segunda-feira, setembro 25, 2006

Sôdade

Minha sôdade martrata, machuca...
Os dia que passei num passo mais...
A dô qui feis estrago, inda batuca
Num peito que quiria só a paiz!

Sôdade matadêra inda cutuca
Num é coisa de Deus, de Satanais...
Sôdade dêxa a gente mais maluca,
Sôdade num me larga nunca mais!!

As hóra qui passei, triste distante...
Os día qui chorei sem seu amô,
Nunca mais que me dêxe ansim sozinho!

Sôdade vai dueno a cada instante,
Sôdade quando nasce faiz que é frô,
Mais quano a gente cóie vira espinho!

Ametista Inspirado em Ledalge

Teu anel de ametista bem guardado,
Olhando bem tranqüilo te suplica,
Incertos tantos dias do passado,
Carícias usam luvas de pelica...

Nas faces que este vidro multiplica,
O mundo, neste vidro preservado...
Teu choro refletindo no, ondulado,
Vidro; tanto corrói quanto te explica...

A garganta soprando várias formas,
Gaivotas do teu céu são invocadas...
Flutuas nestas curvas, tua porta...

Nesse retrato efêmero te informas
Imagens, no teu quarto, envernizadas!
Saudade permanece, finge morta!

Estrela Cadente

Melancólica noite... Lara partiu...
Tantos copos vazios neste bar!
Minha boca amargando esse luar!
Onde estás Lara? Nunca mais se viu!

Dia seguinte, céu bem claro, anil...
Nem rastros conseguiu, por fim, deixar...
Restando-me somente procurar...
Amor que se vai, tudo mata, vil...

Mas não quero teus olhos sem paixão!
Não quero tua boca sem mordê-la
Não posso conceber um coração

Sem força violenta p’ra bater...
Não posso perceber sequer estrela
Cadente, no meu céu desfalecer...

Aurora

Nas lilases auroras desse dia,
Encontro-me sozinho, sem ter Lara...
Minha boca espumando poesia;
A beleza se mostra, jóia rara!

Uma nuvem caminha, vai vadia,
Passageira, se muda e nunca para!
Suave brisa cantando, voz macia,
Saudade descortina e não m’ampara...

Aurora... Me recordo de teu canto...
Tua boca, teus lábios, minha fonte...
Lara, onde estarás? Nunca mais eu soube...

Nesta aurora, tão mágica, me encanto...
Procuro, atravessando a velha ponte,
Encontrar-te bem antes que alguém roube!

Noites Frias

Me enveredei por braços, pernas, bocas...
Nas camas das bacantes e vorazes...
Gargalhadas histéricas tão loucas,
De sonhos e penumbras são capazes!

Conheci, nas orgias, tantas tocas,
Nas noites sensuais e mais falazes...
Nos delírios carnais, tontos, que enfocas,
Perdido me encontrei nas mãos audazes!

As mulheres, fagulhas sensuais,
Incendiavam todos os meus dias...
Nas festas formidáveis, bacanais,

As pernas misturadas nas orgias!
As horas que passei não voltam mais.
Noites outrora em brasa, são tão frias!!!

Madrugada Vazia

Por certo tive noites mais felizes!
As dores nunca foram companheiras...
Dançava pelos bares, meretrizes,
Amantes tão febris e “verdadeiras”!

Mentiras e verdades são atrizes,
Que brincam nestes leitos, nas esteiras.
A vida multiplica-se em matizes.
Joguei a sorte pelas ribanceiras!

Nas noites conheci felicidade,
Tantos copos de rum na minha mesa!
Nos brindes mais ferozes da saudade,

Restou-me pouca coisa ou quase nada!
Morrer não causaria-me tristeza
Se não fosse vazia a madrugada!

Perguntas

Andando pelas ruas, vilarejos,
Encontro com teus olhos dispersivos...
Asfáltica saudade, dos teus beijos,
Delícias que se foram... Corrosivos,

Mortais e virulentos... Nos lampejos
Mais brilhantes, cortavam... Decisivos
Momentos onde tinhas meus desejos
Embutidos nos passos teus... Passivos,

Meus olhos que te viram prosseguir
Jamais conseguirão te esquecer, Lara...
A fera que explodia não se cala...

Andando pelas ruas, tua sala,
Pergunto-me: Por que me foste cara?
Se nunca foste minha, te perdi?