...

Ascensão e declínio, veleidades...
Nas manhãs um fascínio, soluções!
Meu amor longilíneo, tantas tardes...
Mas conheci declínio sem perdoes!

Essa penumbra histórica me seduz,
Toda minha retórica desfaz...
A minha dor teórica reluz...

Nos olhos teu martírio já me traz
A porta do delírio que não nego.
Esperanças dos lírios que carrego!

Lendas

Percorrendo teus vértices, natura,
Encontrei as tais sombras que perdi!
Reparei criador e criatura,
No mesmo instante, morte conheci!

Quem fingia viver doce candura,
Me lambia, dizia: Estou aqui!
Serpente disfarçada de brandura.
Em fatais sortilégios eu cai!

Agora, agonizante caminheiro,
As cruzes que me deixas me penetram!
Os sonhos que jamais pensei adentram,

Deixando suas marcas e remendas...
Quem sempre parecera verdadeiro.
No fundo não passou de simples lendas!

Extrato

A vida chega, sangra sem perdão.
Dilacerando todo triste sonho...
Nada mais rutilando, sou o não.
O resto desse barco tão medonho!

Cicatrizes abertas, podridão!
Fraturam minhas pernas.... Me exponho!
Em cada novo verso minha aversão;
Extraída por fórceps. Bisonho...

Nada mais restaria, simples parto...
Abortei das entranhas meu futuro!
De torpes cantilenas já me farto...

Perambulo vielas, salto o muro...
Acaricio vermes. Me procuro
E me encontro, jogado, resto, extrato!

Desdém

Por que me desdenhaste se te quis?
Nunca mais me deixaste, pensamento...
Quem me dera pudesse ser feliz.
A vida não seria sofrimento...

Tento escapar...Atiras... Qual perdiz
Ferida, me levanto. Caio... Tento...
Em vão... Tu conseguiste... Que fiz?
Destino não permite mais invento...

Por que me desdenhaste tanto assim.
A noite tenebrosa cai em mim.
Os olhos lacrimejo num delírio...

Os clarins vão tocando seu dobrado...
Amor que me deixou desesperado.
A vida deixará o seu martírio!

Vida

Tantos medos, sem te ter... És salvadora!
Essa porta entreaberta, a da saudade,
Permite adivinhar a mocidade
Esquecida num canto, redentora!

Não mais te esquecerei, jamais se fora
Quem me riscou os olhos, realidade!
A vida essa poeta e escritora,
Descreve seu lindo arco... Quem há de

Negar a sua força desmedida.
Caçar os teus destinos minha amada...
Verter os meus sentidos, incontida

Fera, que não me pede e perde nada...
Sem teus manejos, perco rumo e estrada.
Que seria de mim sem ti, ó vida!

Cura e Dor

Cadeias da tristeza, me livraste...
Deixando meus pés livres para a vida...
Das dores infinitas, me abjuraste.
Deixando essa mãos livres... Esquecida

Da proteção divina, me negaste...
Então mãos e pés, trazem despedida.
Quebraste sem saber toda fina haste
Que mantinha meus pés. Foste bandida!

Cadeias de tristezas, teu legado...
Preâmbulos mortais, velhas cantigas...
Um coração que fora apaixonado

Percebe velhas dores, tão antigas...
Um coração que bate, vai de lado...
Te imploro, vou tristonho, mas nem ligas!

Embriagado

Acaricio o corpo de quem amo...
Devagarzinho, manso, bem suave...
A voz macia, leve já te chamo
Para a vida, voarmos nossa nave.

Ao não te ver depois, então reclamo.
Não permitindo mais nenhum entrave,
O medo de perder-te. Nele inflamo.
Retirar de teus olhos triste trave...

O corpo de quem amo, acaricio...
Suave noite cai, trazendo ardor...
Em todos os momentos deste cio,

Amo-te demais; fina e bela flor!
Amar-te é droga, nela me vicio...
Embriagado, vivo desse amor!

Sonhos da Natureza

A natureza envolve-se em teus braços.
Adormece silente, tal beleza...
Dormindo calmamente teus abraços,
Esquece-se profana da tristeza!

Natureza adormecida, nos seus traços,
A vida se refaz bela certeza!
Os olhos que choravam, tristes baços,
Abertos, enamoram...Natureza...

Vindo o cheiro da terra que se molha,
Percebendo a meiguice, ser amada.
Acordando, tão mansa, pra tudo olha.

Procura teu sorriso, não vê nada!
A chuva caindo lágrimas, implora!
A natureza, entristece-se, chora!

Motivas

Motivas o soneto que hoje faço.
Manso, doce, pacífico, cru...
Tropeço, mergulhando me embaraço.
Desejo simplesmente o corpo nu.

Amada quero a boca, forte laço.
A rosa apodrecida, um abaju
Aceso, descobrindo meu cansaço.
Novas asas partidas, seminu...

Amor traga paixões e despedidas...
Estragando as cantigas, solidão...
Nossas portas fechadas, divididas...

As noites que enluaram o sertão...
Motivas meus sonetos, fomos vidas.
Destrambelhado bate o coração!

Teus Rastros

Procuro por teus rastros na campina...
A noite inteira, busco essas pegadas...
A lua, companheira me ilumina.
As horas que passei, nas madrugadas,

Nesta busca, beleza descortina...
Te quero, mais que tudo... São aladas
As velhas esperanças. Na menina
Que procuro, as ternuras encantadas!!

Procuro por teus passos, não os vejo!
Ao longe, vai tocando um realejo...
Um verde passarinho, da esperança,

Me mostra teu caminho, uma criança
Que aprendi tão risonho tanto amar!
Teus rastros encontrei. Vão dar no mar!

Fonte dos Desejos

Minha vida, que fora tão perdida,
Ao encontrar-te, livre como o vento.
Deixou a dor fatal na despedida,
E renasceu, matando o sofrimento!

Não quero mais viver tua partida,
Nem deixo suplantar-me tal tormento.
A solidão se encontra adormecida.
Saudade não deixou nem um lamento!

Te quero, amada, minha luz e glória!
A vida não repete velha história.
Quero ser teu eterno colibri.

Amo-te, bem sei, desde que nasci!
Eu encontrei em ti, deusa vivente,
A fonte dos desejos permanente!

Quem me dera...

Quem me dera conter tua saudade!
Quem me dera saber de teus desejos!
A vida não traria realidade
Na fantasia louca de teus beijos...

O dia nos pintando os azulejos
De fina cor mais viva, claridade!
A lua nos cedendo seus cortejos.
A paz dominaria humanidade!

Quem me dera saber de teus caminhos.
Viajando por espaços, passarinhos...
Navegando teu cansaço depois...

Nos mergulhos divinos de nós dois...
Meus sonhos e delírios de menino...
Vivendo até morrer num desatino!

Maior Amor

Não há maior amor, nem mais profundo...
Estrelas vão caindo, nos invejam.
De todos vários cantos, desse mundo.
Pérolas, esmeraldas te cravejam...

De ternuras, paixões, logo me inundo.
Telúricas manhãs já te desejam...
Nos cálices das flores eu vou fundo.
Belos azuis celestes se azulejam...

Não há maior amor, nem mesmo almejo...
Nas esperanças deixo meu barco ir...
Das ondas de teu mar, quero sentir,

As centelhas que brilham mal te beijo...
Não há maior amor, nem vou pedir...
Estrelas testemunham meu desejo.

Ansiada Manhã

Minhas lágrimas caem, são mendigas...
Imploram por teu beijo e tua boca.
As flores que murchamos, são antigas,
A vida que passamos, deixas louca!

Nos caminhos plantaste urzes, urtigas.
Minha voz, de implorar, ficando rouca.
Marinheiro, naufrágios, mas nem ligas.
Restou de tanta luta, luz bem pouca...

A minha namorada, minha amada,
Nas portas d’ilusão, perco meu mar...
Não espero teus ninhos, braços, nada...

Teus caminhos perderam-se... Amar...
Abra teus braços, dê-me esta ansiada
Manhã. Não me canso de esperar!

Negaste a Primavera...

Quando, enfim, me negaste a primavera,
A vida me sorria desdentada!
Não temia naufrágios, nem quimera,
Os meus dias sonhavam madrugada...

Mas vieste e roubaste, cruel fera,
As cores que pintavam deram nada.
As flores que teimavam, numa espera,
Morreram ao sentir tal invernada...

Nossa vida foi barco sem sentido,
Nossos olhos chorando na partida...
Nem posso lamentar tempo perdido.

Nem quero descobrir a nova vida...
Amor que se partiu, foi dividido.
Nada restou, senão a despedida!

Tarde Triste

Essa tarde caindo me entristece...
As nuvens decorando o entardecer...
Te peço, te implorando numa prece ,
Não me deixes jamais, melhor morrer!

Amada, mulher linda, não confesse
Teus pecados nem diga mais porque,
A noite que aproxima não merece...
Essa dor que se emana sem saber...

Capoeiras, sertões, as esperanças...
Trazendo minhas mansas ansiedades...
As forças naturais, nas velhas danças;

As portas se fechando, impropriedades.
Sequer te percebendo, vens, avanças...
A tarde vem caindo, traz saudades!!

E Agora?

Amiga, me trouxeste essa amargura.
Tristezas e saudades me roubaste...
Nas horas que passei, a vida escura,
Meus beijos sem malícias, me levaste...

A vida se passava sem ternura...
Num átimo num lúdico contraste,
Cobriste minha vida, vida dura.
Fizeste dessas dores, ledos trastes...

Amiga, que farei sem poesia?
Não deixaste sequer um só tormento.
Acabaste com todo sofrimento.

Minha vida morreu, sem fantasia...
Baios, os meus cavalos, num momento...
Cavalgam tua bela melodia!

Noite Atroz

Noite trazendo mágoas, não aguarda
Pela alvorada, passa muito lenta...
Serpenteia maltrata, pesa, enfarda,
A dor arrebanhando, violenta...

Noite cruel, vilã, u’a noite parda.
Nem o vento me acalma,nem alenta.
A noite vai passando, a manhã tarda!
Onda que nos penhascos se arrebenta!

Estropiado, morto, fatigado;
Arrasto meus chinelos pela casa...
Saudades e rancores, tudo arrasa!

Meu canto ecoa, vai desesperado!
Pisando tão sedento, dura brasa...
A noite se arrastando e eu parado...

Canto da Morte

Escutava o teu canto, longas noites...
Não te via nem sabia evidências...
Redondezas soavam estridências...
Penetrantes, ardentes feito açoites...

Não queria, mas vinhas,vis pernoites,
A cada instante mágoas sem clemências,
A cada canto lúbricas demências...
Cantavas, procurando quem te acoites...

Nada mais me restou, um nada ambulante...
Os meus dedos, cortados em teus dentes.
Do que me sobra, andando mendicante,

Farrapos me seguiram tão dementes!
Sem amanhãs, vazios adiante...
Pelo resto da noite, penitentes...

Companheira

A morte me sorria, linda, loura...
Estava angustiado à sua espera!
Meu tempo de viver cedo se estoura,
Não quero perceber sequer a fera...,

Esperava-te, morte redentora!
Perambulava à beira da cratera,
Vulcânica cratera, salvadora!
Da vida, chave d’ouro que tempera...

Nas minhas derrocadas, das batalhas,
Foste esperança trágica vitória!
Repousar meus defeitos, minhas falhas,

Na tua boca amiga, minha glória!
A morte, companheira mais fiel,
Vem, fechando as porteiras do bordel!

Pesadelos

Eu espero os delírios tresloucados
Dos noturnos flagelos... Noite escorre
Pelos dedos... Ouvindo os gritos dados,
Soltos pela altivez que me percorre;

Penso nos meus tormentos desgraçados!
Esperança insensata, porque morre?
Uns restos de tentáculos alados,
Meus pesadelos, nada me socorre!

Rebeliões gigantes, amazônicas...
Centelhas deflagradas dos meus sonhos
Fulguram paralíticas, atônicas...

Nesses redemoinhos mais medonhos,
Os meus delírios, chagas, mais risonhos,
São explosivos, loucos atômicos!